30/09/09

Há Sempre Lugar Para Mais Um, por Mini

Ontem, zapava eu calmamente, quando apanho na RTP-N em debate com os candidatos às eleições autárquicas de Coimbra. Por ali fiquei e eis que o candidato do PSD, Carlos Encarnação, começa a protestar com o moderador do debate pela forma como este estaria a conduzir o dito cujo.

- É que isto são quatro contra um (os candidatos do BE, do PC, do PS e o pina prata)...

Foi muito bem visto este protesto! Porque o moderador abespinhou-se e reagiu à patada. Resultado: em vez de ter quatro dos presentes contra ele,Encarnação conseguiu, ainda, somar mais um - o moderador do debate. Foi obra!

27/09/09

O Laranjeiro, O Rapaz Que Não Gosta de Bicicletas e o Buddha Bar, por Mangas


Ontem o final de tarde foi em casa do Rapaz Que Não Gosta de Bicicletas com direito a sessão dupla de futebóis: o Glorioso a dar mais uma chapa cinco, antecedido pelos outros, tripeirada e lagartagem a sangrarem à cabeçada, aquilo mais parecida cabidela de malandragem. Estava o Rapaz, eu e o Buddha Bar, essa instituição peregrina que abarca o perímetro de um sofá onde só as manápulas permanecem livres para chegar ao chouriço e ao frango assado, consoladinho estava ele da abada de não sei quantos holes-in-one no golf, aos de handicap consagrado. Às tantas a conversa foi dar às bicicletas. O Rapaz não gosta de ciclismo. Acha que aquilo tudo é uma compita entre laboratórios e anabolizantes. Nunca leu sobre os duelos míticos nos Pirenéus entre o Ocaña e o Merckx quando o Canibal limpava a amarela ao espanhol e nesse ano ainda ia ganhar a Vuelta ou o Giro. Nem ao rapaz nunca interessou aquela vitória lendária do Joaquim Agostinho, no Tour de 79, em pleno Alpe d`Huez, quando arrancou por ali acima sozinho até ao cimo deixando para trás homens como Bernard Hinault ou Joop Zoetmelk. Para o Rapaz, pedalar é um suplício em duas rodas e, selim, é uma memória traumática daquela tarde em que foi convidado por duas moçoilas trigueiras a dar uma volta pelo campo e apanhar amoras, mas desistiu a meio com o cu esfolado por falta de prática. Orgulhosamente, o Rapaz defende-se que tem um cuzinho sagrado e, até à data, nunca o deu por calejado.

Adiante, porque vai começar a jogar o Glorioso e, qual não é o meu espanto, lá está o Laranjeiro na defesa do Leixões! O Laranjeiro é um ódio de estimação com o qual embirro por devoção e que todos as épocas se cruza no meu caminho pelo menos duas vezes. É um tipo alto e magro, lívido, cabelinho aloirado entre o anjo de Botticelli e o rapazito hermafrodita que, com doçura cândida, nos quer cravar uma rifa para o baile da Associação. Como é muito alto e tem o cabedal de um ponto de exclamação, as pernitas são muito fininhas, muito delgadinhas, e mais parecem canivetes entortados porque descaem para dentro dos joelhos para baixo. Este paradoxo de chuteiras, contra o Glorioso, entrega-se ao jogo como uma carraça ferra os tomates de um cão. Entrega total! Ai vai ele, deixem-no ir porque ninguém o agarra! Ainda o Laranjeiro alinhava pelo Leiria já ele fazia aquele corredor todo pela esquerda como um fio-de-prumo escanzelado, sobe e desce, cruza e recupera, dá pau, dá cacetada, remata do meio da rua, volta a descer, olha já lá está atrás outra vez!, dasse!, não há quem lhe dê uma mocada nas tíbias e o arranque pela raiz! Ontem foi igual a si próprio, ora à esquerda, ora à direita, o aranhiço de perna longa não parava quieto, parecia um etíope albino às voltas na pista. Numa equipa de Zé Maneis, Zé Motas e outros carroceiros, Laranjeiro é, decididamente, uma flor rara, uma planta trepadeira que se agarra a qualquer solo e a qualquer obstáculo. Mas de nada lhe valeram a entrega e as pernas de alicate contra o Aimar e sus muchachos. Esperem pela segunda volta quando ele jogar em casa e vão ver o fôlego do rapaz.
Foi assim o nosso final de sábado. E só ficou completo com a chegada do Puto Pedro, cabelo ao vento, sorriso aberto, primeira época de seniores, já lhe tinha passado o cansaço de mais uma grande exibição a médio centro com o golo que deu o empate e prolongamento mesmo a acabar o jogo. Parabéns Puto Pedro! E tu és o único que percebes alguma coisa de bola.

