22/05/07

Cuidado... Eles andam aí!, por Pepe Le Pew

Para quem julgava que o governo neo-fascista de Portugal já tinha atingido um absoluto grau zero completamente inultrapassável, desengane-se. O recente caso do professor Charrua ultrapassa largamente tudo o que seria imaginável. Conhece-se o enredo: Charrua é um professor de Inglês destacado há 18 anos na DREN (Direcção Regional da Educação do Norte). Terá feito um «comentário jocoso» sobre a licenciatura do sr. Pinto de Sousa nas instalações do seu local de trabalho. Entretanto um bufo, denuncia-o à directora da referida DREN. E que faz a senhora? Manda chamar o bufo e explica-lhe que o seu comportamento é inadmissível numa sociedade democrática? Propõe-lhe a frequência de uma acção de formação sobre ética, direitos constitucionais, tolerância ou liberdade de expressão? Népias! Concerteza, agradece ao bufo pelo serviço prestado à nação, abre um processo disciplinar ao professor Charrua e, sem sequer concluir o dito, imediatamente, sem o ouvir, suspende o destacamento ao prof e manda-o regressar à escola de origem.


Justificação para esta abencerragem? «O primeiro-ministro é o primeiro ministro de Portugal» (sic) Que quererá isto dizer? Nós sabemos que sim e lamentamos… Se se concluir do processo que o professor Charrua é inocente, não há problema: «receberá uma indemnização» (sic). E paga por quem? Descontada do vencimento da sra directora da dren? Não, claro, paga com o dinheiro dos nossos impostos. Santa im(p)unidade…


Este caso é triste, deprimente, verdadeiramente chocante. Infelizmente não creio que esteja aqui em causa apenas uma bizarria de uma directora sem perfil para ocupar o cargo que ocupa. Infelizmente isto é mais do mesmo. Esta atitude não destoa da atitude geral deste ministério da educação, onde são figuras de proa personagens insólitas como um tal Pedreira e um Valter Lemos. O episódio não é a excepção; é a regra, é mais um capítulo da aplicação da filosofia autocrática e autista deste governo. Não é por acaso que uma coisa destas nunca se passou, desde o 25 de Abril de 74 até hoje, e que se dá precisamente agora. Isto tem a inconfundível marca do PS-Pinto de Sousa. É o selo Coelhone: «Quem se mete com o PS, leva» (sic), não sei se estão recordados…


Não tenho memórias dos tempos anteriores ao 25 de Abril. Mas explicaram-me, era ainda criança, que a maior conquista de Abril foi a liberdade de expressão. Acredito que sim. Não concebo como se pode viver numa sociedade pidesca, onde um bufo está à espreita na esquina do lado, para nos denunciar. A ministra da educação, entretanto, já se recusou a ir ao Parlamento esclarecer este gravíssimo atentado. A senhora não se pronuncia quando, em rigor, já deveria ter demitido a sua subordinada do Norte. Mas não. Tá calada e quem cala consente… Pinto de Sousa, calado está.


O outro ministro, aquele que, também ele, mandou uma piadola acerca da licenciatura de Pinto de Sousa, esse não foi incomodado. Marcelo Rebelo de Sousa que disse e escreveu «já se percebeu que a licenciatura do primeiro-ministro é da farinha do amparo» continua a leccionar, ao que sei, numa universidade pública portuguesa. Não é incomodado e bem. Mas lixa-se o charrua! Ora bolas… Como dizem os ingleses it stinks! É mau de mais. E assim, caso ainda fosse preciso demonstração, o PS redifine-se politicamente como um partido neo-fascista que atenta seriamente contra a liberdade de expressão, contra um dos valores mais sagrados da democracia. Pior que isso: revela não ter qualquer sentido de humor, mostra-se pacóvio e provinciano.


De um certo ponto de vista, este retrocesso é ainda bem pior, posto que não é apenas um retrocesso político: é um retrocesso civilizacional. Coloca a sociedade portuguesa mais próxima daqueles países da malta das cabeças embrulhadas em turbantes que vêem para a rua berrar e queimar embaixadas por causa das caricaturas dinamarquesas do Maomé. Eu não gostaria de viver num país daqueles. Mas parece que eles já estão entre nós. Já não sei onde estou... Se no Portugal de 2007, descontraído e bem humorado, apesar de tudo, se no país beato e fascistóide de 1973; se na Europa Ocidental , livre e democrática, se na Arábia Saudita ou no Irão.. E se eu fosse do Gato Fedorento passava a ter cuidado com o que dizia. Ou do tapornumporco, sei lá…

Imagem -Bansky

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