17/09/06

O Que é um burro?, por James William N. Horse III

Ontem, o Sr. Necare publicou no seu blog um textozito inofensivo que intitulou «Etiquetagem». Trata-se de uma brincadeira ingénua pela qual o autor se pretende retratar, manifestando uma série de preferências e aversões. A brincadeira funciona como uma corrente, devendo o autor indicar um conjunto de amigos que continuará a série, sendo que foi ele próprio indicado por outros. Na minha adolescência eu também via os mariquinhas da minha turma com este tipo de jogos. Em princípio, estas brincadeiras são idiotas e inofensivas, em princípio, pelo menos enquanto não maculadas por afirmações despropositadas.

Apresentando as suas etiquetas, o Sr. Necare profere umas banalidades irrelevantes: que gosta da Suécia, gosta de música, cinema, literatura e não gosta de calor. Pelo meio, afirma despudoradamente que não gosta de espanhóis. Sem vergonha e sem justificação plausível, porque a não há, proclama-se xenófobo e argumenta que os espanhóis são expansivos e barulhentos e que andam sempre a lixar-nos. Depois reafirma a convicção: «Pode parecer estúpido mas é a realidade.»

Se o Sr. Necare afirmasse não gostar de pretos porque são muito qualquer-coisa, ou de judeus porque são muito não-sei-o-quê, o sr. Necare seria racista e incorreria em crítica séria e pena grave. Mas o Sr. Necare refere-se aos espanhóis e por isso se acha isento de responsabilidade, deve achar que tem piada e que xenofobia não é acusação grave quando aplicada a um povo inteiro. O Sr. Necare, como se pode ver, é burro.

Comentando esta inanidade, e sob o pseudónimo Pata Negra, eu chamei burro ao Sr. Necare. O Sr. Necare sentiu-se com o epíteto, justíssimo diga-se, e veio aqui ao Tapor verter a sua bílis. E disse:

«@Pata Negra: Se queres insultos, vamos a isso.
Sua besta do caralho, com uma merda de um nick tirado dos presuntos, julgas-te muito esperto, não é? Tiraste algum curso de psicologia por correspondência e queres aplicar os teus conhecimentos, mas é melhor ires para a tua vizinhança de parolos, pois deve ser o único sítio onde fazes um brilharete.
Deves ser descendente de espanhóis, não é cabrão? Andas vestidinho de andaluza, a dançar flamenco e a tocar castanholas. Volta lá para a merda da pocilga de onde saíste que a tua opinião não vale um bocado de merda de porco.»

Como se vê, e como já se havia suspeitado da leitura do post das etiquetas, o estilo não é recomendável, aliás tal como a sintaxe e o conteúdo.

O objectivo deste post é provar que o Sr. Necare é burro. É fácil. Não me dirijo ao Sr. Necare, ele lerá o post porque o post é público, mas ele não é o destinatário. Até porque, como burro que é, não entenderá a argumentação aqui expendida.

Comecemos por perguntar o que é um burro? Não no sentido zoológico, claro está, mas quando a expressão, como ofensa, é aplicada a um indigno representante do género humano. Neste caso, um burro é um indivíduo que, incapaz de interpretar e entender as evidências com que se depara e a partir daí produzir um discurso racional, insiste presunçosamente e com base na ignorância dogmática, em avaliar a realidade que não entende com base nas suas limitações. Isto é um burro. O Mundo visto pelos olhos de um burro é um mundo distorcido. Acho que a definição é boa.

A seguir, trata-se de reputar como completamente falsas as afirmações do sr. Necare relativamente à Espanha. O Sr. Necare não conhece a Espanha. Contrariamente ao que o Sr. Necare diz, a Espanha não está nem nunca esteve preocupada em nos lixar. É errado do ponto de vista histórico e político. É errado, seja qual for o ângulo e a óptica de análise. Revela ignorância completa e gritante. Poupo-me à demonstração, porque a evidência é do tamanho do universo e em sentido contrário.

Em segundo lugar, o Sr. Necare revela uma ignorância total acerca da importância da Espanha, da sua história e da sua cultura. De Goya ao presunto Pata Negra, de Altamira a Tapiés, de Almodovar a Cervantes, de Machado a Lorca, de Alonso ao Real Madrid, de Pau Gasol a Angel Nieto, de Penélope Cruz a Juan Miró, De Stª Teresa de Ávila a Cervantes, podia dar milhões, dezenas de milhões de exemplos em todos os sectores de actividade, do desporto à literatura, da poesia ao cinema, da pintura à política, da religião à sociedade, de figuras e factos marcantes na história da humanidade de origem espanhola. Em face desta evidência esmagadora, merecedora de admiração sincera, o senhor Necare diz que não gosta. Que são barulhentos e expansivos. Tece umas considerações generalistas, racistas, xenófobas e inaceitáveis.

Por outro lado, o senhor Necare fala dos nossos vizinhos como se fossem estranhos. Desconhece que a hispanidade é um pilar essencial, ainda que recalcado pelo discurso de muitos burros, da identidade portuguesa. Falar mal dos espanhóis é falar mal de nós.

Só um burro o não vê, como é o caso do Sr. Neacre. Tal só se explica se dermos por demonstrado que o Sr. Necare é burro. Esta é a etiqueta que melhor o serve, poisde contrário, ter-se-ia que considerar o Sr. Necare como racista e xenófobo. A burrice torna o Sr. Necare inimputável. Ofereço-lhe o direito a usar a coroa que ilustra o post. Mereceu-a!

foto: http://www.1ofakindstuff.com/Shrek-Donkey-Ears.html

1 comentário:

Anónimo disse...

Quem escrevu isto leu muito Ramalho, muito Eça e muito Fialho.