Tatonas Contra Socas, por Frog

Durante esta campanha eleitoral, e até antes, eu defendi o seguinte princípio: o principal objectivo, nesta altura, é tirar o ingenheiro do poder e para correr com ele eu votava até no Tatonas.

Pois bem, quando formulei este meridiano princípio eu estava longe de pensar que o único candidato capaz de desalojar esta lapa do poder é a MFL. Repito: o voto no PSD é o único que pode fazer o socas ir de vela! Qualquer outro voto permite-lhe ganhar as eleições. Tão simples como isso. Eu preferia votar no BE, é verdade, mas terá que ficar para a próxima. Concentremo-nos no principal objectivo: é urgente desalojar o socas e o ps.

É por isso que vou ter que levar a sério meu princípio eleitoral. Manuela Ferreira Leite é o meu Tatonas e, por isso, voto PSD... Mesmo com a secreta impressão de que ela é ainda pior que o Tatonas - esse ganhava de caras estas eleições!

P.S. Para quem não o conheceu, o Tatonas é o segundo da foto a contar da esquerda, como diz a legenda.

24/09/09

Uma Campanha Envergonhada, por Guerreiro de Shaolin

Não acredito em sondagens, mas tenho a sensação de que a campanha eleitoral correu bem ao ingenheiro e mal à MFL. A responsabilidade é, do meu ponto de vista, mais demérito desta última e, globalmente, de toda a oposição do que do mérito do ingenheiro ( que se teve algum foi o de ser o fiel executor da enorme operação de marketing que o conseguiu transformar, aos olhos de milhares de pategos ingénuos, de animal feroz em cordeirinho angelical). Mas onde esteve, então, o grande erro da oposição em geral e de MFL em particular?

Simples. Na péssima opção estratégica de não abordarem o tema-chave da falta de ética e de idoneidade do ingenheiro. Seria discutir o homem? Ah pois era, mas é um homem que vamos eleger para ser primeiro ministro, não é um querubim.
Não entendo, simplesmente não entendo, como é que se decide branquear pelo silêncio todos os casos em que o ingenheiro está envolvido e dos quais nunca conseguiu dar explicações mais titubeantes que «campanhas negras», «cabalas» e afins. O ingenheiro entrou na campanha a medo: a sombra dos casos em que está envolvido deixavam-no nitidamente pouco à vontade no princípio da campanha. Mas vieram os debates e nenhum interlocutor levantou a mais leve dúvida que fosse sobre os referidos casos. Que acham os senhores estrategas da oposição que o povão pensou? Pois, que o homem estava ali, olhos nos olhos e ninguém o confrontava com o que importava. E socas ganhou confiança, satisfeito por verificar que os outros respeitam os seus próprios fantasmas. A oposição não percebeu que ao escolher esta inconcebível estratégia de pudor perdeu duas vezes: perdeu porque deixou os seus apoiantes, que estão convencidos da culpabilidade de socas, abandonados; e perdeu ao levar os indecisos a inclinarem-se para a inocência do cordeirinho que, afinal, nunca foi confrontado como devia.

Convém lembrar aqui que perguntar não ofende. O envolvimento do primeiro ministro em tantos casos justificava que, cem, mil, dez mil vezes se fosse necessário, ele fosse chamado a esclarecer:
- O modo como tirou a licenciatura na famigerada Independente;
- o Morais das 4-cadeiras-4;
- O caso fripó;
- O alegado envolvimento de familiares em negócios públicos como o licenciamento do fripó;
- A misteriosa tendência de familiares que resolvem emigrar para sítios tão estranhos como a China e Angola;
- O caso das pressões aos magistrados que investigam o caso fripó;
- A não demissão do indivíduo que fez essas pressões, o ilustre xuxialista lopes da mota;
- O caso da cova da beira;
- O caso das casinhas da Guarda-Covilhã;
- O caso da compra do apartamento de luxo por metade do preço;
- O caso do silenciamento do Jornal de Sexta, a principal oposição a sério, do ingenheiro.
- A perseguição e o processo ao blogger do Portugal Profundo (entretanto absolvido);
- O caso do processo por delito de opinião a um jornalista do DN (entretanto absolvido);

