Apesar da
omnipresença do islão – uma religião que é, como muito poucas, um enorme
receituário de regras – os habitantes do Dubai são tão hipócritas como os
outros habitantes de qualquer outra parte do mundo. Se levassem o Ramadão tão a
sério como dizem, não deveriam comer às escondidas, como fazem, e deveriam
obrigar, realmente, os outros, os hereges e infiéis, a cumprirem essas normas.
Mas quando nos dizem que, no quarto, secretamente, podemos comer, desde que
ninguém veja, isso é ajudar os outros a pecar, é tratar-lhes do passaporte para
o inferno. Também há quem cumpra à letra o Ramadão, admito que sim. E não tenho
dúvidas que todos aqueles sheiks envolvidos nas suas túnicas brancas que
passeiam nos shoppings à frente dos seus haréns de mulheres escondidas em
burkas negras, levem tudo muito a sério. Calculo que dormem de dia e vivem de
noite, é uma questão de trocar os fusos horários.
Também é curioso desfolhar as
páginas de anúncios de arrendamento e vendas imobiliárias num jornal nativo.
Enquanto os jornais portugueses dão conta das casas que estão à venda na
figueira da foz, em mira ou na tocha, os jornais do dubai publicam anúncios
imobiliários de Nova iorque, tókio, londres e paris. Olho aqueles xeques e as
suas mulheres e não consigo deixar de pensar que o ramadão e todas as regras
rígidas do dia a dia, devem ser muito fáceis de suportar quando se pode tirar
uma folga para ir viver durante uma temporada, como um cristão, para Londres,
Paris ou Los Angeles.