Ver e ouvir fascistas, comunistas, nacionalistas, trotskystas, socialistas desiludidos, xenófobos e outros egoístas a cantarem em coro afinado a Marselhesa fez-me mal. Mas como é que o Le Pen pode cantar «Aux armes citoyens / Formez vos bataillons / Marchons, marchons» - em coro com os comunistas? É incrível. Como é que a Marselhesa se transformou num hino nacionalista? A Marselhesa é o hino de todos os que acreditam no progresso da Humanidade, no valor da Fraternidade e na universalidade dos princípios. Por isso, o Non do referendo foi a traição histórica da França relativamente ao seu maior legado civilizacional: a herança de 1789. Sem França não há Europa e a França veio dizer que troca a ideia de uma Europa unida por causa de uma comichão no umbigo! A comichão é o nacionalismo, é o particular a impor-se ao universal, é o imediato a toldar a visão do horizonte longínquo, é a conveniência, é o egoísmo, é o mesquinho a ditar regras à história. A França está com comichão e acha que a Europa deve pagar por isso.
O nacionalismo foi a principal causa de morte na Europa e no Mundo durante o século XX. Desde a guerra franco-prussiana, ainda no século XIX, até à guerra da Bósnia, milhões, dezenas de milhões, porventura centenas de milhões de europeus morreram em nome da causa mais estúpida e idiota que imaginar se pode: o amor da Pátria! Não contentes com esta burrice, a maior burrice da história, exportámos esta causa de morte para todo o Mundo. Na Ásia, na África, na América Latina e um pouco por todo o planeta, durante um século morreu-se à europeia: em nome da Pátria! Esta burrice tinha que acabar. Após a 2ª Guerra Mundial, a Europa lança-se no esforço de reconstrução e Jean Monet teve uma visão histórica: «Nous ne coalisons pas des Etats, nous unissons des hommes.» Monet foi um dos pais da ideia de Europa. O nacionalismo romântico, em parte herdeiro e em parte degeneração dos ideais revolucionários de 1789, era assim recolocado na sua justa direcção ao apontar o destino histórico da Europa. Relançar a utopia e, em nome de um ideal, construir uma Europa nova, a Europa dos cidadãos, unida do Atlântico aos Urais.
Não me venham dizer que a França disse Non em nome deste ideal! Não, a França disse Non porque tem medo do turco que diabolizou, porque é xenófoba e quer correr com os magrebinos, porque está farta de portugueses e polacos (o canalizador polaco, como disse a comentadora Teresa de Sousa na TV2 foi o símbolo da demagogia propagandista na campanha pelo Non), porque quer proteccionismo aduaneiro (onde já vai o laissez faire, laissez passer?), porque quer fazer da Europa uma cidadela de conforto isolada da ameça comercial dos chineses, da invasão de polacos e magrebinos, porque não quer que os seus netos tenham apelidos esquisitos.
A França, de motor porgressista da Europa, tornou-se na pátria do reaccionarismo. Isto já se adivinhava quando as multidões diziam que Noah e Zidane não eram franceses, quando subsidiaram artificialmente uma cultura oficiosa, quando quiseram impor que todas as palavras e frases, escritas ou ditas, fossem traduzidas para francês, quando quiseram combater Hollywood com filmes medíocres mas franceses quando, em suma, a França se tornou anti-americana. Jean François Revel já tinha mostrado como este anti-americanismo primário era sinal de uma decadência e de um espírito xenófobo latente. Em torno da demagogia simplória e da propaganda anti-americana, combatia-se pela mesma medida Bush e Hollywood, a Mcdonald's e o Texas, metendo no mesmo saco e agregando tudo contra a América. Ser anti-americano era ser contra a globalização, a globalização era a causa de todos os males e combatê-la era um acto de nacionalismo e devoção patriótica que unia esquerda e direita, ateus e agnósticos, católicos e marxistas, fascistas e gaullistas. Chirac foi a imagem polida desta idiotice histórica. Morreu agora, vítima da sua estupidez! Ele devia saber que a história não se decide nas ruas. Se queria Oui, fazia como a Alemanha e ratificava o tratado constitucional no Parlamento. Se queria Non referendava. Chirac queria Oui e referendou! Nunca me pareceu muito inteligente. A mim, nunca me enganou! Por isso, deixo a minha homenagem a Monet.
PS - Mas há esperança, porque houve 45% de franceses que disseram Oui! Os urbanos. As cidades votaram Oui.
