11/04/07

Ingenharias, por senhor Asdrúbal

O actual caso habilitações académicas do senhor ou do senhor engenheiro Pinto de Sousa, actual primeiro ministro da República, suscita-me duas notas, uma relativa á matéria em causa, outra por ela sugerida. Comecemos por esta última:
1- Este caso marca a afirmação da blogosfera como espaço crítico e informativo de referência no espaço público português..
Embora os detractores da blogosfera queiram aproveitar este caso para denegrir as investigações e comentários que se foram publicando sobre o caso do engenheiro, a verdade é que a blogosfera e, em particular, o excelente trabalho do blog http://doportugalprofundo.blogspot.com/, liderou uma investigação que poderá ser uma referência na nossa História da Comunicação recente (e digo «poderá» porque estamos em Portugal. Num país civilizado o primeiro ministro já se tinha demitido, tal a gravidade do seu comportamento e dos factos já apurados). Note-se que só agora a nossa comunicação social de referência pegou neste caso, cavalgando tardiamente - mas antes tarde que nunca - uma onda há muito iniciada na blogosfera. E finalmente são os partidos - ontem Louçã deu o mote e já se aguardam as reacções da restante oposição - a perceberem o alcance do que está em causa neste triste jogo de máscaras.
Terá a blogosfera os seus pecados, certo, como qualquer outro media. Muitos censuram-lhe o anonimato das intervenções mas creio que não é esse o problema. Pelo contrário, o anonimato é até uma das potencialidades interessantes deste meio de comunicação. O que é censurável é sim, sobretudo, o facto de alguns (muitos) se servirem do anonimato para escreverem o que não seriam capazes de dizer se identificados. Neste ponto creio que todo o blogger deveria respeitar um princípio ético mínimo que enuncio assim: não escrever a coberto do anonimato nada que não seja capaz de dizer identificado. Se não sou capaz de insultar o chefe lá do emprego cara a cara, não está certo que o faça a coberto do anonimato neste meio. Se o fizer estou a degradar e não a contribuir para a força e a credibilidade da blogosfera. Numa sociedade em que os partidos se constituiram como forças reaccionárias ligadas frequentemente a interesses corruptos e obscuros, precisamos que meios como a blogosfera se afirmem como credíveis. É aqui e não nas sedes dos partidos que se encontram as novas Àgoras. O caso do ingenheiro prova-o à saciedade.

2 - E como não podia deixar de ser, uma segunda nota, acerca da matéria em si. Um primeiro ministro que exige sacríficios e rigor ao povo português precisa, antes de mais, de ter, ele próprio, uma credibilidade irrepreensível. Não pode, de forma alguma, ter o comportamento dúbio e titubeante do sr. Pinto de Sousa neste caso. Como é que o sr. Pinto de Sousa pode qualificar como vulgar «lapso que não é da sua responsabilidade» o facto de em 1993 se apresentar em documento oficial da Assembleia da República como «Licenciado em Engenharia Civil» e «Engenheiro» quando, pelo que ele próprio agora afirma, só concluiu a tal licenciatura em 1996? Lapso? Que não é da sua responsabilidade? Mas esta gente julga que somos todos lorpas? Como dizem os brasileiros, perante justificações como esta, «Você não se sente um panaca»?

Imagem retirada do http://doportugalprofundo.blogspot.com/

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