31/12/09

18 Balofos!, por Frugal

O país está na penúria e precisa de poupar. Por isso deixo aqui uma proposta de aceitação indiscutível para qualquer cidadão que não tenha o cérebro deformado pela ligação aos interesses das máquinas partidárias: acabem com os Governadores Civis, com todas as suas mordomias, assessores e funcionários do órgão! Aquilo não serve rigorosamente para nada a não ser para premiar, compensar ou preparar carreiras de comissários partidários. Devíamos fazer um movimento nacional para acabar com a vergonha dos governos civis, uma excrescência do salazarismo que já não tem qualquer razão de ser!

Portugal tem 18 governos civis! São dezoito dispendiosos inúteis pagos com o dinheiro dos nossos impostos. Não faço ideia do orçamento necessário para sustentar aquela tralha toda, mas deve custar uma fortuna ao orçamento de estado. Cada uma daquelas excelências basbaques tem uma fornada de funcionários, acessores de imprensa, ordenados acima da média nacional, subsídios disto e daquilo, frotas de viaturas, despesas de representação, etc, etc... Já viram a poupança que era?

No caso de Coimbra,se acabássemos com aquilo,a cidade ganharia ainda um espaço fabuloso, com uma vista sobre o rio igualmente fabulosa - veja-se o pic do post. hei, pessoal de Coimbra, já imaginaram aquele espaço convertido numa fundação onde se realizassem exposições, concertos, performances e que funcionasse como espaço de convívio? Já imaginaram os jardins do governo civil de Coimbra, nas noites de Julho, cheios de gente bonita com uma boa banda a tocar música ao vivo? Pois, eu já... Agora multipliquem por 18.

Podíamos ter isso tudo em vez de não termos nada como acontece actualmente. E com uma diferença, uma enorme diferença: para termos aqueles comissários políticos pagamos forte e feio; mas para termos uma fundação dedicada à cultura naquele(s) espaço (s), ainda lucrávamos. Porque será que os governos se sucedem e não há nenhum que faça disto a sua causa? Até era simples...

27/12/09

Humor Britânico, por Lord Nelson

Sua Alteza Real Britânica, o príncipe Harry, decidiu (ou alguém por ele) passar a noite de Natal a dormir na rua com alguns sem abrigo em Londres. Foi uma forma de se solidarizar com eles e de mostrar ao mundo como é dura a vida dos sem abrigo. No fim da experiência confessou ter dormido apenas umas duas horas e mostrou-se admirado porque estavam todos «congelados» de manhã (surprise!).

Mas alguém me explica esta estranha perversão natalícia? Em vez dar guarida aos sem abrigo na noite de natal, num dos seus palácios, o príncipe preferiu ir dormir com eles para o meio da rua! Se eu fosse sem abrigo ficava muito mais satisfeito se me abrigassem em Buckingham ou não é? Mas vendo bem as coisas, do ponto de vista da Realeza, tem a sua lógica: é que aquela malta toda no palácio ainda sujava alguma coisa, lá por casa, sabe-se lá...

26/12/09

A Implacável Invasão das Casas da Sopa, por Madame Butterfly

Creio que estamos, actualmente, a assistir a um novo fenómeno de mutação urbana e sociológica de consequências irreparáveis. Pelo menos em Coimbra o fenómeno já é observável. Nos últimos tempos, a malta daqui do Porco, nós, temos sido expulsos sem apelo nem agravo dos nossos habitats mais inexpugnáveis. O Ranhoso, por exemplo... O Ranhoso é um clássico porcino, um ex-libris dos nossos encontros. Acontece que das últimas vezes que fomos ao Ranhoso, eu e o Grão, tivemos que bater em retirada. Porquê? Porque o Café, espaço de encontro e tertúlia entre amigos e conhecidos, se tornou, ultimamente numa Casa das Sopas ou coisa que o valha. O ranhoso, uma casa das Sopas, é triste...

Os Cafés são uma das melhores heranças que o Iluminismo deixou à Civilização Ocidental. Os Cafés, enquanto espaços de tertúlias, de debate de ideias e de simples maledicência, são uma das pedras angulares do desenvolvimento do Espaço Público e, pese embora os arautos da desgraça, têm aguentado séculos e séculos de atropelos sucessivos. Resistiram à sua transformação em lojas de roupa, em zaras, em centros comerciais, em Mcdnalds e pizzashuts... No entanto receio que os Cafés não consigam concorrer com a sua nova temível transmutação: a Casa de Sopas. Pelo menos o ranhoso não se aguenta, isso é certo.

Como eu dizia, das últimas vezes que eu e o Grão lá fomos, pairava no ar um insuportável odor a sopa que envenenaria todo e qualquer debate metafísico que ali pudesse brotar. As mesas estavam todas ocupadas por magotes de respeitáveis e veneráveis idosos que apreciavam a promoção do dia «sopa+pão+sobremesa+café por apenas 3.5 eur.» e, em consequência, demos por nós no olho da rua a lamentar a nossa sorte.

Tentámos o plano B que é o Pinto de Lata, um pouco mais à frente e conseguimos tomar os nossos miríficos cafés. Mas quando a conversa estava lançada, eis que sentimos a pairar no ar aquele pestilento cheiro a sopa que já nos correra do Ranhoso. Olhámos em volta e vimos... Sentado a uma mesa mesmo ao lado, lá estava mais um venerável idoso de imponentes barbas brancas que se comprazia nos prazeres de uma sopa de legumes fumegante. Levantámo-nos, pagámos e saímos, subitamente apátridas, sem termos para onde ir... Parece que a onda da sopa a 3.5 + extras alastra como um tsunami e leva os Cafés na sua violência. Depois de séculos e séculos de sobrevivência, o Café, um os ícones da civilização ocidental, parece estar a desfalecer, vítima de uma nova forma de cultura destrutiva e implacável: a da sopa!

24/12/09

Anita Dark, Porque As Estrelas Também Caem, por Porco&Mundo


Part One – The Early Years
Porque é Natal e porque nesta época se incentiva o amor ao próximo, aqui fica a contribuição do Tapor para o espírito natalício, na forma de mais uma posta aporcalhada sobre a grande estrela do porno euro-americano Anita Dark.

A Anita dark é uma falta grave aqui do Tapor, já que devido à sua envergadura na oitava arte há muito que merecia estar aqui representada na academia dos imortais. Não esteve até agora por uma razão simples: a coisa não é fácil. Esta posta e o seu teor andam a ser investigadas pela net e porno afora há mais de dois anos – muito antes da Mónica Roccaforte e até mesmo, antes da Marilyn Chambers. É que esta nossa menina é enguia fugidia e gosta de alimentar uma catréfia de enganos pelo que se torna muito difícil descortinar o que é Dark e o que não é; sendo tremenda a confusão com a amiga e amásia Anita Blond. Mas deixemo-nos de intróitos desnecessários e vamos ao bichinho.

Anita Dark é uma húngara morena de olhos verdes e brilhantes, que nasceu na cidade de Budapeste, em 11 de Abril de 1975. Esta menina ficou na retina dos estudiosos desta arte pelos seus olhos verdes, sardas abundantes e fartos seios de enormes auréolas. O eterno ar de inocente candura vinda das berças, qual pastora de ovelhas obrigada a serviço militar, ajudou à festa e a menina rapidamente foi um sucesso fenomenal.

Segundo as suas próprias declarações, a menina Anita começou muito cedo a participar em concursos de misses acriançadas, naquilo que internacionalmente dá pelo nome de “Beauty Pageants”. Aos quinze anos perdeu a virgindade, mas não viu a luz. A estrada de Damasco revelou-se penosa e pelos vistos o grande animal que teve tão dulce privilégio esteve-se nas tintas para os mais profundos e brilhantes olhos verdes de que há memória. Durante os dois anos seguintes a rainha das sardas recusou qualquer sarda.

Aos 19 aninhos vamos apanhar a menina a ser eleita Miss Budapest em 1994. Apostada numa carreira de modelo rumou a Amsterdão. Contudo a carreira vertical e vestida nunca descolou. Talvez porque os studios e as passerelles preferem as anorécticas escanzeladas e a Dark não vai por aí. Vai daí o bardana do agente da menina entendeu que se a coisa não vai vestida, vai despida e segunda ela: “he talked me into doing nude modelling”.

Aos 20 anos a nossa menina responde ao anúncio do Pierre Woodman (ainda e sempre a besta negra) para um Casting da Private e para uma carreira na horizontal. A Dark aceitou o castigo e nasce então e ainda em 1994 o filme “Pretty Girl” sob o pseudónimo de Sónia Berger. Foi um sucesso. Uma desamparada Anita vê-se sem dinheiro para o pagamento da renda numa grande cidade e o resto do argumento já se sabe para onde vai. Coisa simples porque a vida é simples, embora no caso envolva coisas com força, por trás e à bruta!

No filme do Casting tropeçamos numa Anita Dark absolutamente relutante em despir-se em frente ao varrasco do Woodman, que só a troco dos milhões da Private a consegue convencer. A inabilidade, embaraço e vergonha da moçoila em frente das câmaras comoveria qualquer pedra da calçada, a não ser que ela se chame Pierre Woodman, como era o caso. Numa entrevista posterior Anita viria a admitir que: "In the beginning I absolutely did not want to make porn films." Não queria, não queria, mas lá foi ao castigo.

(Continua na Part Two – The Anal Years And The Tragedy)

23/12/09

A Máfia De Leste E Os Portugas, por AlquimistaDaDor


Há dias aqui na parvónia coimbrã deu-se um assalto a uma carrinha de transporte do saque diário, que os bancos fazem neste país exangue. Ao que parece a coisa foi feita por malta estrangeirada, supostamente de leste, segundo diz a policia. E eu vejo as notícias e aceito, só maltosa de leste pouco conhecedora do portuga é que faria uma coisa daquelas.

