23/07/04

Uma Merda Qualquer, por Jota Tózito

(...) Como não tenho assim de repente comezainas dignas de relato e de vinhos não sei teorizar, muito menos polemizar (só se for gratuito, assim tipo o vinho é uma merda e provoca acidentes rodoviários), vou aqui escrever de uma merda qualquer só para cumprir a quota de produção quinquenal do porco. E assim de repente apeteceu-me escrever precisamente sobre uma merda qualquer, que é precisamente a atitude e a natureza da obra que aqui venho comentar. São uns gajos quaisqueres, num escritório qualquer, a dizer umas merdas quaisqueres. Um ambiente “de merda” qualquer. E é hilariante! A coisa chama-se The Office, podia ser vista até há pouco tempo na Britcom da RTP2, e só me admira não ter sido ainda aqui grunhida. Para quem não viu, resumidamente, é um escritório qualquer, numa cidade qualquer na Inglaterra, onde trabalha um jovem bando de gente banal, uma equipa de trabalho, alguns perfeitamente “normais”, mas a maioria deliciosamente ridícula e idiossincrática, onde se realçam os super-cromos, como o chefe, que ele sozinho é uma série humorística. Este contexto é, enfim, o material base desta genial série humorística inglesa, filmada e encenada numa paródia aos reality shows como o Big Brother, a presença das câmaras está lá mas é como se não estivesse e os actores como que “fingem” que as câmaras não estão lá. A intenção é realçar à série a sua natureza de “vida real num escritório”, com um monte de gente que só diz merda. Com um elenco do melhor que há, um mimo, dignos sucessores, os criativos e os actores, do glorioso e terrível gang do Fliyng Circus (E um poste sobre A vida de Brian?). À cabeça, incontornável, o chefe pintas com a mania que tem piada mas sem piada nenhuma mas que acaba por ser o que tem mais piada: David Brent (interpretado por Ricky Gervais, a dançar para o pessoal numa festa de angariação de fundos para caridade na foto afixada neste poste). Um portento de cagar a rir com as suas investidas de charme falhadas, com a sua auto-estima inabalável e a sua ânsia de “animar a malta” e ser popular (ou populista) a contar anedotas de merda e a fazer figuras tristes. Outra figurinha gigante é Gareth Keenan (Mackenzie Crook), empregado do escritório, magricelas e penteado à foda-se dos anos 80 (Limal e assim essa gente), que tem sempre umas saídas fabulosas, principalmente com as mulheres, com a subtileza de um rinoceronte cruzado de Fernando Rocha, e anda sempre rodeado de objectos hilariantes. Na secretária ao lado merece menção ainda o gajo certinho deste filme, o empregado Tim Canterbury (Martin Freeman), talvez o mais afectado pela mediocridade que o rodeia, como adianta o site da série http://www.bbc.co.uk/comedy/theoffice, e que nutre uma irresistível atracção pela loira mamalhuda da recepção, apesar do grunho do namorado desta, que parece passar a vida, de resto, pendurado no escritório da namorada. Esta série, segundo julgo saber, saiu recentemente em DVD, portanto não deve ser muito difícil de encontrar e vale a pena.É um espelho fabuloso. E acho que chega para espicaçar a curiosidade, para ninguém reclamar com o peso e para preencher a Quota do Porco.

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