31/10/09

A Verdadeira Máquina do Tempo, por Verne

O you tube é tecnologia moderna. è, pois, uma coisa virada para o futuro, como o são todas as tecnologias, quando surgem.Mas é giro como esta tecnologia moderna nos permite reencontrar pérolas que julgávamos perdidas, para sempre, no passado. Serge Gainsbourg e Anamour:

29/10/09

Relato de Futebol Num País de Merda!, por Badaró

Vai vara com a bola e dá para penedos filho que endossa a penedos pai. Penedos pai faz um compasso de espera e toca para godinho que tabela com morais que toca para felgueiras. Felgueiras tabela com zezito que entra pela linha e centra para smith. Smith cobre a bola e dá de calcanhar para grande guerreiro de shaolin que centra rápido para isaltino que levanta e coloca com a cabeça em avelino que isola valentim. Valentim recua e dá para martins que passa a lopes (da mota), que jinga para ferro que faz um passe longo para loureiro que tabela para coelho que devolve a vara que... O povo aplaude, marcelino diz que muito bem, tavares que sim senhor, zé pedro canta o hino e manel pinho é expulso porque fez uns cornos ao adversário. Viva a bola! Viva o benfica! Viva a pátria!

28/10/09

Jesus é o Senhor!, por Aleluia


o Glorioso lá goleou mais uma equipa. O resultado final, em mais uma goleada estrondosa foi 6-1. Mas as pessoas preferem falar do comportamento grosseiro do nosso Mister, Jorge Jesus, que ao quarto golo mostrou quatro dedos ao manel machado pa fazer pirraça. o manel machado é apenas um dos maiores grunhos do futebol português e o nosso Jesus, há que admiti-lo com toda a frontalidade, em matéria de grunhice também não lhe fica muito atrás.

Mas dito isto a questão que subsiste é a seguinte: é preferível ter um treinador bem falante, bem vestido e muito elegante que perca os jogos todos ou um treinador de mau ar e discurso cavernícola que só sabe ganhar? O ideal era que o nosso treinador reunisse as duas qualidades, mas se tivermos que optar?

Por mim não tenho dúvidas: prefiro um mal falante ganhador a um bem falante perdedor! O Glorioso até já lá teve o Quique que tem veia para o verbo, mas a equipa jogava que parecia um susto. E agora com o Jesus é o que se vê: 8-0, 5-0, 6-1, etc, etc... Não há dúvida que, pessoalmente, eu seria mais facilmente amigo do Quique que do Jesus, mas se é para termos um bem falante à frente da equipa, então contratemos o Professor Marcelo que é um gajo que fala como ninguém. Grunho ou não, para mim, não há qualquer dúvida: Jesus é o Senhor!

26/10/09

Atenção: Há Algo de Novo no Cinema Português, por Oliveira


Alguma coisa está a mudar no panorama recente do cinema português! Primeiro foi o excelente Aquele Querido Mês de Agosto, um filme brilhante de Miguel Gomes que estilhaça literalmente as fronteiras entre o documentário e a ficção. E agora é o Ainda Há Pastores? de Jorge Pelicano.
Retornando, como Miguel Gomes, ao epicentro do Portugal rural e profundo, Ainda Há Pastores? abre caminhos, na senda de Aquele Querido Mês de Agosto. Parece que estamos a dobrar uma geração de filmes de acção realizadospor portugas que se limitavam a seguir a cartilha das produções americanas (nada de novo, portanto!). Não é que eu tenha alguma coisa contra a Soraya Chaves de Call Girl ou contra a mesma senhora no Crime do Padre Amaro, não senhor, é evidente que não, Deus me livre... Mas já vimos aquilo com mais Sorayas, menos Basingers, mais Pfeiffers, menos Jolies. Os pastores da serra da estrela e os cromos das aldeias das Beiras que fazem deles próprios nos filmes do Pelicano e do Gomes,podems ser feios comá noite, mas também têm o seu lugar. Não há Sorayas nem Basingers que guardem ovelhas aos domingos e feriados com a categoria do Ramiro. Nem a Uma Thurman chega aos calcanhares da miúda de Arganil a dançar a música do Marante!

