Olá.
Esta foto, tirou-ma um sobrinho.
Não gosto dela: é uma boa foto.
Mostra-me o que e como sou: portador de dentes torrados pelo abuso do tabaco, o olhar de cão pedinte, o sorriso espúrio de vendedor de ar não condicionado, a roupagem vulgar, o boné da filha, o aspecto de vivo por empréstimo.
Para que está aqui a merda da foto?
Para chatear.
Não tem, o fotografado, qualquer importância.
É pó, cinza será.
Para chatear?
Sim.
Primeiro, para me chatear.
Segundo, para chatear os decerto se chatearão com o alusivo ferrão.
Tudo isto, claro, a propósito de uma outra foto daqui censurada.
Eu conto:
Era o dia 12 de Julho de 1987.
Estupidamente, casava-me eu nesse dia contra uma rapariga com tanto de teimosa (em casar) como de pré-divorciada (olarilas, assim foi).
Convidei pouquíssima gente.
O dinheiro para o “banquete” não dava para mais.
(E mesmo que desse, que se fodam a memória, o casamento e a fotografia…)
Esse ano 1987 foi-se.
Esse 12 de Julho foi-se.
Ficaram os amigos.
Também fui aos casamentos deles, em cujos fiz o desfavor de me portar como um imbecil.
Num, meti-me nos copos e com a namorada de um amigo.
Noutro, atirei um gato à piscina e mijei numa cómoda.
Atitudes que já prenunciavam o excelente aspecto físico, higiénico, moral e ontológico que a fotografia acima demonstra à saciedade.
Entretanto, dediquei-me aos papéis.
Escrevo, leio, revisiono, entendo, não entendo, aborreço-me, exulto.
E vou à internet.
No meu balogue, vou bolçando quase diariamente toda uma colecção de cromos e inconsequências tão inúteis como inócuos.
No Tapor, boto hoje a minha foto.
Viva o União de Coimbra!
Viva Daguerre!
Viva Bill Gates!
Viva o Lápis-Lazúli da Censura à
Viva a Maluqueira!
Viva o boné da minha filha!
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