
O facto de se terem sucedido um ao outro, enfim, foi particularmente interessante porque acentuou o contraste. E sobretudo porque acentuou o barro dos pés do “gigante” português. Já andava para escrever aqui alguma coisa sobre o Oliveira há muito, a propósito de gigantes pequenitos, como o Saramago que levou nas trombas ali para trás algures aqui no tapor – ressalvo aqui, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois ícones da cultura portuguesa: Saramago sabe escrever, escreve bem e escreve livros realmente interessantes, não é isso que ponho em causa; já em relação a Oliveira, quanto melhor conheço a obra mais duvido da competência artística.
O mesmo canal 2 tem oferecido todos os sábados uma obra de Oliveira e tenho feito o esforço (com ênfase no “esforço) de ver ou rever a obra daquele a quem alguns chamam “mestre”. Para perceber, sobretudo, se a minha aversão antiga ao universo Oliveira era fruto de preconceito. Cheguei à conclusão que não era. Os filmes do homem são mesmo intragáveis, o que adensa o mistério em torno da aclamação que às vezes parece unânime, pelo menos entre uma certa comunidade cinéfila alegadamente mais intelectualizada e dada a cinematografias mais “densas” ou “alternativas”.
“Belle Toujors”, que pretende ser uma sequela/homenagem ao marco “Belle de Jour” de Bunuel, sintetiza em certa medida as “qualidades” do cinema de Oliveira, pelo menos aquele que tenho visto nas últimas semanas, e sobretudo aquele em que o realizador é também argumentista (quando a Agustina entra em campo, é certo, a qualidade sobe de tom). O resultado balança entre o trágico e o cómico, com diálogos e situações completamente inverosímeis e patéticas (a conversas entre o protagonista e o barman são de uma idiotice antológica!), duma superficialidade intelectualóide confrangedora, uma teatralidade rígida e vulgar, onde abundam os clichês e os simbolismos de pacotilha e encenações museológicas e cristalizadas.
Ver o “Belle Toujours” inspirou-me basicamente dois tipos de reacção: a repulsa e a gargalhada. E confirmou o carácter enigmático da popularidade do velho cineasta, cuja centelha de génio, digo eu, que se calhar não percebo nada disto, se esgotou no excelente Aniki Bobó. Seja como for e dada a dimensão mitológica da criatura, vou continuar a sofrer, perdão, a tentar perceber a lenda Oliveira. No próximo sábado à noite lá estarei à espera de um sinal, de uma centelha de talento, de algo que me desminta.
Dizes bem. Eu tambem ainda touà espera de um filme do oliveira que me convença. espero avidamente a mensagem, a mensaem, a mensagem, que não chega. Mas o que é certo é que eu não suporto um filme do velho ao meio quanto mais até ao fim.
ResponderEliminarJames Bonga