18/02/10

A Minhas Leituras de 2009, por Adérito


É verdade que estamos no fim de Fevereiro. Mas um blog é assim mesmo: escreve-se quando apetece e só quando apetece. É por essa razão que só agora me decidi a apresentar aqui a minha lista de leituras de 2009. Espero então que os restantes escribas porcinos avancem a seguir com as deles, cumprindo assim uma tradição que já vem do tempo do D. Maria. Aí vai a minha Lista de 2009:

Oliveira Martins – História da Civilização Ibérica, Europa-América. Achei-o demasiado especulativo, com máximas discutíveis do estilo «o espírito espanhol é este, o árabe aquele, o africano aqueloutro». Há um capítulo que devorei pela pedagogia do relato que me fez recordar alguns apontamentos da aula da saudosa professora Deolinda. O capítulo sobre a conquista da Ibéria pelos mouros, as diferentes fases das invasões, os seus protagonista (o árabe Musa, o berbere Tarij, os Almóadas e os Almorávidas, Al Mansur e Yusef). Depois perde-se em metafísica a mais e história a menos..

Chico Buarque – Budapeste, D. Quixote. Comecei a medo, praticamente forçado por um berro do Grão que me espetou com o livro na cara e gritou: «LEVA!». Li as primeiras páginas cheio de preconceitos – afinal um músico genial não pode ser também, um escritor brilhante, há princípios, o Criador não pode deixar que o mesmo homem reúna tanto génio disperso em artes tão diferentes. Mas não é que Budapeste é um excelente livro? O músico Chico acaba por fazer sombra ao escritor Chico – mas este não sai diminuído do confronto e sabendo nós o que o músico vale, imagine-se em que patamar coloco o escritor Buarque.

Haruky Murakami – Sputnick, Meu Amor. Uma escrita solar, luminosa, meridiana. Murakami é um escritor de grande técnica. E o livro associa à técnica um misticismo-existencialista que lhe dá humanidade. Mal o li corri a comprar Norwegian Wood.

Murakami – Norwegian Wood. Manteve o registo que apanhei em Sputnick, E portanto não desiludiu...

Martin Dugard – A Última Viagem de Colombo, Casa das Letras. Naquele registo muito anglo-saxónico que torna a história acessível ao leigo. Venham mais desta escola que fazem falta no nosso país.

Robert Harris – Pátria (Fatherland). 1992, Bertrand. Este deu post no Tapor. Está por ali algures no histórico do blog...

Sérgio Luís Carvalho – O Retábulo de Genebra, Campo de Letras. Mais um que aqui deu post e até, em tempos idos, um feedback do próprio autor.

Cormac Mccarthy – Meridiano de Sangue, Relógio de água. Também deu post e uma boa polémica com o Grunfo. eu não gostei, ele sim...

Arturo Perez reverte – Um Dia de Cólera, Asa. Dos meus Revertes preferidos (e conheço muitos). Também deu post.

Irving Yalom, Quando Nietzsche Chorou, Bertrand. Uma revelação. Não acho que Yalom seja particularmente brilhante, mas consegue aqui uma narrativa muito interessante. Há aqui uma tentativa de deitar Nietzsche no divã que levaria o próprio ao desespero. Teve um efeito muito positivo em mim porque logo a seguir senti urgência em voltar à leitura do grande niilista alemão. o livro que li a seguir foi:

F. Nietzsche – Ecce Homo, Guimarães. Uma espécie de auto-reflexão do autor acerca de si e da sua obra. Inesquecíveis os capítulos «Porque Sou Tão sábio», «Porque sou tão sagaz» e «Porque escrevo tão bons livros»...

Arturo Perez-Reverte – o Mestre de Esgrima, Asa. Reverte é um vício, que hei-se fazer?

Francesco Alberoni e Salvatore Veca – O Altruísmo e a Moral, Bertrand. Não atinge a pertinência de outros do autor, como o célebre Enamoramento e Amor que o lançou a nível internacional.

Carl Sagan – Um Mundo Cheio de Demónios, Gradiva. Ler Sagan é sempre um prazer e uma aprendizagem permanente. Não deve ter existido muita gente com a capacidade pedagógica dele. No entanto - as lições do Mestre dizem-nos para sermos críticos - achei este livro o mais positivista de todos os livros de Sagan. A crença que ele aqui deposita na ciência chega a ser excessiva.

Greg e Paape – Luc Orient (vols 1 a 4). De entre a muita BD que me passou pelas mãos, destaco estas edições do saudoso Luc Orient que apareceram na Fnac no original francês. Um clássico da FC!

Jaques Lamy – A Verdadeira História dos Templários. Confesso: sou fascinado pelo esoterismo templário. Depois de ler alguma bibliografia sobre a Ordem fica-se com uma sensação de déjá vú. Mas há um núcleo duro de conhecimentos acerca do tema. E este livro é uma boa introdução. Sóbrio!

