21/02/10

Que Viva La España, por Chibanga

Contada pelo nosso Basco genuíno hoje no Ranhoso. Parece que o Atlético Bilbau, baluarte maior do orgulho basco, foi recentemente até Bruxelas onde defrontou os belgas do Anderlecht. Pois bem, a coisa, terá descambado num verdadeiro festival de pancadaria entre adeptos euskadis e belgas. É que estes, sabendo de antemão do anti-espanholismo athleti, terão passarado o tempo a cantar nas bancadas o célebre hino nacionalista «E viva la españa». Os bascos sentiram-se provocados e zás, confusão... Aquilo que Carlos V e os Filipes jamais conseguiram pela força das armas o futebol foi capaz de fazer num ápice: levar Bruxelas a gritar vivas à Espanha!

18/02/10

A Minhas Leituras de 2009, por Adérito


É verdade que estamos no fim de Fevereiro. Mas um blog é assim mesmo: escreve-se quando apetece e só quando apetece. É por essa razão que só agora me decidi a apresentar aqui a minha lista de leituras de 2009. Espero então que os restantes escribas porcinos avancem a seguir com as deles, cumprindo assim uma tradição que já vem do tempo do D. Maria. Aí vai a minha Lista de 2009:

Oliveira Martins – História da Civilização Ibérica, Europa-América. Achei-o demasiado especulativo, com máximas discutíveis do estilo «o espírito espanhol é este, o árabe aquele, o africano aqueloutro». Há um capítulo que devorei pela pedagogia do relato que me fez recordar alguns apontamentos da aula da saudosa professora Deolinda. O capítulo sobre a conquista da Ibéria pelos mouros, as diferentes fases das invasões, os seus protagonista (o árabe Musa, o berbere Tarij, os Almóadas e os Almorávidas, Al Mansur e Yusef). Depois perde-se em metafísica a mais e história a menos..

Chico Buarque – Budapeste, D. Quixote. Comecei a medo, praticamente forçado por um berro do Grão que me espetou com o livro na cara e gritou: «LEVA!». Li as primeiras páginas cheio de preconceitos – afinal um músico genial não pode ser também, um escritor brilhante, há princípios, o Criador não pode deixar que o mesmo homem reúna tanto génio disperso em artes tão diferentes. Mas não é que Budapeste é um excelente livro? O músico Chico acaba por fazer sombra ao escritor Chico – mas este não sai diminuído do confronto e sabendo nós o que o músico vale, imagine-se em que patamar coloco o escritor Buarque.

Haruky Murakami – Sputnick, Meu Amor. Uma escrita solar, luminosa, meridiana. Murakami é um escritor de grande técnica. E o livro associa à técnica um misticismo-existencialista que lhe dá humanidade. Mal o li corri a comprar Norwegian Wood.

Murakami – Norwegian Wood. Manteve o registo que apanhei em Sputnick, E portanto não desiludiu...

Martin Dugard – A Última Viagem de Colombo, Casa das Letras. Naquele registo muito anglo-saxónico que torna a história acessível ao leigo. Venham mais desta escola que fazem falta no nosso país.

Robert Harris – Pátria (Fatherland). 1992, Bertrand. Este deu post no Tapor. Está por ali algures no histórico do blog...

Sérgio Luís Carvalho – O Retábulo de Genebra, Campo de Letras. Mais um que aqui deu post e até, em tempos idos, um feedback do próprio autor.

Cormac Mccarthy – Meridiano de Sangue, Relógio de água. Também deu post e uma boa polémica com o Grunfo. eu não gostei, ele sim...

Arturo Perez reverte – Um Dia de Cólera, Asa. Dos meus Revertes preferidos (e conheço muitos). Também deu post.

