21/01/04

O caso das mamas de Letizia Ortiz

Escândalo em Espanha! Em 1996, ou por aí, a futura rainha de Espanha trabalhou no México onde conheceu um pintor, até há pouco anónimo: Waldo Saavedra. Tornaram-se amigos e Letizia terá posado seminua para o rapaz. O resultado serviu de capa a um disco: «Sueños Líquidos», editado pela Warner em 97. O título é de mau gosto, é certo, mas não devemos responsabilizar Letizia. Parece até que a única coisa aproveitável do disco é a capa. Importa, em primeiro lugar, discutir uma questão prévia: serão as mamas retratadas de Letizia? E aqui, o debate poderia centrar-se em dois domínios, a saber: a) em sede penal, no caso de haver suspeita de crime; b) no campo estético. O primeiro cenário deve ser afastado, pois que a ninguém ocorre que haja matéria criminal. Caso contrário, teríamos que convocar os peritos de um qualquer Instituto de Medicina Legal que se lançariam, com agradada devoção e minúcia, estou certo, em busca de sinais particulares que permitissem identificar com segurança os peitos de Letizia na tela de Waldo feita capa dos tais…. «Sonhos Líquidos». No domínio da simples apreciação estética, o caso também não merece demora. Basta aceitar uma evidência: a arte não se limita a reproduzir fotográfica e fielmente uma realidade. A tela de Waldo mantém sempre a sua dimensão estética, mesmo que não tenha reproduzido fielmente o peito de Letizia. Apesar da obra ser pindérica e foleira, também não constitui razão para tanto escândalo. Onde está então o problema? Só pode haver problema se se admite que:

a) Quem um dia mostrou as mamas não pode aspirar a usar coroa régia. Letizia mostrou as mamas, logo não pode ser rainha.
Ridículo! Pois que se aceitara anteriormente, e até com naturalidade, que Letizia fora casada. Como é presumível que tenha mostrado as mamas ao marido, deve concluir-se que, por si, o simples acto de exibição das glândulas não é impeditivo de se ascender à realeza.

b) As mamas só se podem mostrar aos maridos, como Letizia não era casada com Waldo, Letizia não pode ser rainha.
Idiotice! Nos tempos que correm, as mamas mostram-se a toda a gente! O anúncio do casamento do Príncipe das Astúrias com uma divorciada foi até saudado como sinal de modernidade e ajustamento da monarquia aos novos tempos. Ora, se a monarquia se quer compatibilizar com a modernidade, tem que aceitar que as mamas reais se podem mostrar a olhos que não estejam previamente vinculados pelo compromisso do casamento. Pelo menos, admito, antes de ascenderem à régia condição. Acresce ainda que não foi o príncipe Felipe que levantou a questão. Foram os súbditos. Os cidadãos da República não cuidam destes assuntos, que a República, ainda que alegórica e sem existência carnal, é mais generosa e liberal nestas delicadas matérias. O que incomoda então os súbditos de Sua Alteza Real? Prossigamos:

c) O facto de Letizia ter exibido as mamas a um pintor?
Não faz sentido! Decididamente, não colhe. Não se descortina por que estranha razão hão-de os olhos de um pintor ser discriminados em relação aos do marido. Até porque, marido e pintor podem coincidir numa só pessoa. Ou então, na possibilidade mais comum de tal se não verificar, teríamos que os pintores, doravante, estariam impedidos de ver mamas plebeias, pelo menos enquanto as portadoras acalentassem a esperança de um dia ascenderem ao estatuto régio. E quem diz pintores, diz fotógrafos, realizadores, etc. Indefensável!

d) Então, o problema deve estar no facto de o pintor, para além de as ter visto, as haver pintado?
Também não. Por um lado, porque o que se espera de um pintor é que pinte. Sem imposições à sua criatividade. Se quer pintar mamas, pois que as pinte. Tanto melhor, quanto mais inspiradoras forem as mamas. Por outro lado, haveria que justificar por que razão a transposição de uma inspiração para um suporte material como a tela é que constitui o elemento gravoso. A haver pecado, ele existiu antes, no facto do pintor ter visto as mamas. Ora, se isso não é grave, logo, o facto de o pintor haver dado forma à sua imagem mental, é apenas a sequência normal que, por ser normal, não deve escandalizar. Nem tão pouco deve escandalizar a utilização dada à pintura, difundindo-a como capa de disco, pois que uma obra de arte existe para ser difundida. Quanto maior for a sua difusão e aceitação, mais relevante se torna.

Deve pois concluir-se que não há razões para escândalo. Processo arquivado!

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