Numa daquelas noites de pasmaceira em que só apetece fazer zapping, fui ter a um episódio do Chapelle Show, da galáxia do Comedy Central, na Sic Comédia. Nem sequer conhecia o Chapelle, mas como tudo o que é Comedy Center me parece bem, estacionei por ali, à espera. Se naquele momento tivesse estacionado um pouco mais atrás tinha perdido o sketch mais genial que vi até hoje. Vale a pena começar por dizer que tudo vale a pena nas stand up comedy deste humorista negro com um sorriso sonso, de bom rapazinho, que é ao mesmo tempo uma espécie de destilaria de ácido sulfúrico. Mas este episódio em especial merecia ser exibido todos os dias em canal aberto e horário nobre. Contado perde um bocado, mas vou tentar: Um negro cego de nascença é criado na convicção de que é branco. Mais: é criado na convicção de que, por ser branco, é superior aos negros. Chega assim a velho, agarrado a uma bengala, a fazer discursos inflamados contra os “damn niggers” e a discursar numa assembleia do KKK, com um capuz na cabeça, à boa maneira do Klan, numa cena completamente hilariante. Se bem me lembro, ninguém terá coragem de dizer ao pobre velho que é negro. É o sketch mais demolidor que vi até agora contra o racismo e acho que por causa dele nunca mais vou conseguir ver uma manifestação de “orgulho branco” sem me rir às gargalhadas. Branco ou negro ou amarelo, não importa. Se estivesse estado no Martim Moniz no sábado, acho que ia partir o coco a ver aqueles atrasados mentais com problemas de queda de cabelo e a lembrar-me ao mesmo tempo do velho do Chapelle. Uma atitude nada sensata, é verdade, mas o riso é uma função incontrolável, paciência. E de qualquer forma, existem poucas coisas mais ridiculas do que o racismo. Já é suficientemente hilariante que aqueles patetas achem que descendem em linha directa de uma qualquer divindade celta. OK, esqueçam agora estas patetas e fixem isto: Dave Chapelle e Chapelle Show. E Comedy Center, onde se reune uma quantidade impressionante de malucos geniais e politicamente incorrectos, incluíndo o Jon Stewart, que acho que todos conhecem.
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