25/01/11

O País Onde Assumir é Assobiar Para o Lado, por Megatron

Portugal está em decomposição acelerada. O ingenheiro e os seus xuxas são os principais responsáveis pelo estado de lamaçal a que chegámos. Mas mesmo assim ainda existe uma curiosa espécie de português que, não podendo negar a evidência, isto é, a deplorável qualidade dos governantes xuxas, ainda atira para o ar com um deprimente: «pois é, estes são maus, mas os outros são iguais». Ora, para lá do intolerável amorfismo desta posição, autêntica palavra de ordem da inacção vegetal, acontece que isto, pura e simplesmente, não é verdade.O que é é certo, sim, é que «os outros», por muito maus que sejam ( e alguns são!) não são, nem de perto nem de longe, tão maus como estes!

Um exemplo, só mais um entre muitos: por piores que fossem, os antigos ministros e secretários de estado dos governos anteriores ao socas sempre conservaram a noção de que havia limites que, uma vez, reconhecidos publicamente deviam corresponder a demissões. Havia na democracia portuguesa ante-socretina uma espécie de consciência colectiva implícita das regras do jogo: responsável político de cargo relevante apanhado em falta demitia-se! Com zé socas perdeu-se este decoro mínimo. O que não é de estranhar uma vez que, se isto fosse levado a sério, o primeiro a ter que se demitir seria, obviamente, o ingenheiro das mil trapalhadas.

Agora vivemos mais um capítulo desta inconsciência larvar: um número desconhecido, mas elevado, de cidadãos portugueses foi impedido de exercer o seu direito de voto por falhas imputáveis directamente ao governo, mais precisamente ao Ministério de Administração Interna e ninguém, muito menos o ministro Rui Pereira, se demite! Parece que se vai abrir um inquérito e que se pede desculpas aos portugueses... O tanas! As desculpas são inaceitáveis, há é que assumir a responsabilidade desta vergonha.

Num país a sério o ministro rui pereira vinha à televisão na própria noite de eleições e demitia-se na hora. Por decoro, por decência, por vergonha. Num país de fancaria governado por zé socas e sus muchachos abre-se um inquérito, pede-se umas desculpas hipócritas, justifica-se a coisa com falhas técnicas (tanto choque tecnológico, tanto magalhães mais o raio que os parta a todos e, afinal estamos pior que no tempo da esferográfica) e adiante, siga o baile. E ainda dizem que os outros são iguais - tenham lá paciência mas não são! Por muito maus que sejam, esta impunidade nunca se tinha visto na história da democracia portuguesa. E, obviamente, este não é o primeiro caso: é só o último de uma longa história de inconsciência cívica.

23/01/11

Beatificação de Carlos Castro já!, por Cão

A tragicomédia da vida nacional não é preguiçosa. Antes pelo contrário, está tão mais viva quão menos recomendável. Seguem-se alguns itens.

Em vertiginoso curso, o processo de beatificação de Santa Frívola, que em vida se chamou Carlos Castro. Martirizado em halo de santidade por um fedelho de Cantanhede deslumbrado com o barulho das luzes ídolo-televisivas, o malogrado “socialite” da escória socio-cor-de-rosa parece importar-nos a todos muito mais do que um tal capitão de Abril chamado Vítor Alves. Vítor quem? Exacto.
GALP & resto da quadrilha gasolineira de volta à hiperinflação concertada dos combustíveis. Deixa andar, povinho, coitado mas é do Carlos Castro.
O versejador de Águeda continua com a mania de que ele é que é o 25 de Abril, a Resistência, a Poesia, a Democracia. Não é nada.
Um tipo mata o amante da ex-companheira com dois tiros pelas costas. Presente ao juiz, certo detalhe técnico fá-lo sair em liberdade enquanto espera julgamento. Certo. Porreiro. Deve ser justo.

Sócrates etc.

Impostos disparam para cima, salários para baixo, desemprego para cima, justiça para baixo: com tanto acimabaixoacimabaixo, isto já parece cópula sexual.

Eu sei, eu sei: a crónica da semana passada prometia melhores notícias para esta. Não fui capaz de encontrar nenhuma. Nem eu, nem a rapaziada do Sporting, clube que cada vez mais se belenensiza. Por falar em Belém, vai haver eleições presidenciais um dia destes.

Mas Carlos Castro não pode já, como sempre esperei, vir a ser Presidente da República. Será, quando muito, santa. Santa no roxo lírio dos nossos corações.
Dos nossos frívolos corações, ó saudoso capitão Vítor Alves.

