26/03/08

Watchmen, por Graphic John

As Graphic Novels são o estado da arte dos comics, BD norte-americana para leitores maduros e sofisticados, uma expressão superior dos universos clássicos de editoras como a Marvel ou a DC Comics. Trata-se de um conceito que se foi delineando ao longo do século XX, até surgir com esta exacta designação (novelas ou romances gráficos) nos anos 70. A história das Graphic Novels está toda aqui bem explicada, mas foi sobretudo a partir dos anos 80 e da aposta dos gigantes editoriais referidos em públicos mais exigentes, que o estilo floresceu.

E floresceu com versões negras e de maior densidade psicológica e narrativa de heróis tradicionais como Batman (em obras como a série “Batman: Ano Um” ou o”O Regresso do Cavaleiro das Trevas”, ambas de Frank Miller, um dos expoentes do estilo), mas também com o surgimento de novos personagens e enredos, bem mais bizarros e desviantes do que os habitualmente lineares, previsíveis e moralistas super-heróis-modelo-dos-jovens, sempre com uma tirada pomposa ou patriótica nos dentes.

Os novos heróis das Graphic Novels são bem mais humanos, se assim se pode dizer. E uma das obras maiores desta especialidade artística, Watchmen, é exemplar dessa mesma tendência: Todos os heróis deste mundo cinzento à beira de uma guerra nuclear são, nesse aspecto, muito mais humanos; aliás, são até demasiado humanos, se isso existe…

Trata-se de um livro a todos os títulos excepcional, comparável a expoentes da banda desenhada contemporânea norte-americana como Maus, de Art Spigelman. Alan Moore escreveu e Dave Gibbons desenhou esta rebuscada aventura.

Apesar de Nova Iorque (a “mega-urbe” mitológica) ser também um dos cenários principais deste drama desenhado, Watchmen não será uma obra tão sórdida como Sin City, por exemplo. O facto é que são livros incomparáveis. Watchmen, além de ser a cores, o que faz muita diferença, adopta um esquema narrativo mais convencional e joga sobretudo com um olhar irónico e amargo sobre o próprio universo fantástico dos super-heróis. Os super-heróis de Watchmen subvertem a tradição de super-heróis maiores do que a vida. Estes são homens e mulheres ultrapassados, gastos, amargurados, violentos, traumatizados, megalómanos ou mesmo psicopatas sebentos, como é o caso de um dos personagens icónicos do livro, Roscharch.

Só para situar, refira-se que Watchmen, além de outras distinções, foi até agora a única graphic novel a receber um prémio Hugo, um dos mais prestigiados galardões para ficção científica e fantasia; e é também a única graphic presente, em 2005, na lista da Time das 100 melhores novelas (ou romances, “novels”) em inglês desde 1923 (in wikipedia).

Mas para quem não conheça, o melhor é mesmo ler o livro e chega de conversa. E vem isto a propósito de dar conta de um filme que só tem estreia prevista para exactamente daqui a um ano, e que é precisamente a adaptação de Watchmen.

Curiosamente, o parto do filme tem sido também uma pequena saga atormentada. Desde 1986, data do lançamento do livro, que se trabalha na possível versão cinematográfica da obra, a Warner e a 20th Century Fox pegaram na ideia, e o produtor Joel Silver começou a juntar as peças. Terry Gilliam foi o primeiro realizador envolvido neste projecto. E também foi dos primeiros a sair do barco, alegando que a história era “infilmável” (o mesmo Gilliam que fez Brazil, por exemplo…). E o projecto morreu na praia.

Já no século XXI, foi a Universal e a Paramount que se juntaram para levar a cabo a tarefa. Paul Grengrass foi o realizador escolhido, mas também não teve sorte. O filme acabou por ser cancelado devido a questões orçamentais.

Finalmente, em 2006, a Warner volta a pegar na ideia e colocou o realizador Zack Snyder (o mesmo de 300, outra adaptação de uma graphic novel) à frente do projecto. Este último, por seu turno, parece ser homem para grandes desafios, já que prepara também a rodagem de outra obra icónica da literatura fantástica, o clássico O Homem Ilustrado, de Bradbury. Mas agora o que interessa é que a coisa está a andar e ara para dar conta disto para marcarem na agenda: Março de 2009. Pronto.

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