31/01/07

Seka, Uma Carreira Curta, Mas Bem Recheada, por Minetauro


Conheci a Seka numa daquelas tardes frias, cinzentas e chuvosas de Inverno, em que não me restava outra alternativa, senão poupar o dinheirito do almoço da cantina e abancar na sessão da seis da tarde do Avenida.

Ultrapassado o porteiro, enganado pela altura e pela largura, a Seka evoluía no écran tamanho-família. Alta, matrona, fora do estilo de medidas perfeitas da Playboy, a menina distinguia-se pelo cabelo de um louro esbranquiçado e pelos olhos amendoados de intensas promessas. E a menina prometia e cumpria. Na tela, um John Holmes descomunal garantia a validade da peregrinação. Hoje a Seka, estrela maior do cinema porno dos anos 70 e 80, está quase esquecida por cá, mas nas Américas, a menina mantém o estatuto de Porn Star da Golden Age Of Porn.

Estreou-se em 1978 com 3 filmes, arranca para 12 em 1979 e explode em 1980 e 1981, com 23 e 32 filmes respectivamente. Em 82, fica-se pelos 12 e retira-se por motivos de carteira, cash mesmo. Ainda faz mais umas perninhas anos depois e em 93, retira-se em definitivo. No total, passeou a sua bissexualidade por 134 filmes. Em 2002, dois realizadores suecos, fizeram um Documentário brilhante e premiado, o “Desperately Seeking Seka”.

Ao lado de John Holmes, a retirada e desaparecida, brilhava intensamente. Não se recusava a nada e fazer isso com The King, é obra. Só para verem da popularidade da miúda, diga-se que há sites na net onde se discute se o nome artístico de Seka, vem do servo-croata para “Litle Sweetheart” ou do sul-africano Sesotho para “Symbol”. A jurisprudência divide-se. E registe-se mais um pormenor: a Seka foi pioneira, 15 ou 20 anos à frente do seu tempo, na rapagem total da capilaridade na zona de aterragem. A bem da visibilidade, os pilotos agradeciam.

O início da carreira da menina tem uma faceta engraçada, que passa por um espírito quase missionário e pela evolução que a Golden Age sentia na altura. Uma das coisas em que a malta do Porno acreditou é que, depois do sucesso do “Garganta Funda”, e da intelectualização do “Atrás da Porta Verde” e outros, era a inevitável chegada do Porno às grandes produções e ao main stream artístico. Isto é, ao atingir do estatuto de “Arte”. A “Oitava Arte”. Por exemplo filmar a Madame Bovary em plenitude de romance, sentimento e exaltação, mas onde facto se visse a Madame de joelhos making a Blow Job! OhYé! Chiça, o que se perdeu pelo caminho!

Voltando à Seka, a menina bebeu desta ilusão dourada. Nos finais dos anos 70, vamos encontrar a nossa pequena, na gerência de várias livrarias porno, e a queixar-se aos seus fornecedores de vídeo, que as actrizes não só eram mais feias que ela, mas que também não sabiam actuar. Se bem o disse, melhor o fez e zarpou para Los Angeles, proclamando que queria a elevar a performance artística a níveis nunca antes alcançados. E isso, que me desculpem os puristas, via-se e sentia-se. A Seka era uma actriz por inteiro. Aquilo não era só sexo, mas arte. Arte total. Os seus filmes tinham sempre história, enredo, traição e redenção. E eu queria ver, se a Meryl Streep no Kramer contra Kramer além de chorar, fosse obrigada a ajoelhar. E a engolir.

Bem, seja como for, de boas intenções está o inferno cheio e nem a Seka, nem a Golden Age chegaram lá. Hoje a nossa menina, Dorotheia Hundley Patton, a respeitável senhora de 52 anos da fotografia ao lado, é uma activa mulher de negócios e vive em Kansas City. Ao show televisivo “Saturday Night Live” declarou que: "If I changed anything about my past, I wouldn't be the same person I am today, and I like Me today."

Ora nem mais. Assume o passado por inteiro e diz que sempre gostou de fazer porno. Ao invés de outras, nada renega e não vem agora dizer que foi violada, obrigada e estrafegada. Gere o seu lucrativo Clube de Fans como mulher de negócios que sempre foi. Aliás, já em 1982, no auge da carreira, retirou-se dos filmes, quando entendeu que não lhe pagavam o que ela achava que merecia. E tinha razão porra, anal com John Holmes e só 7000 contos por filme? Forretas do catano! Abandonou e fez muito bem! O cu a quem o trabalha!

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