07/11/12

Jagger ou Richards?, por Dandelion

Os meados dos anos 80 foram tramados para os Rolling Stones. Em 1986 fizeram um dos seus piores álbuns de sempre, o famigerado Dirty Works, claramente marcado pelos atritos entre os glimmer twins. Pelo meio Mick Jagger resolveu que queria tentar uma carreira a solo - em 85 gravou She´s the Boss e em 87 Primitive Cool. Keith Richards haveria de se confessar chocado com o novo rumo do amigo e acusou Jagger de egocentrismo, de pensar na banda como Mick Jagger and The Rolling Stones...

Richards respondeu aos anseios individualistas de Jagger lançando dois discos de originais (Talk is Cheap de 88 e Main Offender de 92). Na altura a carreira a solo de Jagger teve muito mais impacto mediático (She`s the boss é até um belíssimo disco). Richards estaria então perdido no meio de uma banda de negros, os Xpensive Winos e eu nem dei por ele.

Mas a promessa Jagger não se confirmou nos álbuns seguintes, o homem aligeirou-se, tornou-se cada vez mais pop, pelo meio fizeram-no sir, e podemos hoje afirmar com segurança que a carreira a solo de Mick Jagger contribuiu, em grande medida, para desfazer a lenda que ele era enquanto líder dos Stones. Felizmente, ambos, Jagger e Richards, perceberam que os Rolling eram mais importantes que cada um - e também davam muito mais dinheiro. A banda voltou a juntar-se e as suas digressões foram as mais memoráveis e lucrativas da história do rock. E no regresso da banda Reef tornou-se muito mais importante do que fora antes, ao invés de Jagger, que viu reduzida a sua importância. Passados estes anos ficou-me uma curiosidade por desfazer - qual dos dois se saiu melhor, afinal, nos seus trabalhos a solo?

Não tenho dúvidas na resposta (com tudo o que isto tem de subjectivo): Keith Richards fez dois álbuns excelentes ao passo que Mick Jagger se perdeu no emaranhado do seu vedetismo pop. Richards fez músicas dignas de figurarem nos melhores álbuns dos Rolling; Jagger nem tanto. Para um Stoniano fica sempre a mágoa de pensar o que os Stones poderiam ter feito se eles não tivessem dispersado a sua energia criativa durante aquele período. Mas, ao passo que a voz de Jagger a solo se tornou um repositório de tiques mais ou menos irritantes, Richards aperfeiçoou o seu lado marginal, a sua face dark e roufenha. E o som da sua guitarra continuou a ser, do meu ponto de vista, o autêntico traço de personalidade dos Rolling Stones. Depois ainda há a feliz associação de Richards a músicos tão talentosos como os Xpensive Winos. O resultado é que, tantos anos depois, re-descobri os álbuns a solo de Richards e com eles soube para onde tinham ido os Rolling Stones nos meados dos anos 80 - tinham estado onde sempre estiveram, no fundo da alma rebelde de Richards e na negritude dos Winos. Deixo-vos com Make No Mistake, uma pérola de Talk is Cheapr, uma balada fabulosa que deveria ter feito parte de um grande disco dos Rolling Stones. Não precisam de agradecer, tou cá para isto...

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