Irving Yalom, Quando Nietzsche Chorou, Bertrand. Uma revelação. Não acho que Yalom seja particularmente brilhante, mas consegue aqui uma narrativa muito interessante. Há aqui uma tentativa de deitar Nietzsche no divã que levaria o próprio ao desespero. Teve um efeito muito positivo em mim porque logo a seguir senti urgência em voltar à leitura do grande niilista alemão. o livro que li a seguir foi:

F. Nietzsche – Ecce Homo, Guimarães. Uma espécie de auto-reflexão do autor acerca de si e da sua obra. Inesquecíveis os capítulos «Porque Sou Tão sábio», «Porque sou tão sagaz» e «Porque escrevo tão bons livros»...

Arturo Perez-Reverte – o Mestre de Esgrima, Asa. Reverte é um vício, que hei-se fazer?

Francesco Alberoni e Salvatore Veca – O Altruísmo e a Moral, Bertrand. Não atinge a pertinência de outros do autor, como o célebre Enamoramento e Amor que o lançou a nível internacional.

Carl Sagan – Um Mundo Cheio de Demónios, Gradiva. Ler Sagan é sempre um prazer e uma aprendizagem permanente. Não deve ter existido muita gente com a capacidade pedagógica dele. No entanto - as lições do Mestre dizem-nos para sermos críticos - achei este livro o mais positivista de todos os livros de Sagan. A crença que ele aqui deposita na ciência chega a ser excessiva.

Greg e Paape – Luc Orient (vols 1 a 4). De entre a muita BD que me passou pelas mãos, destaco estas edições do saudoso Luc Orient que apareceram na Fnac no original francês. Um clássico da FC!

Jaques Lamy – A Verdadeira História dos Templários. Confesso: sou fascinado pelo esoterismo templário. Depois de ler alguma bibliografia sobre a Ordem fica-se com uma sensação de déjá vú. Mas há um núcleo duro de conhecimentos acerca do tema. E este livro é uma boa introdução. Sóbrio!

Manuel Vasquez Montalban – Galindez, Caminho. Uma revelação para mim! Um grande escritor catalão, cujos livros não consigo encontrar. Montalban é um mestre da escrita. Aqui cruza o universo pessoal das personagens com a história mais ou menos desconhecida da antiga ditadura da república Dominicana.

Umberto Eco, Baudolino, Difel. Como todos os romances de Eco, não se consegue parar de ler. No fim, como é hábito, fica-me sempre a sensação de que o autor poderia ter sido mais parcimonioso.

Oliveira Martins, Os Filhos de D. João I, Ulisseia. Adorei este livro! Foi uma espécie de regresso à História tal como a aprendi na minha infância e um reencontro com histórias que re-conhecia não sei bem de onde. Como se estivesse a ouvir um fado muito longínquo e ao mesmo tempo incrivelmente familiar.

Irvin Yalom, A Cura de Schopenhauer, Bertrand. Yalom, mais uma vez, a fazer render a receita que aplicou no livro anterior. Desta vez Schopenhuer faz de Nietzsche.

John Updike, Brasil, Civilização editora. Updike foi, para mim, a grande descoberta de 2009. adorei este livro e não parei - ainda não parei - de ler Updike a partir daqui. Saiu post.

André Gide – A Sinfonia Pastoral, Âmbar. Saiu post. Um livro genial de um escritor genial! Este foi só o primeiro Gide de 2009. Seguiram-se:

André Gide, A Porta Estreita, Visão. A matriz freudiana do livro é clara. A rapariga que ama mas que se impede de amar, que ama o fantasma que cria na distância mas que não o consegue suportar enquanto presença real.Outro grande livro!

André Gide, Os Moedeiros Falsos, âmbar.... E vão três Gides de seguida...

John Updike – S., Livros do Brasil. De Gide voltei a Updike que me tinha deixado exclente impressão. Confirmada por este S. de contornos budistas.

14 Novelas Históricas de Portugal, Vários (Eça, Júlio Dantas, D. João de Castro, Henrique Lopes de Mendonça, Alexandre Herculano, Antero de Figueiredo). A feira das velharias na praça 8 de Maio que o Grunfo tá sempre a recomendar tem destas coisas.