21/10/09

Vamos Eleger o Lambe Botas do Ano, por LBV


Nas minhas vagens pela blogosfera, reparei neste interessante concurso e fiquei curioso de saber quais seriam os 5 maiores lambe botas do ano para a malta do Porco. É verdade que o ano ainda não acabou, mas para já para já, os 5 maiores lambe botas do ano, para mim, são, do maior para o menor:
1º - miguel sousa tavares - bem destacado dos outros porque é um indivíduo que vendeu tudo ao actual poder político: a coerência, as convicções, os valores e a honestidade intelectual.
2º joão marcelino - este indivíduo é o que se pode chamar a voz do dono no seu máximo esplendor. Não conheço muita gente com este grau de lambe-botice...
3ºfátima prós e prós - apesar se ser muito, mas muito canininha, tem um programa semanal em horário nobre e possui o poder que daí advém. É tão medíocre quanto fiel ao sistema e ela é mesmo muito medíocre.
zé pedro - pela enorme decepção do seu comportamento. Fez a música do ingenheiro e a coisa estava a render e ele calado a cavalgar a onda... Mas quando percebeu que a a coisa estava a mudar, veio demarcar-se publicamente da letra.
o silva pereira - um lambe botas tão radical, mas tão radical que é quase um clone da bota que lambe...

E ainda duas menções desonrosas para:
o pedro abrunhosa - ex-contestário político que se atirou ao cavaco como uma fera e que no mandato do ingenheiro nem buliu; e o bettecourt resende que até chateia com aquela máscara de comentador imparcial ao serviço do poder ( a fazer lembrar outra lambe botas menor, o carlos magno).

20/10/09

Brian Ward-Perkins, A Queda de Roma e o Fim da Civilização, por M. Aurélio


Editado pela Aletheya (2005), este livro foi, para mim, uma espécie de introdução ao tipo de pensamento próprio de um arqueólogo. Trata-se, pois, de um registo muito diferente daquilo que são as minhas leituras padrão. E como é que pensa um arqueólogo?

Pensa, dando ênfase a pequenas coisas que passam aos outros mais ou menos despercebidas. Procura fazer falar as coisas - as ânforas, as casas, a cerâmica, as inscrições, as moedas, a economia (os bens de consumo, a alimentação, etc)... Partindo de vestígios arqueológicos dispersos pelo vasto império romano, Perkins contesta aquilo que considera ser a tese politicamente correcta conveniente ao actual status quo político defensor de uma unidade europeia. Esta tese defende uma integração de base entre bárbaros e romanos e, portanto,a noção de que as «invasões bárbaras» foram uma espécie de desenvolvimento do Império para novas formas sem rupturas substanciais.

Pelo contrário, recuperando o conceito proscrito de «civilização» (que deixa de entender como designação de superioridade de uma sociedade em relação a outras, mas como um grau maior de complexidade de uma sociedade – o caso romano), Perkins defende a posição segundo a qual a queda do Império correspondeu, de facto, a uma crise e ao fim de uma civilização. Embora tenha o cuidado de notar que a história do império do oriente foi diferente, Perkins sustenta que a queda do Império Romano foi uma mudança civilizacional e não um desenvolvimento em continuidade. Às vezes é bom que nos lembrem que a História deve ser escrita com objectividade mesmo que isso não convenha à propaganda mais conveniente ao regime. E, desse ponto de vista, o «pensamento arqueológico» pode ser uma verdadeira lição.

19/10/09

100? 50. 40? 20. 10? 5, por Joli Jumper


Sim, na Tunísia negoceia-se TUDO! Mais: lá negocia-se tudo de tudo... exemplos? A coisa começa assim:

"- Quanto custa?

- 100 dinares.

- O quê?! 1 dinar é o que isso vale!
- 90. Isto muito trabalho. Boa qualidade!
- Nem pensar. Muito obrigado. - e o turista vira costas para se ir embora.

