16/07/11

Richard Estes: Alice do Outro Lado do Espelho?, por Chapeleiro Maluco

Os quadros de Richard Estes – o Thyssen tem três, se não estou em erro - causaram-me uma forte impressão. Veja-se este Cabinas Telefónicas de 1967. À primeira vista olha-se para os quadros de Estes e parecem fotos extremamente realistas. Nada que o hiper realismo não tenha já mostrado ao mundo (e por isso Estes aparece geralmente filiado neste movimento juntamente com nomes de referência como Chuck Close) . Mas depois começamos a reparar e nada daquilo é o que parece.

Em primeiro lugar não se trata de fotografias mas de pinturas (embora produzidas frequentemente a partir de fotos). Mas tão realistas que parecem fotos. Mais: reparando melhor estas imagens são demasiado realistas para serem reais, quer dizer, ultrapassam a realidade, criando uma certa aura de irrealidade (daí a importância do trabalho pictórico que se exerce sobre a foto inicial). Aquilo que nos parecera um retrato fiel está afinal demasiado afastado da realidade precisamente pelo seu excesso realista. Ou seja, Estes faz o contrário de movimentos como o impressionismo, o cubismo ou o expressionismo: aqueles subverteram a imagem comum do real mostrando-o de tal maneira que, muitas vezes, temos até dificuldade em discernir se são figurativos; Estes faz o inverso e subverte a realidade pelo seu excesso realista.

Anoto ainda dois tópicos de leitura acerca da obra de Estes – as referências Pop (frequentemente enquadradas por um tratamento geometrizante que contribui para aquele clima geral de criação da tal aura de irrealidade) , a sua valorização do banal e dos objectos de consumo; e a referência permanente no seu trabalho ao tema dos espelhos e das suas imagens desfocadas, cruzadas, ampliadas, invertidas. O pintor americano parece estar mais atento às perspectivas que os espelhos dão das coisas concretas que à contemplação directa dessas mesmas coisas. Como se duvidasse que as coisas fossem mais reais que as suas imagens (des)focadas nos espelhos que estão em toda a parte. Afinal, parecem gritar os quadros de Estes, o que é a realidade? Se nos concentrarmos nas imagens deformadas dos espelhos tudo parece ser tão diferente…

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