28/02/11

Se calhar parvoices, por Às Vezes Neva em Abril

Este vem um pouco a propósito do anterior post, solidário com a geração parva à rasca e com os seus protestos e reivindicações - em rigor é uma minoria dentro de uma geração, uma larga minoria, mas uma minoria, já que a maior parte até se vai safando razoavelmente.

Este fim de semana fui com a família passear e, pelo caminho, fomos visitar o castelo de Leiria. Lembrei-me disto porque foi também uma ocasião de apreciar, em toda a sua pequenina grandeza, o mamarracho futebolístico que o (des)enquadramento na paisagem agiganta ao ponto de eclipsar tudo à sua volta com a sua fealdade, inclusive o castelo. E o que é que isto tem a ver com gerações parvas?

O estádio de Leiria, até porque parece não servir para mais nada, é um símbolo poderoso. Um símbolo do que está mal neste país e uma prova viva, perdão, morta, da responsabilidade inter-geracional e geral pelo estado da nação e da responsabilidade tanto de governantes como de governados. Nação essa que é o somatório de decisões atrás de decisões desastradas e desastrosas. Muitas delas, como a decisão do Euro 2004, amplamente aplaudidas pelo povo. O mesmo povo que hoje atira pedras aos políticos, basicamente os mesmos que ajuda a eleger, por acção ou omissão, eleições atrás de eleições. Sobretudo por omissão.

O estádio de futebol de Leiria, exemplo perfeito de investimento público inútil, é um símbolo de um povo, ontem como hoje, parvo e rasco, que se alheia da coisa pública e que pelo caminho de História se esqueceu de arriscar e de empreender (se é que alguma vez se lembrou), à sombra de um Estado tentacular e providencialista com as prioridades trocadas, que continua a asfixiar a iniciativa privada e a capacidade criativa do indivíduo.

O estádio de Leiria é um símbolo de um povo fadista, inconsequente e dependente, que prefere a lamentação à acção e o subsídio ao risco. Em suma, o estádio de Leiria é um símbolo de um povo que não sabe ser livre e que tem os políticos que merece.

É por estas e por outras que «correr de lá com estes políticos», uma das bandeiras dos jovens descontentes, não muda rigorosamente nada. Não muda porque o problema não é do balde, é do que lá está dentro. E lá dentro estamos todos - todos os que aplaudimos os euros da bola e o circo, por exemplo. Isto é, os nossos políticos somos nós.

Por isso a minha resposta à geração parva e à rasca é: parem lá com as manifs e com o choradinho e organizem-se, pá! Infiltrem-se em partidos, organizem-se em novos partidos ou projectos políticos independentes, organizem-se em associações, em lóbis, em cooperativas, vão à luta, acreditem mais em vós próprios, não fiquem à espera que os outros resolvam os vossos problemas ou de empregos para a vida e criem projectos empresariais, sejam empreendedores e participativos, rasguem novos horizontes. Em suma, mexam-se! Só assim conseguirão a mudança que reclamam.

22/02/11

Dia 12 de Março, Todos Prá Rua!, por Parvalhão

Porque é que uma música, um quadro, um edifício que foram ignorados durante algum tempo, subitamente, se transformam em peças de um valor inquestionável? Os exemplos são às dezenas, todos conhecemos o caso do pintor maldito - Van Gogh, Gauguin, os impressionistas - que passou a vida a fazer obras primas que os seus contemporâneos ignoraram. Porque que é que só os vindouros, muito tempo depois lhes reconheceram - áqueles e a tantos e tantos outros - a genialidade tardia? Será o génio um rastilho que só se pode consumir muito lentamente?

Acontece que em arte, como em qualquer outro acto de comunicação, há um factor de capital importância que os gregos baptizaram com o nome de Kayrós. Kayrós, o tempo da oportunidade, não Kronos, o tempo cronológico que devora os próprios filhos, mas o tempo exacto, o momento certo. É por isso que há grandes obras que não o são enquanto não chega o seu tempo, o Kayrós em que elas se revelam em toda a sua profundidade. E, ás vezes, acontece mesmo que obras que não são assim tão geniais acabam por ganhar um valor acrescido, precisamente, porque se revelaram no seu tempo, no tempo certo. Parece-me ser o caso evidente da canção Que Parva que Sou dos Deolinda.