Mal encarado o vendedor chama o turista e propõe com maus modos:
- Ok. 50 dinares e já estou a perder dinheiro! [Note-se a estupidez da coisa: os vendedores nunca perdem dinheiro, como é óbvio. Quando vêem que deixa de compensar simplesmente decidem não vender. Por isso esta lógica do vender uma coisa e dizer que está a perder dinheiro é fantástica... deve ser porque é um amigo nosso de infância que nos faz um preço especial, com certeza!]
- 10...
- 20!

E quando chega a este ponto há duas hipóteses:

a) O turista decide não comprar. O vendedor insulta-o, chama-lhe forreta, "português pobre", diz que "Portugal está na bancarrota" e que os portugueses são isto e mais aquilo...



b) O turista compra. Nesse caso o vendedor vende-lhe a mercadoria e depois insulta-o na mesma, chama-lhe forreta, "português pobre", diz que "Portugal está na bancarrota" e que os portugueses são isto e mais aquilo..."
E passamos a vida nisto. Mas quando digo que é para tudo é MESMO para tudo. E lá tudo pode ser vendido. Outro exemplo:

"Está um senhor a martelar numa coisa de ferro. Uma turista aproxima-se e pergunta:
- O que está a fazer com esse martelo? Parece giro...
- A gravar o nome numa pulseira. Quer uma pulseira com o seu nome em Árabe?
- Ah, não obrigada!
- Então a pulseira sem nome. Olhe é bonita!
- Não, a sério. Obrigada - diz a turista a tentar escapar-se.
- Mas veja mais coisas na loja! Compre! Olhe, aqui! - o vendedor deixa a peça que está a fazer e sai da loja atrás da turista, de martelo na mão - E o martelo? Compra o martelo! Bom preço, bom preço!"

Convencidos? Não?! Então vou contar-vos uma última para vos mostrar como é MESMO uma doença, este necessidade de regatear tudo...

"Estava eu na praia. Vem o animador do Hotel a gritar "Voleibol!!!". Levantei-me da toalha e fui jogar. Estava farto do convívio com tunisinos que passavam a vida a tentar enganar-me com estas negociações irritantes. Sim, queria um bom jogo de volei para descontrair. Com os turistas que não me iam tentar roubar.

Enganei-me. Faltavam dois jogadores e por isso tiveram de jogar dois tunisinos, um de cada equipa. A certa altura gera-se a confusão:
- 14/18. - diz um dos tunisinos.
- Não! Está 14/14!
- Nós temos 18!
- Mentiroso! Têm 14, estamos empatados!
- No máximo têm 15!
- No mínimo temos 17, aldrabão!
- 16, então?
- Combinado. 14/16!
- Ok. Podem jogar!

Não, não podiam. Ficou a faltar um jogador porque eu mal ouvi isto tive um ataque e só parei no mar, debaixo de água e sem ninguém a regatear à minha volta..."

13/10/09

Amália, por Jacinto


As comemorações geralmente chateiam-me. Mas no caso da actual comemoração dos não sei quantos anos da morte de Amália Rodrigues eu abro uma excepção. Graças a estas comemorações, os adoradores de Amália (entre os quais me incluo) podem ver na tv reposições de programas e gravações antigas da Diva, filmes, reedições da discografia oficial, enfim, um forró. Considero Amália Rodrigues uma das maiores personalidades artísticas de todos os tempos e, portanto, comemorações como esta vêm sempre a calhar a ainda sabem a pouco.

Penso, por vezes, nas razões do meu fascínio pela Amália. Não sei porque é que gosto tanto dela e se calhar nem quero saber. Sei que há algo naquela voz e naquela música que me atinge proundamente e isso chega. Acho que a Amália tem uma seriedade e uma gravidade muito especiais e a forma como poderei explicar melhor esse sentimento é uma recordação que tenho de criança:

Lembro-me, ou melhor, nunca me esqueci, de uma noite, era eu miúdo, em que a Amália foi cantar numa terra perto da minha. Eu não fui vê-la cantar (era mesmo muito miúdo) mas lembro-me da pessoas da minha terra a juntarem-se para irem ouvi-la. De repente, a praça central estava cheia de mulheres vestidas de preto, de lenços escuros à cabeça, gente que vinha da faina agrícola, que parecia ter saído de um outro tempo muito antigo. Também havia homens mas eu lembro-me sobretudo das mulheres pela gravidade das suas vestes.
Estas pessoas iam subindo para reboques de tratores e de camionetas agrícolas que partiam apinhadas. Todos queriam ver e ouvir a Amália, a grande cantora do povo! Mas o que eu retenho, ainda hoje, é que aquela gente não parecia ir para uma festa. As pessoas estavam sérias, graves, dir-se-ia que iam para uma missa ou para a celebração de um acto religioso. Parece que se preparavam para um ritual sagrado. o clima era muito diferente dessoutro que eu também conhecia e que era o ambiente das festas e dos arraiais aos quais nunca achei qualquer piada. Não havia euforia, nem alegria nem sequer tristeza: simplesmente um monumental sentimento de religiosidade. E era assim que os carros e os tratores apinhados de povo partiam para ver a Amália Rodrigues. Nunca esqueci aquele espectáculo e nem consigo imaginar o quão extraordinário seria assitir áquele concerto da Amália e do seu povo. Hoje, quando a ouço, é aquele mesmo sentimento dessa noite que reencontro na sua voz. E é por isso que eu gosto tanto da Amália Rodrigues.

12/10/09

O Partido do Isaltino, da Fátima, do Valentim, do Avelino e do Zé, por Batiti


Tenho muita pena que a fátinha felgueiras e o avelino torres não tenham sido eleitos nas últimas autárquicas. Deixo aqui os meus parabéns ao valentim de gondomar e ao isaltino da suíça pela recente eleição. Acho que eles têm um importante valor sociológico porque são o retrato fiel da miséria do país que somos.Eles fazem todos parte de um mesmo grande partido nacional e transversal, meio oculto mas real, ainda assim - eles, o isaltino, o valentim, o avelino, a fatinha e o maior de todos o socas. Sim, porque não percebo qual diferença que existe entre este último e os ilustres autarcas que citei. É certo que há uma diferença formal entre o socas e os outros - o facto do socas não ter sido acusado em sede de justiça por nenhum dos muitos caso em que está envolvido, ao contrário dos outros. Mas isso é pura forma. Do ponto de vista da análise dos factos que se conhecem qual a diferença entre toda esta gente? Não há. Nenhum deles deveria ter cara para se apresentar a uma eleição, quanto maisganhá-la...

Pasmo com as hipocrisias do comentador tavares da TVI que dava ontem os parabéns aos eleitores de Felgueiras e do Marco por não terem eleito nem a fatinha nem o avelino. E,inversamente,o tavares lamentava Gondomar e Oeiras... Mas alguém lhe ouviu o mesmo rigor, o mesmo sentido ético, a mesma exigência moral quando se tratou da recente eleição de zé socas?

05/10/09

Poluição Visual, por Uga Buga


Nos primórdios da indústria discográfica percebeu-se rapidamente que as capas que embalavam os discos podiam ajudar a vendê-los. As primeiras capas de discos seguiram o princípio mais básico e rudimentar do mundo: eram, simplesmente, os retratos com as fronhas dos artistas. Se fossem muito feios confiava-se na habilidade dos fotógrafos para fazerem parecer o feio bonito. Durante anos a arte do cover não passou de fotografias dos cantores. Era assim nos anos 50:


Mas mesmo nos revolucionários sixties este primitivismo continuou. Até os primeiros discos dos Beatles eram assim:




















Nisto, como em quase tudo, os Beatles foram pioneiros. Eles deram como poucos outros, muita atenção às capas dos discos e lançaram mesmo uma nova noção de arte do cover. As capas dos seus discos mais tardios, como Revolver, já eram assim:




















A identificação dos artistas ainda lá estava, como referência. Mas já havia um processo de transformação artística dessa identificação. Com a excepção do cover do excelente White Album, todos os restantes discos do Beatles mantêm essa característica: são sempre fotos deles mas transiguradas, trabalhadas artisticamnete. Isto de With the Beatles até Let it Be.