De repente, todos estes temas tornaram-se tabu e, estranhamente, a campanha eleitoral revelou-se mais pacífica para o ingenheiro do que o período anterior em que todos os dias estes temas eram debatidos. Isto é completamente absurdo - parece que o país inteiro é que deve explicações ao socas quando, afinal, é ao contrário. ele é que nos deve, a todos, explicações convincentes. Antes de discutir política, eu acho que era essencial que o ingenheiro esclarecesse, cabalmente, o seu envolvimento em tanto caso e cito apenas alguns e de um modo geral para não cansar ninguém com pormenores. Mas seria natural e até uma obrigação que alguém que se apresenta como candidato a primeiro ministro deste país fosse confrontado com tanta mixórdia. Depois o povo decidiria se um homem assim tem ou não condições de idoneidade para desempenhar o cargo. Mas a oposição, toda a oposição (!) achou que não, achou que devia deixar todas estas questões em banho maria, para serem esclarecidas sabe-se lá quando...

A situação faz lembrar a daqueles casais desavindos que têm um problema tão grave mas tão grave por resolver, que preferem não abordá-lo. Então passam os dias a falar de inanidades e de futilidades para não terem que mexer na ferida, no problema de fundo. Esta campanha eleitoral parece a mesma coisa: o tópico da credibilidade do ingenheiro é absloutamente decisivo. Mas como se optou por não se falar desse tema, soa tudo a falso e parece que estão todos a assobiar para o lado. É rara a ferida que sara sozinha - na maior parte dos casos, o que acontece, é que ela se agrava e infecta ainda mais!

23/09/09

Robertos, Por Robert Zimmerman

- Então pá, o que é que estás a fazer agora?
-Nem me fales disso. Sou professor...

- Pois, tiraste Filosofia, não foi?

- Isso. Durante anos dei Platão e Aristóteles, mas este ano colocaram-me nas Novas Oportunidades.

- Ah sim? E o que que é que ensinas nisso?

- Essa é boa. Entre outras coisas tenho que ensinar os gajos a fazer fantoches.

- Robertos?

-Pois, Robertos.

... Eis o esplendor máximo da educação socretina em Portugal. Séculos e séculos do pensmento humano condensados num curso de Filosofia de quatro anos, serviram, afinal, ao meu amigo e aos seus alunos das Novas Oportunidades para aprenderem a fazer... Robertos! Mal empregado Platão...

21/09/09

Quem quer ser Muçulmano?, por Buraq

Aquilo que mais nos separa, a nós, europeus de educação cristã, deles, tunisinos, muçulmanos, ainda assim moderados, é evidente. Trata-se da presença permanente, maçissa, obsessiva, totalitária da religião. Enquanto um europeu vive uma boa parte da sua vida como se a religião não existisse, um muçulmano não pode deixar de viver todas as horas e todos os minutos do seu quotidiano sem que a presença tremenda da sua religião se faça sentir. Aquilo está lá sempre, quando os homens se sentam numa esplanada, quando as mulheres tomam banho na praia com escanfandros protectores, na frieza das gentes, na comida e na bebida, na forma como vestem, em tudo... O Islão é uma religião do quotidiano, um sistema de regras e de prescrições impostas ao crente em todas as horas da sua existência. Não se pode ser muçulmano não praticante, é uma contradição nos termos. Ao contrário do Budismo e mesmo do Cristianismo que têm substracto filosófico, o Islamismo é filosoficamente pobre. Baseia-se na crença absoluta na palavra do profeta e na aceitação radical das suas normas de vida. Não convida a pensar mas a aceitar e a praticar. Nem o Budismo nem o Cristianismo são assim.