Não sou um grande fã dos Deolinda nem me vou pronunciar sobre a qualidade musical da canção. Mas há uma coisa que reconheço áquela música: ela foi capaz, na sua singeleza profunda, de captar o espírito do tempo. E isso é, de facto, algo que roça a genialidade. Aquela música capta o espírito revoltado e indignado de uma geração humilhada e explorada por uma década de políticos corruptos. Os Deolinda expressam o lodo fedorento em que se tornou o portugal xuxa de zé socas. Está lá tudo, é uma música e uma letra que expressam o sintoma, o sentimento de decadência, da indignação e da revolta de milhares e milhares de jovens ultrajados. Que Parva que Sou é a denúncia do pântano, o anúncio de qualquer coisa que cheira já a fim de regime. E por isso é tão emocionante ver aquele vídeo em que milhares de jovens «quinhentos euristas» se levantam em peso e aplaudem os Deolinda, comovidos e arrepiados. Na mouche!

Os sintomas estavam aí - a intervenção artística mostra-se sempre especialmente capaz quando se trata de anteciparos sinais do tempo, como aconteceu agora. Sentia-se nos concertos do Sérgio Godinho, por exemplo: de repente, as velhas canções revolucionárias do antigo cantor de protesto ganharam actualidade. Mas ele escreveu aquilo em 1974? Sobre o fascismo?
Sentia-se na súbita vontade de re-ouvirmos o Zeca, o Fausto, o Zé Mário. As velhas músicas de protesto, para quem reparou, tornaram-se actuais, ganharam, estupendo!, de novo, o seu Kayrós. O Charlatão, Que Força é Essa, Uns Vão Bem e Outros Mal, Liberdade, etc, etc, dizem tanto hoje no portugal socretino, como disseram no tempo do portugal salazarista.

Infelizmente, os cantores da geração dos actuais políticos, os Xutos arrependidos e o abrunhosa mudo, não souberam estar à altura das suas responsabilidades (como não recordar o lamentável acto de contrição do zé pedro dos xutos a propósito da célebre canção do engenheiro, essa que foi um quase ícone e que, de repente, se esfumou em nada com a vergonha do seu autor?). Felizmente os Deolinda souberam estar à altura, foram eles a dar forma à raiva, ao desespero e à revolta da «geração à rasca».

Dia 12 de Março vamos todos prá rua porque, sejamos ou não desta geração, todos (bem, quase todos...) somos vítimas da podridão instalada. Ou como dizia o Zeca, venham mais cinco...

21/02/11

E uma jihad atómica? por J

Com o mundo muçulmano em ebulição e sem sabermos muito bem onde tudo isto vai parar - ainda que desconfie que não irá propriamente parar a um destino de radiosa liberdade e democracia - outras forças se movem nas entranhas do Médio Oriente. Bem ali no meio do intestino grosso, temos a República Islâmica do Irão, uma potência regional governada por fanáticos religiosos com tendências apocalípticas, cheio de ganas de nos dar cabo do canastro (aos americanos em particular e a todos os ocidentais infiéis em geral) e que não tarda muito tem a Bomba.

Isto enquanto o resto do mundo assobia para o ar. Uns, como a Rússia e a China, porque negócio é negócio e há muito negócio envolvido - petróleo para um lado, armas para o outro, etc.. Outros, como a generalidade dos países ocidentais, porque achamos que Israel irá tratar do assunto mais cedo ou mais tarde e que esse é um assunto existencial que lhes diz sobretudo respeito a eles, israelitas, que estão ali quase ao lado e que já estão cercados de hezbolla e hamas por todo o lado. A cereja no topo do bolo será, sem dúvida, a irmandade Muçulmana a dar cartas no Egito e a escancarar as fronteiras com Gaza. Aliás, muitos de nós, sobretudo as gentis e mui tolerantes almas esquerdistas, até pensarão que é bem feito, que o Irão tem direito à sua Bomba e que Israel não está senão a pedi-las. Como se não houvesse resto.

Enquanto isso, a "jihad iraniana" estende os seus tentáculos e prossegue impávida e serena na rota nuclear. Um cenário preocupante que este documentário retrata, fazendo um pouco de história e talvez exagerando um pouco na influência internacional do regime iraniano. Mas é de ver. Iranium.

20/02/11

O tapor, um regresso e um filme com vikings de barba rija e fraca alma, por J

A propósito de um apelo de um membro/sobrevivente deste blog, no sentido de vir aqui arranjar uma avaria nas entranhas do Tapor, voltou-me a vontade de voltar a postar por aqui de vez em quando. Isto depois de um longo interregno sem postar ou intervir, por razões endógenas e exógenas, mas sobretudo das últimas. E como eu, pelo que fui verificando, outros tapores foram dando outras prioridades às suas vidas.