O planeamento da coisa foi quase genial, coisa rara, quase nunca vista por estas bandas. Mas faltou o quase. Os larápios começaram por estudar o trajecto e o horário da carrinha do saque e por estudar a blindagem da mesma. Por aí, não houve problema. Estudaram também o melhor local para a roubalheira. Tudo isto perfeito. Na hora certa e estudada, a carrinha do capital lá estava. O local foi bem pensado: uma rampa de acesso à via rápida apenas com uma faixa de rodagem. Previamente, os astutos amigos anti-capitalistas abafaram dois camiões pesados cuja condução conseguiram sincronizar, de modo a que na dita rampa ficasse um à frente e o outro atrás da carrinha com o produto roubado a milhares de famílias e empresas. E ambos os mastodontes apertaram a indefesa carrinha, que ficou imobilizada. Peritos em explosivos, rapidamente colocaram na lateral da carrinha uma forte carga bombónica, que lhe rebentou com a blindagem e lhe expôs as tripas. Num caminho de terra batida, paralelo à rampa e para lá da vedação da via rápida, outro carro roubado e controlado pelos larápios aguardava já a carga do saque. Tudo perfeito. Planeado. Sincronizado. Executado na perfeição. Só que…,

Só que estes génios do mal não contaram com um pequeno pormenorzito tuga: o Mirone! Infelizes! A equação matemática e genial falhou por causa do mirone. O típico condutor portuga, logo que vê qualquer coisa na estrada pára para ver. Pode não ser nada, mas ele pára e vai ver. Seja na estrada, na via rápida ou na autoestrada, o portuga tem que ver e esmiuçar. Pode já lá estar a policia a ameaçar, mas o portuga pára e mete o bedelho. Tem que ver os ossos, o sangue, a chapa calcinada, ou simples pneu furado. Pode o condutor ter parado para uma mija, que há logo um mirone que lhe espreita por cima do ombro. Um qualquer radiador a bufar vapor atrai hordas de curiosos, que ficam, rodeiam, aconselham e comentam até à partida do reboque do acp.

No caso de Taveiro, o mais genial assalto ao capital – e iam ali cinco milhões -, que alguma vez foi planeado, a coisa falhou porque no momento em que os capos se preparavam para rebentar os cofres internos da esventrada carrinha, houve meia dúzia de mirones que já tinham parado os carros em plena via rápida e a engarrafar o trânsito e iam rampa acima ver. Simplesmente ver. Perante a turba de mirones os larápios dispararam tiros para o ar, mas nem isso demoveu a os curiosos. Há que ver, e comentar e aconselhar e ver outra vez. – Olha e há foguetes e tudo! – Porreiro pá!

Malta, camaradas larápios, estudai meus caros, estudai, este país não é para génios. Tem pequenas coisitas que não há em mais lado nenhum e que escapam ao pensamento científico. Uma delas é o Mirone. Há que roubar o capital de madrugada, em estradas ou auto-estradas desertas e sempre, mas sempre, na certeza de que se houver dois carros a passar um deles pára e vai ver!

21/12/09

Cumprimentem as meninas da Liga Sagres, porra!, por P. Bobone

Agora que o Porco está numa onda de protesto contra a discriminação - vide post sobre a discriminação dos homossexuais - lembrei-me, este fim de semana, de outra forma de discriminação que merece o meu mais veemente protesto. Acho até que o governo dos xuxas, sempre tão preocupado em criar «agendas» que são autênticas cortinas de fumo, devia legislar. Com ou sem referendo.

Refiro-me à vergonhosa discriminação a que vamos assistindo, domingo após domingo, das meninas que entram em campo nos jogos da Liga Sagres (vulgo campeonato da bola) com os árbitros e com as equipas. Não sei se já repararam mas quando os capitães das duas equipas se cumprimentam entre si e aos árbitros, ignoram ostensivamente as meninas. Ora isto é de uma rudeza inqualificável. Que é feito daquele velho princípio que mandava dar prioridade às senhoras, até em caso de naufrágio?


Anteontem no jogo em que o Glorioso espetou com um banho de bola no fóculporto chegou-se ao ponto dos jogadores se cumprimentarem todos entre si e aos árbitros, ignorando,soezmente, as meninas que lá estavam a sorrir como se fossem bibelots. Tá mal! Inda por cima estava frio e chuva e elas estavam mal vestidas, com roupa primaveril. No tempo em que havia cavalheiros isto nunca aconteceria. Seria uma grosseria inqualificável que 25 homens se cumprimentassem entre si, ignorando ostensivamente as duas senhoras. Agora é o que se vê e isto repete-se desde o início do campeonato para espanto meu e parece que de mais ninguém.


Que fazem as organizações de direitos humanos? Estão caladas? Por onde anda a paula bobone? O ministério da educação? As feministas? E o governo xuxa que se mostrou tão preocupado com os homens sexuais, agora não legisla? Isto não é discriminatório? Um cumprimento, um simples aperto de mão, dois beijinhos, um simples olá que fosse...

Sobre o jogo em si é verdade que foi uma grande vitória do Glorioso, que o David Luís e o Luisão mostraram classe mundial, que o Ramires mostrou a fibra de um atleta queniano, que o Urreta deu cabo de um artista tripeiro que se estava a armar em internacional A a mudar a fralda ao passarinho, que o Saviola é demais para os rins duros do brutamontes alves, tudo isso é verdade, mas este escândalo da falta de cortesia nacional não pode ser branqueado com coisas corriqueiras como uma vitória do Glorioso sobe o fóculporto.

BENFICA-FC PORTO: Porque Perdeu O Fcpê? por DervicheRodopiante



O Fcpê perdeu ontem com a mouraria por uma bola a zero. Mal. Este era um daqueles jogos em que nunca se veria o dragão perder. Mesmo dando de barato a arbitragem vermelha de um Lucílio baptizado em mergulho sadino, certo é que há algo no fcpê que se perdeu. E eu como portista reconheço-o com mágoa. Acho que não voltaremos ao fcpê de antigamente.

No fcpê de antigamente havia malta de boa cepa, malta da escola do Guarda Abel, da Pasteleira, do Barredo e da Ribeira, malta do Paganini e do Eduardinho. Agora não! Agora é malta do rio da prata, malta do mate e do zebú, malta cristã, do chôpi e de cepa caridosa. Enfim, Latinos-Americanos!

O golo que ditou a sorte do jogo de ontem nunca aconteceria com a maltosa do antigamente. No meio de uma confusão o Maxi Pereira é sarrafado e cai em cima da linha de golo. A bola vai para outras paragens e o jogo também, mas o pobre de deus ali fica estendido à entrada da baliza e de mão esticada pró céu à espera da ajuda que não vem, qual naufrago da jangada de Gericault. A inocência em pessoa na figura de um brasuca armado em guarda-redes - qual bom samaritano -, vira momentaneamente as costas ao jogo e vem dar a mão ao sofrido Pereira, que a agarra agradecido. Tragédia. Nesse preciso momento está a bola a pingar a 2 metros da pequena área para um Lampião pouco temente a deus, que a ferra no fundo da baliza. O guarda-redes do fcpê de seu nome Helton Ajuda-O-Próximo ainda foi a correr, mas o prejuízo já estava feito. De Bom Samaritano a Madalena Arrependida em três segundos.

No fcpê do antigamente, um bom guarda-redes dragónico ao ver a besta vermelha estendida no chão, punha-se à frente dela, controlava o jogo, disfarçava e com os pitons de alumínio mandava umas boas patadas no mouro, que o gajo levantava-se logo que era uma maravilha.

A mesma coisa para o penalty que não foi marcado. Outro cristão, outra inocência, que agora responde ao nome de Cristián Rodríguez. A alminha santa, salta, vê a cabeçorra de um lampião a fazer-se à bola e vai de esticar a mãozorra e tirar a bola. Felizmente que o Ferrari de Setúbal optou por compensar o penalty roubado na primeira parte, senão era dupla tragédia.

Com um Paulinho Santos isto nunca se passava. O lampiónico em salto agigantado levada uma cotoveladazinha discreta na cabeçorra, que o árbitro não veria tapado pelas orelhas do mouro, e a bola seguia o seu caminho para morrer em mãos tripeiras. Parece simples mas não é!.

A escola, a boa escola, do Guarda Abel, de um Cotovelinhos, de um Jorge Costa – que não só dava, como fazia uma carinha de tragédia familiar que qualquer árbitro respeitava -, essa escola perdeu-se. Perdeu-se com esta maltosa cristã, sul-americana e desconhecedora da mística da reconquista à mouraria. Não sabem que para baixo do Mondego é só à espadeirada de alumínio. Falta-lhes um grande estágio tripeiro ali pela Sé, pelo Aleixo e por Campanhã, carago!

PS: Declaração de interessses: o postador é morador na margem norte do Mondego.
PSS: Com o Cotovelinhos a coisa era tão bem feita, que nem foto no Google há. Teve que ser esta.

19/12/09

Donde Nascem os Homossexuais?, por Cegonha

A aprovação da lei xuxa do «casamento entre pessoas do mesmo sexo» é mais uma hipocrisia política destinada a servir de cortina de fumo para tapar os problemas mais graves do país. Os xuxas quiseram dar uma de charme esquerdista, mas o resultado é uma lei hipócrita, incoerente e cobarde.

Por um lado legaliza-se o casamento entre «pessoas do mesmo sexo»; mas por outro proíbe-se a adopção pelos casais «do mesmo sexo». Em que ficamos? Afinal legaliza-se o casamento entre pessoas do mesmo sexo mas não se lhes reconhecendo a plenitude dos seus direitos...

Na prática isto não é um casamento, é outra coisa qualquer. E, na lógica dos próprios xuxas, os casais do mesmo sexo são impedidos, em função de um critério de orientação sexual, de exercerem um direito fundamental que é reconhecido aos outros casais . Isto é discriminatório e insustentável!

Sejam coerentes e responsáveis: ou bem que há casamento e os direitos são iguais para todos ou bem que não há! Este híbrido oportunista, hipócrita e cobardolas do ps é que não se admite... Se bem que seja a sua imagem de marca.

Não é a orientação sexual que deve ser tomada como critério para determinar o direito de adopção. Até porque, como sabemos, os casais hetero provam bastantes vezes que não são grandes modelos educativos. Basta vermos que não há nenhum homossexual, que se saiba, que não tenha nascido de heterossexuais :) :)...