É pois esta presença de uma religião que não é como a nossa que sentimos como uma grande barreira invisível em países como a Tunísia. Seria impensável que um padre católico pregasse na nossa televisão - pública ou privada, tanto faz - todos os dias durante uma hora, das 19 às 20. Mas na Tunísia, das 19 às 20, um Imã risonho prega todos os dias aos fiéis no principal canal do país. Creio que é essa presença constante e absoluta da religião que faz dos árabes, de um modo geral, uma cultura hostil para nós. Senti, permanentemente em relação a mim, uma vaga arrogância daquela gente, do mais pobre ao mais rico com quem contactei. Dir-se-ia que tudo o que entendemos por cultura é, na melhor das hipóteses, irrelevante para eles.

O Islão assenta em cinco pilares, cinco obrigações que todo o muçulmano deverá cumprir. Imaginem como seriam diferentes os nossos dias se seguíssemos à letra tudo isto:
O primeiro - a conversão. Ser muçulmano é submeter-se a Alá, reconhecer que só há um Deus, Alá, e que Maomé é o seu profeta.
O segundo - a oração. Todo o crente deve rezar, prostrado na direcção de Meca, cinco vezes ao dia. A primeira oração começa às quatro da manhã! O ritual envolve ainda tarefas de purificação, como a higiene. Eu repito: rezar cinco vezes ao dia!
O terceiro - a esmola aos pobres.
O quarto - cumprir o Ramadão, que este ano, acabou hoje, precisamente. Durante um mês o bom muçulmano não pode comer, nem beber, nem ter relações sexuais desde o nascer até ao pôr do sol. Eu repito: durante um mês!
O quinto - a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida, desde que o crente tenha meios económicos e não tenha impedimentos de saúde graves.
... Deve ser complicado ser muçulmano... Mas há ainda, para alguns muçulmanos mais radicais, um sexto pilar, o mais tenebroso de todos: consagrar-se a Alá inteiramente mediante a prática da Jihad, isto é da Guerra Santa aos inimigos de Deus. E aqui, o salto que nos separa é, muitas vezes, mortal!

17/09/09

Os Discos da Minha Vida: Animals dos Pink Floyd, por Lunatic

Animals, dos Pink Floyd, é um álbum histórico para mim, quero dizer, faz parte da minha história pessoal. É por isso que o considero o melhor de todos os discos dos Pink Floyd, pelas razões mais fortes do mundo que são as razões pessoais, absolutamente subjectivas. Eu explico...

Animals saiu em 1977 em plena euforia do Rock Progressivo. Na altura eu era um miserável putarreco e a música que ouvia era apenas o lixo que passava na rádio e na TV, isto é, eu não ouvia realmente música. Mas nesse ano, em Dezembro, o mês do meu aniversário, o meu primo ofereceu-me a cassete do Animals dos Pink Floyd (sim eu ainda sou do tempo das cassetes). Foi uma verdadeira ruptura epistemológica! De repente pareceu-me obscena toda a piroseira que eu ouvia até então. Percebi que a música é muito mais que uma melodiazinha com um refrão engraçado. Dei atenção à versatilidade sonora daquela estranha cassete e fiquei espantado porque uma cassete inteira tinha apenas uma faixa ininterrupta com nomes tão estranhos como Pigs, Dogs, Sheeps, etc. Dei por mim a ouvir faixas instrumentais de dez minutos. Quando voltei a ver os meus amigos da altura que discutiam se o José Cid era melhor que o Paulo de Carvalho (!!!), compreendi que já tinha passado para outro universo. e nem lhes disse que agora tinha lá em casa uma cassete dos Pink Floyd que ouvia sem cessar.

Mas o Animals tinha vida. Em 1977, como disse, vivia-se a euforia do Rock Sinfónico. Mas pouco depois de receber a cassete do Animals, já não sei bem como, chegou-me ao deque velhinho que os meus pais me ofereceram duas outras cassetes que haviam de revolucionar ainda mais as minhas orientações estéticas. Eu não sabia o que era aquilo, o indivíduo que mas fez chegar só me disse que era rock «do bom». Só sei que aquelas duas novas cassetes me arrasaram completamente e que eram muito diferentes do Animals. Aquilo era rock do bom! Mais tarde vim a saber que aquelas cassetes eram, nem mais nem menos, o álbum Four dos Led Zeppellin e o crucial Love you Live dos Stones. Foi um novo corte epistemológico, desta vez com o Rock sinfónico que o Animals tão bem corporizava. Eu dava mais um salto na minha evolução musical.