O facto é que, afastamentos à parte, o tapor continua vivo, ainda que mantido praticamente apenas por um ou dois colaboradores, que guardam o forte quais indefectíveis gauleses ou texanos. E o facto é que sete anos depois, se me não falha a aritmética, o tapor continua a gróinkar e a atrair multidões (cerca de 11 mil visitas no último mês).

É certo que a maioria vem atraída pelo sexo, por alguns posts antigos de antologia sobre o universo porno. Os posts mais visitados são, de longe, os da saga da Monica Rocaforte, o da Little Oral Annie, The Queen Of Deepthroat, seguidos de perto pelo da Nigella qualquer coisa que é cozinheira e não se sabe se é ou não gorda. Ou seja, muitos aterram aqui, efectivamente, por acidente. Sendo que o grosso da coluna de visitantes é oriunda do Brasil, de longe. Mas isso não interessa, o que interessa é que no meio de tantos milhares de turistas, há certamente umas dezenas deles que perdem tempo a ficar um pouco mais por aqui, de molde a conhecer os hábitos e os costumes e a ler este vastíssimo espólio da mais pura cultura blogosférica, feita de momentos inspirados, idiotas (eu fiz a minha dose deles), bem humorados, informativos, conhecimento, opinião e debate e tudo. Sobre tudo e às vezes até demais. Em Português de quatrocentas calhoadas ao minuto, que era por onde o Assis Pacheco respirava. Essoutro coimbrinha ilustríssimo.

Isto tudo para dizer duas coisas. Que acho muitíssimo bem que o Tapor, este monumento ao saber e ao sentir popular (raiando mesmo por vezes o erudito) contemporâneo não morra, que volto com novas ideias e formas de pensar. E que (re)começo com uma pequena nota sobre cinema, um dos temas caros a este blog desde a sua Fundação, sendo sempre de homenagear aqui o Mangas, o nosso cinéfilo-mor, que tem para aí para trás muitas pérolas de crítica cinematográfica.

O filme que vos trago aqui hoje, por outro lado, vem (inconscientemente, só me lembrei dessa coincidência quando estava a escrever isto) um pouco na sequência de uma série de posts que fiz há uns anos para aqui, sobre a temática fitas de ménes, se não me engano. Lembro-me que escrevi na altura sobre o Dersu Uzala do Kurosawa e sobre o Lawrence da Arábia do Lean. E acontece que a fita do presente post também é sem tirar nem por fita de ménes, um filme masculino e viril dos pés à cabeça. E acontece que é também dos filmes mais (injustamente) esquecidos/ignorados de 2010. Sendo certo que não é propriamente um filme comercial, que é dinamarquês (co-produção com a Grã Bretanha) e que cerca de noventa por cento do filme não tem diálogos. Falo de

Valhala Rising, Nicolas Winding Refn

Há muito tempo que um filme não me surpreendia de maneira tão profunda. E isto é o mínimo que posso dizer desta obra. O que é bastante. E é daqueles a que nem arrisco dar estrelas, para cima ou para baixo, cada um que tire as suas conclusões. Trata-se de uma experiência cinematográfica um pouco desconcertante (sobretudo para quem tiver a expectativa de filme de aventuras com vikings) e que não será de todo consensual.

Eu achei este um filme marcante e, melhor ainda, um objecto estranho, singular, diferente, algo do tipo "novo", o que vai sendo cada vez mais raro no mundo do cinema. O que é sempre emocionante. Sobretudo se é uma produção modesta e sem grande aparato high-tech.

Em traços muitos gerais, estamos na Idade Média, ano 1000 DC, e acompanhamos parte do percurso de um escravo mudo e zarolho chamado One Eye, um guerreiro cativo de um clã de brutamontes escoceses. Grande parte do filme, como tal, é passado no cenário granítico e desolador das High Lands. O homem acaba por fugir e por se associar, relutantemente, a um bando de normandos (enfim, vikings) que assolavam a zona, cruzados em preparação para a grande viagem à Palestina, onde aguardava fortuna e redenção. Que foi exatamente o que não encontraram - ainda que não todos.