Post scriptum - Também achei piada à designação «casamento entre pessoas do mesmo sexo». Note-se que na ânsia politicamente correcta de evitar o termo homossexual, os xuxas acabam por parir mais um híbrido conceptual e jurídico. Significa isto que uma pessoa pode, a partir de agora, casar-se com outra do mesmo sexo, mesmo que não sejam homossexuais, o que poderá dar jeito, por exemplo por questões fiscais conjunturais. A seguir divorciam-se e pronto (graças aos xuxas também isso é agora mais fácil)!

16/12/09

A Tartaruga Supersónica, por J. Coelho

Hoje foi um dia especial! Porque foi a primeira vez, desde a última legislatura do ingenheiro, que um xuxialista, no caso o lopes da mota, se demitiu depois de um escândalo evidente. O ingenheiro não o fez depois do caso da licenciatura, nem das casinhas, nem da casa de luxo a metade do preço, nem da cova da beira, nem do fripó, nem da face oculta (uff, não há fôlego para tanta «campanha negra»); o armando não o fez depois do salto à vara (limitou-se a pedir uma «supensão» ou coisa parecida, mantendo os seus generosos vencimentos; o penedos não o fez, etc, etc, etc... Prontos, para abreviar, os xuxas inauguraram um desgraçado hábito político e ético que consiste em não assumirem as suas responsabilidades, mesmo quando as evidências são tão fortes que até fedem... Ora o lopes da mota, depois de muitos e muitos meses de vagarosa reflexão, conseguiu, enfim, chegar à conclusão óbvia: a de que não tinha o mínimo de condições para ocupar o cargo que ocupava, depois do que fez!

É claro que, para chegar a esta brilhante conclusão, precisou da ajuda inestimável da condenação que considerou provado que ele fez pressões intencionalmente sobre os magistrados do MP que investigam o caso fripó. Mas mesmo assim é de enaltecer a sua atitude. É que, comparado com a agilidade dos seus colegas xuxas, a sua velocidade - de tartaruga - é verdadeiramente supersónica.

No entanto, ainda me sobram algumas singelas questões acerca deste caso, como, por exemplo:
1. A moldura penal. 30 dias de suspensão por uma pressão num caso com esta relevância, importância social, ética e económica, parece-me uma paródia. Isto mais parece o conselho disciplinar de turma D que pune o menino zequinha com uns dias de suspensão. Se está provado que o homem fez o que fez, a punição não deveria ser muito, mas muuuito, maior?

2. Como é que um indivíduo que se presta a um papel tão infame como este foi indigitado por um partido político - o dos xuxas - para um cargo tão importante? Engaram-se? Querem ver que os nosso altos magistrados são nomeados pelo governo não pela sua competência mas por outros critérios mais sombrios? Não quero acreditar...

3. Afinal quem é que mandou o mota fazer tais pressões? Foi iniciativa pessoal dele? Ou cumpriu ordens de alguém? Se foi mandado quem éque, afinal, o mandou? E com que objectivo?

4. Se foi iniciativa pessoal dele, como é que se compreende que os xuxas, o governo e o ingenheiro nunca tenham vindo pedir-lhe satisfações, antes pelo contrário, ainda o defendam e enalteçam?

5. Apesar da punição, como é que, cito, «O Governo Português manifesta o seu reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao país no desempenho do cargo que agora cessa»? Então o homem faz uma coisa dessas e ainda é gabado? Note-se que esta é a postura xuxa padrão relativamente a outros casos, como o Face Oculta: nem uma palavra de condenação sobre eventuais actos de corrupção, antes a defesa dos arguidos, pretensamente inocentes e vitímas de sinuosas cabalas. Críticas, só aos magistrados...

6. E, finalmente, o que é que vai ser de Lopes da Mota, tadinho? Vai voltar para a santa terrinha e abrir uma mercearia de bairro? Ou vai ser recompensado com um alto cargo, como se nada disto se tivesse passado? Espero para ver e aceitam-se apostas...

14/12/09

Lá Como Cá, por Oráculo

A Itália não é Portugal. A Itália é violenta e crua e quando as coisas azedam, quando a indignidade e a baixeza de um político descem ao nível do lamaçal, os italianos agem. Por isso o sr Berlusconi levou com uma barra de ferro na cara.

Uma pessoa não pode deixar de comparar: o grupo xuxa do ingenheiro socas tem alguns personagens que desafiam soco, ele incluído. Quanto mais não seja porque estes, estando mais perto de nós que o Berlusconi, cheiram-nos pior. Mas Portugal não é a Itália e aqui não nos passa pela cabeça que algum indivíduo indignado até aos limites do suportável, pegue numa barra de ferro e avie com ela no corta-palha do ingenheiro. O que fizeram a berlusconi está mal - é evidente que está mal e, se não chegassem argumentos para nos convencerem, bastaria a força das imagens. Aquilo não se faz a ninguém, nem mesmo ao ingenheiro nem ao berlusconi. Ponto final.

Mas este episódio devia dar que pensar ao socas e aos xuxas que nos governam... Em muitos aspectos a governação xuxa e o seu envolvimento nos casos que se sabem, a sua impunidade, a sua indiferença e arrogância, fazem lembrar Berlusconi. E não seria bonito se Portugal se transformasse, por essa via, como a Itália, num país de barras de ferro. Oxalá que não, mas já vi esse cenário mais distante...

11/12/09

Diospiros, por Frutini

Esta foto foi tirada pelo Duarte, algures, lá na sua quinta. Está fantástica! Porque sendo uma simples foto e não o próprio diospiro, está mais próxima de um diospiro real do que os diospiros que eu comprei esta semana no Belmiro. Tenho-os na cozinha a apodrecer, mas nem isso, eles estão na mesma, não sei que raio de químicos é que lhes metem... Sempre conheci o diospiro como um fruto muito adstringente que tinha aquela coisa de nos fazer boca de cortiça. E os diospiros que sempre comi, até esta semana, de preferência muito maduros, para atenuar um pouco a tal adstringência, abriam-se e eram muito sumarentos, impossíveis de serem comidos de faca e garfo. Isto era o que eu pensava que era um diospiro.

Até que, esta semana, comprei meia dúzia de frutos vagamente parecidos com diospiros no Belmiro. Estes são compactos e coesos como maçãs, descascam-se de faca e garfa e permanecem íntegros; não são sumarentos nem coisa que os valha e, pior que tudo, retiraram-lhes o tal sabor adstringente. Parece que aquela característica essencial que nos faz reconhecer o diospiro é vista, hoje em dia, como um defeito. Não é nada! É até muito estranho comer um diospiro e não ficar com boca encortiçada, mas é o que acontece com esta porcaria vermelha que tenho cá em casa e que teima em não apodrecer. Resta dizer que os diospiros do Belmiro (importados de Espanha, claro) não sabem a nada. Melhor: sabem a tudo, sabem às bananas do Belmiro, às maçãs do Belmiro, às nêsperas do Belmiro que aquilo tudo tem formas diferentes mas sabor igualzinho, vagamente parecido com a borracha.

Vi esta foto de um diospiro e tive saudades dos meus diospiros a sério que, pelos vistos, não obedecem aos padrões da UE. Esta foto é a coisa mais parecida com um diospiro que eu vi nos últimos tempos. Se, entretanto não os tiveres comido todos, trazes-me umzinho, destes a sério, quando cá vieres, Duarte?

10/12/09

Tirem-me deste filme!, por Carlos Miguel


O post que se segue é um verdadeiro documento sociológico. O seu autor, um nosso mui jovem amigo, o Carlos Miguel, chamemos-lhe assim, dá-nos conta do estado em que caiu/ascendeu (depende do ponto de vista) o Curso de História. O Curso de História está diferente, é o que se percebe daqui... Mas que fale o Carlos Miguel, jovem, adepto do Glorioso, sangue na guelra, que não entrou à primeira no Curso que pretendia e que, por isso, foi fazer uns meses, à experiência, ao Curso de História...

Uma vez que já não escrevo no blog há algum tempo, tenho uma enorme vontade de partilhar convosco um episódio muito peculiar que marcou de forma profunda a minha chegada ao ensino superior. Como devem prever, um finalista de secundário nada mais anseia do que o ingresso no ensino superior. Isto porque a universidade é um local que nos pode proporcionar alguns dos melhores momentos da nossa vida. Porém, não podemos generalizar esta ideia a todos os cursos universitários.
Como só concorri na segunda fase de ingresso ao ensino superior, vi a minha escolha relativamente aos cursos reduzida de forma significativa. Assim, a minha ideia era entrar no primeiro curso que me aparecesse na ficha de candidatura, para no ano seguinte tentar mudar para o que realmente queria. O curso de História acabou por ser a minha primeira opção por dois motivos: primeiro, a média da primeira fase era pouco superior a 9,5 o que me dava entrada garantida. Depois, como a média de curso era tão baixa, julguei que as pessoas que o frequentavam era pessoal que estava ali porque não tinha condições para estar em mais lado nenhum, ou seja, queriam era ir para a universidade.

"Estudar e tirar um curso? Oh, isso depois vê-se!"

E assim foi. Concorri e entrei em História na Faculade de Letras da Universidade de Coimbra.
Mas eis que chegou o meu primeiro dia de aulas e deparo-me com uma realidade completamente diferente do que esperava.
Para já, 55% da turma que era suposto frequentar até ao final do ano lectivo tinha mais ou menos a idade dos meus avós, ao ponto de eu ter ajudar algumas senhoras a sentarem-se no anfiteatro para assistirem às aulas.

Depois, 40% da turma é de um estilo de pessoas que eu esperava em todo lado menos ali. Pessoas essas que me viam dia após dia a frequentar as mesmas aulas que elas e nem um simpático "olá" foram capazes de me dirigir, excepção feita a uma colega de turma que me olhou de uma forma intimidatória e disse: "és parecido com o meu neto!". Foi o maior sentimento de frustração de que tenho memória.
Nas aulas não se ouvia nada a não ser a voz do Professor(a), tal era o empenho e dedicação com que aquela gente ali estava. Não estavam ainda decorridos 10 minutos da minha primeira aula da sempre interessante cadeira de História da Grécia Antiga e eu já estava a rebentar de vontade de ir congelar a matrícula.

