11/09/06

A Desgraça Nacional Tem Causa e Tem Nome, por Silver Bullet

Em 1871, o Sr. Antero de Quental, ainda movido pelo desvelo esperançoso de regenerar a nação portuguesa, ilusão que uma vez esvaída contribuiria para o desânimo que faria dele um suicidário simbólico, tentava diagnosticar as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. Como muitos antes dele e muitos outros após, o Sr. Antero de Quental tinha como preocupação a ressurgência da Nação. A contemporaneidade nacional teve esta obsessão: regenerar, ressurgir, ressuscitar, recuperar, modernizar, renascer. Hoje, devemos a Vasco Pulido Valente, o maior analista da portucalidade que tem em Eduardo Lourenço o seu digno anverso, esse favor de nos recordar todos os dias uma verdade evidentíssima: Isto é irregenerável!

Tivesse o Sr. Antero de Quental atingido esta verdade claríssima e muita tragédia se tinha poupado, a começar pela sua. Mas não, o Sr. Antero considerou como causas da miséria ibérica o absolutismo, o jesuitismo, o catolicismo tridentino e mais outras observações próprias do romantismo oitocentista. Sendo as causas comuns ao espaço peninsular, tal justificava a decadência comum, daí que o plural hispânico usado pelo açoriano, sendo relevante, escondesse um equívoco. Antero buscou as causas a partir do presente, em vez de haver estudado as causas como tal. A prová-lo, o facto de, actualmente, a Espanha trilhar um progressivo e continuado rumo, o que não se verifica a Oeste de Vilar Formoso. Daí que, as causas devem ser outras.

Pois bem, caros leitores, 136 anos após a célebre conferência anteriana, cumpro o grato e histórico dever de informar que a decadência nacional tem causa e tem nome: Pedro Machado!

Pedro Machado é o novel presidente da Região de Turismo do Centro. Na edição Local Centro do «Público» de ontem, é-lhe traçado o perfil. Vale a pena recapitular: O Senhor Presidente tem 39 anos. Em miúdo agarrou nas bandeiras laranjas do PSD porque gostava da cor. A precocidade, enfeitada com a futilidade das razões, deixa antever o pior: uma carreira política! Licenciou-se em Filosofia, na Vetusta e nada, absolutamente nada do que seria minimamente exigível a um estudante de Filosofia, mesmo que da Vetusta, transparece no licenciado Machado. Não há vestígio de crítica, reflexão, especulação, cultura ou erudição. O homem é um fenómeno de vacuidade! Durante os tempos da juventude, seguiu a carreira normal: fez parte das listas para a Direcção-Geral. Perdeu, mas enrobusteceu-se na derrota. Dirigiu, a nível distrital, não concelhio note-se, várias campanhas eleitorais e, findo o curso, ei-lo revigorado no outro antro onde se geram estas espécies: as autarquias locais. Foi membro da Comissão Política Concelhia de Montemor-o-Velho, ascendendo à Comissão Distrital de Coimbra. Depois, galgará uma escadaria ascendente que, de membro da Assembleia Municipal de Montemor, passando pelo executivo autárquico onde chegará à vice-presidência, atingirá os cumes olímpicos: vogal da Comissão Política Nacional! Pelo caminho, foi ainda adjunto de um obscuro secretário de estado (a minúscula é de propósito). Este percurso deu-lhe «traquejo» e encheu-lhe o telemóvel de contactos importantes. O homem cita-os: Fernando Nogueira, o Desaparecido; Santana Lopes, o Inefável, Zita, a Convertida, e Cavaco, o austero. Acima de todos, Marques Mendes, que ocupa um lugar especial na lista telefónica do Sr. Pedro Machado.

A docência, essa, exerceu-a durante dois anos e não se mostra disponível para regressar. «Não o seduz», justifica-se. O Sr. Pedro Machado orgulha-se da sua carreira e não lhe passa pela cabeça extinguir a Região de Turismo do Centro para cuja presidência acaba de ser nomeado. Chorem comigo, caros concidadãos! Entendem agora o cinismo do grande Vasco Pulido Valente? Entendem porque razão Antero acabou por dar um tiro nos cornos?

Bebamos, meus caros, bebamos muito, porque o cheiro a pólvora faz-me dores de cabeça e este país faz-me mal à úlcera!


foto: digitalizada a partir da edição do jornal «Público» de 10.Set.2006

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