Muito gostaria eu que a esquerda radical aplicasse os mesmos critériios que aplica quando os resultados referendários lhe não são favoráveis:
a) Repete-se o referendo daqui a um ano.
b) Até lá gastam-se milhões em propaganda oficial a favor do sim (lembram-se da Dinamarca?)
c) Associa-se o Non à rusticidade, fazendo passar a ideia de que o Non é provinciano, rural e retrógado, enquanto o Oui é progressista, vanguardista, urbano e intelectual
d) De preferência ratifica-se o tratado constitucional no Parlamento.
O nacionalismo foi a principal causa de morte na Europa e no Mundo durante o século XX. Desde a guerra franco-prussiana, ainda no século XIX, até à guerra da Bósnia, milhões, dezenas de milhões, porventura centenas de milhões de europeus morreram em nome da causa mais estúpida e idiota que imaginar se pode: o amor da Pátria! Não contentes com esta burrice, a maior burrice da história, exportámos esta causa de morte para todo o Mundo. Na Ásia, na África, na América Latina e um pouco por todo o planeta, durante um século morreu-se à europeia: em nome da Pátria! Esta burrice tinha que acabar. Após a 2ª Guerra Mundial, a Europa lança-se no esforço de reconstrução e Jean Monet teve uma visão histórica: «Nous ne coalisons pas des Etats, nous unissons des hommes.» Monet foi um dos pais da ideia de Europa. O nacionalismo romântico, em parte herdeiro e em parte degeneração dos ideais revolucionários de 1789, era assim recolocado na sua justa direcção ao apontar o destino histórico da Europa. Relançar a utopia e, em nome de um ideal, construir uma Europa nova, a Europa dos cidadãos, unida do Atlântico aos Urais.
Não me venham dizer que a França disse Non em nome deste ideal! Não, a França disse Non porque tem medo do turco que diabolizou, porque é xenófoba e quer correr com os magrebinos, porque está farta de portugueses e polacos (o canalizador polaco, como disse a comentadora Teresa de Sousa na TV2 foi o símbolo da demagogia propagandista na campanha pelo Non), porque quer proteccionismo aduaneiro (onde já vai o laissez faire, laissez passer?), porque quer fazer da Europa uma cidadela de conforto isolada da ameça comercial dos chineses, da invasão de polacos e magrebinos, porque não quer que os seus netos tenham apelidos esquisitos.
A França, de motor porgressista da Europa, tornou-se na pátria do reaccionarismo. Isto já se adivinhava quando as multidões diziam que Noah e Zidane não eram franceses, quando subsidiaram artificialmente uma cultura oficiosa, quando quiseram impor que todas as palavras e frases, escritas ou ditas, fossem traduzidas para francês, quando quiseram combater Hollywood com filmes medíocres mas franceses quando, em suma, a França se tornou anti-americana. Jean François Revel já tinha mostrado como este anti-americanismo primário era sinal de uma decadência e de um espírito xenófobo latente. Em torno da demagogia simplória e da propaganda anti-americana, combatia-se pela mesma medida Bush e Hollywood, a Mcdonald's e o Texas, metendo no mesmo saco e agregando tudo contra a América. Ser anti-americano era ser contra a globalização, a globalização era a causa de todos os males e combatê-la era um acto de nacionalismo e devoção patriótica que unia esquerda e direita, ateus e agnósticos, católicos e marxistas, fascistas e gaullistas. Chirac foi a imagem polida desta idiotice histórica. Morreu agora, vítima da sua estupidez! Ele devia saber que a história não se decide nas ruas. Se queria Oui, fazia como a Alemanha e ratificava o tratado constitucional no Parlamento. Se queria Non referendava. Chirac queria Oui e referendou! Nunca me pareceu muito inteligente. A mim, nunca me enganou! Por isso, deixo a minha homenagem a Monet.
PS - Mas há esperança, porque houve 45% de franceses que disseram Oui! Os urbanos. As cidades votaram Oui.
Muito gostaria eu que a esquerda radical aplicasse os mesmos critériios que aplica quando os resultados referendários lhe não são favoráveis:
a) Repete-se o referendo daqui a um ano.
b) Até lá gastam-se milhões em propaganda oficial a favor do sim (lembram-se da Dinamarca?)
c) Associa-se o Non à rusticidade, fazendo passar a ideia de que o Non é provinciano, rural e retrógado, enquanto o Oui é progressista, vanguardista, urbano e intelectual
d) De preferência ratifica-se o tratado constitucional no Parlamento.
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