Indro Montanelli, História de Roma. Óptima leitura para uma viagem de avião. Foi o meu fiel companheiro nestas férias em Cartago.

Pierre Grimal – História de Roma, Texto Gráfica, 2003. Depois de ler o anterior, a leitura deste Grimal tornou-se redundante.

John Updike – O Terrorista, Civilização editora. Acerca dos meandros psicológicos dos jovens terroristas islâmicos. Não é do melhor de Updike. Mantém a qualidade de escrita mas a narrativa é um pouco action movie.

Brian Ward-Perkins, A Queda de Roma e o Fim da Civilização, Aletheya, 2005. Este também deu post. Foi uma leitura diferente e marcante porque é uma obra de um arqueólogo.

Fernand Braudel – O Mediterrâneo. O livro é dirigido por Braudel mas tem vários autores. Achei particularmente interessante o texto de George Duby sobre a história e o fascínio do mediterrâneo. Foi leitura de Setembro quando andei particularmente interessado na civilização do mar do meio.

The Best stories of superman evertold, vol.2, vários. Descobri-o na Fnac e devorei-o. Tenho pena que sejam tão raras as minhas histórias de infância do Super Homem.

Dostoievsky – O Jogador, Presença. Um clássico de um grande escritor.

José Norton – O Último Távora, D. Quixote. Para além de ter mandado quase toda a família Távora para o cadafalso, o marquês de Pombal ainda se deu ao luxo de educar, sob seu controlo, o descendente directo da família, Pedro de Almeida Portugal, futuro marquês de Alorna. Este livro segue a sua história, desde menino até à morte, passando pela crepuscular participação na campanha napoleónica na Rússia.

J. Lúcio de Azevedo, O Marquês de Pombal e a Sua Época, Alfarrábio. Mais um documento sobre um os maiores sanguinários da história moderna de Portugal.

Manuel Vasquez Montalban – Erec e Eneide, Caminho. Yesss! O grunfo tinha lá este Montalnán perdido. Devorei-o rapidamente e fiquei a chorar por mais. Desta vez a referência é a mitologia céltica.

Dan Brown – O Símbolo Perdido, Bertrand. Uma perda total e absoluta de tempo. Dan Brown segue a receita que tanto sucesso lhe deu no Código Da Vinci. Mas nem sequer é mais do mesmo porque para isso tinha que ter a garra do Código e é demasiado plástico. Pergunto-me como suportei tal estopada até ao fim...

A. Perez-Reverte – O Clube Dumas, Bertrand. Eu não digo que o Reverte está sempre a aparecer? Em todo o caso, achei-o um dos seus livros menos conseguido. Pese embora ter sido precisamente este que deu origem a um filme de Roman Polansky.

J. Updike – Corre Coelho, Bertrand, Civilização. Lynchiano! A aparente modorra existencial conflui para um epílogo trágico. Em certos aspectos faz lembrar Camus, mas com uma dimensão trágica que este não tem nos seus romances. Um dos melhores Updikes que li...

Carlos Oliveira – Uma Abelha na Chuva. Ainda não tinha lido este quase conterrâneo, natural de Febres (hello Tinó, are you there?). O livro é, obviamente, marcado pelo neo-realismo: os maus são os agrários e os ricos; os pobres são simplesmente inocentes e explorados pelos primeiros…

Audrey Niffnegger – A Mulher do Viajante do Tempo, Presença.
Uma boa ideia, um indivíduo que sofre de uma disfunção temporal que o leva a dar saltos no tempo involuntariamente. Interessantes as micro-narrativas. Mas o livro torna-se palavroso e redundante. É como na arquitectura ou na escultura: há aqui um problema de volumetria. Seria um bom ponto de partida para um outro livro muito melhor.