Os outros 5% é aquele pessoal acessível e simpático que nunca apareceu em nenhuma aula.
O limite da minha paciência foi ultrapassado num dia em que, no decorrer de uma aula, tentei simpaticamente dar inicio a uma relação de amizade com o meu parceiro do lado, uma vez que não conhecia ali ninguém. Virei-me para ele e disse:
"Opá esta aula é um bocado seca, acho que o professor podia motivar um bocado mais os alunos..."
A resposta dele foi esclarecedora:
"Está calado e vira-te para a frente!"
Eu ouvi, engoli o que ele me tinha dito, peguei no meu insignificante caderno que estava ao lado de uma montanha de livros do meu colega do lado e fui a correr para a Secretaria.
Congelei a minha matrícula e, ao mesmo tempo, o meu sonho de estar presente em Mega-Convívios com milhares de estudantes normais.
Graças à terceira fase de concurso nacional ao Ensino Superior, consegui mudar para um curso que desejava e posso olhar para a História como um pesadelo ultrapassado.
Por isso, a menos que desejem ter uma semana com um horário com:

Segunda-Feira: Origens do Homem e das Sociedades seguido de História da Grécia Antiga acabando com a sempre agradável Metodologia Histórica.

Terça Feira: Das 8 da manhã às 19 com uma hora de almoço com os nossos (simpáticos) colegas - Origem das Sociedades Complexas, História de Roma Antiga, (hora de almoço), Problemática do Saber Histórico, Paleografia e Diplomática acabando o nosso dia com a estimulante cadeira de... Teoria da História!

Quarta-Feira: dia levezinho (tarde livre) - História da Expansão Portuguesa e História da Idade Média.

Quinta-Feira: Pré-História Geral, História da Família e História do Turismo. - diga-se que neste dia poderíamos dispor de 2 horas de almoço a fazer tricô com as nossas jovens colegas e a jogar dominó com os miúdos!

Sexta-Feira: História da Época Contemporânea e História Contemporânea de Portugal.

Dizia eu, se não querem tudo isto... não vão para História!


PS: Não fui a nenhum jantar de curso, mas consigo facilmente imaginar o meu colega mais jovem com incontinência e a pedir ajuda ao filho (que também certamente já estaria quase sem forças para aguentar a placa dos dentes) para este o ajudar a trocar as faldas do bisneto que tinha ido divertir-se com o vôvô!

09/12/09

Este Post é Dedicado ao Grunfo, por Eva Porosa

O Paulo Bento era forever, dizia o Cabeça de Cotonete, mas já foi de vela. Forever, forever só o Tapornumporco. O Tapor foi uma boa ideia que nasceu há 5 anos ou há 4 anos, não sei bem. Passou por várias fases, boas e más e, ia a dizer, sobrevive, mas não, o Tapor continua vivo e bem vivo! Viverá enquanto um só dos que o ajudaram a fazer quiser que ele viva. E eu continuo a querer. Já fomos muitos agora quase só resto eu. Mas não me sinto só. Por duas razões: porque o arquivo do Tapor, com todos os posts dos que o foram fazendo é tão vasto, tão vasto que dá para mais quatro anos só de reprises; e porque, contra o que se possa a julgar à primeira (apressada) impressão, o Tapor raramente teve tanta frequência como agora. É verdade!

Lembro-me que houve um mês em que fomos recomendados pelo expresso e, nesse mês, as visitas dispararam. Mas voltámos rapidamente ao normal e o normal foi, durante anos, uma média de 100, 150 entradas diárias. Pois bem é darem uma olhadelazita ali ao lado ao contador: Já viram? Hoje, escrevo estas linhas às 19 e 28, tenho ali um contador a marcar 407 visitas! Mas a nossa média diária é de cerca de 200 visitas diárias, subimos e bem, relativamente aos antigos tempos áureos das 100, 150 visitas!

Além disso, se verificarmos o contador mensal da sitemeter vemos que no último mês de Novembro batemos o recorde de visitas de 2009. Tivemos cerca de 500 visitas a mais relativamente a Outubro, o mês anterior! Também se pode constatar que a audiência do Tapor é fiel, mantém-se e com tendência a crescer, não muito, mas com regularidade.

Dir-me-ão que se trata de clientes que aqui caem por acaso em busca de outras coisas... Mas dantes não era assim? O que é verdade, verdadinha é que o Tapor tem uma audiência certa, com tendência a crescer e que, em termos absolutos, tem agora um dos maiores picos de audiência da sua já longa história, só superado pelo tal mês de publicidade no Expresso.

Concordo, contudo, com uma coisa: há menos interactividade hoje em dia. A caixa de comments do Tapor já foi o melhor do blog e hoje tem muito menos comentadores. Mas são as mutações naturais de um blog. O pessoal não se quer expor tanto, tá farto, já não tem paciência, já não comenta tanto, é como preferirem... Seja! Mas o certo é que continua a frequentar este antro. O certo é que, comentem ou não, continuam a passar por aqui. Então, ó Grunfo, até amanhã à mesma hora...

06/12/09

Cossery: o Poder da Ironia, Por Bartleby

Acabei de ler, do escritor egípcio Albert Cossery, A Violência e o Escárnio. A escrita de Cossery é seca. Não tem aquele poder poético que é fundamental para que o leitor retire prazer da leitura. Muitos escritores vivem disso, neste livro, pelo contrário, o que se verifica é um claro predomínio da denotação. O Japonês Murakami, por exemplo, é o contrário da escrita de Cossery: Murakami é um criador de universos. De mundos próprios, oníricos, místicos, misteriosos e o argumento interessa pouco. Cossery é quase o oposto: a linguagem é usada para exprimir um referente e é o mais seca e objectiva possível, mas o argumento é tudo. Claro que isto também proporciona a criação de um universo muito próprio, mas o mundo literário de Cossery é um deserto, um deserto gelado (apesar de tudo se passar em climas quentes) nos antípodas das quase-mitologias de Murakami.

O argumento de A Violência e o Escárnio é espantoso e, de certo modo, o livro é quase um romance de tese. Algures, num país árabe e quente, há um governador que oprime a população. E há os revolucionários habituais que contestam as suas políticas e lutam contra o seu governo, arriscando a vida e a liberdade. Mas Heykal tem outra ideia do que deve ser a luta contra o regime do tirano: para ele o maior erro consiste em levar os tiranos a sério. É isso que todos eles querem, ser levados a sério. E, portanto, Heykal e os seus resolvem combater o tirano fazendo da ironia a sua grande arma. É assim que espalham panfletos pela cidade e cartas nos jornais que glorificam o governador. Glorificam-no a tal ponto que se tornam exagerados e ridículos. O Povo entra na hilariedade geral e perde o respeito ao tirano que assim está prestes a ser derrubado.

Mas os revolucionários sérios não gostam desta forma de luta e não querem ser confundidos com os protagonistas desta mentira. Ficam tão furiosos com Heykal como o próprio governador. No limite, Cossery equipara estes revolucionários ao tirano: a única diferença entre eles é que um ocupa o poder e os outros são a oposição. Mas na prática são uma e a mesma versão da seriedade mortífera que empesta a vida. E é assim que acabamos por perceber que o verdadeiro revolucionário é o mestre da mentira, da ironia e do humor: Heykal. No fundo, para os revolucionários sérios, a ironia e o sentido de humor são muito mais perigosos que o ditador sangrento. E, portanto, é preferível salvar a reputação do governador a deixá-lo cair, vítima da ironia dos sátiros de Heykal. Cossery é uma lição! Apesar da secura...

03/12/09

As Três do Brit que afinal são só duas, por Britannicus

1º Vem Viver a Vida, Amor , José Cid.

Há merdas que se pespegam à biografia dos nossos gostos como o saburro e o cieiro ao entrecosto. A menos que peças a alguém que te esfregue a lombeira, eles ficam lá. Se a removes a esfreganço, fica a marca do esfreganço. O pudor é ocioso e pelintra: não vale a pena ocultar no sótão os cómodos que já foram da sala de estar, nem esconder o retrato com as pantalonas à boca-de-sino; haverá sempre um filho da puta que irá descobrir que tivemos uma cristaleira rococó e um cabresto fução que irá aparecer co retrato das pantalonas – “Olhem prás calças deste choninhas caralhinho!”
Está dito. Gosto do José Cid porque tive pantalonas e lá em casa havia uma cristaleira rococó.

2º Decades, Joy Division.
O MEC, em Portugal, e os cardeais da Congregação Para a Causa dos Santos Musicais já canonizaram o pontuar da percussão e a sua arritmia orgânica, as melodias insignificantes, a melancolia e tristeza irredentas do Ian Curtis. Os Joy Divison mandaram às urtigas o inssurreiccionismo dionisíaco-juvenil-hormonal de meia história da música popular do século XX(um quarto de história, vá lá!) e disseram, sem verdade, que na música e em lado algum há redenção. À semelhança da ideia de Deus na Idade Média, a banda não teria tido tanto sucesso se na altura houvesse Prozac.Na altura,um gajo sofria comó camandro.

01/12/09

Canções do Porco, por Mangas

Ouvi recentemente num programa de rádio que, “One” dos U2, foi eleita no Reino Unido com a melhor canção do século XX.

A coisa vale o que vale. Se lhe retirarmos a futilidade de patrocínio e a compilação subjectiva da nostalgia - como aliás se quer que ela seja -, sobra-nos um exercício de paixão pessoal tão abrangente quanto difícil de sintetizar. E é apenas disto que falo.

Recordando as memórias mais distantes da música que me abanou as orelhas e me despertou o êxtase, seja pelos ritmos, épocas ou manifestações hormonais, seja pelas letras cantadas, acordes de culto ou outros inauditos estados de embriaguês, percorro etapas da minha vida pelos anos do vinil, cassetes de crómio e noites de rádio, vídeo-clips pré-MTV e concertos de estádio cheio, festas de garagem e o antigo ETC sábado à noite, tentando escolher três músicas, três!, que por razões várias, incorporem, tão-somente, a exultação do prazer pessoal. Não me preocupo sequer em rebuscadas teses sobre composição, melodias revolucionárias ou outros conceitos de produção. Nada disso. A minha escolha, com a sua dose de risco e tremenda injustiça para tantas outras canções que deixei pelo caminho e poderiam também aqui constar, reside no gozo puro que estas três me proporcionaram cada vez que as ouvi ou ainda ouço. Pondo isto, e que me perdoem todas as outras, este é o meu top:

3º lugar – Billie Jean, 1982, de Michael Jackson. Tudo começa com uma percussão surda e depois o baixo repetido de uma Yamaha. E não passa daí. A percussão a martelar o ritmo, o baixo a acompanhar, a voz a entrar. Nada mais simples e, simultaneamente, explosivo e contagiante: o baixo, a percussão o tempo todo, e alguns efeitos pirotécnicos de uma guitarra eléctrica. Para mim, Billie Jean tem o funk mais cool de todos os tempos.