20/01/11

Plano de Austeridade Para Salvar Portugal, por Mad Cop

Esta semana dois presidiários conseguiram fugir de uma carrinha da polícia em plena baixa lisboeta depois de se terem desembaraçado das algemas. No dia seguinte o enfoque de um responsável policial era na questão das algemas. Segundo ele a política de austeridade governamental chegou ao ponto de se comprarem algemas de 5-10 euros das lojas chinesas. Umas algemas como deve ser saem muito caras e as instruções da tutela são para se poupar. Ainda ouvi um outro polícia a afirmar que as algemas da polícia são iguaizinhas às que se compram em qualquer sex shop. Mau! polícias, fardas, algemas de sex shops, não querem lá ver...

Mas quando eu pensava que a politica de austeridade governamental está a chegar a pontos absurdos, eis que venho a saber de «fonte bem informada» uma última que deixa o episódio das algemas a um canto. Será verdade que os polícias têm instruções para descarregarem os autoclismos das sanitas apenas ao fim do dia? Para poupar água? Garantem-me que sim e eu não quero crer, mas depois do episódio pífio das algemas chinesas das sex shops, já não sei o que pensar...

Pergunta Naif, por Nelito

Dizem alguns «experts» de economia que o governo do ingenheiro fez um excelente negócio ao vender a dívida portuguesa a investidores estrangeiros a uma taxa de 7,3%. Excelente para quem - para nós ou para os investidores? Eu não me importava nada de comprar dívida portuguesa com uma taxa de juro de 7,3. É negócio que não há nenhum banco que me ofereça. Não posso porquê? Quem me dera ter os olhos em bico e chamar-me Ling Shan Po...

17/01/11

Génios-Arquitectos, por Borromini

Às vezes os arquitectos são um perigo do caraças! Antes de continuar faço já uma declaração de princípio: não é minha intenção ofender uma classe profissional, há lá de tudo como em qualquer outra profissão, os bons, os maus, os mais ou menos e etc e tal… E dito isto voltemos ao princípio:
Às vezes os arquitectos são um perigo do caraças! Toda a gente conhece projectos de arquitectos que ignoram o mais singelo bom senso e concretizam obras monumentais onde não era necessário mais que um retoque de engenharia. Conheci um indivíduo que pediu a um arquitecto um projecto para, simplesmente, ampliar um quarto lá de casa. Pois bem, o projecto do arquitecto atirava literalmente toda a casa abaixo (ou quase) e fazia passar uma espécie de arco suspenso gigantesco que ia ligar o que restaria à garagem existente do outro lado (a qual também levava uma volta de 180 graus).
E que dizer daquele outro indivíduo que se viu confrontado com um projecto de uma casa inteligente, com jardins suspensos, piscina xpto e sanitas aerodinâmicas (!!!) que lhe ia custar os olhos da cara e que nada tinha a ver com a encomenda inicial?
Mas, enfim, dir-me-ão, estes são casos de arquitectos anónimos que têm os seus momentos de inspiração em que se tomam pelos Sizas, pelos Fosters ou pelos Gehrys. Mas o problema é que não é assim. O problema é que, mesmo os grandes arquitectos, aqueles incontroversos génios que todos reconhecemos, têm também os seus momentos de desvario. E ao contrário de outras profissões, o desvario de um génio-arquitecto (pelo seu efectivo poder transformador) pode ser um verdadeiro perigo. Dou apenas três exemplos retirados do excelente livro do escritor brasileiro Ruy Castro, Rio de Janeiro, Carnaval de Fogo, dedicado à Cidade Maravilhosa.
O autor refere alguns projectos que chegaram a estar agendados para o Rio mas que, felizmente, nunca chegaram a concretizar-se. Em 1929 o grande Le Corbusier trabalhou num novo projecto urbano para a cidade. Uma das suas ideias era a construção de um viaduto suspenso, uma espécie de mega centopeia que escalaria e perfuraria morros e que iria do centro da cidade ao Leblon. Em toda a extensão deste monumental polvo, previa-se a construção de quinze andares de apartamentos com capacidade para 90 mil pessoas, rampas, garagens, elevadores para automóveis e até um hangar para hidroaviões! Comenta Ruy Castro: «Algo para reduzir a Muralha da china a um reles belvedere de pagode». Quem tem o prazer indescritível de presenciar a indescritível paisagem do Rio não consegue deixar de sentir um arrepio na espinha só de pensar nesta tarântula gigantesca a envolver mortalmente os morros da cidade…
Mas até o grande Oscar Niemeyer delirou. O seu projecto para o estádio Maracanã, se tivesse sido levado a cabo, seria um verdadeiro bico de obra. Niemeyer propunha que, para evitar que a torcida tivesse que subir rampas, as bancadas ficassem ao nível da rua e o relvado a uns doze metros de profundidade. Pode imaginar-se um Fla-Flu com cerca de 150 mil espectadores disputado numa panela cavada a 12 metros do chão a uma temperatura de 50 graus. Devia ser bonito! E, como o bairro de Maracanã fica numa zona alagadiça qualquer chuva mais forte provocaria inundações e converter-se-ia num tsunâmi mortal para os frequentadores do relvado, dos balneários e das instalações ao fundo do estádio. Felizmente, apesar dos nomes imortais destes dois grandes arquitectos, nenhum destes projectos foi levado a cabo. Às vezes ganha o bom senso…
Mas as ideias mirabolantes estão longe de serem um exclusivo de arquitectos geniais. Ruy Castro recorda o caso do visconde de Courby um diletante francês das belles lettres que, em 1886, propôs, nem mais nem menos que a demolição do Pão de Açúcar para resolver o problema da falta de ventilação do Centro, provocada, segundo ele, pela entrada estreita da baía de Guanabara! A cidade poderia, enfim, respirar e acabariam os surtos de febre amarela… Não se imagina o Rio sem o Pão de Açúcar e só de pensar nas loucuras a que uma cidade - qualquer uma, mas em especial uma tão esplendorosa como o Rio de Janeiro - está sujeita convencemo-nos facilmente da fragilidade das belezas naturais.
Porque raio é que os homens e, em especial, os grandes arquitectos, hão-de ter esta imorredoira vontade de aperfeiçoar o que a natureza já fez perfeito? Não lhes passa pela cabeça completar com grandes jardins botânicos e obras de arte surpreendentes, a paisagem desolada do Barreiro, de Tunes ou de Nova Deli? Essas sim, precisam da intervenção humana… Mas não podem ver cenários de Xangrilá como o Rio que não lhes dê logo para entrar numa espécie de competição privada com Deus. Às vezes o que nos vale é o senso comum...