17/02/10

When Quico Meets G.I. Joe, por Primo Ribeiro

A 26 de Setembro de 1953 o ditador espanhol Franco assinou com os EUA o Pacto de Madrid. Mediante este acordo, Franco põe fim a um longo período de isolamento internacional da Espanha. As consequências da abertura ao investimento estrangeiro e, em particular, aos americanos, mudam, gradualmente, a face do país. O impacto da televisão, dos livros e das revistas, do consumismo, do turismo e o contacto com novas culturas e formas de estar trazem a Espanha até à modernidade. O velho Franco, que nunca se adoptou a este Novo Mundo, comentou então, numa tentativa irónica de ver um lado positivo na abertura que foi obrigado a promover:
«A melhor coisa que os EUA fizeram por nós foi esvaziar de putas os bares e cabarés de Madrid, pois quase todas elas casam com sargentos e soldados americanos» (A. Hodges, Franco, p.219)

12/02/10

Mais uma Cabala!, por Paulinho Bói


1. Hoje não consegui comprar a edição histórica d`O Sol e fui a 5-cinco-5 quiosques! A providência cautelar metida por um bói sem curriculum que ganha um milhão de euros por ano na PT teve o efeito de ricochete previsível. José António Saraiva, o director do Sol, não podia desejar melhor. E ainda por cima, como não somos lorpas, ninguém vai acreditar que foi mesmo o tal bói a ter a iniciativa da providência cautelar. todos sabemos que os cordelinhos foram mexidos a montante, para que não se pudesse acusar este impoluto governo de atentar contra a liberdade de expressão.

2. Como é que aquele bói ganha aquela pipa de missa com o curriculum jota esse que possui? até esta falta de respeito pelos portugueses deveria ser um escândalo nacional.

3. Por falar em liberdade de expressão, há por aí muita gente bem intencionada a desfocar o tema. Diz-se que o zé socas não suporta a liberdade de expressão e por isso é que comete todos estes atentados. Também acho que o homem é pequenino e como todos os pequeninos não suporta que o contradigam. Mas o que o leva aos excessos inqualificáveis que estas escutas revelam, não é o facto de ele não suportar as ideias diferentes, como por aí se diz. Não, nada disso, isto não é um caso de o homem ser socialista e não gostar de teses neo-liberais, nem de ser calvinista e não suportar ideias católicas nem de ser hegeliano em vez de kirkeggarddiano. Não, o problema em rigor não tem a ver com a liberdade de expressão e de opinião.
O problema é que alguma comunicação social- devo dizer a única, porque a comunicação social entregue ao DN dos marcelinos e ao JN dos leites ferreiras, «jornalistas amigos», não é mais que um grotesco espectáculo de robertos - foi revelando, um a um, os podres que envolvem zé socas e sus muchachos. E o avolumar desses escândalos levou à emergência do plano de controlo dos media, como estratégia de sobrevivência. Controlar os media não tem a sua raiz numa espécie de incompatibilidade intelectual entre socas e as opiniões diversas. É muito mais prosaico: trata-se, simplesmente, de impedir que jornalistas independentes revelem todos os casos vergonhosos que foram revelando.

4. É certo que o povo português votou nos xuxas, ainda assim. Mas isso não é de admirar. É o mesmo povo que reconduziu isaltino, avelino, fátima felgueiras ou valentim, noutras eleições... A diferença entre estes todos e socas é apenas de grau: socas fez muito pior! Mas mesmo assim, o jogo da política, que é um jogo de aparências, exige uma máscara de decoro. E é essa máscara que foi caindo sucessivamente a zé socas. Lentamente, regularmente, penosamente:
- a licenciatura tirada no Omo;
- O caso do aterro da Cova da Beira;
- o fripó;
- O tó morais;
- a compra da casa de luxo a preço de amendois;
- o fripó;
- a reforma da santa mãezinha;
- o fripó;
- o tio e o primo de shaolin;
- as casinhas da guarda-covilhã/covilhã-guarda;
- o fripó;
- o lopes da mota;
- o fripó;
- o vara e os penedos;
- as escutas.

5. Controlo da comunicação social porque não gosta das opiniões alheias? Zé socas tá-se nas tintas pás opiniões alheias. O que lhe dói, o que magoa até ao osso, são as notícias sobre os casos indecorosos que o envolvem.