2º lugar - (I Can't Get No) Satisfaction, 1965, Rolling Stones. Diz a lenda que certa noite, Keith Richars acordou sarapantado num motel de tournée na Florida, ligou um gravador e em dois minutos meteu-lhe dentro o riff de abertura de Satisfaction que lhe batia na mioleira. Depois voltou a dormir para curtir a bebedeira. Mais tarde Jagger escreveu a letra. O resto é História. Satisfaction é um hino e mais não seria preciso acrescentar! Daquelas músicas que o cidadão comum do Azerbeijão, com a quarta classe, poderia abanar e cantarolar numa convenção galáctica de extraterrestres para se fazer entender que provinha do planeta terra.

1º lugar - I Heard It through the Grapevine, 1968, de Marvin Gaye. A voz de Marvin Gaye é dilacerante e aguenta a carga nas notas mais altas sem pestanejar, num contraponto perfeito com a sobriedade cénica do coro. As três baterias e a percussão soam a tambores de latão oco como alinhamentos de uma banda sonora inquietante; o piano eléctrico e as marimbas completam toda a complexidade da orquestração dos Funk Brothers. Isto é Motown em estado puro! Um clássico de arrepiar, poderoso e elegante, que conta uma história em rotação máxima da abertura ao final. Sem nunca perder o fôlego.

Estas são as minhas três eleitas. Quais são as vossas?

27/11/09

o Brasil tá cada vez mais parecido com Portugal! E não é pelas praias nem pelo sol..., por Fartinho da Silva

Dedico esta música ao godinho da sucata, ao vara e aos penedos. Ao socas apanhado nas escutas que não valem porque lhes falta a auorização certa que a outra era errada, ao procurador e ao outro de barbas que brincam ao jogo do empurra, ao sousa tavares, opinionista que aluga o cérebro ao quilómetro, ao marinho pinto advogado, preocupado com o sr primeiro ministro mas não com o direito, às virgens púdicas muito preocupadas com a violação do segredo de justiça (mas qual? A mesma que leva a que os arguidos do face oculta tenham mudado de tlm, avisados em junho de que estavam a ser escutados?), ao passos serôdio coelho que nos manda calar por decoro(?!), ao tónio costa lava mais branco, à família do socas e aos excelentes amigalhaços que ele tem, tudo gente fina e recomendável, ao mário soares em avançado estado de putrefação, ao tónio morais um rapaz que se safa bem, às redes tentaculares, ao constâncio que também se safa bem, a todos os xuxas deste país e em particular a todos os tansos que continuam a votar neles e que ainda não estão fartos, como diz o Gabriel, de... apanhar porrada, porrada...



24/11/09

Pedreirada!, por Bulhão


Para quem tinha gostado tanto do Código da Vinci como eu, este último Dan Brown foi uma enorme, uma grandiosa decepção! Dan Brown demorou não sei quantos anos para fazer este Símbolo Perdido. Não se percebe porquê. Para repetir uma fórmula de sucesso, como é o caso, mais valia fazer um livro por mês.
Neste novo livro é tudo decalcado dos outros, especialmente do Código da Vinci - o assassino psicótico que repete Silas, outra gaja boa à volta de um segredo, uma perseguição permanente, alguma indefinição na caracterização ambígua dos polícias, o mesmo Langdon estereotipado. Só que, desta vez, para além do clima déjá vú, os segredos não têm a força do livro anterior, eu diria que parecem até, segredos de polichinelo. O livro faz lembrar aquela brincadeira que jogávamos em miúdos e que era a casa ao tesouro: os adultos faziam uns quebra cabeças com umas adivinhas e tal, a pequenada, nós, ia decifrando um e outro e passava ao seguinte até que no fim encontrava um tesouro invariavelmente ridículo que a mim pessoalmente me dava uma azia dos diabos pela trabalheira que tinha custado. Foi o que achei dos mistérios do dan brown neste livro.

Além do mais, há aqui uma inquestionável reverência do autor para com a Maçonaria que não teve para com a Opus Dei no Da Vinci. Ora a mim, não me agrada nem uma nem outra organização. Aliás, para dizer a verdade, até tenho a Maçonaria como uma organização ainda mais perniciosa pela razão simples de que, neste momento, é a Maçonaria e não a Opus Dei aquela que tem mais poder...Tentacular. por isso não encaixo sem espernear tentativas de branqueamento maçónico ainda que venham da pena de um aparentemente inocente escritor de perseguições norte americano.
Por falar nisso, outra coisa de que não gostei foi a tentativa forçada de Brown em impingir-nos os States. O Símbolo Perdido parece um mega prospecto de uma agência de turismo a promover a América e Washington DC. Brown tenta dar patine aos monumentos de Washington e às suas instituições, recorrendo aos tais mistérios que estariam associados ao crescimento daquela cidade.Mas é forçado: Washington não é Roma, nem Londres nem Florença nem Madrid... Quanto a mim, não pega. Não fiquei nada mais interessado em ir a Washington por causa do livro. O contrário do que me aconteceu quando li o Da Vinci, que me suscitou interesse em voltar a Paris ou a embrenhar-me em leituras sobre a Ordem do Templo.

Uma vez que a escrita de Dan Brown não tem um brilho por aí além, e que a narrativa, comprova-se agora, é standardizada, talvez tenha sido isso que falhou neste último livro: enquanto o mistérios que estão na base do Da Vinci são, de facto, ricos e interessantes, os que estão na base d´O Símbolo Perdido, parecem forçados e são descritos de uma forma parcial: por um claríssimo simpatizante da maçonaria! Este Símbolo Perdido é, afinal, uma grande oportunidade perdida.

22/11/09

és / ás, por Cão

és ar /serás fumo

és água /serás terra

és pedra /serás areia

20/11/09

Paradoxo

A puta tão feia que morreu virgem.

Uma Casa tipo Maison, ou Un Vin tipo Tintol, por Monsieur Dupont


(post publicado em tempos idos no Tapor e que agora é suscitado pelo anterior da contita do Abramovich. Enfim, cada qual tem os Abramovichs que merece).

A primeira vez que fui a Paris com alguns cobres no bolso, levava já algumas luzes da vinhaça portentosa a esquadrinhar por ali. Tinha “estudado” algumas nuances da coisa e sabia que não conseguiria jamais chegar às colheitas consagradas ou às colheitas de antigas de referência. Mas, já experiente na forma como por cá saía o Barca-Velha e o Pera-Manca, com preços aceitáveis de 6 a 10 contos a botelha no ano de edição, contava trazer uns néctares para afiambrar. Nos meus armários imensos de marcas e portentos, ribombavam os grandes de França como Le Pin, Échezaux, La Tâche, Romanée-Conti, Château Haut-Brion, Château D`Yquem, Petrus, Cheval-Blanc, Pichon Longueville, etc.

Com os olhos a brilhar de gula cobiçosa deixei a maria nos perfumes do rés-de-chão das Galerias Lafayette, ali ao pé do hotel e ala que se faz tarde pró último andar e para a secção Gourmet. Corri à pressa as enormes e gigantescas bancadas de garrafeiras imensas por corredores infindos, mas foi demasiado à fuçanga e não reconheci nenhum nome. Que diabo, milhentos vinhos e nenhuma cara conhecida? Obriguei-me a respirar fundo e recomecei numa ponta devagar, devagarinho. Estão escondidos é isso, há que ver com calma, que a adega é inimiga da pressa.

Esmiucei de novo alguns milhares de marcas e colheitas, mas nada, nenhum Margaux, nenhum Cos D`Estournel, nada de Latour, zero de Guigal. Mau Maria, aqui há gato. Ajeitei a gravata, estiquei as mangas do casaco e fui de garção. Puxei do meu melhor francês e questionei um serviçal com farda de Almirante: - Pardon Monsieur, je voudrais savoir oú sont les boteilles de Romanée-Conti, il niá quelqun par ici?

O Contra-Almirante viu-me imponente e engravatado e afivelou logo uma cara de satisfação e simpatia que me reconfortou, isto sim é serviço, mas as palavras seguintes dele deixaram-me algo inquieto: - Ah, non, Monsieur les grand vins son par lá, venez, venez...

Lá segui o Capitão de Fragata, mas o homem foi para um canto com um armário e um balcãozito, pediu-me desculpa pela ligeira espera e foi buscar uns molhos de chaves, embolsou uma série de pequenos catálogos, pegou num pano de camurça bordeaux e calçou umas imaculadas luvas brancas..., mau, agora é que estava mesmo desconfiado!

O Capitão de Mar e Guerra, indicou-me então o caminho e levou-me na direcção quase oposta das milhentas garrafeiras que tinha visto. Seguimos para junto de uns enormes armários cinzentos, envidraçados e fechados à chave. Logo ali vi que já tinha feito merda. Estava noutra galáxia, mas já era tarde para parar a marinha. O homem abria já um dos armários centrais climatizados, humidificados e engalanados e retirava para fora com as luvas imaculadas uma botelha de Romanée-Conti: - Voilá, Monsieur!

Olhei para as irmãs que permaneciam deitadas sobre o vidro e vi o preço do Romanée-Conti, última colheita, que me estava a ser mostrada. Engoli em seco e procurei disfarçar, mas o almirantado não me deixou alternativa senão levantar a bandeira branca: - Excuse moi, je voudrais voir des autres boteilles et ensuite je le dit quelque chose...

O Almirante percebeu, não foi incorrecto, nem fez a cara que lhe esperava do “mais um pelintra, que me enganou pela gravata”, foi simpático, despediu-se, disse que estava às ordens, limpou a garrafa, ajustou vários botões e fechou aquilo tudo.