Em termos de trama isto basta (ou se não basta podem ir aqui), até porque este é daqueles filmes realmente de poucas palavras, de onde se sai também mudo e um pouco zarolho. Um filme de um realismo tão brutal que raia o gore, em certas cenas de extrema violência, em sintonia com a dureza daquela paisagem e daquelas vidas, mas que ostenta ao mesmo tempo uma beleza plástica, fotográfica e poética simplesmente arrebatadora, quase espiritual.

E a música e os actores. Superlativos. Tudo no seu estranho mas inevitável sítio.

Por ser um objecto algo bizarro, é difícil de catalogar, mas para dar uma referência, lembrei-me por exemplo ao ver o filme do universo do Terrence Malick. Outros entusiastas viram por ali o Dreyer. Eu continuo sobretudo a pensar que é uma injustiça ser tão pouco conhecido e falado. Vejam que vale a pena. E já agora completamente a despropósito, dos oscarizáveis aconselho vivamente o True Grit. Outro Senhor Filme.

14/02/11

S. Mateus e o Anjo de Caravaggio, por Herege

Caravaggio pintou São Mateus e o Anjo em 1602 na sequência de uma encomenda que lhe foi feita pela Igreja para decorar o altar da Capela de Contarelli. O primeiro destes pics, a preto e branco, é o retrato dessa obra. Nela vemos o apóstolo S. Mateus a ler as escrituras. O anjo serve de orientador a essa leitura, o que é mostrado de um modo muito directo pelo pintor – a mão do arcanjo está pousada sobre a do apóstolo e condu-la.
 
A Igreja considerou «inapropriada» a forma como Caravaggio retratou esta história. Recusou o quadro e obrigou o pintor a realizar uma nova versão mais adequada ao espírito religioso da época. Quais as razões desta recusa?

Observando o quadro percebemos que ele tem uma ambígua carga erótica que deve ter incomodada a Santa Madre Igreja. S. Mateus parece demasiado perdido, como se travasse uma luta interior para vencer as suas tentações. E o anjo parece, de facto, tentador, demasiado carnal, demasiado sensual. Atente-se nos seus olhos semi-fechados, nos seus lábios, na veste transparente e volátil que lhe deixa ver as pernas e, sobretudo, na sua gestualidade, uma marca dramática omnipresente na pintura do Mestre. Reparem naquela mão em cima da de Mateus. E na outra, lânguida, prazenteira… Este Caravaggio sabia o que fazia…

A igreja não disse isto desta maneira. Mas justificou-se: S. Mateus teria sido representado como um homem humilde, rude, analfabeto. Não se estaria a sublinhar a devida santidade do apóstolo. E o anjo, pasme-se, pisa a terra como um comum mortal. Humano, demasiado humano…

Obrigado a fazer uma nova versão, Caravaggio apresentou o segundo destes quadros, mais de acordo com as exigências do seu cliente. No segundo quadro, o anjo perde a sua perturbadora sensualidade, perde até a sua fisionomia feminina para ganhar um rosto mais andrógino. Além disso, fica reforçada a diferença de planos entre o divino e o profano – o anjo desce do céu, S. Mateus levanta o olhar, mas não há contacto físico entre eles, ao contrário da primeira versão (note-se mais uma vez a diferença na linguagem gestual do anjo, aqui fechada sobre si mesma ao invés do gesto de contacto que vemos no primeiro quadro).

Apesar de tudo, este segundo S. Mateus, ainda mantém algumas características do primeiro: sobretudo, a sua humildade, a sua rudeza, sublinhadas pelos pés descalços e sujos e pelo seu ar ainda hesitante.
Infelizmente, a história tem ironias dos diabos: o segundo quadro encontra-se na Igreja de S. Luís dos Franceses em Roma. Quanto ao primeiro, o meu preferido, foi destruído durante os bombardeamentos aliados da Alemanha durante a segunda guerra mundial. Tudo o que dele resta é esta ténue fotografia a preto e branco. Ele há coisas do caraças…

07/02/11

O Grau Zero da Argumentação, por Recruta Zero

«Vi uma manifestação de pais, alunos e professores de uma escola pública, onde, dizem eles, chove em alguns locais e faz frio porque não há aquecimento na escola».
m.s. tavares, Expresso, 5/2/11

Tudo nesta frase é abjecto, sinuoso, manhoso...Isto vem escrito no último número do Expresso, um jornal que, estranhamente, continua a pagar principescamente a este indivíduo para debitar porcarias destas. Estranha-se que um jornal de referência não reflicta um pouco mais sobre os escrevinhadores que anda a sustentar.