6. Em vez de fazer uma das duas únicas coisas possíveis - dizer que as escutas são forjadas ou demitir-se - socas e o seu clone silva pereira preferem chamar-nos matarruanos com aquele paleio de chacha da fuga ao segredo de justiça e do «jornalismo de buraco de fechadura». A estratégia de vitimização e fuga em frente já enjoou. Agora atingiu um novo patamar: mete asco!

7. De uma coisa este governo e os seu primeiro ministro podem orgulhar-se: são, sem dúvida, os detentores da maior taxa de cabalas a eles dirigidas, de toda a Europa.

11/02/10

The Office, por Sumo Sacerdote

The Office, na versão original produzida pela BBC (não conheço nem tenho grande curiosidade em conhecer o remake americano da série) é humor do melhor, na grande tradição das grandes séries britânicas do género. E quando digo humor falo de inteligência que o humor é uma das manifestações mais sublimes de inteligência. Recomecemos, pois:

The Office, na versão original produzida pela BBC, é inteligência pura. A série, realizada pela dupla Ricky Gervais e Stephen Merchant, tem o formato de um pseudo-documentário e aborda o dia a dia de uma pequena firma. Os personagens têm espessura e alguns são mesmo hilariantes. Pessoalmente adoro o fuinha do Gareth e o Robert (Ricky Gervais) é uma criação patética e adorável.
Aquela malta fala para as câmeras com um ar muito sério e há, permanentemente, um registo não verbal cheio de sentidos a que é preciso estar atento. De facto, muita da força de The Office vem-lhe da absoluta excelência dos seus actores e do modo como tudo aquilo é filmado. O género «pseudo-documental» dá um tom meio amador, parece que há um camera man a seleccionar a seu critério os pormenores e tudo funciona. A focagem contribuiu para o delírio geral: é como quando estamos a ver uma cena marada na vida real e nos apercebemos de um aspecto burlesco, mas só nós e um amigo é que nos damos conta disso e essa cumplicidade que então se cria é que é divertida. The Office tem este efeito, cria o mesmo tipo de cumplicidade entre o espectador e o camera-man e é isso que faz parecer tudo aquilo hilariante.

Ricky Gervais e Stephen Merchant não são só os homens de The Office. São também os ciradores de outra série excelente, Extras, o que prova que nada do que ali se vê é por acaso. Depois dos Monthy Pithon e de Larry David e do fabuloso Jerry Seinfeld, a humanidade estava a precisar, desesperadamente, de nova dose de inteligência em estado puro. The Office realiza essa necessidade. Mas é pena que em Portugal a série vá chegando a conta gotas. Das quatro temporadas que The Office já leva no Reino Unido, só vimos as duas primeiras no nosso país (embora eu já as tenha visto e revisto praí meia dúzia de vezes cada). Assim é difícil de aguentar a vil e apagada tristeza deste portugal cada vez mais pequenino.
Deixo-vos com malta lá do escritório a dar uma de Marretas: http://www.youtube.com/watch?v=aMWLNlPXcrs !Fabuloso!

08/02/10

Quem é o Cromo Quem é?, por Mijacão

Esta contou-me o meu amigo R. e jura por todos os santinhos que é verdade. Passou-se tudo num jantar de apoio a um candidato político. No meio dos eferreás e, como o jantar já corria há muito e com ele a bebida a rodos, o meu amigo foi à casa de banho. Foi aí que encontrou uma das vedetas do jantar, um conhecido peso pesado do xuxialismo reinante. Saudaram-se, pois que se conheciam de outras lutas e, entretanto, entra um conhecido do dinossauro. Este não tem mais nada e estende-lhe a mão, com os cumprimentos da gerência, ó meu caro amigo e como está a família, etc e tal... Dois dedos de conversa de circunstância e mais uma palmadinha nos ombros até que o outro se despede, até já ó joca, e comenta o eminente político da nossa praça para o meu amigo R.:
- É pá, lavar as mãos pra quê? Este já mas começou a limpar. É só apertar mais uns bacalhaus a mais meia dúzia deles e nem é preciso gastar água (risada boçal)...
Este episódio só confirma o que já se sabe da tribo xuxa: há deles que estão na vida como quem está na casa de banho. Sem sequer lavarem a porcaria das mãos.

