12/11/05

Um elefante a ver, por Uma Merda Qualquer Com Jóta

É só para dar nota que hoje à noite acontece aqui uma grande momento de cinema. Às onze da noite, mandem cagar a bola e sintonizem em "Elephant", filme de Gus Van Sant que é um poema extraordinário e extremamente perturbador em torno do massacre no liceu norte-americano de Columbine. Esqueçam desde já o panfletário Moore e o, apesar de tudo, meritório "Bowling for Columbine" - meritório enquanto documentário, pelo que alerta e revela sobre os norte-americanos e as armas, porque de resto aquilo não é, pura e simplesmente, arte. Com "Elephant" entramos noutros territórios estéticos e éticos, imensamente mais profundos. É daquelas fitas que ficam. Ao contrário da maioria dos filmes que vemos quase todos os dias, este fica. De facto, permanece e perdura. Quanto mais não seja, transfigurado num sentimento inquietante. "Elephant" é, para mim, um filme superlativo. Um dos pontos altos do cinema recente dos Estados Unidos. Trata de violência, trata de adolescentes, trata de disfunções sociais e familiares. Ao contrário do orientado documentário de Moore, o filme de Gus van Sant fala da sociedade norte-americana, dos seus cancros, mas trata acima de tudo de questões e vivências universais, de monstros que vivem latentes entre nós e dentro de nós, filmando-os de uma forma tão bela e poética (muito menos "cru" que o Kids, esteticamente muito mais elaborado) apesar de algo bizarra, que reforça o choque e a consciêncialização do absurdo do desfecho sangrento. É nesse sentido que é marcante. Van Sant, que vem dos territórios da pintura e andou pela Europa, é um artista universal maior do que as modas e trata aqui de questões da espécie humana, não apenas dos americanos, apesar destes serem a matéria-prima. Columbine pode ser um liceu qualquer. Columbine pode ser o Infanta Dona Maria.
E mesmo que o fossem, questões dos americanos, que sirva para lembrar que se a América de hoje é aquilo, então é com aquilo que teremos de lidar dentro em breve, porque a América não é mais do que a Europa com uns anos de avanço. E não é uma questão de política(s), é uma questão de dinâmicas sociais, culturais e económicas. De resto, neste aspecto da violência "absurda", já nem estamos assim tão atrasados. Será apenas uma questão de escala, se nos lembrarmos de casos como o duplo homicídio "satânico" em Ílhavo, por exemplo. Ou, noutro contexto, a violência gratuita que tem grassado nos subúrbios das grandes metrópoles europeias. São cancros que crescem no seio de nós. E chega de paleio. Vejam mas é o filme, se não for hoje aluguem. Para amanhã à noite, entretanto, já comprei bilhete para a última obra do realizador, "Last Days", que passa numa sala aqui ao pé de mim. Depois faço a crítica. Obrigado, até à próxima e vão com Deus se faz favor.

01/11/05

Abracem-se uns aos outros e autos de visitação, por J'kim das Análises

Mas afinal o porco porquê? Dei-me ao trabalho de elaborar uma breve amostragem das motivações dos visitadores do tapornumporco, tendo como universo de análise o rasto que este povo deixa no sitemeter, vindo sobretudo por intermédio do google.
Que buscam, então, os que aqui entram? Porquê o porco? O porco porquê? O que é que esta gente quer daqui? Eis, pois, alguns indícios sobre a natureza Dos que aqui chegam.
A propósito disto, fiquei deveras entusiasmado com esta visita ao sitemeter do tapor, sobretudo com aquele mapa-mundi de luzinhas vermelhas e verdes a acender nos quatro cantos do planisfério e com a página location, com aquilo cheio de bandeirinhas que mais parece a ONU em dia de quórum. Não será certamente novidade, mas não deixa de ser curioso que talvez a maior parte dos nossos visitantes sejam estrangeiros de fora. Até um tipo de Waco, Texas, veio cá parar um dia destes (por sinal à procura de um boneco de um Cristo crucificado …)! Mas vêm do Peru, do Brasil, da Argentina, da Áustria, da Alemanha, do Canadá, da Holanda, da Itália, da Espanha, da Suíça, do México, da França, da Grécia… Um mundo a bater à nossa porta. A pedir fotografias, a pedir informação, a pedir emoção, eu sei lá!? Coisas que por aqui há. Mas é realmente espantoso, este encontro imediato com a globalização em curso, que nos deixa maravilhados com a forma como podem estar afinal hoje tão perto uns dos outros, os seres humanos da era digital, e espantados com o paradoxo de conseguirem estar cada vez mais distantes uns dos outros, mesmo que o outro esteja apenas a um braço ou a um clique de distância. Por isso, o que falta é estender esse braço fraterno ou clikar esse rato solidário e exclamar com razão e paixão: vem a mim, irmão, Abraça-me ou Beija-me! Entra em contacto! Sente o poder da sinergia!
Mas eis pois então enfim algumas das pistas que trazem até aqui clientela, num importante documento sociológico aberto à reflexão:
corpus hipercubus dali (do Perú, Lima)
fotos de etarras (França, Bayonne)
putas de vila real (Portugal, Lisboa)
jacques-louis David (Brasil, Brasília)
mijadelas na boca (Portugal, Lisboa)
"como se matar" (Brasil, Curitiba)
"La bouillabaisse” (Brasil, Rio de Janeiro)
estrategia mourinho (Espanha, Catalunha)
"abel pereira da fonseca" (Portugal, Palmela)
"Baía dos Tigres" (Brasil, Rio de Janeiro)
figuras do mickey e da minnie (Brasil, Brasília)
filme+cão ranhoso (Portugal, Lisboa)
"marques de sade" +desenhos (Brasil, Rio de Janeiro)
puta brasileira (Suíça, Attalens)
o que significa ser um gentleman (Brasil, São Paulo)
apanhei do meu tio (Brasil, Brasília)
instante voodoo (Brasil, Campo Grande)
aparelho digestivo do coelho (Brasil, São Paulo)
haxixe sec xi (Brasil, Rio de Janeiro)
popular marca farinha amparo (Portugal, Aveiro)