01/01/14

Como existir no Dubai? – III, por Bom Mé Mé



Apesar da omnipresença do islão – uma religião que é, como muito poucas, um enorme receituário de regras – os habitantes do Dubai são tão hipócritas como os outros habitantes de qualquer outra parte do mundo. Se levassem o Ramadão tão a sério como dizem, não deveriam comer às escondidas, como fazem, e deveriam obrigar, realmente, os outros, os hereges e infiéis, a cumprirem essas normas. Mas quando nos dizem que, no quarto, secretamente, podemos comer, desde que ninguém veja, isso é ajudar os outros a pecar, é tratar-lhes do passaporte para o inferno. Também há quem cumpra à letra o Ramadão, admito que sim. E não tenho dúvidas que todos aqueles sheiks envolvidos nas suas túnicas brancas que passeiam nos shoppings à frente dos seus haréns de mulheres escondidas em burkas negras, levem tudo muito a sério. Calculo que dormem de dia e vivem de noite, é uma questão de trocar os fusos horários.

Também é curioso desfolhar as páginas de anúncios de arrendamento e vendas imobiliárias num jornal nativo. Enquanto os jornais portugueses dão conta das casas que estão à venda na figueira da foz, em mira ou na tocha, os jornais do dubai publicam anúncios imobiliários de Nova iorque, tókio, londres e paris. Olho aqueles xeques e as suas mulheres e não consigo deixar de pensar que o ramadão e todas as regras rígidas do dia a dia, devem ser muito fáceis de suportar quando se pode tirar uma folga para ir viver durante uma temporada, como um cristão, para Londres, Paris ou Los Angeles.