18/03/08

We Could Be Heroes, por Peter Parker

Já se tem defendido aqui no Porco que a Série Televisiva é um novo género artístico. Assim como a fotografia, o cinema ou a Banda Desenhada tiveram que lutar para serem considerados géneros artísticos por excelência, não hão-de vir longe os tempos em que à Série televisiva também será reconhecido idêntico estatuto. Há entre nós verdadeiros cultores do género, o mais eminente dos quais, o nosso Grão. Ele é assim como que uma espécie de xamã que vai adivinhando o que de mais importante acontece neste mundo, para depois nos passar a Palavra (e não só – geralmente, a Palavra vem acompanhada de um amável dvd com os episódios para gáudio dos fiéis).

Há entre nós fãs das mais variadas séries: o Mangas continua a falar de Reviver o Passado em Bridshead como uma peça sagrada; O Grão é um incondicional dos Sopranos, de Seinfeld, do mais recente Dexter e da Maya a mítica personagem do Espaço 1999 que tinha o mais espantoso poder que já alguma vez foi concebido por qualquer tarado… Temos um consumidor do House em versão cassete pirata, e incondicionais de Star Treck, de Easy Larry e de The Sex and the City.

Pois bem, recentemente, descobri a nova coqueluche, o case study mundial e objecto de culto de metade da população civilizada do globo – Heroes (só para se ter uma ideia veja-se este blog brasileiro, um entre milhares, inteiramente dedicado à série: http://heroesbrasil.blogspot.com/). Pára tudo – Heroes é a série mais genial de todos os tempos! Tenho cá em casa as 18 horas correspondentes à 1ª temporada e confirmo a sua absoluta genialidade. O difícil é parar de ver, aquilo torna-se um vício pior que a droga e substitui a própria vida real. Durante uns tempo julguei que cada episódio demorava apenas meia hora. Recentemente fui chamado à atenção – dura 50 minutos e eu estava a ver aos 3 e 4 episódios por noite!

Tim Kring é o autor da série que estreou na NBC no dia 25 de Setembro de 2006 e conta com o imenso Stan Lee entre os seus colaboradores. Génesis, o primeiro episódio, parte da intuição darwiniana: o destino das espécies é a evolução. As mais poderosas são as que sobrevivem e o processo de selecção natural não está concluído, mas é um processo dinâmico. Temos tendência a pensar que a espécie humana é um produto definitivo, mas realmente não é assim. Nenhuma é. A nossa espécie continua a desenvolver-se e há já entre nós humanos que desenvolveram capacidades e poderes que mal podemos imaginar. Mas essa nova vaga de super-homens pode tornar-se um perigo e há uma estranha organização, assim como vários personagens (Sylar, Mr Lindermann e mais alguns outros) que tentam acabar com eles, ou para lhes absorver os poderes ou por razões que ainda não descortinei totalmente, pelo menos, depois de ter passado cerca de 16 horas a ver os episódios até hoje. A missão destes heróis é muito simples: salvar o mundo.

O universo de referência de tudo isto é a BD. Muitos destas personagens são alter-egos dos clássicos da Marvel, da DC Comics e da ficção científica em geral: Jessica/Niki é, no fundo, o esquizofrénico Hulk; Claire é Plastic-Man; há o Homem-Invisível; Flash; o Tocha Humana em versão nuclear; há pré-cogs extraídos directamente do universo SCI-Fi de Phillip Dick; Tele-cinésicos que remetem para Matrix; há um telepata que ouve os pensamentos, há poderes de Super-Man à solta, dispersos por vários personagens (super-audição, super-velocidade, capacidade de controlar o fluxo espacio-temporal, etc), enfim, Heroes sintetiza décadas e décadas do melhor que as culturas Comics e Science-Fiction conseguiram criar.

A própria estrutura narrativa segue o esquema das primeiras tiras publicadas nos jornais de origem da Banda Desenhada. Cada episódio começa com uma reconstituição dos anteriores, no estilo mais puro e redundante do velho Lee Falk, o criador de Mandrake, e de Fantasma. Mas à medida que os episódios se acumulam torna-se tudo num complicado puzzle cujas peças vamos conseguindo juntar, a pouco e pouco. Quem chegar a meio depara-se com um enredo intricado e pode até ter alguma dificuldade em ligar todas as pistas que vão surgindo. Só para se ter uma ideia: na série o fluxo temporal não é respeitado e os personagens lutam entre si em tempos diferentes. Podemos estar a ver um episódio em que Ando está no futuro, apesar de sabermos que ele já morreu no passado; podemos assistir à morte em directo de Mendez às mãos de Sylar, no entanto no episódio seguinte ele volta a aparecer no passado, quando ainda estava vivo. E dá-se até o caso de Hiro se encontrar com ele próprio no futuro, passando o seu ego-futuro a colaborar directamente com o seu ego-passado. Em Heroes não sabemos, sequer, exactamente, quem são os principais vilões e os próprios personagens podem ter um papel positivo num determinado segmento temporal – como Parkman no presente – e negativo noutro – como o mesmo Parkman no futuro. Confusos? Ainda não viram nada… Depois de gramarem com as 18 horas (só me faltam duas) correspondentes à primeira temporada, garanto-vos que nunca mais conseguirão olhar para um estranho sem desconfiarem que tipo de poder especial é que ele possui. Ainda me falta toda a segunda e a terceira temporada que, há quem garanta, são ainda melhores que a primeira. Não acredito - se for verdade, ainda me vou tornar no Homem da Noite...

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