05/10/09

Poluição Visual, por Uga Buga


Nos primórdios da indústria discográfica percebeu-se rapidamente que as capas que embalavam os discos podiam ajudar a vendê-los. As primeiras capas de discos seguiram o princípio mais básico e rudimentar do mundo: eram, simplesmente, os retratos com as fronhas dos artistas. Se fossem muito feios confiava-se na habilidade dos fotógrafos para fazerem parecer o feio bonito. Durante anos a arte do cover não passou de fotografias dos cantores. Era assim nos anos 50:


Mas mesmo nos revolucionários sixties este primitivismo continuou. Até os primeiros discos dos Beatles eram assim:




















Nisto, como em quase tudo, os Beatles foram pioneiros. Eles deram como poucos outros, muita atenção às capas dos discos e lançaram mesmo uma nova noção de arte do cover. As capas dos seus discos mais tardios, como Revolver, já eram assim:




















A identificação dos artistas ainda lá estava, como referência. Mas já havia um processo de transformação artística dessa identificação. Com a excepção do cover do excelente White Album, todos os restantes discos do Beatles mantêm essa característica: são sempre fotos deles mas transiguradas, trabalhadas artisticamnete. Isto de With the Beatles até Let it Be.

Até que se evoluiu para soluções que abdicavam completamente da referência icónica aos músicos. Os anos 70 já assinalam uma revolução nesta matéria. Os Pink Floyd, cujos covers ficaram a cargo da famosa empresa de Design Hipgnosis já faziam faziam capas como a de Dark Side of The Moon (1973), sem qualquer referência à figura dos artistas:


















Vem isto a propósito do atavismo que permanece na propaganda eleitoral, particularmente no nosso país. Os outdoors eleitorais estão na mesma fase em que estavam os primeiros discos. Os exemplos estão em todo o lado à nossa volta e, em matéria de autárquicas, o mau gosto é ainda mais atroz. Mas, melhores ou piores, os cartazes eleitorais cumprem todos, sem excepção, o mesmo princípio primário que o showbizz já ultrapassou desde os anos 60. Está para nascer uma nova geração, mais evoluída, de cartazes eleitorais - aguarda-se que surja o candidato que perceba que é possível vender sem ser chapando com a sua foto nas ventas dos eleitores (até porque alguns faziam bem era em mascarar-se):













No dia em que isso acontecer a propaganda política dará um salto qualitativo em frente e, com isso, a qualidade visual e da paisagem urbana e rural melhorará substancialmente. Pessoalmente não vejo o dia de me ver livre das fuças dos autarcas e dos políticos profissionais à minha volta em cartazes eleitorais terceiro mundistas.

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