12/01/05

Arquivos do Porco: o dia em que os Stones tocaram no meu quintal, por Couve Flor

Pois é verdade, quantas almas de entre vós, ó mortais, se podem gabar de ter tido os Rolling Stones a tocar no vosso quintal. Roam-se de inveja e fixem esta merda: OS ROLLING STONES TOCARAM NO MEU QUINTAL. hehehehe! Isto é, no Estádio Cidade de Coimbra, a escassa centena de metros da minha varanda.
Esse concerto, no dia 27 de Setembro de 2003, foi um dos momentos altos do Porco. O Porco esteve lá unido: Tinóni, Mangas, Mau, Nini, Vaice, Grunfo, JP e Moi. Tudo com as respectivas famílias. Uns foram para a bancada, outros para a linha da frente. Ali, onde se podiam ver as rugas do Mick Jagger, a careca do Charlie Watts, a sola das sapatilhas aceleradas do Ronnie Wood e o que resta do Keith Richards: a guitarra.
Em Agosto, o Vaice tinha ido de férias para Espanha onde tinha conduzido umas centenas de quilómetros, sob um calor insuportável, para assistir a um anunciado concerto dos Stones em Marbella. Aí chegado soube que Lord Jagger estava ligeiramente indisposto! O concerto foi adiado. Fosse outro que não Sua Alteza Real, Cavaleiro do Império, e o Vaice teria proferido impropérios capazes de arruinar a reputação a uma virgem. Mas afinal, sendo quem era, o caso era compreensível, elogiável até, e o Vaice limitou-se a fazer as mesmas centenas de quilómetros, agora de regresso, sem balbuciar, sem murmúrio ou blasfémia.
Chegados a Coimbra no final das férias, os jornais locais anunciam em primeira mão: «Rolling Stones vão tocar no novo estádio». Incrível, Jagger é Deus e Deus é o mensageiro das súplicas do Vaice. Ainda a tinta estava fresca na primeira página do «Calinas» e já a malta estava no posto da Galp à espera que a bilheteira abrisse. No dia do espectáculo, lá estávamos, na linha da frente. No final, o papel do alinhamento das canções veio ter às mãos do Vaice. Ei-lo agora revelado ao Mundo, aqui mesmo no Tapor, digitalizado no topo deste "post". Como uma relí­quia do Sagrado Lenho, qual ossada de santo, cabelo de mártir em relicário de prata, o Vaice depositou-mo nas mãos, envolto em protectora capa de plástico, para que o digitalizasse. Este mesmo papelinho que aos pés de Jagger & Richards lembrava o alinhamento das canções, este naco de papel onde os mitos pousaram os olhos e onde, quem sabe, até podem ter tocado com a ponta dos dedos, está aqui no Tapor. Até pode ser que um gafanhoto, um pingo de saliva jaggeriana tenha saltado daqueles lábios carnudos que revolucionaram os costumes ocidentais cantando arrastadamente e com desassombro escandaloso que o homem não conseguia ter satisfação, e aterrado nesta folha de papel A4 de 80 gramas. É possível. É este papel que está neste preciso momento entre as minhas mãos, passou pelo meu scanner (yessss!) e ficou digitalizado para, assim imaterializado, poder ser por vós comungado num elevado momento de misticismo eucarístico.

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