E eu fiquei ali estupefacto, de nariz a correr os vidros e a perguntar a mim mesmo como poderia haver dinheiro para beber Aquilo: CHÂTEAU LATOUR, 1er Grand Cru Classé, 89, 80 Contos, CHÂTEAU MARGAUX, 1er Grand Cru Classé, 86, 120 Contos, PETRUS, 86, 200 Contos, ÉCHÉZAUX, 88, 400 Contos, LA TACHE, 98, 450 Contos, ROMANÉE-CONTI, 95, 600 Contos.

17/11/09

Serão Dólares? Serão Dinares? Neve não é certamente.., por Basbaque

E inda dizem que há crise? Então vejam a contita que o Abramovich pagou num restaurante em NY. Já agora, Grunfo, o que é que achas do vinhedo? É coisa séria, claro... E para quantas pessoas é que te~´a sido este jantar? E a gorja de 7 mil dólares? Quem pode, pode...

Porque não ficam em casa?, por Violino

Atenção a este vídeo. Ele dá-nos a conhecer, em primeira mão, o fantástico ambiente das casas sportinguistas deste país. Nele podemos ver um presidente de um clube de gente fina a fazer solos de mariachis, um comentador desportivo a cantar e a dançar um hino e outras curiosidades. Chamo a vossa atenção para um indivíduo vestido com uma t shirt verde alface que aparece no fim, no canto inferior direito e que, se não estou em erro, é o sá pinto. Nunca fui a uma festa de nenhuma casa zbordinguista deste país. Mas se forem todas como esta, digam-me quando é a próxima que eu quero lá estar.

16/11/09

Cãozoada, por Boby Peru


O Gaspar contou-me que um dia destes bateram-lhe à porta, foi abrir, e era um senhor que lhe disse assim:
- Bom dia. É o sr. Gaspar?
- Sim, sou eu.
- Desculpe vir aqui a sua casa, mas há um problema... É que o seu cão enrgavidou a minha cadela e acontece que eu tive que comprar a pílula do dia seguinte para ela. Foram 80 euros e vinha pedir que me devolva o dinheiro uma vez que o seu cão é o responsável pelo sucedido.

Pergunto? E vocês, o que é que fariam nesta situação?
a) Pediam o teste de ADN que se confirmasse a paternidade do Ricky? Sim, como é que prova que o filho era do meu cão? Inda para mais toda a gente sabe que a sua cadela é muito promíscua...
b)Alegavam que foi a cadela que se meteu com o cão e não o contrário. Optando por esta hipótese é possível engatilhar o discurso para virar o feitiço contra o feiticeiro, tipo: «sempre eduquei o meu cão nos mais sólidos valores e princípios morais entre os quais figura, desatacado, o valor da castidade. Ora tendo em conta o baixo nível moral da sua cadela que desviou inviamente o meu cão para o caminho da perdição, sou eu que lhe exijo uma reparação devida pela perda da virgindade do animal»
b) Não podia ser o meu cão. O meu cão é paneleiro.
d) Outras...

13/11/09

Azarados!, por Gastão


Zé socas deve ser o primeiro ministro mais azarento do mundo. Diz que são «cavalas» mas o certo é que não há modo de justificar tantos casos em que aparece envolvido como, por exemplo:
- O caso da licenciatura na famigerada Independente ( a mesma onde se «licenciou» o amigo vara);
- o caso Morais das 4-cadeiras-4;
- O caso fripó;
- O caso das pressões aos magistrados que investigam o caso fripó;
- O caso do aterro da cova da beira;
- O caso das casinhas da Guarda-Covilhã;
- O caso da compra do apartamento de luxo;
- O caso do silenciamento do Jornal de Sexta da TVI em véspera de eleições;

Agora é o caso Face Oculta com as escutas a envolvê-lo em conversas co amigalhaço dos velhos tempos, vara de seu nome. Parece que as entidades judiciais competentes resolveram guardar dezenas de gravações de escutas entre os dois. Dezenas! Matérias inocentes, claro, falavam de gajas, do Benfica e de poesia lírica portuguesa do século XVI. A Justiça portuguesa interessa-se muito por poesia, gajas e bola.
Em suma, o homem tem muito azar - mal damos um pontapé numa pedra tocada por ele e sai de lá... Sucata. É esse padrão que toda esta mixórdia de casos e casinhos e casões revela: azar... Azar do país que tem que aturar um governante destes!

10/11/09

Gina – A Verdadeira Trombeta Da Revolução (Gina – Parte 1), por Rodox


Nos dias seguintes à doideira televisiva do pós-25 de Abril, vim para a rua e para a cidade, expectante da novidade e mudança. Afinal e contudo, prós meus olhos de puto de ciclo nada tinha mudado. Ao contrário da Tv, aqui por Coimbra não havia soldados pelas ruas, chaimites nas praças, ou cravos nas lapelas. Os prédios estavam na mesma, as pessoas passavam na mesma a caminho dos empregos e demais destinos, cafés normais, aulas normais, autocarros normais, jornais normais. Ora, porra, mas afinal o que mudou agora que caiu a recém descoberta ditadura e que se vai fazer o homem novo? Frustração total. O “anormal”, o “revolucionário” estavam escondidos na Tv ou em Lisboa, ou então reservados ao mundo adulto. Que se lixe a revolução!, tudo na mesma comá lesma!

De repente, poucos dias a seguir, tropecei na revolução! Nos quiosques e bancas de jornais, apareceram as Ginas. E não eram fechadas, mas abertas e escancaradas. Cenas hard de enrabadelas, esporradelas e canzanas, não a posição, mas mesmo com canzanas enormes e uivantes. A doideira pornográfica explodiu e as Ginas - suprema bandeira e vanguarda -, apareciam agora pelas ruas a fora, com pompa e muita gosma. Viva Revolução! Mas mais, não só a coisa era escancarada, como toda a gente se estava nas tintas para os putos ranhosos, que descaradamente gastavam em Ginas a féria da refeição da cantina e do bilhete de troley!

Foi aí e só aí que me apercebi da mudança revolucionária. Agora sim havia revolução, abertura e liberdade. Pouco depois já se viam os cartazes a anunciar o Último Tango Em Paris e liberdade das liberdades, o Garganta Funda começou a passar no Avenida. Os cartazes de cinema que anunciavam a onda porno eram explícitos e duros. A horda moralista andava de bola baixa e só alguns anos depois é que se começaram a ouvir as primeiras vozes contra o desparrame. Quais cravos, quais chaimites, quais cabeludos, quais carapuças, Gina, meus caros, a Gina é que foi a trombeta anunciadora da revolução e a grande viragem em relação à antiga senhora. Que aderiu ao porno também, vintage, claro!

08/11/09

Nunca vi um porco com gripe, por Cão


A famigerada Gripe-A, vulgo Suína, anda por esse mundo afora muito contentinha a papar imbecis que a temem mui piamente. Pouca gente parece ter percebido que a dita epidemia não existe. Mais: que se trata, de facto e deveras, de uma falcatrua à escala planetária das sinistras farmacêuticas, cujo trabalho é inventar doenças para os medicamentos em armazém. Lembram-se das vacas malucas? Lembram-se das galinhas doidas? Que é feito dessas raparigas? Hum?
Cada vez que me aparece no televisor o senhor doutor Francisco George, aquele senhor Director Nacional da Saúde cuja configuração facial, agravada pelo incompreensível risco ao meio, recupera no meu mesencéfalo o terror dos duendes dos contos de mentir à infância, cada vez que aquele senhor me aparece, assim português suave e definitivamente provisório, eu ralho cá para com o meu fecho-éclair: “Mas q´ais gripes ás, pá, mas q´ais gripes ás, pá!...”
De modos que é assim: somos um país de honestos palermas. Em plena República, apareceu a senhora-de-fátima a voar por cima duma azinheira. Cristo espadeirou na Batalha de Ourique. O padre Fontes organiza todos os anos aquela vigarice de Vilar de Perdizes. O Jardim é dono da Madeira. E até o Sporting de Braga, terra de arcebispos e de calhaus dotados de olhos, já mete medo. Não sei que raio faça à nossa vida, sinceramente e de facto e deveras.
À nossa vida, sim, que a Gripe-A teima em transformar em Vida-B. De Burro.

in Rosário Breve nº 128 - in www.oribatejo.pt

04/11/09

Mas, Afinal, Porque é que eu Ainda Vou Almoçar ao Gordo?, por Mr. Hardy


Porque é barato. É uma razão mas não é suficiente. Já não chega aquela vez em que pedi um robalo e a empregada vai para dentro, volta e diz-me assim:
- O sr desculpe mas o patrão manda dizer que hoje é um euro mais caro. É que o peixe é fresco...

Hoje o Gordo voltou a atacar. O menu era leitão assado e cabrito à não sei quantos. Mandávamos vir uma dose de cada, eu e o Asdrúbal. Veio. Aquilo estava intragável, só gordura, um cabo dos trabalhos para encontrar uma lasca de carne que se visse. A meio o Gordo veio à nossa mesa e perguntou-nos, como sempre:
- Atão o almocinho? Tá mais ou menos?
E eu respondi que desta vez nem por isso. Demasiada gordura como era visível. Ao que o camelo do Gordo retorqiu:
- Deixe lá. Dá pra se aguentarem até ás 3 não dá? Depois merendam qualquer coisa noutro lado.
...E embrulha! Quem é que me manda armar em esperto e reclamar da comida?

02/11/09

Piero Manzoni, por PrimaDaObra


Num dia destes andava o núcleo duro do Porco em peregrinação entre as estantes de livros e as estantes de vinhaças duma mercearia do Belmiro, quando um confrade saca de um expositor uma latita de sucedâneo dinamarquês feito de ovas de lampreia. Questionado, o gourmet avança com a palavra “Caviar”. O Xiita, que é rapaz de poucas palavras, mas de fácil sentença, opinou de imediato: “Caviar? Isso? Melhor do que isso cago eu e não sou esturjão!”

Piero Manzoni, um famoso pintor italiano de arte contemporânea dos anos 50 e 60, na senda de Duchamp e do seu famoso urinol, resolveu fazer um manifesto anti-pop-art e um ataque directo ao mercantilismo da arte e das galerias da altura e cavalgou a onda dos limites da arte, do surrealismo e da arte dada e zás, se bem o pensou comó Xiita, melhor o fez.

