19/02/13

O bom gosto da vaia no relvas, por Mao Me Me

Hoje o Relvas foi vaiado pelos alunos do ISCTE. Não conseguiu botar faladura, como pretendia e acabou, literalmente, a fugir da multidão que gritou constantemente «demissão, demissão». O video está no you tube e vale a pena. Pessoalmente gostei, gostei muito e dou os meus parabéns à malta do ISCTE. E tanto gostei que apetece-me parafrasear o primeiro ministro passos coelho, agora com muito mais propriedade:

«- De todas as formas de protesto esta - vaia no relvas, perseguição ao relvas, fuga do relvas - é, sem dúvida, a de maior bom gosto». 

14/02/13

A Exposição do Pedro Calapez Ainda Deve Estar no Colégio das Artes, que Sei Eu?, por Hermano S.

Há dois anos visitei Havana. Na altura, pensando no estado degradado da cidade, do seu centro histórico e dos seus monumentos em estado pós-apocalíptico, tive a sensação de estar a olhar para o passado. As cidades europeias não são assim. Mas agora, durante os passeios que dou por Coimbra, parece-me, pelo contrário, que, afinal, estava o olhar para o futuro, para o futuro da minha cidade. É certo que Coimbra ainda não atingiu o estado de degradação da capital cubana. Mas para lá caminha a passos largos. Um dia, não muito longínquo, será possível visitar a biblioteca joanina  e tropeçar em dejectos de uma tribo de gatos que lá terá acampado. Foi assim que me sucedeu no Capitólio em Havana. Ficção apocalíptica? Já foi mais. Deixem-me contar-vos a minha tarde de terça feira.

Na terça passada, o M. lançou a ideia de irmos ver a exposição do Pedro Calapez ao Colégio das Artes de Coimbra. O programa foi aprovado por unanimidade, até porque, para além do pintor, havia o aliciante extra de visitarmos um edifício emblemático da cidade que não conhecemos bem. Mas foi uma odisseia. Em primeiro lugar o edifício não tem nada a ver com fotos como a do pic que ilustra este post. Esta foto é mentira! A realidade está muito pior, aquilo está a cair de podre, está sujo desleixado, tem tralha e entulho por todo o lado. Já não é só a evidência de que não deve haver dinheiro para ali fazer obras urgentes. É a degradação, o desleixo a que aquele sítio foi abandonado. Que diabo, não há uma instituição na cidade a quem compita, ao menos, mandar uns homens limpar aquilo, tirar dali o entulho e o lixo, lavar os pisos com água e sabão macaco? O N. comentou que um verdadeiro ministério da cultura num país como o nosso não devia dar verbas para o que quer que fosse antes de pôr em ordem todo o nosso imenso património que está a cair aos pedaços. Talvez seja uma opinião radical, mas o estado do Colégio das Artes é revoltante.

Mas ainda mal tínhamos começado o nosso programa cultural. Ao entrarmos nos claustros tivemos que enfrentar um cãozarrão que nos ladrou ameaçadoramente. Para maior segurança o M. agarrou logo num bocado de ferro e seguiu armado, não fosse o cão, que não parou de ladrar o tempo todo, armar-se em parvo. Eu fiz o mesmo e agarrei numa marreta ferrugenta que por ali estava aos caídos. Sempre ameaçados pelo animal lá nos conseguimos aproximar da porta onde se via um cartaz da exposição. Dizia que não estava ninguém mas que podíamos telefonar para um nº que ali era indicado ou dirigirmo-nos à porta do guichet nº 6 que alguém nos havia de orientar.

Dirigimo-nos à porta do guichet 6 que fica no primeiro andar de novo ameaçados pelo cão. O N. comentou que deviam avisar as pessoas que querem visitar a exposição que deveriam ir armados ou pelo menos levarem uma armadura e um capacete. Coimbra deve ser a única cidade do mundo onde se corre perigo para ver uma exposição de pintura.

Chegados ao guichet 6 do primeiro andar uma senhora informou-nos que esse assunto era no rés do chão no guichet 2, primera porta à direita. Descemos a escadaria e dirigimo-nos ao guichet 2. Fechado. Uma senhora simpática tentou ajudar-nos mas constatou, como nós, que a porta estava fechada.

Voltámos à primeira porta para tirarmos o número de telemóvel, sempre ameaçados pelo cão. Entretanto o M. insultou uns indivíduos que estavam lá perto porque lhe pareceu serem os donos do cão. Eles não responderam e eu meti-me ao barulho e reforcei os insultos aos donos do cão. Eles voltaram a não responder e percebemos que, afinal, não eram os donos do cão. Engolimos em seco, voltámos a apanhar os cacetes de ferro e conseguimos aproximarmo-nos da porta. Telefonámos dez vezes para o número que lá era indicado. Ninguém atendeu e o cão continuou a ladrar-nos. O N. lembrou que o Pedro Calapez é um bom pintor, que podia haver um interessado que se tivesse deslocado de Lisboa ou do Porto para ver a exposição. Seria muito chato ter que lutar com um animal irado para o conseguir fazer e, o mais certo, é que sem as nossaas barras de ferro ainda saísse maltrado.

Desistimos da nossa visita, claro, demos graças a Deus por Coimbra ainda não estar tão má como Havana. Afinal, disse o M., tinha sido muito pior se em vez do cão houvesse lá um fosso de crocodilos. Ou snipers. Pois é, ou mesmo junkies a ver se apanham um gajo e lhe sacam uns trocos pó cavalo. Mas isso é no Teatro da Cerca, lembrou o M. Ah pois é. Resta dizer, para acabar em beleza, que no magnífico Colégio das Artes funciona uma faculdade da nossa cidade: nem mais nem menos que a Faculdade de Arquitectura de Coimbra. Ironia do caraças...

11/02/13

O Absurdo, por Lince da Serra da Malcata

Samuel Beckett é, não duvido, um dos grandes génios literários do século xx e sou eu que, duvido ainda menos, não tenho miolos para atingir os cumes literários da sua escrita. Mas diga-me quem souber o que quer dizer esta frase que se pode ler na sua obra prima Murphy:

«Era o motivo de terem partido juntos etc como Murphy tinha demonstrado várias vezes em Barbara, Beccardi e Baroco, embora nunca até este momento em Bramantip». 

 Eu, por acaso, até sei...