17/01/08

Sheena is a Punk Rocker, por Gadelha

Os Ramones não sabiam tocar, é verdade. Mas os dadaístas sabiam pintar? A Fonte de Duchamp não é considerada uma das obras primas da arte do século xx? O Wharoll passou metade da carreira a reproduzir rótulos de sopas, fotos de refrigerantes e posters de Mao-Tse Tungs e Marylines e é considerao uma referência. Houve até quem - Nazoni - vendesse latas de merda, por sinal a valerem uns milhares nos leilões da Sothebys... Por isso não faz mal que os Ramones não soubessem tocar. Eles tinham atitude e a música que fizeram, à boa maneira dadaísta, foi uma crítica feroz ao execessivo intelectualismo do rock que se fazia quando eles eram putos.

Quando os Ramones apareceram ouvia-se Pink Floyd, Genesis, Yes e mais uma legião de imitações deles. Eram os tempos áureos do Rock Progressivo. Os músicos eram milionários, muitos deles tinham formação clássica e as aparelhagens e instrumentos musicais destas mega-bands eram lendárias e inacessíveis ao bolso dos putos que estavam a despertar para a música. Os concertos tinham-se tornado em recitais, o público assistia sentado e imóvel, o rock envelhecia e afastava-se da juventude.

O Punk explodiu para cortar com esse ambiente. O essencial era a atitude e uma banda não precisava de mais que duas guitarras, uma voz roufenha e uma bateria. O resto era energia e distorsão. Nos anos 70-80 os concertos voltaram a ser físicos: era o moche antes de se falar em moche. Os Sex Pistols, os Damned e os Clash não podiam tocar em lado nenhum porque a malta que ia aos seus concertos, literalmente, demolia a sala de espectáculos. Era o back to basics, o Rock voltava a ser devolvido à juventude, clamava-se contra o Rock Sinfónico e o Hard Rock e contra o show business.

Sempre achei que havia aqui injustiças óbvias. os Pink Floyd sempre foram brilhantes, os King Krimson fizeram verdadeiras obras primas e reconheço mérito aos Genesis da fase Peter Gabriel. Além disso, nunca encaixei as críticas dos Punks ao Hard Rock que era colocado no mesmo saco do rock sinfónico, embora por razões diversas. Como é que alguém que diz gostar de Rock pode criticar os Led Zeppellin, por exemplo, uma das mais importantes bandas de sempre? E há que não esquecer que, nesta sanha anti-sistema, até os Stones eram considerados traidores - por se terem tornado milionários e por, pior ainda, estarem velhos, já então. Estávamos nos anos 70-80. Entretanto passaram-se mais de 20 anos e eles ainda cá andam... Ao invés, nos últimos anos faleceu o Joe Strummer dos Clash, dois Ramones,o Sid Vicious e já ninguém sabe onde param os restantes ícones punks.

Seja como for, a crítica Punk teve aspectos positivos fundamentais e constituiu uma oportunidade de rejuvenescimento do Rock`n`Roll. Quanto a mim a última, embora o Grunge lhe tenha seguido as pisadas sem a mesma força. O Punk teve vida breve, como devia ser. E de todos os Punks eu sempre achei que os Clash foram outra coisa pela sua excelência, que os Pistols foram a encarnação viva do género e que os Ramones foram os mais anarquistas de todos. Os Ramones foram um caso à parte. Nem a estética Punk eles seguiram: sempre usaram trunfas pelas costas enquanto os seus irmãos de Inglaterra rapavam o cabelo. O It`s Alive seminal álbum da banda ao vivo fica para sempre como um marco na história do Rock n`Roll. Há quem diga, se calhar com razão, que eles não passaram de uma banda de garagem. E há mesmo quem afirme que eles só sabiam tocar quatro notas, o dó, o ré, o mi e o fá. Mas é mentira porque eu garanto que há um disco dels em que o Dee Dee Ramone consegue tirar um verdadeiro e inequívoco Lá. O resto é energia. Gabba Gabba Hey!

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