Ainda se lembram da Expo 98? Foi um ano eufórico e não houve português que por lá não tivesse passado. Eu também, claro. Houve vários pavilhões que foram para mim inesquecíveis - o da Croácia que propunha uma viagem panorâmica sobre Dubrovnik, o da Turquia com uma barca antiga belíssima e mais uns quantos. Mas de todos os pavilhões que vi na Expo houve um que me marcou para sempre - o pavilhão do Brasil.
Se bem se recordam, o pavilhão do Brasil não tinha nada de especial do ponto de vista técnico. Havia na Expo muitos pavilhões muito melhores pensados e executados. Mas o pavilhão do Brasil tinha um tesouro que nenhum outro tinha - uma vista panorâmica dos vários pontos do Rio de Janeiro que se podem avistar do alto do Pão de Açucar. De facto, com uma beleza tão deslumbrante nem era necessário ser criativo. As paisagens do Rio visto do Pão de Açúcar -apenas isso e, em consequência, o pavilhão do Brasil foi, para mim, o mais inesquecível que vi na Expo 98. Lembro-me de ter pensado, na altura, que não podia morrer sem ir ao Rio, sem viver aqueles cenários fantásticos ao vivo. Pois bem, na semana passada eu concretizei esse sonho e vi o Rio de Janeiro do alto do morro do Pão de Açúcar.
Só se sobe ao Pão de Açúcar de bondinho que é aquela cabine envridaçada sustentada e movida por uns cabos que parecem rídiculos vistos de cá de baixo. Parece que aqueilo se vai desatar e que os Bondi se vão espatifar cá em baixo. Mas a promessa daquelas paisagens obriga-nos a arriscar e é verdade que mal o bondinho começa a subir o deslumbramento que nos envolve não nos deixa sentir medo.
Antes de chegar ao Pão de Açúcar, propriamente dito, faz-se escala num outro morro (o da Urca). As vistas da cidade a descer os os montes como se fosse uma onda viva a procurar o mar, a praia de Botafogo com os barcos lá em baixo num mar brilhante batido pelo sol, Niterói no outro lado da Baía de Guanabara já são deslumbrantes na Urca e eu pensei que nunca tinha visto nada assim. Mas estava enganado! Aquilo era só metade do que eu tinha para ver.
Quando se passa da Urca para o Pão de Açúcar a sensação de deslumbramento é total. Chegado aqui eu não tenho palavras para descrever o que senti - aquilo é Sublime. Sublime à maneira Kantiana - Kant falava do Sublime como uma categoria que envolvia a Grandeza ( e nesse sentido uma flor pode ser bela mas não Sublime ao passo que o Pão de Açúcar é Sublime e não apenas Belo) e do efeito que essa grandeza faz no homem. O sublime é paradoxal porque ao mesmo tempo que implica a grandeza essa grandeza é sintoma da nossa finitude. Ele é a marca da limitação da nossa capacidade sensorial - é um sintoma da nossa pequenez e da nossa limitação, mas ao mesmo tempo de algo grandioso que podemos, indelevelmente, pressentir. Portanto, ao viver o sentimento do Sublime, eu experiencio simultaneamente a minha pequenez e a imensidão do Mundo. Kant nunca saiu da sua cidade natal de Heidelberg, mas mais parece, que esteve no Rio, quando desenvolveu estas ideias.
Do Pão de Açúcar vê-se Copacabana, Ipanema e Leblon, tanto mar!, o forte de S. João, de novo Niterói, pequenino, a floresta da Tijuca, a imensa Baía de Guanabara, o céu azul, radioso, as praias de Botafogo e de Flamengo, agora mais pequenas, as aves, os aviões, a cidade viva espreguiçando-se ao longo dos morros, as favelas que até parecem belas, o Corcovado e o Cristo Rei escondido nas nuvens baixas, do Pão de Açúcar vê-se o Sublime...
Aquilo que senti no alto daquela morro fez-me lembrar uma passagem do filme do Robert Zemeckis, Contacto. Precisamente, a parte em que a Jodie Foster viaja na máquina extra terrestre e em que lhe é mostrado o universo. Apenas um vislumbre. Ela vê mundos deslumbrantes com vários sóis, túneis espaciais que dão para outros universos, as luzes de civilizações muito mais avançadas que a nossa, estrelas e planetas e uma pequena imensa parte da vastidão do Cosmos. Ela fica sem palavras e diz que deviam ter mandado um poeta porque não consegue descrever toda aquela beleza. E, finalmente, chora.
Pois bem, correndo o risco de ser gozado durante toda a vida pelos durões daqui do Tapor, o melhor que eu consigo dizer da experiência que vivi do alto do Pão de Açúcar é confessar que, como a Jodie Foster n´O Contacto, eu fiquei de tal maneira comovido que, também eu, chorei ao ver o Rio do alto do morro do Pão de Açúcar.
2 comentários:
por respeito à desgraça nem vou comentar nada..., há gajos que dão nisto, prontos.
Eu não fui lá. Também não fui ver o Titanic. Também não quero saber do filho do Cristiano Ronaldo.
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