
C.M. consegue criar neste livro um universo demencial e cinematográfico. Começa-se a ler Meridiano de Sangue e a sensação é de rendição. Por isso não posso dizer que não gostei da escrita de Cormac McCarthy, pelo contrário. Mas, fónix, vou na página 224 de Meridiano de Sangue e ainda não aconteceu mais nada que não seja um grupo de pistoleiros americanos que se vão embrenhando pelo deserto do México, enquanto chacinam navajos pelo caminho!
Lê-se e relê-se e aquilo parece que não anda: as agruras do deserto os navajos e bang, bang, bang... Os gringos cavalgam e re-cavalgam pelo deserto adentro e vêm ossadas e crânios espalhados nos socalcos, montanhas inóspitas e asperezas das sierras onde correm lúgubres fios de água. Entretanto aparecem os navajos aos guinchos e levam chumbo. A malta descansa e segue a jornada, enfrentando de novo os planaltos ventosos do deserto, as extensões mórbidas de zimbro e alvoreceres acinzentados. Entretanto, eis que passam, de novo, os navajos e, claro, levam mais chumbo. Eu resumia este livro em duas ou três frases:Um grupo de cowboys fez-se ao deserto, cruzou-se com os navajos e deu-lhes mocada, continuou deserto adentro viu mais navajos e deu-lhes ainda mais mocada. Pelo meio, para variar, aparecem umas aldeias de mexicanos que, obviamente, também são varridas a chumbo grosso.
E pronto, cá fica a síntese. Escusam de me agradecer por vos ter poupado o tempo que iam perder para desistirem do livro 224 páginas depois. Ou então sou eu que sou arraçado de navajo, é o mais certo…
É evidente que este paleio simplista vale como piada e conhecendo-se o autor, sabe-se que a tirada é de gozo e de provocação.
ResponderEliminarFazer a redução de um livro como o Meridiano de Sangue a isto, dá para tudo e pode-se resumir uma biblioteca inteira sem grande custo. Para quem não quiser ler aqui fica meia biblioteca:
Herman Melville - Moby Dick - Um alucinado conduz alguns curiosos numa caça a uma baleia armada em esquisita. No final morrem todos menos um que fica para contar a história.
Amin Maalouf - Leão, O Africano - Um desgraçado da queda de Granada foge para Tanger onde o sultão lá do sitio o manda como embaixador a Timbuctu e ao Cairo. O rapaz é capturado pelas tropas do Papa que o levam para Roma.
Gora Vidal - A Criação - Mais um Embaixador, desta vez Persa, que deambula pela Grécia clássica a vai até à India e China. Pelo meio apontas umas coisitas ilógicas do Budismo, Confucionismo e Zoroatrismo. Há escravos e gaijas pelo meio. Chacinas também,
William Faulkner - Na Minha Morte - A mãe vai a enterrar numa carroça e ao longo do enterro o resto da família pensa na morte da bezerra.
Ernest Hemingway - O Velho e o Mar - Um velhote via pescar e quase se lixa com tubarões tamanho-família.
Joseph Conrad - O Coração das Trevas - Um europeu sobe um rio africano ao encontro de um conterrâneo para descobrir que o rapazola estiolou e mata pretos comó catano e à catana.
Herman Melville - Bartleby - Um escrivão teimoso teima em dizer preferia de não de cada vez que o patrão o manda fazer alguma coisa. acaba mal.
Machado de Assis - Dom Casmurro - Mais um teimoso que teima em que a mulher lhe mete os palitos quando a mulher é uma santa. De casmurrice em casmurrice o livro vai para mais de 200 páginas e não saímos daquilo.
Vargas Lhosa - A Tia Júlia e o Escrevedor - Há uma tia que é boa comó milho e há um lucutor de rádio que não gosta de argentinos. Pelo meio o narrador cresce e conhece o grande amor.
Júlio Cortazar - Rayuela - Tanto faz como fez. Na leitura, ou se segue tabela de ordem de leitura de capítulos do autor ou se segue uma outra que ele também aconselha. Se se ler à gelfa também dá. Há um Oliveira que está em Paris perdido de amores e depois vai para Buenos aires perder-se também e não necessáriamente por esta ordem.
Turgueniev - Pais e Filhos. Há dois jovenzarros que vão para o campo das estepes com um deles armado em niilista. No pasa nada e há frio comó catano.
