23/12/11

Monika e O Desejo de Ingmar Bergman (1953), por Monteiro

Bergman joga aqui com a força da natureza bruta, perigosa e irracional, simbolizada por Monika por oposição à tendência de domesticação social, representada por Henrik, o seu noivo - princípio do prazer versus princípio da realidade (Freud).N A personagem de Monika tem também qualquer coisa de Nietzschiano – o filósofo alemão também via a mulher como símbolo desta dimensão telúrica e selvagem (tema retomado, com brilhantismo por outro cineasta nórdico, Lars Von Trier, em o Anti.Cristo). O jovem é seduzido por Monika e abandona toda a sua vida (trabalho, família, etc) para fugir com ela num barco e viver uma paixão que dura o tempo do verão.

Mas Monika engravida e eles acabam por voltar à cidade. Contudo, neste regresso à «vida real», Monika nunca se adapta às exigências da vida social e familiar e acaba por trair Henrik. A sua natureza indomável acaba por vencer. Monika é muito mais que uma história simples acerca dos encontros e desencontros entre um jovem casal – tem uma carga metafórica intensa e é uma reflexão sobre as tensões mais profundas do ser humano.

18/12/11

Coimbra Incrível, por S. Nicolau

O director da polícia municipal de coimbra enviou a vários funcionários um ficheiro com umas fotos com mulheres vistosas pouco vestidas e votos de «sexo incrível» para o ano novo. Posteriormente, após o chinfrim que se sucedeu na imprensa, alegou ter-se tratado de um falha técnica qualquer. Pode achar-se o envio de votos de «sexo incrível» uma coisa pouco natalícia, invulgar, inadequada ou, simplesmente, sincera.

Mas suspender o comandante por isto e abrir-lhe um processo disciplinar é de uma hipocrisia sem limites. Isto é coimbrinha, isto é vitoriano, isto é uma aberração completa! O presidente da câmara, João Paulo Barbosa de Melo, e a vereadora que tutela a PM justificam a sua decisão com o facto de a mensagem ter sido enviada para todos os funcionários, em horário de trabalho e através do e-mail de serviço!!! Santa hipocrisia! Vale tudo neste país e nesta cidade, onde todos os dias vemos e ouvimos coisas, essas sim, verdadeiramente pornográficas. Mas um simples desejo de sexo incrível chega para suspender um funcionário. Vamos longe, vamos e o que vale ao comandante da polícia municipal de coimbra é já não ser tempo do Santo Ofício - o homem ainda devia dar uma vistosa fogueira no famigerado Pátio da Lusa Atenas.

06/12/11

E Porque não as bifanas do Bigodes?, por Godo

O país, ou pelo menos a sua comunicação social, rejubila com o reconhecimento pela Unesco do fado Património Imaterial da Humanidade. Subitamente descobrem-se novos fadistas ao virar da esquina, o que até pode nem ser mau (depende dos fadistas). Mas pior, muito pior que a nova vaga de fadistas é a nova velha vaga de politicos e seus apêndices que se vêm agora orgulhar do meritório trabalho que tiveram para que a Unesco desse ao fado tão nobre título. Que seria do fado sem o António Costa, o inenarrável presidente da câmara de Lisboa, por exemplo? O homem toma-se pela própria Amália tão convencido está do seu imprescindível contributo para a causa. Pois eu tenho para mim que difícil, difícil seria que a Unesco não reconhecesse ao fado os seus indiscutíveis méritos. Era só que faltava.

Aliás, se analisarmos a lista das outras manifestações que foram reconhecidas como património imaterial da humanidade, concluímos, facilmente, que o fado está muito, mas mesmo muito acima da maioria delas. Mais: creio até que o fado, em tais companhias perde mais do que ganha, isto do ponto de vista estritamente cultural, que não comercial.

Eu não entendo, por exemplo, que a música mariachi do méxico seja minimamente comparável ao patamar estratosférico em que o fado se situa. Naquela lista da Unesco aparecem lá procissões não sei se da hungria se da república checa, práticas agrícolas do brasil e de áfrica e outras coisas que tais. Estão a brincar comigo? Fado e mariachis? O fado é património da humanidade como a música de Mozart e de Bach, como a bossa nova, como o tango, como o flamenco. Agora como os mariachis?

É por isso que eu acho que, do ponto de vista cultural o fado é aqui puxado para baixo e não para cima. E por isso não me espanta nada que já se esteja a preparar em Portugal a candidatura do, pasme-se, cante alentejano a Património Imaterial da Humanidade. A seguir virá o corridinho, o kuduro e ainda havemos de chegar a apresentar as candidaturas do bacalhau à zé do pipo ou da chanfana a património imaterial da humanidade. Bastaria um critério para distinguir o fado destas manifestações mais ou menos folclóricas: o fado (como o tango, a bossa nova ou a ópera) teve uma intérprete genial e imortal: a divina Amália! E sem um intérprete desta dimensão nenhuma manifestação cultural devia ser declarada património imaterial da humanidade.



05/12/11

O Nosso Fado, por Alfredo Rodrigues

- Pai, é verdade que corremos o risco de ter de sair do euro?
- È pois. Cada dia que passa, dizem os entendidos, há mais probabilidades.
- Mas se isso acontecer vamos perder montes de dinheiro, não é?
- Ah pois...
- Bolas... O que nos vale é o fado património da humanidade.
(Já nos estou a ver a pagar a conta do supermercado em discos do marceneiro e a receber o troco em singles da amália).

01/12/11

Coisas mesmo graves, por Unabomber


Esta ouvi-a eu e ninguém ma contou. Zapava alegremente quando apanho num canal um desses programas bolísticos onde três supostos experts ganham umas coroas a defenderem os seus clubes e a atacarem os rivais. Falava um tal de eduardo barroso (os barrosos são uma praga neste país e como são muitos eu confundo-os todos), médico já não sei de quê, que me habituei a apreciar pela patetice descomunal das suas intervenções:
- Sim é verdade que está mal incendiarem as bancadas do estádio da Luz, condeno estas atitudes e blá blá blá MAS... acontecerem coisas bem piores e ninguém fala delas, eu próprio vi no estádio um steward com um cachecol do Benfica!
Valha-me Deus... A patetice terá limites?