04/09/11

O Dilema do Riquexó, por Comandante

- Amigo, quanto nos cobras até à fábrica dos Partagás?
- 8 pesos - disse ele, um valor estapafúrdio para a distância a percorrer.
- É muito, amigo. Vim de coco-táxi desde a praça da revolução por 6 pesos e ainda são uns bons kilómetros...
Acordámos em 3 pesos, um preço óptimo para ele.

A viagem de bicitáxi até à fábrica de charutos Partagás pareceu-me durar horas e distar kilómetros, apesar do percurso não ser de mais que 500 metros. O homem da bicicleta transpirava e bufava de esforço sob o inclemente sol dos trópicos e o riquexó praticamente parava nas subidas. Eu fiquei atordoado e já nem conseguia olhar para os belos edifícios decadentes de Havana nem para os fabulosos cadillacs, fords e ladas dos anos 50 que se cruzavam connosco. Olhava para o homem e sentia-me envergonhado de me deslocar assim. Parecia-me que era a cidade que me via, capitalista explorador, e não eu que a via a ela.

- Quer que desçamos? - disse-lhe numa subida mais íngreme.
Que não, respondeu-me com orgulho profissional e continuou a pedalar.

Chegados ao destino deixei-lhe 5 pesos em vez dos 3 combinados e ele agradeceu-me com um polegar ao alto e um sorriso de orelha a orelha, mas jurei que nunca mais andava numa coisa daquelas. O que talvez não seja mais que uma resolução egoísta da minha parte: afinal de contas, se mais ninguém se deslocasse de riquexó de que viveriam milhares de cubanos que alugam a força das suas pernas pelas ruas de Havana?

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