JM Le Clezio - Diego e Frida - Diego pinta e encorna a Frida. AS Frida pinta e encorna o Diego. Pelo meio o Diego quer pintar Lenines e o Capitalista do Rockefeller não deixa e saca da marreta.
Por hoje chega ou vocês ainda rebentam os olhos de tanto ler.
ass: Llettraferits
Camilo José Cela - Vagabundo Ao Serviço de Espanha - o narrador vai a pé por espanha a fora, bebe uns copos e morfa umas buchas. Pelo meio marra com alguns estalajadeiros e com Madrid.
ResponderEliminarA Reliquia - Eça de Queiroz- Um cachucho engana a tia com a pretensa devoção religiosa e saca-lhe umas boas massas para os copos e as putas.
ResponderEliminarDaniel Abrunheiro - A Terminação do Anjo - Um jovenzarro armado em místico e um bocado dado às melancolias olha de lado os deserdados da vida como ele e mata como quem não quer a coisa e não se chega a saber se a coisa quer ou não.
ResponderEliminarYasunari Kawabata - A Casa Das Belas Adormecidas - Dois velhos jarretas pagam bem para vigiarem o sono de jovenzinhas drogadas e a dormir. Velam-nas e cheiram-nas. De manhã pagam e saem.
ResponderEliminarGabriel Garcia Marquez - Cem anos de Solidão - A família Buendia começa por conhecer o gelo, marra com a United Fruit, sobe aos céus com as saias ao vento e termina mal onde começou perante o pelotão de fuzilamento.
ResponderEliminarGabriel Garcia Marquez - Memória das Minhas Putas Tristes - O mesmo do Kawabata da Casa das Belas adormecidas mas aqui o velho tarado quer mesmo saltar para a cueca à menina de catorze aninhos mas arrepende-se por amor e comiseração. O tradicional não vai nem sai de cima.
Charles Bukowsky - Mulheres - O narrador conhece uma mulher, fode-a, rouba-lhe o dinheiro pra copos e vomita-lhe em cima. Conhece outra, fode-a, rouba-a, bebe e vomita-lhe em cima. E mais outra..., e mais..., etc etc...,ad nauseam.
ResponderEliminarpôrra que isto é viciante. agora não leio mais. pim.
ResponderEliminarO paleio do post não é simplista nem deixa de ser. Ou melhor se calhar é. Mas é tão simplista como o paleio do autor dos 8 comments anteriores quando vem apelidar os livros de que gosta e que julga serem obras primas com frases lapidares à maneira do post só que de sentido inverso. Do estilo, comentário à mesa: «esse autor não me parece»... Ah prontos...
ResponderEliminarSe há coisa que não gosto é de vacas sagradas e não é porque me dizem que um livro é genial que tenho obrigação de dizer o mesmo. Isto é tão simplista como o paleio do 8 comments a dizer laudas e a fazer classificações das obras primas da literatura universal ao estilo «5 estrelas em 4 e 10 etrelas em 600».
Convém ter presente que isto é um blog. Se quisesse fazer uma tese de mestrado não era aqui. Aqui limitei-me a dar conta das minhas notas e das minhas preferências ou «desgostos» literários pessoais. Pode ser que as pistas que lanço sobre o que me parecem ser os limites do Meridiano de Sangue sejam entendidas de maneiras diferentes por diferentes leitores. Sendo uma abordagem pessoal, é claro que não gostei do livro e que lhe reconheço muitas insuficiências (o que não passa da minha singela opinião, claro)... E azar se toco nos ídolos em ferida de alguém. Isso lá é com cada um...
Jerónimo
Entretanto era giro que o 8 Comments deixasse aqui as razões pelas quais achou este livro tão brilhante. só para que se ultrapasse o primarismo do post e fiquemos todos a saber da grandiosidade ofendida do livro...