Graças aos Stones e aos Zep eu iniciei-me nas magnas discussões sobre o futuro do Rock. Tive grandes discussões com o meu primo que continuava a ser um fanático do Rock Progressivo e até tinha no curriculum uma ida ao concerto dos Genesis em Cascais, a maior banda que alguma vez tinha tocado em Portugal. Vivi com entusiasmo a explosão do Punk e da New Wave e defendi furiosamente os argumentos segundo os quais as bandas de rock sinfónico como os Floyd estavam a assassinar o verdadeiro Rock and Roll. Na altura os Punks defendiam um back to basics como resposta aos excessos de virtuosismo e à erudição que tinham contaminado a música popular. Grupos como os Yes, os Genesis, os ELP, os Triunviratus ou os Kraftwerk eram acusados de estarem a desvitalizar o rock. Enaltecia-se o rock primitivo tocado por jovens adolescentes que sabiam quatro notas na guitarra, mas que tinham atitude certa em contraste com a parafernália instrumental e logística das super bandas; sublinhava-se o contraste entre os concertos Punk com a malta toda aos saltos e a atitude contemplativa dos velhos intelectuais do rock sinfónico que apreciavam os Yes com a mesma inércia com que os seus avós apreciavam Beethoven. Neste contexto a energia do Rock era muito melhor representada pelos Stones e pelos Led Zeppelin que pelos Genesis ou pelos Pink Floyd. De repente, o Animals tornou-se, para mim, um disco proscrito. Comprei uns jeans apertados e umas nike brancas e passei para o outro lado da barricada. Agora ouvia os It`s Alive dos Ramones. Definitivamente, eu renegara o Animals...

Felizmente o tempo tudo cura. E passados uns anos, quando se dissipou o efeito das discussões ideológicas entre os fãs do Punk e do rock mais duro e os do Rock Sinfónico, eu arranjei tranquilidade e paz de espírito para dar uma chance a Dark Side of the Moon no meu gira-discos (os gira discos tinham, entretanto, substituído os velhinhos deques). É claro que não fui capaz de dizer que o disco era mau. Embora contrariado, fui obrigado a reconhecer a genialidade dos Floyd, opinião que reforcei quando se deu a explosão do épico The Wall. O meu primo olhava então para mim com a sobranceria de um padre que acabava de converter um judeu.

E foi assim que voltei, de novo, a ouvir o primeiro disco a sério da minha vida, o disco que me fez começar a ouvir música: Animals dos Pink Floyd. Mesmo assim, a minha teimosia e a vaga sensação de traição ideológica ainda me assobravam: eu, um defensor dos Clash, dos Stranglers e dos Pistols, acabava, afinal, rendido à excelsa qualidade do Animals! Foram esses sentimentos que me impediram de comprar o disco durante muitos anos. Mas as músicas ficaram-me sempre na memória como uma recordação de um tesouro perdido. Só há uns anos mais tarde, enfim livre de preconceitos, é que acabei por comprar o Animals.

Agora tenho cá em casa toda a discografia dos Pink Floyd, claro. Gosto mais de uns e não gosto mesmo de alguns (como o Ummagumma, por exemplo, um verdadeiro delírio electrónico). Mas os três discos dos Floyd de que mais gosto são, adivinharam, o Dark Side of the Moon, o The Wall e, num cantinho especial, aquele que é, em certa medida, o mais importante disco da minha vida: o velhinho Animals que o meu primo me ofereceu, um dia, gravado numa cassete!

16/09/09

Vêm Aí Os Espanhóis!, por Papão


Vi o debate entre o socas e a MFL. Ouvi com atenção o que a senhora disse sobre o TGV. E o que ela disse foi isto, cito de memória:
- Sou contra o arranque do TGV nesta altura em que o país se encontra numa situação de endividamento. Quando estivermos melhores podemos voltar a esse projecto, neste momento não. Acho, portanto, que a opção do ingenheiro em arrancar já com o TGV é um erro que só prejudica o país. O único beneficiado, nesta altura, é a Espanha porque recebe mais dinheiro da UE se o TGV for transfronteiriço. Mas eu não estou aqui para defender os interesses de Espanha, mas de Portugal. Os únicos interesses que o sr ingenheiro defenderá se avançar com o TGV são os interesses espanhóis.
Isto foi o que ela defendeu.

