06/05/09

MANGAS, por MANGAS

“Vinha passar os fins de semana a casa. Todas os sábados, às três da manhã, ele acordava com a garganta seca, levantava-se, caminhava pelo corredor escuro em direcção à cozinha e descascava uma manga sumarenta. Senti-a escorregar nas mãos, cortava-a às fatias e chupava o caroço. Depois, dirigia-se outra vez para o quarto, deitava-se com o cabeça no colo dela, besuntava-lhe o sexo com o sumo de manga, chupava-o delicadamente e só então, vinte e quatro horas depois de ter chegado, é que lhe enterrava o pénis nos lábios frutuosos. Ela, durante muito tempo, pensou que havia uma relação metafísica entre as mangas e a felicidade de uma boa foda e que, por qualquer motivo, cada homem encontraria, eventualmente, um sabor estimulante no seu fruto de eleição. O do marido, descobrira por mera casualidade, era a manga. Por esse motivo, nunca deixou que faltassem mangas lá em casa durante todo o ano. Havia subtileza naquela cumplicidade. Nunca falhava. Era troca por troca. Lavava a loiça depois do jantar, fazia-lhe companhia em frente à televisão, duas ou três perguntas triviais e outros gestos de rotina a que se habituaram à falta de melhor, apercebia-se bem que tão depressa podiam pisar a mesma terra que os separava como levantar voo um dia destes em direcções opostas, quando menos se podia supor. Retirava-se para o quarto com um beijo, despia a roupa, enfiava-se dentro do robe transparente, esperava por ele acordada, esperava o fecho da emissão, esperava o tempo que fosse necessário, adivinhava-lhe os passos na escuridão a caminho do frigorífico, pressentia o gume afiado da faca a deslizar na manga, e sentia-se a escorrer enquanto pensava naquelas coisas que iriam fazer quando ele se enfiasse na cama. Uma transacção de sabores com consentimento mútuo de ambas as partes. Ela dispunha-se a encher o frigorífico de mangas frescas e ele retribuía-lhe com estocadas sumarentas em cima e fora da cama, até ela se fartar. A fixação dele, pelos frutos, era recíproca nela pela vontade em se desarticular todos os sábados de madrugada numa espargata insaciável, deixar-se atropelar contra o soalho do chão e acordar no dia seguinte com nódoas negras por todo o corpo.
Algum meses mais tarde, fazia precisamente nesse sábado duas semanas que ela começara a ter lições de piano lá em casa, com um professor italiano, para ocupar o tempo, (incentivara-a o marido no sofá da sala sem desviar o olhar da Big Show Sic), ela foi deitar-se mais cedo do que o costume sem se despedir com o beijo habitual. Ele estranhou esta quebra no protocolo, foi espreitá-la e estranhou outra vez quando a viu adormecida. Profundamente adormecida e sossegada como não se lembrava de a ver desde que casaram. Sem perceber muito bem o que se estava a passar, dirigiu-se à cozinha, tacteou a porta do frigorífico, a luz acendeu-se e na prateleira onde habitualmente encontrava as mangas com a pele verde sarapintada de pontinhos castanhos, encontrou uma boa meia dúzia de maçãs avermelhas e carnudas.”

9 comentários:

Anónimo disse...

tarados

susana

britannicus disse...

Deixai-me agora falar do fruto que me fascina. Nada menos nada mais do que da abóbora-menina.
Quem, na estiagem, nunca comeu uma abóbora-menina perlada de orvalho, varada ainda pelo frescor do madrugar, não sabe o que é subtrair toda a sensualidade que ao peso da fruta se pode subtrair!
Ia o rapazio para o campo esbandeirar o milho e, entrementes, quando o estio fazia rechinar a bandeira, escafediamo-nos à sorrelfa pelo milheiral adentro. Encontrávamos uma abóbora-menina incauta, abríamos o canivete capa-grilos,fazíamos um incisura circular na carnação laranja e zás… varávamos a tumidez da fruta.Era um ver se te avias a aboborar a laustríbia! Tirado o cabaço à abóbora-menina e gozado a fresquidão da curcubitácia, repunhamo-lo por fim com desvelo digital de cirurgião estético a reconstituir hímens e íamos à nossa vida
Nunca nenhum ecologista, poeta bucolista, neo-rural ou místico franciscano sentiu tanto amor unitivo, estético e extático pela natureza. Ainda hoje tenho visões com abóboras-meninas mas, descobri no domingo a ler um cartapácio de botânica, é só porque elas têm licopeno que é um elemento essencial à visão, e eu, rapaziada, comi muita, muita…

Anónimo disse...

porra, isso parece a descrição de uma violação. Onde é que há essas tais abóboras meninas? Venham elas

violoncelo

Anónimo disse...

Fico contente, amigo brit, pela tua preferência pela abóbora-menina. Embora passes imediatamente à categoria de suspeito de vegetarianismo pedófilo, sempre é melhor do que ser suspeito de vegetarianismo pedófilo paniscas. Olha se gostasses de abóbora-menino...

P.S. Actualmente, segue o Porco em jeito de comemoração pela nova estação que aí rebenta, com a publicação de um já ido Cioclo da Fruta. Desnecessário será dizer que o comment do Britt será publicado brevemente na forma digna de um post para enfileirar com mai fruta que aí vem. embora eu ache que a abóbora não é exactamente fruta...
Frutini

Anónimo disse...

Ninguém mexe no Coment do Brit que amanhã sou eu que o cá ponho como poster a emparelhar com uma passagem similar do Suttree do Cormarc McCarthy e que acabei de ler.

e registo que não lhe chega uma abóbora-velhinha. tem que ser uma menina. por essas e por outras é que eu nunca fui à bola com as filhoses, pra mais amarelinhas com aqueles laivos esbranquiçados...

mitra

britannicus disse...

Ó Mitra olha que eu não gosto de melancia como o Gene Harrogate. Ele há cada gosto! É que depois um gajo não pode beber umas copanadas de tintol.Já dizia o meu trisavô, botanófilo versado, que a única coisa que a melancia fazia inteiriçar era o cavername do estômago.

Anónimo disse...

fónix, este britannicus até conhece o Harrogate e o Cornelius Suttree. fónix, fónix!!

MITRA

Anónimo disse...

Boa reposição porcos! A lembrar os bons velhos tempos. Que tem sido da vara? separou-se? Perdeu o tesão de outros tempos?

Anónimo disse...

Perdeu, anónimo, é verdade. Há um ou dois que ainda continuam com ela dura, mas a maior parte perdeu a tusa. E não há viagra que os arrebite...
Holmes