23/08/05

O Boné, por Cão



Olá.

Esta foto, tirou-ma um sobrinho.

Não gosto dela: é uma boa foto.

Mostra-me o que e como sou: portador de dentes torrados pelo abuso do tabaco, o olhar de cão pedinte, o sorriso espúrio de vendedor de ar não condicionado, a roupagem vulgar, o boné da filha, o aspecto de vivo por empréstimo.

Para que está aqui a merda da foto?

Para chatear.

Não tem, o fotografado, qualquer importância.

É pó, cinza será.

Para chatear?

Sim.

Primeiro, para me chatear.

Segundo, para chatear os decerto se chatearão com o alusivo ferrão.

Tudo isto, claro, a propósito de uma outra foto daqui censurada.

Eu conto:

Era o dia 12 de Julho de 1987.

Estupidamente, casava-me eu nesse dia contra uma rapariga com tanto de teimosa (em casar) como de pré-divorciada (olarilas, assim foi).

Convidei pouquíssima gente.

O dinheiro para o “banquete” não dava para mais.

(E mesmo que desse, que se fodam a memória, o casamento e a fotografia…)

Esse ano 1987 foi-se.

Esse 12 de Julho foi-se.

Ficaram os amigos.

Também fui aos casamentos deles, em cujos fiz o desfavor de me portar como um imbecil.

Num, meti-me nos copos e com a namorada de um amigo.

Noutro, atirei um gato à piscina e mijei numa cómoda.

Atitudes que já prenunciavam o excelente aspecto físico, higiénico, moral e ontológico que a fotografia acima demonstra à saciedade.

Entretanto, dediquei-me aos papéis.

Escrevo, leio, revisiono, entendo, não entendo, aborreço-me, exulto.

E vou à internet.

No meu balogue, vou bolçando quase diariamente toda uma colecção de cromos e inconsequências tão inúteis como inócuos.

No Tapor, boto hoje a minha foto.

Viva o União de Coimbra!

Viva Daguerre!

Viva Bill Gates!

Viva o Lápis-Lazúli da Censura à la Grã-Nefertiti!

Viva a Maluqueira!

Viva o boné da minha filha!

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