Mas a dita frase tem um mérito, por acaso, pedagógico - ela pode ser utilizada como um bom exemplo de como as palavras podem ser traiçoeiras e manipuladoras. Sublinhei algumas partes desta jóia peçanhenta. Repare-se: o tavares não diz que chove e faz frio numa escola pública. Não. Isso não é , para ele, um facto - simplesmente «dizem eles». Nesta chico-espertice o tavares deixa assim sub-entendido que isto pode ser uma inventona movida sabe-se lá porque ínvios interesses dos alunos, pais e professores. «Dizem eles», sabe-se lá se chove e se faz frio naquela escola...

E o que «dizem eles»? Que «chove em alguns locais» (da escola, presume-se). Outro artifício de ratazana - obviamente os pais, alunos e professores não se queixam de chover «nalguns locais». Queixam-se porque, certamente, chove no interior da escola, possivelmente, nalgumas salas de aula e no ginásio, como se vê tantas vezes por esse país fora. Mas esta parte o tavares omite - deixa quase a entender que estamos perante um bando de maluquinhos que se queixam de que «chove nalguns locais», no pátio talvez ou no parque de estacionamento ao ar livre...

O resto do artigo (?) consiste num delírio que insulta a inteligência de qualquer burro. A argumentação do tavares, para rebater a pertinência destes protestos consiste nisto: no tempo dele, o tavares estudou no Marão e numa escola de Lisboa e nem numa nem noutra escola havia aquecimento para tornar o frio suportável e nesse tempo ele apanhava muita chuva e muito frio e também ia a pé para a escola e não tinha canetas nem giz nem lousa, etc, etc. Aqui já estamos no grau zero da argumentação: a linha de raciocínio é digna de um indivíduo que já não está na posse das suas inteiras faculdades lógicas. O tavares quer dizer que se no tempo dele era assim, então agora, em 2011, os pais e alunos e professores do ensino público deviam agradecer o muito que já têm e não andarem a fazer birrinhas.

Mesmo vindo isto do tavares, temos alguma dificuldade em acreditar. Mas é mesmo esta lógica que ele desenvolve, o que permite conclusões na mesma linha de raciocínio do género: no meu tempo os professores batiam nos alunos e agora estes queixam-se quando apanham um simples bofetão ou outros delírios do género, no meu tempo comíamos uma sardinha assada a dividir por três e agora queixam-se de que a carne de vaca da cantina é má, etc, etc. Em suma: inacreditável! E o Expresso acha isto normal? E paga-lhe?

O tavares conclui com chave de lata o seu miserável escrito, recomendando aos alunos que se «há uma escola onde falta o aquecimento e chove em alguns lugares» (sic) a solução é que os meninos se «agasalhem e levem guarda-chuvas». Guarda chuvas acho que deviam levar, sim. Para quando o tavares passar um dia nessa escola. Se forem dos bons, daqueles resistentes como no meu tempo, os guarda-chuvas ainda podem ser muito úteis. Ah pois podem...

03/02/11

O Benfica deu um valente cascudo no fóculporto e eu reedito aqui a crónica do jogo à maneira do Automotora, por Tó Motor

O Benfica ganhou ao Fóculporto por 2 a 0. Aconteceu no Ladrão. A análise do Jogo

Foi um grande jogo de futebol, como se costuma dizer, aquele a que anteontem se assistiu no Ladrão, entre o Porto e o Benfica. Mas o desfecho, se bem que inesperado para muitos, não foi surpresa para mim. Desde há algum tempo que venho dizendo: não ponde o Cardoso a jogar naquela posição, pelo miolo do terreno!


Isto porque, convém dizer, sempre fui apologista da táctica 1x3x3x4, com um médio recuado e lateralizações pelos flancos, a fazer a dobra. Da forma a que ontem se assistiu, nunca! O único que esteve bem foi o Sidnei, a fazer lembrar o Humberto Coelho, com os seus passes milimétricos para o Luisão, num esforço assinalável de sinergias a que se associou o Xavo, esse poço de garra, sempre na dobra.