14/01/11

Esquizofrenia Política, por Mad Doctor

Acabo de ouvir na rádio as declarações de Manel Alegre num comício xuxa no interior do país. Depois de andar a criticar o cavaco por ser o pai da crise e por não se ter oposto às políticas que conduziram o país a este estado (mas as políticas de quem?), Alegre aparece agora, no dito comício, ao lado do primeiro ministro ingenheiro. Mas afinal quem é o responsável pelas políticas ruinosas que levaram o país a bater no fundo? Não é o ingenheiro? Então, se o cavaco devia ter feito algo para evitar isto, era ter demitido o governo... É isso que alegre quer dizer quando critica cavaco por não ter feito nada? Mas agora o alegre e o ingenheiro surgem lado a lado e eu já não percebo nada...

Depois ouço o Alegre a dizer sem corar, sem rir, sem chorar, que apoia o ingenheiro, o qual tem feito muito esforço para vencer a crise, e que está e estará sempre ao lado dele, incondicionalmente. Mas o alegre não é apoiado pelo BE que aponta o ingenheiro e as suas políticas como o pai da crise? Então qual é o alegre em que devemos acreditar: no alegre versão xuxa que apoia incondicionalmente o ingenheiro ou no alegre versão BE que critica a política ruinosa e anti-social do mesmo ingenheiro?

A posição de alegre, apoiado simultaneamente pelo BE e pelo ingenheiro e seus xuxas é indefensável. O homem parece padecer de esquizofrenia e não sei mesmo se estes exercícios de acrobacia mental não lhe custarão danos irreversíveis do ponto de vista da sua sanidade psíquica. Para seu bem, oxalá não seja eleito: ainda acaba na psquiatria a julgar-se Napoleão Bonaparte.

11/01/11

Who Killed Bambi?, por Kalar

Este fim de semana percebi finalmente o encanto de ser caçador. Um caçador é um ser que sempre me intrigou. Acho esquisita a motivação que leva milhares de adultos supostamente normais a percorrerem os campos e montes deste país, à chuva, ao vento e ao frio, acompanhados de cães nervosos e barulhentos e armados de espingardas , a dispararem sobre tudo o que mexe, inclusivamente, sobre outros caçadores. Dizem-me que é por instinto ecológico, mas eu continuo sem perceber porque é que o prazer do contacto com a natureza exige que se vazem cartucheiras inteiras em cima dos pobres animais. E também nunca percebi o misterioso encanto que é levantarem-se às quatro da manhã para partirem ao encontro da natureza pura. Mas enfim, cada maluco com a sua mania e eu também tenho as minhas.

