07/05/12

Queima das Fitas de Coimbra: a tradição já não é o que era, por Ribeirinho

Hoje fui ver o cortejo da queima das fitas. Não tem muito que se lhe diga - é uma festa que parece um disparate vista de fora mas que diz muito a quem lá  anda a vivê-la por dentro. Adorei esta festa quando por lá passei e agora olho-a com alguma complacência e uma réstea de ternura e tolerância de quem sabe que já fez  o mesmo ou ainda pior.
Em conversa com o Grunfo concluímos que muita interessante tradição ficou, entretanto, pelo caminho. E recordámos a propósito uma delas que era ir assobiar o Marco Paulo ao parque, um verdadeiro must! Este ritual em que nos dirigíamos ao parque manel da nóbrega para ouvir o marco armados de tachos, panelas, ovos e tomates para o infernizar acabou por se perder e eu estava lá na noite em que isso aconteceu. O facto merece que lhe dedique aqui algumas linhas.

Como disse estávamos devidamente preparados para a entrada do marco em cena. Ele entra em grande e começa o barulho da lataria, voam tomates e ovos e a malta apupa. Há dois enormes cartazes mesmo ao pé do palco empunhados por um grupo de capas negras. Diziam: «És Meu» e «Quero-te Virgem». O marco acha que é demais e manda parar a banda. Discursa: que adora coimbra, que gosta muito de estar ali, que tem muito respeito pelos estudantes mas que, se não o querem ali, vai-se embora. O pessoal reage em coro afinado: «Vai-te embora, vai-te embora, vai-te embora». O marco sai do palco.

Mas o pessoal apupa, faz coro,  grita marco, marco, marco, exige o regresso do artista... Marco Paulo entra em grande convencido que tem o púbico rendido. Azar! É recebido de novo à tomatada e apupo. Marco está confuso, alguns anciãos criticam a mocidade de agora que não respeita ninguém... Marco lança um novo ultimatum: querem que vá ou que fique? Resposta automática: tomatada e gritos em coro afinado de «vai-te embora, vai-te embora». Marco volta a sair, desta vez resolvido a não mais voltar.

Presumo que no back stage alguém lhe faça ver que assim não pode receber cachet. E o artista volta, cedendo de novo aos gritos da multidão que o quer de novo em palco.Como gato escaldado de água fria tem medo, desta vez entra com prudência. Não toca, não entra aos saltos como das outras vezes, agora vem pianinho para dialogar: é a vossa última oportunidade de me ouvirem. Sev me mandarem embora de novo nunca mais toco em coimbra, nunca mais venho à queima. Aqui houve uma parte da multidão estudantil que reflectiu - ficar sem ele é que não. É melhor aguentá-lo para o termos cá para o ano outra vez. Mas está lá um grupo, o grupo da pedrulha, liderado por um gajo careca que tinha uma moto do caraças, que não quer saber de cálculos e desata a berrar «pó caralho, pó caralho, vai pó caralho» e a mandar mais tomates e ovos. O marco não aguentou a pressão e foi-se embora para nunca mais voltar a uma queima de coimbra. E foi assim, nessa noite que ainda recordo, que morreu para sempre a grande tradição de ir ao parque assobiar o marco paulo

Só recordo uma outra tradição das noites do parque que era tão boa como esta de javardar no marco. Era a noite das Doce.A grande tradição de malhar nas Doce durou anos até que houve uma noite em que uma malta passou das marcas. Na altura corria um boato lixado e uns gajos de engenharia que eu conhecia dos campeonatos de futebol inter-faculdades levantou o J..., um cabo verdiano que também era danado para a brincadeira, e desatou a gritar Reinaldo, reinaldo, reinaldo. Osânimos aqueceram, o pessoal ficou exceitado e houve invasão de palco e tudo. Foi a última vez que as Doce vieram à queima, revelando muito menos resistência que o marco paulo.

Nos anos seguintes, lembro-me bem, passámos a levar com o manel joão vieira e com os seus ena pá 2000. Finalmente uma banda ao nosso nível que não só aguentava todo o tipo de insultos como ainda nos chamava pior se fosse necessário. E assim se abriu caminho a uma tradição que ainda hoje se mantém, na queima de coimbra e em todas as queimas: o quim barreiros que é um artista que eu nunca apreciei mas que, enfim, faz a ponte dialéctica entre a hiper-susceptibilidade das Doce, a foleirice do Marco e a iconoclastia dos Ena Pá.

4 comentários:

Anónimo disse...

UMA DAS dOCE ainda teve que fugir rua do brasil acima de malta esgazeada. mas a cachopa não era só boa de pernas como a dar à perna e já se sabe que a cerveja e a batina não facilitam a caça. escapou e não voltou. é pá isto dava canção!

abstinado

Anónimo disse...

é pá, ó abstinado, eu também já ouvi essa versão mas não me parece muito credível. Ela não tinha seguranças? Fugiu do parque até à rua do brasil? equipada às doce com botas e tudo? parece-me um bocado forçado... Agora a cena do marco, essa eu estive lá e vi com estes dois que a terra há-de comer, carago...
Ribeirinho

Anónimo disse...

SI NON É VERO É BENE TROVATO

Anónimo disse...

SE A VERDADE PREJUDICA A LENDA QUE SE FODA A VERDADE E FICA A LENDA