Até que se evoluiu para soluções que abdicavam completamente da referência icónica aos músicos. Os anos 70 já assinalam uma revolução nesta matéria. Os Pink Floyd, cujos covers ficaram a cargo da famosa empresa de Design Hipgnosis já faziam faziam capas como a de Dark Side of The Moon (1973), sem qualquer referência à figura dos artistas:


















Vem isto a propósito do atavismo que permanece na propaganda eleitoral, particularmente no nosso país. Os outdoors eleitorais estão na mesma fase em que estavam os primeiros discos. Os exemplos estão em todo o lado à nossa volta e, em matéria de autárquicas, o mau gosto é ainda mais atroz. Mas, melhores ou piores, os cartazes eleitorais cumprem todos, sem excepção, o mesmo princípio primário que o showbizz já ultrapassou desde os anos 60. Está para nascer uma nova geração, mais evoluída, de cartazes eleitorais - aguarda-se que surja o candidato que perceba que é possível vender sem ser chapando com a sua foto nas ventas dos eleitores (até porque alguns faziam bem era em mascarar-se):













No dia em que isso acontecer a propaganda política dará um salto qualitativo em frente e, com isso, a qualidade visual e da paisagem urbana e rural melhorará substancialmente. Pessoalmente não vejo o dia de me ver livre das fuças dos autarcas e dos políticos profissionais à minha volta em cartazes eleitorais terceiro mundistas.

02/10/09

Bolonha: Andam-nos a Roubar as Habilitações, por Espoliado

Um dos efeitos mais perversos dos acordos de Bolonha é a forma miserável como as antigas licenciaturas de quatro e cinco anos foram desvalorizadas. Como é sabido, as licenciaturas actuais passaram a ter a duração de três anos. Mais dois anos e o licenciado é Mestre.
Ora, antes de Bolonha, uma licenciatura durava quatro anos e nalguns cursos cinco, como por exemplo, nos cursos de letras que incluíam um ano terminal de formação psico-pedagógica, findo o qual se entrava em estágio. Seis ao todo, portanto.

É pois evidente que há uma desvalorização destas formações. Não creio que o caminho seja o de negar a licenciatura aos actuais estudantes que frequentam os actuais currículos de apenas três anos. Mas parece-me de meridiano bom senso equiparar as licenciaturas anteriores a Bolonha ao grau de Mestre. Não se trata de passar à frente dos actuais estudantes: ao fim e ao cabo, eles acabam por fazer os mesmos cinco, seis anos que os outros, só que, nesse caso, já saem com o título de Mestre. É só uma questão de repôr para os outros a mesma habilitação.

Parece-me, pois, pelas mesmas razões, que os mestrados tirados no regime anterior a Bolonha deviam ser, imediatamente, equiparados ao grau de Doutor. Esses mestrados - pelo menos os que conheço, tirados no fim dos anos 80 - eram feitos depois de cursos de 4 anos (licenciatura), mais um de psico-pedagógicas e outro de estágio. Ou seja, depois de 6 anos de trabalho, fazia-se então o mestrado que ocupava ainda mais dois anos - a componente curricular com aulas efectivas. Só após o aproveitamento na parte curricular de mestrado ( e havia muito quem chumbasse) é que se podia começar a preparar a tese final, sob orientação de um especialista. Havia então um prazo de três anos para preparar a tese, embora se pudesse apresentar apenas em mais um ano. Três era o limite.

Resumindo: para se sair com o grau de Mestre era necessário, dependendo dos cursos:
- quatro anos de licenciatura;
- um de formação psico-pedagógica;
- um de estágio profissional;
- dois anos de aulas de mestrado (parte curricular);
- um mínimo de um e um máximo de três para apresentar e defender a tese final.
Total: 9 anos no mínimo e 11 no máximo!

Só então se obtinha o título de Mestre. Hoje nem os doutoramente exigem um percurso tão duro, conheço mesmo casos em que se passa da licenciatura para o doutoramento sem passar pelo mestrado...

É, portanto, de elementar justiça que as correspondências sejam efectuadas: um Licenciado no regime que descrevo no post, deve ser equiparado a Mestre; e um Mestre a Doutor. Não se trata de tirar a quem estuda hoje aquilo a que tem direito, mas de conferir aos outros a equivalência das suas habilitações na actual era bolonhesa.