Manuel Vasquez Montalban – Galindez, Caminho. Uma revelação para mim! Um grande escritor catalão, cujos livros não consigo encontrar. Montalban é um mestre da escrita. Aqui cruza o universo pessoal das personagens com a história mais ou menos desconhecida da antiga ditadura da república Dominicana.

Umberto Eco, Baudolino, Difel. Como todos os romances de Eco, não se consegue parar de ler. No fim, como é hábito, fica-me sempre a sensação de que o autor poderia ter sido mais parcimonioso.

Oliveira Martins, Os Filhos de D. João I, Ulisseia. Adorei este livro! Foi uma espécie de regresso à História tal como a aprendi na minha infância e um reencontro com histórias que re-conhecia não sei bem de onde. Como se estivesse a ouvir um fado muito longínquo e ao mesmo tempo incrivelmente familiar.

Irvin Yalom, A Cura de Schopenhauer, Bertrand. Yalom, mais uma vez, a fazer render a receita que aplicou no livro anterior. Desta vez Schopenhuer faz de Nietzsche.

John Updike, Brasil, Civilização editora. Updike foi, para mim, a grande descoberta de 2009. adorei este livro e não parei - ainda não parei - de ler Updike a partir daqui. Saiu post.

André Gide – A Sinfonia Pastoral, Âmbar. Saiu post. Um livro genial de um escritor genial! Este foi só o primeiro Gide de 2009. Seguiram-se:

André Gide, A Porta Estreita, Visão. A matriz freudiana do livro é clara. A rapariga que ama mas que se impede de amar, que ama o fantasma que cria na distância mas que não o consegue suportar enquanto presença real.Outro grande livro!

André Gide, Os Moedeiros Falsos, âmbar.... E vão três Gides de seguida...

John Updike – S., Livros do Brasil. De Gide voltei a Updike que me tinha deixado exclente impressão. Confirmada por este S. de contornos budistas.

14 Novelas Históricas de Portugal, Vários (Eça, Júlio Dantas, D. João de Castro, Henrique Lopes de Mendonça, Alexandre Herculano, Antero de Figueiredo). A feira das velharias na praça 8 de Maio que o Grunfo tá sempre a recomendar tem destas coisas.

Indro Montanelli, História de Roma. Óptima leitura para uma viagem de avião. Foi o meu fiel companheiro nestas férias em Cartago.

Pierre Grimal – História de Roma, Texto Gráfica, 2003. Depois de ler o anterior, a leitura deste Grimal tornou-se redundante.

John Updike – O Terrorista, Civilização editora. Acerca dos meandros psicológicos dos jovens terroristas islâmicos. Não é do melhor de Updike. Mantém a qualidade de escrita mas a narrativa é um pouco action movie.

Brian Ward-Perkins, A Queda de Roma e o Fim da Civilização, Aletheya, 2005. Este também deu post. Foi uma leitura diferente e marcante porque é uma obra de um arqueólogo.

Fernand Braudel – O Mediterrâneo. O livro é dirigido por Braudel mas tem vários autores. Achei particularmente interessante o texto de George Duby sobre a história e o fascínio do mediterrâneo. Foi leitura de Setembro quando andei particularmente interessado na civilização do mar do meio.

The Best stories of superman evertold, vol.2, vários. Descobri-o na Fnac e devorei-o. Tenho pena que sejam tão raras as minhas histórias de infância do Super Homem.

Dostoievsky – O Jogador, Presença. Um clássico de um grande escritor.

José Norton – O Último Távora, D. Quixote. Para além de ter mandado quase toda a família Távora para o cadafalso, o marquês de Pombal ainda se deu ao luxo de educar, sob seu controlo, o descendente directo da família, Pedro de Almeida Portugal, futuro marquês de Alorna. Este livro segue a sua história, desde menino até à morte, passando pela crepuscular participação na campanha napoleónica na Rússia.

J. Lúcio de Azevedo, O Marquês de Pombal e a Sua Época, Alfarrábio. Mais um documento sobre um os maiores sanguinários da história moderna de Portugal.

Manuel Vasquez Montalban – Erec e Eneide, Caminho. Yesss! O grunfo tinha lá este Montalnán perdido. Devorei-o rapidamente e fiquei a chorar por mais. Desta vez a referência é a mitologia céltica.

Dan Brown – O Símbolo Perdido, Bertrand. Uma perda total e absoluta de tempo. Dan Brown segue a receita que tanto sucesso lhe deu no Código Da Vinci. Mas nem sequer é mais do mesmo porque para isso tinha que ter a garra do Código e é demasiado plástico. Pergunto-me como suportei tal estopada até ao fim...