Mas este fim de semana compreendi, finalmente, a alegria que há na nobre arte de ser caçador. Encontrava-me num hotel do interior do país. Estava no hall, quando me chamam a atenção para um típico caçador, acabado de chegar, equipado com as suas típicas calças verde-militar, chapéu e galochas e espingarda devidamente embrulhada no estojo. O caçador dirigiu-se à recepção do hotel e pediu um quarto duplo com uma cama extra. Entretanto, do jipe do caçador, saíram duas lebres, duas perdizes, dois estorninhos, dois javalis? Não! Nada mais nada menos que duas brasileiras monumentais a cantarem e a dançarem o Mila do Netinho ou coisa que as valha. Ena, pensei eu...
Mais à noite o mesmo caçador, desta vez trajado à civil, todo muito bem posto com uma imponente gravata, fatinho e sobretudo, desceu do seu quarto duplo com cama extra, logo seguido das duas brasileiras postas num saltos muito altos e de decotes a arfar e lá foram todos à sua vida.

E depois dizem que não há caça... Assim sim, que isto é caça e da grossa. Não é como aqueles tristes que passam o sábado e o domingo aos tiros nos bichos e depois chegam a casa com um mísero estorninho no bornal. Parece que estou a ver este caçador como deve ser a explicar à patroa que ia à caça este fim de semana com os amigos. E foi: apanhou duas brasileiras de bom porte, engaiolou-as no quarto duplo com cama extra e tudo isto sem disparar um único tiro. É obra! Imagino-o o chegar a casa no domingo à noite a explicar à patroa que a caça anda mal, que há graves problemas ecológicos e que já não se mata nada, ainda por cima isto é um sofrimento com a chuva, o frio e a lama, nem sei porque é que continuo a caçar, é um vício do caraças, prontos... E a mulher a acenar com a cabeça que, tal como eu, também não percebe os caçadores.

Ao fim da noite, depois do jantar, vi chegar mais um caçador ao hotel com a sua espingarda devidamente embrulhada. Este vinha derreado do esforço da jornada e estava acompanhado pela patroa, uma senhora de aspecto indomável, com os seus, vá lá, 100 kilos de presença e bigode. Parece que, para este, a caça não tá mesmo a dar. Azar! O colega de à bocado teve mais sorte, apanhou duas lebres, a caça é assim, depende da sorte e do talento de cada caçador.

05/01/11

FALTA DE VERGONHA, por Coradix

Estava aqui a pensar (coisa perigosa, hoje, em Portugal): qual será o problema deste país? De uma forma inequívoca, a resposta surge, sem qualquer rebuço: o problema de Portugal é falta de vergonha!

Sim, falta de vergonha a que assistimos quotidianamente.
Como é possível alguém ser capaz de se olhar ao espelho, sem se envergonhar, depois de decretar medidas de austeridade e, de imediato, permitir toda e qualquer possibilidade de fuga a essas medidas: é os Açores, a Segurança Social, a promoção dos Polícias, os dividendos da P.T….

Temos os casos BPN, Freeport, Casa Pia, os voos da CIA, o BES, … não vale a pena ser fastidioso a elencar todos os outros (até porque não há tempo para tal).

Depois, sem qualquer resquício da dita, alardeia-se que, afinal, estamos muito bem e a implementar as medidas certas na Educação porque o Relatório Pisa veio afirmar que estamos a evoluir e somos fantásticos (há por aí um pateta, um careca cujo nome ignoro e que participa no programa Eixo do Mal na Sic, que até já diz que a anterior ministra é que era, porque foi a grande obreira e que merece ser ministra da educação num próximo governo PSD — a este o problema da vergonha até se secundariza, tais as imbecilidades que profere).

Mas, pasme-se, quando se pretende saber como foram escolhidos os discentes e quem são… não se pode porque é secreto!
Pois, mas agora o GAVE (sem alunos secretos e sem escolhas) veio repor a verdade das coisas: afinal estamos mesmo mal e a precisar de mudar urgentemente! Voilá. Fica-se à espera da cambalhota do pateta a que se alude anteriormente.

Mas atenção: a ausência de vergonha não vale só para isto. Vale, e quase diria sobretudo, para aqueles que, sendo espoliados, enganados, maltratados, tratados como tolos e com absoluto desprezo ainda voltam a eleger quem os manipula. Sim, porque os grandes responsáveis são quem escolhe este tipo de gente.

Lévi-Strauss dizia que a vergonha é um sentimento social. Infelizmente, no nosso país, a vergonha só é apanágio das pessoas de bem. E essas não têm qualquer possibilidade de lutar contra os rebanhos que acham que ser de um determinado partido é como ser de um clube de futebol… as palas aplicaram-se, durante anos, nos burros. Nos humanos já nem é preciso esse artifício!