20/09/07

A Queda, por Gabi Metenojo

Ontem caiu o Mito do Grande Treinador de Futebol. Abramovic correu com Mourinho embora a versão oficial fale em «rescisão amigável do contrato por acordo das partes envolvidas». O balanço da passagem do Especial pelo Chelsea só pode, pois, ser negativo. Não me venham com paleio do género, «o clube não ganhava um título há 50 anos» (não há sequer comparação possível entre o orçamento actual e os antigos, mesmo que em termos relativos) ou «Abramovic só pediu o título britânico» (versão estratégica cá para fora). A realidade é outra: Mourinho, nos últimos três anos, dispôs do maior orçamento do mundo. Comprou os jogadores que quis durante dois anos e o saldo foi dois pífios títulos de Inglaterra. Se julgava que o milionário russo ia continuar a enterrar dinheiro para continuar a ganhar títulos britânicos, pois, parece que se enganou. Abramovic queria, nada mais nada menos, que o título europeu. Foi para isso que foi buscar Mourinho ao Porto... E, volto a sublinhar, com o maior orçamento do mundo que conseguiuo especial? Nunca passou das meias finais. Muito pouco, pra tanto investimento... A sua passagem pelo Chelsea, em função das condições, praticamente ilimitadas de que dispôs, foi, pois, um fracasso. Não total, é certo (também era melhor), mas um fracasso, ainda assim. Já sei que estas afirmações vão fazer uma comichão do caraças aos nacionalismo ferrenho dos tiffosi porcinos, mas paciência...

As razões do fracasso de Mourinho são várias, mas em primeiro lugar destacado, está a sua política de contratações. O homem gastou 20 milhões de euros em Paulo Ferreira que nem na Académica tem lugar. Apostou em Ballack e cedeu à aquisição de Shevshenko. Entretanto, enquanto o Chelsea desbaratava os seus milhões, o Barcelona, por exemplo, comprava Deco que Mourinho não quis «porque o Joe Cole era melhor». Ia buscar Etoo perdido no modesto Maiorca e, sobretudo, andava a ver as camadas jovens argentinas onde descobriu Messi. Ainda agora, enquanto Mourinho comprava o consagrado Ashley Cole, o Barcelona apostava noutro miúdo, o mexicano, Giovanni dos Santos. Nos últimos anos o Barça foi campeão europeu e o Chelsea que investiu bem mais ficou a celebrar a Taça da Liga. Mourinho, dispondo de todo o dinheiro do mundo, investiu mal, em jogadores patéticos ou em primas donas consagradas.

Só para se ter uma ideia dos meios postos à disposição do homem, basta lembrar a recente tentativa do Real Madrid em adquirir Ballack ao Chelsea. Segundo o treinador merengue, Shuster, «foi impossível porque isso desiquilibraria totalmente a folha de vencimentos do Real» (sic). Raul, o futebolista com o salário mais chorudo do Madrid, limpa 6 milhões de euros ao ano; Ballack 8 milhões! E não é o mais caro do Chelsea, não ultrapssando Lampard (que o Barça não conseguiu comprar) nem Shevshenko, estando ao nível de Terry. E ainda há quem diga que o Especial é o melhor treinador do mundo? O tanas, com aqueles milhões todos até eu ganhava um taçazita da liga.

E já não falo na qualidade do futebol apresentado pelo Chelsea, uma coisa sinistra, onze matulões sem criatividade que não dão espectáculo. Até por aí, Mourinho tinha a vida facilitada. Pedia-se-lhe que ganhasse, não que desse show. Compare-se este nível de pressão com a pressão imensa do Real Madrid, por exemplo, onde não basta ganhar. Ainda agora, Capello foi despedido depois de ganhar o título espanhol. Motivo: a baixa qualidade do futebol praticado. E Del Bosque, aqui há uns anos atrás, foi demitido depois de se ter sagrado campeão europeu. Mourinho não tinha esta pressão acrescida: Abramovic e a aficcion pediam-lhe o título europeu, nem que fosse transformando jogadores de futebol em máquinas. Nunca ninguém lhe exigiu que apresentasse a qualidade futebolística de um arsenal ou de um Barça. E mesmo assim, ele falhou! Os exigentes adeptos do Real Madrid jamais aguentariam Mourinho e o seu futebol robótico um mês, quanto mais dois anos e tal, como fez Abramovic. Muita paciência ( e milhões) teve o russo...

Nos próximos tempos, o Especial há-de vir para a rua mais rico e mais vaidoso e os media portugas hão-de continuar a promover os livros dos «especialistas em mourinho», uma legião de discípulos cujo curricula é terem-se cruzado, nalgum momento da sua vida, com o treinador de Setúbal. E havemos de fazer os possíveis e os impossíveis para evitar esta simples e mortal pergunta: em face dos milhões de que dispunha, Mourinho foi um sucesso ou um fracasso no Chelsea? Quanto a mim foi um fracasso. Mas já sei que estas coisas custam a ouvir.

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