Num país em que o exemplo da «licenciatura» do primeiro ministro é um escândalo que dá do esforço de vidas inteiras dedicadas ao estudo e ao trabalho académico uma imagem pífia, creio que esta luta ganha ainda mais sentido. Devíam, todos os que são lesados com esta aberração, organizarem-se e exigirem aquilo a que têm direito: o reconhecimento académico devido! Para quem não foi bafejado com a sorte de lhe sair uma licenciatura no Omo, isto é muito importante!

P.S. - O pic refere-se a uma das famigeradas queimas de livros dos nazis. Embora os responsáveis pela situação de que falo no post não sejam nazis, bem se pode dizer que o não reconhecimento das habilitações é uma verdadeira queima de todos os muitos livros, saberes e competências que foram adquiridos mas que não são, presentemente, reconhecidos.

01/10/09

Eles Andam Aí!, por Zitromax


Esta manhã fui às Urgências do Hospital. O meu filho acordou com uma tosse medonha e eu percebi que era melhor levá-lo ao hospital e não à escola. Chegado às Urgências, depois de passada a fase de triagem, mandaram-me esperar numa sala à pinha com doentes que aguardavam vez. Entretanto passou um senhor de bata branca que, estranhamente, nos cumprimentou com um sorriso e até disse bom dia e tudo! Perguntou se já estávamos atendidos e até mandou uma piada ao puto… É curioso o que me passou pela cabeça nesses instantes e não resisto a partilhá-lo.


Primeiro, quando olhei para ele e o vi de bata branca, julguei, naturalmente, que fosse o médico. Mas logo a seguir pensei que, afinal, não podia ser. Um sorriso às 8 15 da manhã? «Bom dia?» «Se já estamos atendidos?» E até uma piada ao puto? E tudo isto com um sorriso nos lábios? Ná…


Isto pode ser muito injusto para os médicos, mas confesso que o que pensei depois disto tudo foi, nem mais nem menos: «Não pode ser médico! Deve ser enfermeiro ( como o Mangas) ou então auxiliar de limpeza». Ou seja, eu raciocinei automaticamente: foi simpático e educado – logo não é médico!


Não é minha intenção insinuar que os médicos são todos uns carroceiros ou que não existem médicos simpáticos, polidos e preocupados. Pelo contrário, alguns dos meus melhores amigos são médicos e já fui atendido por doutores que foram impecáveis. Mas, sinceramente, foram a excepção. Não creio que a minha experiência seja diferente da da maior parte das pessoas. Muitas vezes somos mal atendidos por médicos em Hospitais Públicos (pelo contrário sempre que fui a consultas de medicina privada os sôtores foram de uma simpatia inexcedível!). A imagem comum dos médicos dos nosso hospitais é a de uns gajos que às vezes nem levantam a fronha do écran do computador, que mal ouvem o que dizemos e que quando falam para nós é de lá do cimo das estratosféricas altitudes onde se julgam situar. E há sempre uma impaciência latente, parece que estão com vontade de se irem embora dali para irem ganhar a vida.


Mas, de repente, ali estava eu com um tipo de bata branca, genuinamente interessado em mim e no miúdo. Afinal era mesmo o médico: viu o miúdo, ouviu o que tínhamos a dizer, receitou umas coisas, explicou o que eram e quais os seus efeitos e, tudo isto, com um sorriso bem disposto. Por fim ainda nos disse que, se a tosse não parasse, coisa que duvidava, podíamos voltar a passar por lá para falar com ele. Acaso estaria eu a sonhar? Que médico era este, de uma espécie que eu raramente vi até hoje? Do planeta Zorg?


Percebi tudo quando vi o nome dele na folha da receita: um nome ucraniano Vitaly Hubshev (chamemos-lhe assim). Falava português sem pronúncia e só a simpatia denunciou a sua origem, mas fiquei a pensar porque raio hão-de tantos dos nossos médicos ter um rei na barriga? Será assim tão difícil atenderem-nos sem ser com duas pedras na mão? Vendo bem as coisas o médico ucraniano limitou-se a ser educado, profissional e simpático, como é obrigação de todos nós, médicos ou não. E só por causa disso já ganhou um post no Tapornumporco! Ah, é verdade, o miúdo tá melhor, obrigado…