Ana Moura no Cae da Figueira da Foz, por Marceneiro

No sábado passado fui ver a Ana Moura ao Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz. Pois, da Figueira da Foz... Não tenho nada contra - pelo contrário - a oferta de espectáculos de qualidade no CAE da Figueira. Quantos mais melhor!

Mas não consigo perceber porque é que a Ana Moura, a excelente Ana Moura, dá um concerto na Figueira e Coimbra fica de fora. Não é só de agora: há muitos anos que Coimbra, a «cidade da cultura e do conhecimento» (deve ser ironia), fica fora dos roteiros de espectáculos deste país. Tá bem, falam-me dos U2 ou dos Stones, mas isso é a excepção. E acho que seria mais positivo para a cidade se se apostasse numa certa regularidade em espectáculos de qualidade, do que trazer uma vez de 5 em 5 anos uma grande banda. Preferia que o hábito da fruição cultural fosse uma possibilidade real na minha cidade e não é. Pena...

Bom, como estava a dizer, lá fui à Figueira ver a Ana Moura. O concerto foi bom, descontando o escasso tempo da sua duração. A Ana começou a cantar já o Benfica jogava em Setúbal e acabou ainda o Cardoso não tinha falhado aquele maldito penalti. É pouco tempo.

De resto a fadista confirmou tudo o que eu já aqui escrevi acerca dela (uns posts mais abaixo, s.f.f.). É uma super star de uma beleza estrondosa, tem uma voz invulgar e uma presença arrasadora. O espectáculo está muito bem pensado, também do ponto de vista cénico. A entrada da Moura, de vestido preto e xaile sobre os ombros é majestosa, os gestos e as poses são cuidados e, acima de tudo, ela tem a qualidade vocal e a alma das grandes intérpretes. Mais uma vez, o espírito de Amália esteve presente, embora Ana Moura faça lembrar mais uma outra fadista, Teresa de Noronha, pela sua pose aristocrática. De facto, ao ouvir Ana Moura quase me esqueço de um certo lado folclórico e popularucho do fado: aquilo é ascético, nobre, espiritual. No fim ela temperou esse cunho mais aristocrático com a interpretação de um malhão que fez as delícias do povo ancião presente. E que bem que ficou à Ana a frase: «gosto de malhões!»...

Uma nota final: embora ela seja, efectivamente, uma grande artista, parece-me que o reportório que apresenta, não sendo mau, não está à sua altura. É ela que transcende aquelas canções, não as canções que a levam mais longe, de um modo geral. Falta-lhe, parece-me, descobrir o seu Alain Oulman (o homem que redimensionou a música da Amália). Acho que uma cantora com a dimensão da Ana não pode andar a catar canções do Tó Zé Brito e do Jorge Fernando. Acredito que no dia em que ela encontrar o «seu» compositor a música dela vai atingir um nível ainda mais estratosférico. Mas até lá o que podemos ouvir/ver já é de outra galáxia!

03/02/10

Calhandrices, por Conan

Depois da licenciatura saída no Omo, das casinhas, do fripó, do apartamento, do aterro da cova da beira, da manuela moura guedes, das escutas e da face oculta e de mais coisas de que já nem me lembro, é natural que o recente caso das pressões socretinas a um director da SIC para correr com o Mário Crespo e o Medina Carreira, já passem quase despercebidas. A sociedade portuguesa parece ter atingido uma espécie de estado de nirvana moral e já é incapaz de se sentir chocada.

No meio disto tudo foi espectacular a resposta do Mário Crespo à pretensa acusação do zé socas que o terá considerado «um incompetente»:
- Incompetente, eu?, disse o Mário. Por amor de Deus, até fui professor na Universidade Independente...
Embrulha.