E vai daí, em 1961 tratou de cagar – merda genuína dele – para 90 latas. 90 latitas de merda italiana, genuína, de artista. O difícil deve ter sido acertar nas latitas que eram pequeninas e aí se revelou a mestria da coisa. Depois do alivio, Manzoni fez selar as latitas, como mandam as regras e os standards da indústria alimentar. Numerou-as, assinou-as e vendeu-as ao peso, sendo a grama de lata de merda vendida ao mesmo preço da grama de oiro na época. As latas além de numeradas e assinadas têm três faces ou inscrições que dizem sucessivamente : “Merda D`Artista”; “Merde D`Artiste” e “Artists Shit”. A autenticidade do produto é garantida pela inscrição: "Merda d’artista, numerata, firmata e conservata al naturale".

Feita a cagada e o embalamento do “caviar”, Manzoni fez uma das suas habituais exposições e lá meteu as latitas de “Merde D`Artiste”. Vendeu tudo como papos-secos. Hoje as latas de Merda do Manzoni são um ícone da arte conceptual, da qual se considera Manzoni um precoce percursor, constituindo tais merdas uma raridade que os coleccionadores e museus se cagam todos para obter.

E aqui chegados não resisto a contar duas histórias das latas que conheço.

A primeira passou-se com o Randers Museum of Art of Danmark em 1994, que para uma exposição e retrospectiva, pediu emprestada uma latita do Manzoni à John Hunov Colection. Pelo meio da exposição a latita começou a verter, merda como é bom de ver, e vai daí, foi tudo para tribunal discutir indemnizações milionárias. O Museu defendeu-se considerando que se tratou da degradação natural da lata. A John Hunov Colection contra-atacou dizendo que o Museu expôs a lata à luz, coisa que não devia ter feito e estava recomendado de não fazer. Enfim mais uma merda para os advogados ganharem dinheiro.

A segunda história catita da latita, passou-se na Tate Gallery de Londres que também tem uma lata de merda do Manzoni. Acontece que a lata começou a verter. Merda, como é evidente. E a Tate ficou sem saber o que fazer. Solda-se a lata? Mete-se a merda que escorre lá pra dentro? ou deixa-se a merda escorrer à vontade até à liquefacção completa da merda e da lata? A intervenção tinha o “pecado” de se estar a alterar a obra de arte. Ao invés “o deixar andar” tinha a chatice de aquilo cheirar mal que se fartava, o que incomodava os visitantes e conspurcava a galeria. Para desempatar os seus próprios experts, a Tate Gallery chamou especialistas de fora que pensaram o malcheiroso assunto. Estes opinaram maioritariamente que não se pode intervir na obra de arte sob pena de a adulterar e de modificar a intenção do artista, altura em que se mata a obra de arte; contudo, para se resolver o problema higieno-sanitário, a latita de merda a escorrer devia ser posta dentro de um cubo de acrílico, transparente, estanque e isolante, onde a obra de arte pudesse seguir o seu percurso natural, longe da mão do homem e longe do nariz também. Brilhante. A Tate acatou e assim fez.

Warholl vendeu a lata de Sopa Campbell`s, mas Manzoni vendeu Latas de Merda e ao preço do oiro. Que é de Artista é, mas será arte?

31/10/09

A Verdadeira Máquina do Tempo, por Verne

O you tube é tecnologia moderna. è, pois, uma coisa virada para o futuro, como o são todas as tecnologias, quando surgem.Mas é giro como esta tecnologia moderna nos permite reencontrar pérolas que julgávamos perdidas, para sempre, no passado. Serge Gainsbourg e Anamour:

29/10/09

Relato de Futebol Num País de Merda!, por Badaró

Vai vara com a bola e dá para penedos filho que endossa a penedos pai. Penedos pai faz um compasso de espera e toca para godinho que tabela com morais que toca para felgueiras. Felgueiras tabela com zezito que entra pela linha e centra para smith. Smith cobre a bola e dá de calcanhar para grande guerreiro de shaolin que centra rápido para isaltino que levanta e coloca com a cabeça em avelino que isola valentim. Valentim recua e dá para martins que passa a lopes (da mota), que jinga para ferro que faz um passe longo para loureiro que tabela para coelho que devolve a vara que... O povo aplaude, marcelino diz que muito bem, tavares que sim senhor, zé pedro canta o hino e manel pinho é expulso porque fez uns cornos ao adversário. Viva a bola! Viva o benfica! Viva a pátria!

28/10/09

Jesus é o Senhor!, por Aleluia


o Glorioso lá goleou mais uma equipa. O resultado final, em mais uma goleada estrondosa foi 6-1. Mas as pessoas preferem falar do comportamento grosseiro do nosso Mister, Jorge Jesus, que ao quarto golo mostrou quatro dedos ao manel machado pa fazer pirraça. o manel machado é apenas um dos maiores grunhos do futebol português e o nosso Jesus, há que admiti-lo com toda a frontalidade, em matéria de grunhice também não lhe fica muito atrás.

Mas dito isto a questão que subsiste é a seguinte: é preferível ter um treinador bem falante, bem vestido e muito elegante que perca os jogos todos ou um treinador de mau ar e discurso cavernícola que só sabe ganhar? O ideal era que o nosso treinador reunisse as duas qualidades, mas se tivermos que optar?

Por mim não tenho dúvidas: prefiro um mal falante ganhador a um bem falante perdedor! O Glorioso até já lá teve o Quique que tem veia para o verbo, mas a equipa jogava que parecia um susto. E agora com o Jesus é o que se vê: 8-0, 5-0, 6-1, etc, etc... Não há dúvida que, pessoalmente, eu seria mais facilmente amigo do Quique que do Jesus, mas se é para termos um bem falante à frente da equipa, então contratemos o Professor Marcelo que é um gajo que fala como ninguém. Grunho ou não, para mim, não há qualquer dúvida: Jesus é o Senhor!

26/10/09

Atenção: Há Algo de Novo no Cinema Português, por Oliveira


Alguma coisa está a mudar no panorama recente do cinema português! Primeiro foi o excelente Aquele Querido Mês de Agosto, um filme brilhante de Miguel Gomes que estilhaça literalmente as fronteiras entre o documentário e a ficção. E agora é o Ainda Há Pastores? de Jorge Pelicano.
Retornando, como Miguel Gomes, ao epicentro do Portugal rural e profundo, Ainda Há Pastores? abre caminhos, na senda de Aquele Querido Mês de Agosto. Parece que estamos a dobrar uma geração de filmes de acção realizadospor portugas que se limitavam a seguir a cartilha das produções americanas (nada de novo, portanto!). Não é que eu tenha alguma coisa contra a Soraya Chaves de Call Girl ou contra a mesma senhora no Crime do Padre Amaro, não senhor, é evidente que não, Deus me livre... Mas já vimos aquilo com mais Sorayas, menos Basingers, mais Pfeiffers, menos Jolies. Os pastores da serra da estrela e os cromos das aldeias das Beiras que fazem deles próprios nos filmes do Pelicano e do Gomes,podems ser feios comá noite, mas também têm o seu lugar. Não há Sorayas nem Basingers que guardem ovelhas aos domingos e feriados com a categoria do Ramiro. Nem a Uma Thurman chega aos calcanhares da miúda de Arganil a dançar a música do Marante!

21/10/09

Vamos Eleger o Lambe Botas do Ano, por LBV


Nas minhas vagens pela blogosfera, reparei neste interessante concurso e fiquei curioso de saber quais seriam os 5 maiores lambe botas do ano para a malta do Porco. É verdade que o ano ainda não acabou, mas para já para já, os 5 maiores lambe botas do ano, para mim, são, do maior para o menor:
1º - miguel sousa tavares - bem destacado dos outros porque é um indivíduo que vendeu tudo ao actual poder político: a coerência, as convicções, os valores e a honestidade intelectual.
2º joão marcelino - este indivíduo é o que se pode chamar a voz do dono no seu máximo esplendor. Não conheço muita gente com este grau de lambe-botice...
3ºfátima prós e prós - apesar se ser muito, mas muito canininha, tem um programa semanal em horário nobre e possui o poder que daí advém. É tão medíocre quanto fiel ao sistema e ela é mesmo muito medíocre.
zé pedro - pela enorme decepção do seu comportamento. Fez a música do ingenheiro e a coisa estava a render e ele calado a cavalgar a onda... Mas quando percebeu que a a coisa estava a mudar, veio demarcar-se publicamente da letra.
o silva pereira - um lambe botas tão radical, mas tão radical que é quase um clone da bota que lambe...

E ainda duas menções desonrosas para:
o pedro abrunhosa - ex-contestário político que se atirou ao cavaco como uma fera e que no mandato do ingenheiro nem buliu; e o bettecourt resende que até chateia com aquela máscara de comentador imparcial ao serviço do poder ( a fazer lembrar outra lambe botas menor, o carlos magno).

20/10/09

Brian Ward-Perkins, A Queda de Roma e o Fim da Civilização, por M. Aurélio


Editado pela Aletheya (2005), este livro foi, para mim, uma espécie de introdução ao tipo de pensamento próprio de um arqueólogo. Trata-se, pois, de um registo muito diferente daquilo que são as minhas leituras padrão. E como é que pensa um arqueólogo?

Pensa, dando ênfase a pequenas coisas que passam aos outros mais ou menos despercebidas. Procura fazer falar as coisas - as ânforas, as casas, a cerâmica, as inscrições, as moedas, a economia (os bens de consumo, a alimentação, etc)... Partindo de vestígios arqueológicos dispersos pelo vasto império romano, Perkins contesta aquilo que considera ser a tese politicamente correcta conveniente ao actual status quo político defensor de uma unidade europeia. Esta tese defende uma integração de base entre bárbaros e romanos e, portanto,a noção de que as «invasões bárbaras» foram uma espécie de desenvolvimento do Império para novas formas sem rupturas substanciais.

Pelo contrário, recuperando o conceito proscrito de «civilização» (que deixa de entender como designação de superioridade de uma sociedade em relação a outras, mas como um grau maior de complexidade de uma sociedade – o caso romano), Perkins defende a posição segundo a qual a queda do Império correspondeu, de facto, a uma crise e ao fim de uma civilização. Embora tenha o cuidado de notar que a história do império do oriente foi diferente, Perkins sustenta que a queda do Império Romano foi uma mudança civilizacional e não um desenvolvimento em continuidade. Às vezes é bom que nos lembrem que a História deve ser escrita com objectividade mesmo que isso não convenha à propaganda mais conveniente ao regime. E, desse ponto de vista, o «pensamento arqueológico» pode ser uma verdadeira lição.