A. Perez-Reverte – O Clube Dumas, Bertrand. Eu não digo que o Reverte está sempre a aparecer? Em todo o caso, achei-o um dos seus livros menos conseguido. Pese embora ter sido precisamente este que deu origem a um filme de Roman Polansky.

J. Updike – Corre Coelho, Bertrand, Civilização. Lynchiano! A aparente modorra existencial conflui para um epílogo trágico. Em certos aspectos faz lembrar Camus, mas com uma dimensão trágica que este não tem nos seus romances. Um dos melhores Updikes que li...

Carlos Oliveira – Uma Abelha na Chuva. Ainda não tinha lido este quase conterrâneo, natural de Febres (hello Tinó, are you there?). O livro é, obviamente, marcado pelo neo-realismo: os maus são os agrários e os ricos; os pobres são simplesmente inocentes e explorados pelos primeiros…

Audrey Niffnegger – A Mulher do Viajante do Tempo, Presença.
Uma boa ideia, um indivíduo que sofre de uma disfunção temporal que o leva a dar saltos no tempo involuntariamente. Interessantes as micro-narrativas. Mas o livro torna-se palavroso e redundante. É como na arquitectura ou na escultura: há aqui um problema de volumetria. Seria um bom ponto de partida para um outro livro muito melhor.

4 comentários:

tinó disse...

Isso é muita leitura, Adérito! Não li nem metade, nem consigo. Alguns desses também li. Gostava de ler o Moedeiros Falsos, do Gide. É teu? Eu ando a ler mais policiais. O ultimo é o Peter Cheney, uma pequena maravilha, e vou lendo o que sai a PD James, mas eu acho que o resto da malta é alérgica a policiais. Lê o Jardins de Luz, do Amin Maalouf, fantástico. Se não quiseres comprar, posso emprestar-te. Já está mesmo na altura de eu me encontrar com vocês, nem que seja para beber café.
O Abelha na Chuva do Carlos de Oliveira não é assim tão simples. É neo-realismo, mas não é tão básico como o Soeiro ou o Alves Redol ou mesmo o Manuel da Fonseca; as personagens, se bem me lembro, são mais contraditórias e têm mais expessura. O seu universo geográfico é-me muito familiar, como sabes, e isso também me cria empatia com a sua escrita. Se puderes, lê dele o Finisterra, vais ter uma boa surpresa, espero eu. E vou relando o Eça, o Camilo, o Aquilino.
À feira das velharias deixei de ir, que os gajos são careiros. Vendem livros velhos como se fossem pergaminhos egípcios. Vai àquela loja de velharias do largo da freiria, na baixinha, que encontras preciosidades bem mais baratas.
Um abraço

tinó disse...

Agora vê lá se demoras uma semana a responder! O maluco do seinfeld já desistiu de alimentar o post dele ali em baixo. cagufa!

Anónimo disse...

Ganda tinó, qual semana a responder? É já. Comecemos pelo Maalouf. Isso é do melhor, meu amigo. Eu sou um fanático do Maalouf e dele já li tudo o que está traduzido em português ( e creio que a obra dele está toda traduzida). O Jardins de Luz foi o primeiro que li e fiquei esmagado, siderado e etc. Genial! depois fui á biblioteca do grunfo e foi um ver se te avias. O gajo tinha lá muita coisa: Leão, o africano, Samarcanda. O Périplo de baldassare, , o Rochedo de tanios, o ano da morte de beatriz (o mais fraco de todos), ensaios como As Cruzadas vistas pelos árabes e Identidades Assassinas, enfim, perdi-lhes a conta. Enquanto houveram maaaloufs eu fui incrivelemente feliz, lietrariamente falando, claro!

Concordo com tudo o que dizes sobre o carlos oliveira, talvez o meu breve comentário no post lhe eduza muito a dimensão que ele tem, mas não é isso que eu acho. achei-o um belíssimo escritor e concerteza que vou ler o Finisterra. Fala de quê?

Essa feira de velharias baratucha de que falas fica exactamente onde na baixa?

Pois, aparece na Práxis, aos sábados depois do almoço. A malta tá toda lá, mudámo-nos do Ranhoso para lá...

Bota aí em post a tua lista 2009....
Adérito

tinó disse...

Sabes aquela pracetazita na rua adelino veiga, a das sapatarias? É lá, tem uma esplanada ao lado. O grunfo sabe de certeza. vende-se ao quilo (quase). compras dois manuais de betão armado dos anos 50 e levas grátis um Gide em francês... É uma boa pergunta, essa do Finisterra fala sobre o quê. Lê e depois diz o que achas. Já sei onde vocês param, vou lá quando puder mesmo. Levo-te uma ou duas coias que aqui tenho, a ver se gostas. Vou fazer a lista, incluindo os que deixei a meio, pra chatear o grunfo ;)