19/02/08

Elogio Socrático, por Nixon


O Porco, excepção feita ao defunto Jótta, é visceralmente anti-socrático. O que está mal, já que o homem tem méritos. E pela primeira vez na história do Porco, o Sócrates vai ser aqui elogiado. Portanto, a malta arraigada ao ódiozito de estimação que arrepie caminho e arrede daqui, porque fica avisada que não vai gostar da leitura seguinte.

Reconheça-se que o homem é bom. É um politico nato, habilidoso e escorregadio. Não tenho qualquer dúvida que este homem conseguiria vender frigoríficos a esquimós e cachecóis aos selváticos da amazónia. Eu comprava-lhe um carro, certamente. E vocês também. Mesmo com azulejos no pára-choques e um cãozito a abanar a cabeça no tablier. O Nixon era um aprendiz de feiticeiro no início da estrada de Damasco. O nosso primeiro foi lá e já voltou. Cheio de epifanias.

Veja-se a entrevista de ontem. O homem foge da TVI mais caustica e nas mãos de um grupo estrangeiro menos manobrável, mas também não vai à prata da casa da RTP por pudor e ganho de credibilidade. Vai à SIC do Balsemão, que ainda tem na memória as ameaças veladas e as directas sorrateiras, aquando da última renovação da licença de televisão. Depois, a equipa de entrevistadores mete como sempre o inefável Ricardo Costa, irmão do António Costa. Nem questiono a independência de tal equipa, porque não se pode questionar uma coisa que não existe.

E o nosso primeiro não foi à luta de qualquer maneira. Antes assegurou-se certamente e assim foi cumprido, que não lhe iam perguntar pelos projectos, pelas casas de banho viradas ao contrário, pelos tis Joaquins que juram a pés juntos que o nunca conheceram e nada lhe encomendaram ou pagaram. Assim como nada lhe perguntaram sobre quem mente, se ele, se os tis joaquins. E não lhe perguntaram o que é que ele achava de um trabalho de licenciatura de inglês técnico feito em meia página A4 com 19 erros e 18 valores de classificação. E não lhe perguntaram pela sacanice da colocação na net dos devedores quando o Estado deve tudo o que pode e não pode a todo o cão e gato. E não lhe perguntaram porque raio precisa de um ministro da saúde, se a politica é dele e de mais ninguém. Nem lhe perguntaram porque continua a falar da aposta no interior em vez de avisar as pessoas que aí é tudo para fechar. Muito menos lhe perguntaram pela ineficácia total dos tribunais administrativos e fiscais e do roubo descarado que são as custas judiciais ou sequer do crime de burla e de roubo à mão armada que fez aos notários. E nem lhe perguntaram, a propósito da sacrossanta co-incineração, se a monitorização dos indicadores de saúde e dos controles dos gases pesados já estão no terreno ou sequer porque raio, estão os óleos e solventes a entrar no processo.

No mais foi um fartote de lições politicas e controle de uma entrevista. Sendo certo que aquela equipa de entrevistadores se prestou a esse papel, isso não retira o mérito ao nosso primeiro que de forma directa ou indirecta obteve o que quis. Tal gente perante a mínima contradição deixou-o fazer poses de virgem ofendida e deixou-o embrulhar o presente com redundâncias gongóricas, que espremidas nada dizem.

Desplantes incríveis como dizer que já criou 90.000 empregos, passaram em branco e sem qualquer afrontamento e não houve uma única daquelas alminhas jornalísticas que tivesse a coragem de lhe dizer que no mesmo período se perderam 230.000 empregos e que Portugal tem hoje uma das mais altas taxas de desemprego. A imponência e a pose imperial do nosso primeiro foi tal, que chegou a afirmar que acredita na honestidade irredutível dos nossos professores, que certamente não vão facilitar nas boas notas por passarem a ser avaliados em função delas. Será que seria assim tão mau dizer-lhe que é natural que as pessoas caiam em facilidades porque têm de fazer pela vida, como ele fez a assinar projectos de casas de banho invertidas e a ter aulas no gabinete do reitor?

Ganda primeiro. Um politico e peras. Longe vão os tempos do nabo do cavaco a encher a boca de bolo-rei com a trupe de jornalistas sempre a metralhá-lo e afrontá-lo com a ponte, e o tabu, e o cadilhe, e as contas e a vaca morta e podre no Alentejo e as criancinhas com fome. Eu sei lá. E relembro o massacre do Ferreira do Amaral, e o assassínio em directo do Guterres nas contas do PIB, no pântano, no no-job-for-the-boys. Acho que a malta jornalística anda um bocado perdida. Salve-se A Quadratura do Círculo e O Eixo Do Mal. Mas a esses o esperto do nosso primeiro não vai. É de politico.

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