19/10/09

100? 50. 40? 20. 10? 5, por Joli Jumper


Sim, na Tunísia negoceia-se TUDO! Mais: lá negocia-se tudo de tudo... exemplos? A coisa começa assim:

"- Quanto custa?

- 100 dinares.

- O quê?! 1 dinar é o que isso vale!
- 90. Isto muito trabalho. Boa qualidade!
- Nem pensar. Muito obrigado. - e o turista vira costas para se ir embora.

Mal encarado o vendedor chama o turista e propõe com maus modos:
- Ok. 50 dinares e já estou a perder dinheiro! [Note-se a estupidez da coisa: os vendedores nunca perdem dinheiro, como é óbvio. Quando vêem que deixa de compensar simplesmente decidem não vender. Por isso esta lógica do vender uma coisa e dizer que está a perder dinheiro é fantástica... deve ser porque é um amigo nosso de infância que nos faz um preço especial, com certeza!]
- 10...
- 20!

E quando chega a este ponto há duas hipóteses:

a) O turista decide não comprar. O vendedor insulta-o, chama-lhe forreta, "português pobre", diz que "Portugal está na bancarrota" e que os portugueses são isto e mais aquilo...



b) O turista compra. Nesse caso o vendedor vende-lhe a mercadoria e depois insulta-o na mesma, chama-lhe forreta, "português pobre", diz que "Portugal está na bancarrota" e que os portugueses são isto e mais aquilo..."
E passamos a vida nisto. Mas quando digo que é para tudo é MESMO para tudo. E lá tudo pode ser vendido. Outro exemplo:

"Está um senhor a martelar numa coisa de ferro. Uma turista aproxima-se e pergunta:
- O que está a fazer com esse martelo? Parece giro...
- A gravar o nome numa pulseira. Quer uma pulseira com o seu nome em Árabe?
- Ah, não obrigada!
- Então a pulseira sem nome. Olhe é bonita!
- Não, a sério. Obrigada - diz a turista a tentar escapar-se.
- Mas veja mais coisas na loja! Compre! Olhe, aqui! - o vendedor deixa a peça que está a fazer e sai da loja atrás da turista, de martelo na mão - E o martelo? Compra o martelo! Bom preço, bom preço!"

Convencidos? Não?! Então vou contar-vos uma última para vos mostrar como é MESMO uma doença, este necessidade de regatear tudo...

"Estava eu na praia. Vem o animador do Hotel a gritar "Voleibol!!!". Levantei-me da toalha e fui jogar. Estava farto do convívio com tunisinos que passavam a vida a tentar enganar-me com estas negociações irritantes. Sim, queria um bom jogo de volei para descontrair. Com os turistas que não me iam tentar roubar.

Enganei-me. Faltavam dois jogadores e por isso tiveram de jogar dois tunisinos, um de cada equipa. A certa altura gera-se a confusão:
- 14/18. - diz um dos tunisinos.
- Não! Está 14/14!
- Nós temos 18!
- Mentiroso! Têm 14, estamos empatados!
- No máximo têm 15!
- No mínimo temos 17, aldrabão!
- 16, então?
- Combinado. 14/16!
- Ok. Podem jogar!

Não, não podiam. Ficou a faltar um jogador porque eu mal ouvi isto tive um ataque e só parei no mar, debaixo de água e sem ninguém a regatear à minha volta..."

13/10/09

Amália, por Jacinto


As comemorações geralmente chateiam-me. Mas no caso da actual comemoração dos não sei quantos anos da morte de Amália Rodrigues eu abro uma excepção. Graças a estas comemorações, os adoradores de Amália (entre os quais me incluo) podem ver na tv reposições de programas e gravações antigas da Diva, filmes, reedições da discografia oficial, enfim, um forró. Considero Amália Rodrigues uma das maiores personalidades artísticas de todos os tempos e, portanto, comemorações como esta vêm sempre a calhar a ainda sabem a pouco.

Penso, por vezes, nas razões do meu fascínio pela Amália. Não sei porque é que gosto tanto dela e se calhar nem quero saber. Sei que há algo naquela voz e naquela música que me atinge proundamente e isso chega. Acho que a Amália tem uma seriedade e uma gravidade muito especiais e a forma como poderei explicar melhor esse sentimento é uma recordação que tenho de criança:

Lembro-me, ou melhor, nunca me esqueci, de uma noite, era eu miúdo, em que a Amália foi cantar numa terra perto da minha. Eu não fui vê-la cantar (era mesmo muito miúdo) mas lembro-me da pessoas da minha terra a juntarem-se para irem ouvi-la. De repente, a praça central estava cheia de mulheres vestidas de preto, de lenços escuros à cabeça, gente que vinha da faina agrícola, que parecia ter saído de um outro tempo muito antigo. Também havia homens mas eu lembro-me sobretudo das mulheres pela gravidade das suas vestes.
Estas pessoas iam subindo para reboques de tratores e de camionetas agrícolas que partiam apinhadas. Todos queriam ver e ouvir a Amália, a grande cantora do povo! Mas o que eu retenho, ainda hoje, é que aquela gente não parecia ir para uma festa. As pessoas estavam sérias, graves, dir-se-ia que iam para uma missa ou para a celebração de um acto religioso. Parece que se preparavam para um ritual sagrado. o clima era muito diferente dessoutro que eu também conhecia e que era o ambiente das festas e dos arraiais aos quais nunca achei qualquer piada. Não havia euforia, nem alegria nem sequer tristeza: simplesmente um monumental sentimento de religiosidade. E era assim que os carros e os tratores apinhados de povo partiam para ver a Amália Rodrigues. Nunca esqueci aquele espectáculo e nem consigo imaginar o quão extraordinário seria assitir áquele concerto da Amália e do seu povo. Hoje, quando a ouço, é aquele mesmo sentimento dessa noite que reencontro na sua voz. E é por isso que eu gosto tanto da Amália Rodrigues.

12/10/09

O Partido do Isaltino, da Fátima, do Valentim, do Avelino e do Zé, por Batiti


Tenho muita pena que a fátinha felgueiras e o avelino torres não tenham sido eleitos nas últimas autárquicas. Deixo aqui os meus parabéns ao valentim de gondomar e ao isaltino da suíça pela recente eleição. Acho que eles têm um importante valor sociológico porque são o retrato fiel da miséria do país que somos.Eles fazem todos parte de um mesmo grande partido nacional e transversal, meio oculto mas real, ainda assim - eles, o isaltino, o valentim, o avelino, a fatinha e o maior de todos o socas. Sim, porque não percebo qual diferença que existe entre este último e os ilustres autarcas que citei. É certo que há uma diferença formal entre o socas e os outros - o facto do socas não ter sido acusado em sede de justiça por nenhum dos muitos caso em que está envolvido, ao contrário dos outros. Mas isso é pura forma. Do ponto de vista da análise dos factos que se conhecem qual a diferença entre toda esta gente? Não há. Nenhum deles deveria ter cara para se apresentar a uma eleição, quanto maisganhá-la...

Pasmo com as hipocrisias do comentador tavares da TVI que dava ontem os parabéns aos eleitores de Felgueiras e do Marco por não terem eleito nem a fatinha nem o avelino. E,inversamente,o tavares lamentava Gondomar e Oeiras... Mas alguém lhe ouviu o mesmo rigor, o mesmo sentido ético, a mesma exigência moral quando se tratou da recente eleição de zé socas?

05/10/09

Poluição Visual, por Uga Buga


Nos primórdios da indústria discográfica percebeu-se rapidamente que as capas que embalavam os discos podiam ajudar a vendê-los. As primeiras capas de discos seguiram o princípio mais básico e rudimentar do mundo: eram, simplesmente, os retratos com as fronhas dos artistas. Se fossem muito feios confiava-se na habilidade dos fotógrafos para fazerem parecer o feio bonito. Durante anos a arte do cover não passou de fotografias dos cantores. Era assim nos anos 50:


Mas mesmo nos revolucionários sixties este primitivismo continuou. Até os primeiros discos dos Beatles eram assim:




















Nisto, como em quase tudo, os Beatles foram pioneiros. Eles deram como poucos outros, muita atenção às capas dos discos e lançaram mesmo uma nova noção de arte do cover. As capas dos seus discos mais tardios, como Revolver, já eram assim:




















A identificação dos artistas ainda lá estava, como referência. Mas já havia um processo de transformação artística dessa identificação. Com a excepção do cover do excelente White Album, todos os restantes discos do Beatles mantêm essa característica: são sempre fotos deles mas transiguradas, trabalhadas artisticamnete. Isto de With the Beatles até Let it Be.

Até que se evoluiu para soluções que abdicavam completamente da referência icónica aos músicos. Os anos 70 já assinalam uma revolução nesta matéria. Os Pink Floyd, cujos covers ficaram a cargo da famosa empresa de Design Hipgnosis já faziam faziam capas como a de Dark Side of The Moon (1973), sem qualquer referência à figura dos artistas:


















Vem isto a propósito do atavismo que permanece na propaganda eleitoral, particularmente no nosso país. Os outdoors eleitorais estão na mesma fase em que estavam os primeiros discos. Os exemplos estão em todo o lado à nossa volta e, em matéria de autárquicas, o mau gosto é ainda mais atroz. Mas, melhores ou piores, os cartazes eleitorais cumprem todos, sem excepção, o mesmo princípio primário que o showbizz já ultrapassou desde os anos 60. Está para nascer uma nova geração, mais evoluída, de cartazes eleitorais - aguarda-se que surja o candidato que perceba que é possível vender sem ser chapando com a sua foto nas ventas dos eleitores (até porque alguns faziam bem era em mascarar-se):













No dia em que isso acontecer a propaganda política dará um salto qualitativo em frente e, com isso, a qualidade visual e da paisagem urbana e rural melhorará substancialmente. Pessoalmente não vejo o dia de me ver livre das fuças dos autarcas e dos políticos profissionais à minha volta em cartazes eleitorais terceiro mundistas.