01/04/04

LINDA BOREMAN, por MenteContusa

Acedendo ao pedido das várias familias – gótika, semiótika e palavrótika – aqui vai um ensaiozinho porno duro. Às Almas perdidas que por aqui erram, fica o aviso: “perdei toda a esperança, vós que entrais, que para lá destas portas é só perdição e maldição. Arredai e vão ler o Pipi!”.
Não é fácil porno-ensaiar, que a matéria é extensa e difícil de pegar. Como que pegajosa, mas enfim, o serviço é porco, mas alguém tem que o fazer. Dada a extensão da matéria, alguns posts futuros se seguirão concerteza, pelo que seria de uma extrema deselegância desrespeitar a história e os mitos. Assim, este post vai-se debruçar para já sobre a antiguidade clássica.
Ora meter as mãos no porco, digo, no porno, implica começar pela primeira Super Star da história da coisa: A Linda Boreman. Pois já sabia, ninguém conhece! E que tal Linda Lovelace ou Garganta Funda. Pois, já vi que arregalaram os olhos. A linda também. Arregalava tudo. Esta cachopa foi uma pedrada no charco do porno. Um poço sem fundo. O argumento do Deep Throat é uma idiotice completa – dizer isto do porno é uma La Palissada, mas este era especialmente idiota – uma vez que assentava no facto de a estrela não poder gozar normalmente porque tinha o clítoris (o único órgão do corpo humano exclusivamente dedicado ao prazer) no fundo da garganta, daí que tinha de engolir a coisa toda até ao fundo para poder gozar. E a boa da Linda engolia tudo, até o John Holmes e até ao fim. Hoje a habilidade é comum e muitas o fazem, mas naquele tempo era uma lança em áfrica, isto é, uma lança no estômago.
O mais engraçado é que a lindinha até nem fez muito pela vida. Filmou apenas cinco horas de porno, mas dessas cinco, uma era de Deep Throat e esse filme fez dela uma Super Star, a primeira do cine porno, e conseguiu colocar toda a gente, mas literalmente toda a gente a ir ao cinema. Às escondidas, mas iam. Em 1972, ano da estreia, 10.000 milhões de americanos viram o filme. Por cá em 1974, o MFA interrompeu plenários para ir ver uma sessãozinha. Frank Sinatra diz que aprendeu muito e até um Vice Presidente americano confessou que o viu. O Clinton não viu de certeza ou não andava a estragar charutos. O filme foi um fenómeno completo. São 64 minutos, sim 64 e não 69, filmados em seis dias em New York e Miami, com um custo de 23.000 dólares. Rendeu 600 milhões de dólares. Sensivelmente o mesmo em Euros. Para quem não sabe fazer contas e a ver se alguém se entusiasma, qualquer coisa como 120 milhões de contos. Para um custo de 4.000 contos, não está mal. A esforçada da Lovelace é que não viu muito disto, até porque os financiadores era pessoal da Máfia Nova Iorquina. Em 1973, um Juíz de Nova Iorque, Joel Tyler sentenciou o filme como “obsceno” – observador o rapaz - e declarou que “aquela era uma garganta que merecia ser cortada” (um porco imundo este juíz) e multou os exibidores em 3.000 milhões de dólares. Mais rendeu a coisa. Nada como o perfume do escândalo e da proibição para a coisa render. Nisso os americanos nunca aprendem.
Mas em 1980, a Lindinha autobiografou-se e veio rejeitar o filme e renegar a coisa. Diz que aquilo que víamos era uma violação. Se era, estava muito bem feita. Disse que só fez o filme e os outros seguintes, obrigada pelo chulo do marido. Não esclareceu sobre os softs a seguir nem sobre os stags anteriores (bicharada, e fiquemos por aqui).
E a Deep Blue tornou-se então porta-voz do lobby americano anti-pornografia, o terceiro mais poderoso depois da National Riffle Association e dos produtores de Leite da American Milf, digo, American Milk. O arrependimento da Lovelace fez surgir o novel “The Lovelace Syndrom”, doença que depois também atacou com força a Samantha Fox.
Foxe como fosse, certo é que a Linda lhe deu com força, arrependida ou não. Em 2002, bored with all the shit, a Boreman espatifou-se de carro. Foi-se.
Deus lhe dê descanso, a ela e às amígdalas dela, que bem precisam.

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