14/12/06

A Solução, por Nikki

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Breve comentário às Hipóteses em estudo

Hipótese A

Caracteriza-se pela configuração de um L constituído por dois corpos que albergam diferentes funções; um de uso mais reservado, basicamente ocupado pelo escritório e pelos corpos e outro de uso mais ‘público’ – o da cozinha, das salas e do alpendre. A fechar o L uma fileira de arvores de frutos ajuda a compor uma espécie de pátio voltado a Sul e no qual o destaque vai para a piscina ecológica, espelho de água que permitirá vislumbrar a casa de diferentes maneiras e pontos de vista.

Como aspectos a salientar nesta proposta, a economia das circulações – reduzidas a um mínimo com um desenho cruciforme alongado – e a correcta relação que se estabelece com o terreno, com a paisagem e com os pontos cardeais. (…) Como seria de prever numa solução tipo casa-pátio, que não é verdadeiramente, mas que também não deixa totalmente de o ser, trata-se de uma proposta menos virada para a paisagem circundante; uma solução, portanto, mais fechada sobre si própria, mais concentrada sobre os elementos que a compõem e sobre as suas relações funcionais.

Hipótese B
Distingue-se claramente da anterior pela definição da casa em um só volume, embora subdivido em três corpos justapostos: o dos quartos, voltado a Nascente, o do escritório, salas e cozinha, voltado a Poente. Entre os dois, o corpo das circulações, desenhado sob a forma dum pátio interior sobre o comprido, poderá receber luz zenital e de Sul, luz essa que irradia para os corpos contíguos, principalmente para o das salas-cozinha. Nesta solução o acesso ao piso inferior faz-se pela parte central do volume havendo uma tendência para que a cave fique quase totalmente enterrada. O corpo dos quartos ficará parcialmente cravado, permitindo que a transição entre corpos se faça sempre de nível e assegurando uma ligação também de nível entre o corpo das salas e o jardim.

Novamente a piscina ecologia, com o seu magnífico espelho a reflectir a casa a nascente e as colinas a Poente, atrai os olhares e direcciona a vivência doméstica.

Como pontos-chave desta proposta, por um lado, a forte articulação entre os espaços interiores, interligados através dum corredor-pátio para onde dão todas as divisões. Por outro lado, a relação da casa com a paisagem (ao fundo), enfatizada pelo enorme e ininterrupto envidraçado que atravessa todas as zonas de uso menos reservado. (…)

Hipótese Alternativa

Paralelamente a uma solução mais lógica, de compromisso, como seria a da hipótese A – e a uma solução conceptualmente mais radical, de cariz quase funcionalista – como seria a da hipótese B – perfila-se uma terceira via, de maior complexidade formal. A esta última, surgida in the last minute, por virtualmente exceder o que é solicitado, designou-se como hipótese alternativa. Na verdade, e apesar da sua aparente originalidade, não passa de ser uma variante da hipótese A. Desde logo, recupera a ideia dos dois corpos e a respectiva disposição ortogonal em planta. Porém, nesta nova versão, abdica-se da comodidade de circulação de nível, presente nas soluções anteriores, inusitando-se a sobre elevação do corpo dos quartos que se assume volume independente. Apesar do corpo da cozinha-salas manter-se como em A a discordância altimétrica dos volumes dá parece dar à casa um novo fôlego: a casa é a casa é agora menos compacta, menos previsível também.

Como resultado da elevação do corpo dos quartos foi então possível recriar de modo bem mais elegante o hall de entrada que ganha um duplo pé direito e adquire ambiguidade na sua relação com os espaços interiores e exteriores. Este soltar de corpos antes fundidos, como em acontecia em B, ou linearmente combinados, como em A, permite ainda tratar de modo mais individualizado as superfícies do novo volume: ora se deixam rasgar em longas aberturas, ora se fecham, ora se convertem em panos envidraçados revestidos por ripados que controlam a relação com a luz e com a envolvente. Note-se como a posição elevada inaugura uma diferente relação dos quartos e respectiva zona de circulação com a linha do horizonte. Por fim, o efeito de quase prestidigitação deste corpo paralelipipédico, pairando no ar sobre esbeltas colunas permite introduzir, por baixo, um amplo espaço coberto; um espaço de usos multifuncional: parqueamento, área de jogos (ping-pong, dardos, cartas, etc) zona de repouso, zona de convívio-barbecue, mirante sobre o jardim e sobre o vale, sauna envidraçada, voltada para o pôr-do-sol,...

Esta solução, ao contrário das anteriores, preocupa-se, antes de tudo, em libertar o chão, tornando o próprio terreno, logo pela manhã, quando o sol varre todo o comprimento do lote, no primeiro protagonista da casa e do seu dia a dia.

A partir daqui, a piscina, a zona relvada por detrás das árvores, as montanhas, o vale, o sol nascente e o sol poente, e céu e as estrelas, sempre visíveis, sempre próximos, tornam-se, de forma indelével, parte intrínseca do quotidiano de quem habita.

Paisagem, Terreno, Escritor, Casa e Cosmos num todo indivisível.

As funções que na solução anterior aparecem enterradas poderão continuar a existir, e na mesma projecção horizontal do corpo dos quartos, muito embora a garagem, na acepção de parqueamento, poderia ser substituída, com algumas adaptações, pela área coberta exterior.

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