ResponderEliminarJerónimo
eia, eia tanta pomba assassinada.., calmex. o post diz alguma coisa do livro? há navajos e mais navajos que sºao mortos.., é isso o livro?, eu entendi que não gostaste do livro tudo bem, alguém falou em vaca sagrada?, outra coisa é reduzir aquilo a meia dúzia de mortandades. e já aqui falei do meridiano de sangue. com direito a post, basta ver:
ResponderEliminarhttp://tapornumporco.blogspot.com/2007/04/o-juiz-holden-personagem-mais-terrfica.html
eu gostei do livro. já o li há uns anos e remeto para o post acima que já fiz sobre o mesmo e recordo a extraordinária construção da personagem do Juiz Holden que nos começa por ser simpática ao estilo de herói do far-west. a pouco e pouco cormac faz-nos instalar a dúvida e a personagem começa a deixar algum mal estar a principio inidentifica´vel. no final e apesar do horror com que nos apercebemos do que para ali vai ainda há e sempre uma réstia de simpatia pelo dito.
pelo meio recordo a descontrução tijolo a tijolo da maioria dos mitos do far west e de um ambiente de selvajaria onde não se sabe onde está o bem e onde está o mal. toda a gente, incluindo os bons, como o jovem ou o rapaz, personagem central da história, incorre e pratica atrocidades. os wasp, os mexicanos, os agentes da lei, os indios etc etc. é um livro cruel que explora as milhentas nuances de cinzento e nos deixa um mal estar profundo em relação a qualquer das posições ou personagens.
no mais e como não sou critico literário é ler o harold bloom que o consagra como uma das grandes obras de sempre. eu fui lá por ele e gostei. com ou sem navajos.
ass: bitaite
Ver este link do Tapor com o meridiano postado, com navajos escorraçados e tudo
ResponderEliminardois doidinhos às duas da manhã à marrada por causa de um livro obscuro de um autor mais obscuro ainda. ao vivo num blog perto de si. só no tapor.
ResponderEliminaro terceiro doidinho assiste mas não se mete. fónix.
Ulysses- um gajo sai de casa cedo depois de comer rins e de cagar no pátio, demora-se fora o dia todo, a mulher põe-lhe os cornos e ele dá-lhe um beijo no cu, no fim é ela a falar sozinha.
ResponderEliminarAh prontos, ó 8 Comments, o teu post sobre o meridiano não é nada simplista. Pelo contrário é boé da profundo, mene... O que um gajo aprende aqui no tapor!
ResponderEliminarÓ A, já te meteste, fónix, tás às duas da manhã a ver os doididnhos à marrada no blog. ainda és mais maluko, mene! Então um «livro obscuro de um autor mais obscuro ainda»? Tu lês o quê? O Astérix?
Jerónimo
A Biblia
ResponderEliminarUm dia uma gaja roubou uma maçã para dar a um gajo e o dono do pomar zangou-se e armou um bazé que ainda não acabou.
cochise
Ó Jerónimo deste-lhe na mouche e de facto o meu post é simplista. Já o teu é o quê...?
ResponderEliminarLletraferits
Jerónimo, meu velhaco, tu não gostas desse livro porque não gostas de histórias felizes e edificantes como essa, com moral para os jovens! Aposto que gostas é do Estrangeiro, do Camus, e coisas assim chatas. Tu tem mas é juizinho…
ResponderEliminarGeneral Custer
Ainda hei-de ler esse meridiano um dia, mas seja como for tá excelente esta posta e esta conversa. eis um blog. a despropósito, já alguém tinha reparado que estamos linkados no blog do pedro passos coelho que se chama votar pela positiva - o futuro é agora? Pois estamos: http://ofuturoeagora.blogs.sapo.pt/75201.html
ResponderEliminarGeneral Custer não sejas cabrãozito. Já não te lembras da monumental enrabadela que levaste do meu primo Sitting Bull? Vê lá, vê...
ResponderEliminarPois é Jota, pois é, por este andar ainda somos processados pelo socas... A moda pegou.
jerónimo
O Alcorão: um deus sem cara que detesta que lhe façam o retrato e que distribui às 40 virgens por cada bomba cá em baixo contra o zamericanos-
ResponderEliminarNão são 40 virgens, são 72.
ResponderEliminarÓ jerónimo, processados porquê? Qual moda pá?
O Alcorão por Maomé:
ResponderEliminarUm bardana crivado de dividas saca uma viúva ricalhaça que encorna com uma data de jeitosas. Para se justificar diz que foi ao meio do deserto e uma voz amandou-lhe com uma pedra preta na carola. A partir da calhauzada, a voz passa a dar-lhe uns conselhos sobre corte de mãos, pontaria com calhaus, moda feminina, e corte de cabeças, com a ressalva de que quem cortar cabeças aos gajos que ele apontava iria papar 72 virgens como ele andava a fazer, embora no caso deles só depois de morrerem. Estranhamente a coisa pegou.