O Salvio, por sua vez, parecia perdido nas dobras, sem uma clara linha condutora, afunilando o jogo pelos flancos, a fazer lembrar o Humberto Coelho. Valeu-lhe o Maxi esse poço de força, a fazer as dobras, a meter o pé nos flancos, sem se amedrontar com o Fernando que não o largava, no homem a homem. Esteve também muito bem o Gaitan esse dinamo, esse animal de área, como costuma dizer-se, a fazer lembrar o Humberto Coelho, imbatível no um para um (-----»«-----), sempre na dobra, ali, no miolo, a lateralizar para a grande área. Um autêntico perigo para o sector médio defensivo contrário.

E o saviola, esse bambino d’oro, esse animal do miolo? Ó meus caros, é o que eu sempre tenho dito: ponde-o no ataque, que ele dá conta do recado! Meu dito, meu feito! A gizar jogadas, daquela forma, nem o Helton o segura. Foi o melhor em campo. Pecará, talvez, por algum individualismo, mas mesmo essa sua faceta é compensada pela sua entrega ao jogo, pela sua alegria de viver. Em suma, esteve eficaz, e aquele seu pé esquerdo fez estragos na defesa contrária, a fazer lembrar o Humberto Coelho.

Os tripeiros chegaram mesmo a andar de cabeça perdida, e foi muito feio, muito feio mesmo, aquela atitude do Rolando, que só o árbitro não viu. Não viu muita coisa, diga-se de passagem… Uma palavrinha sobre o árbitro: árbitros desta categoria dignificam o espectáculo. Ali, sempre na dobra, sempre a lateralizar pelos flancos, foi um dos homens do jogo. Nota 10, portanto, a fazer lembrar o Humberto Coelho.

Uma última palavra para o Júlio César, esse poço de força e de alegria. Mas aquela posição não é claramente a dele, e isso foi patente ao longo de todo o encontro. Não se percebe que o Benfica vá buscar um jogador destes, e o desaproveite daquela forma. Sente-se que joga de forma triste, sem garra, e não ajudam atitudes como aquela que o Rolando teve para com ele. Foi triste, uma mancha negra na sua carreira. Mas é jovem, e tem tempo para arrepiar caminho.

O Treinador do Benfica, o Jesus, tem um longo trabalho de balneário pela frente… E vou eleger agora a melhor jogada de todo o encontro: aos 35 minutos, o Luisão conduz a bola. De repente, vê o cardoso e lateraliza pelos flancos, corre trinta metros e passa ao saviola Este por sua vez, corre pela esquerda, em sinergia com o gaitan, e passa a bola ao peixoto num passe milimétrico de trinta metros, que o árbrito deixa passar, e muito bem, numa boa leitura do jogo. Infelizmente, não havia ninguém a fazer a dobra e a bola perdeu-se pelos fundos.

Quanto ao Fóculporto, não há muito a dizer. Dignificou o espectáculo e foi um justo venceido embora tivesse sido triste aquela atitude do Maicon. Atitudes como aquela ficam-lhe mal e não contribuem para a dignificação do espectáculo. Bom, finalizando, o resultado podia ter sido outro, se o desfecho tivesse sido diferente, mas a vida é como é, sempre na dobra, sempre pelos flancos, a fazer lembrar o Humberto Coelho.

01/02/11

Boas Companhias, por DDT

O ex presidente Sampaio foi testemunhar a favor da honorabilidade e respeitabilidade do camarada zé penedos a contas com a Justiça como arguido no processo Face Oculta.

Sampaio põe as mãos no fogo por Penedos, um modelo de honestidade e incorruptibilidade, segundo a personagem que se destacou na presidência por condecorar tudo o que mexia. E, para mostrar, como penedos é à prova de suspeita, Sampaio deu o seu próprio exemplo: também ele, Sampaio, enquanto presidente da República, recebeu milhares de prendas e muitas valiosas que davam para encher duas salas!

E o sr Sampaio acha isto natural! Eu não, mas enfim... Sampaio engrossa assim a lista de bons exemplos xuxas nesta matéria: há uns meses atrás a comunicação social publicou a lista de ofertados do sucateiro Godinho e lá vinha a rapaziada do costume ... Jorge Coelho chegou mesmo a declarar alto e bom som e sem estremecer que só canetas de dupont oferecidas, tinha lá em casa mais de 200! Tudo normal, a honorabilidade de Penedos está então atestada em tão boas companhias, é o que argumenta Sampaio!

Nem vale a pena comentar esta reinação, faço minhas as palavras deste post, está lá tudo o que devia ser dito para que esta gentinha corasse de vergonha - se a tivesse,claro: http://31daarmada.blogs.sapo.pt/4766790.html