Pasmei quando, logo no dia seguinte, ouço o socas, muito indignidado num comício, a avacalhar o que ela disse desta forma:
- Ela disse que nós estamos ao serviço de Espanha, acusa o governo de estar vendido a Espanha em vez de defender Portugal. Ninguém nos dá lições de patriotismo e jã não víamos ninguém agitar o fantasma dos espanhóis desde o fascismo, e isto é nacionalismo serôdio e estamos na UE e etc blá, blá, blá.
E no dia a seguir, Jóão Soares, que parece estar ainda mais chéché que o seu ilustre paizinho, até acusava MFL de, pasme-se, ter trabalhado no Banco Santander depois de ter saído do Governo!

Pergunto: mas tem comparação o que foi dito por MFL e esta tradução avacalhada que os xuxas querem à força inventar que ela disse? Não há estratégia argumentativa mais desonesta que vir-se dizer que o interlocutor disse o que nunca disse e passar o tempo a atacar o que ele nunca disse. Tal é o caso. E para quem tinha dúvidas sobre o carácter do socas, este episódio é mais um exemplo elucidativo. Afinal quem é que está a agitar o espantalho do anti-espanholismo e do nacionalismo serôdio?

P.S.- No meio disto tudo são também lamentáveis as declarações do ministro espanhol, penso que das obras públicas que veio fazer declarações contra MFL. Compreendo que um jornalista espanhol fale destas coisas - o El Pais até escreveu um editorial e tudo - mas um ministro do governo espanhol no activo devia ter um pouco de decoro e guardar as suas preocupações para depois das eleições. Assim trata-se, obviamente, de uma interferência na nossa campanha eleitoral, o que não fica nada bem a um elemento com a sua posição institucional.

14/09/09

A Arte de Regatear, por Buraq


Na Tunísia, como em todos os países árabes, fazer uma coisa tão
simples como uma compra pode ser o cabo dos trabalhos. Para um ocidental, essa operação não tem nada que saber: os preços estão marcados, temos dinheiro pagamos; não temos, pomo-nos na alheta. Mas nos países árabes não é assim. Tudo se negoceia, tudo se regateia. Os preços dos produtos não só não estão marcados, como são muito difíceis de descobrir. Geralmente é a última coisa de que se fala e, em regra, os vendedores pedem-nos entre cinco a dez vezes mais do que preço que estão dispostos a aceitar. Os Guias, como o American Express, dizem todos que isto é muito típico e que regatear é um jogo e uma experiência (cultural?) fascinante. Pois bem, eu não achei piadinha nenhuma!

Ainda me lembro de quando andava na baixa de Coimbra e os vendedores estavam à entrada das respectivas lojas a moerem-nos a cabeça para entrarmos. Aquilo era a melhor maneira de me fazer fugir a sete pés. Felizmente evoluímos e agora até nas lojinhas da baixa uma pessoa pode entrar sem ter melgas a morem-nos os miolos... Agora imaginem sítios onde a pressão dos vendedores é mil vezes pior do que a baixa coimbrinha dos meus velhos tempos. Na Tunísia as ruelas labirínticas das Medinas são muito apertadas e há lojas que são simples cubículos onde não cabem mais que duas pessoas. Nunca vi tanta gente em tão pouco espaço, berram, praguejam, discutem e, pior que tudo, agarram-nos e puxam-nos... No Ocidente chegámos à conclusão inversa - que é mais eficaz deixarmos o cliente à vontade, ainda que ele possa nada comprar. Nos nossos centros comerciais, nas nossas livrarias, nas nossas lojas podemos passar tardes inteiras a olhar e a mexer sem comprar absolutamente nada e ninguém nos chateia. Pelo contrário, na Tunísia há equipas de melgas a puxarem-nos e a matraquearem-nos a cabeça com parvoíces em série do tipo «Português - Cristiano Ronaldo - Batatas com bacalhau (!!!)»... Passear no meio daquela confusão não tem nada de agradável.

É claro que as Medinas não são todas iguais em todo o lado - se nas zonas turísticas aquilo é uma inferno, se em Tunes mal se consegue andar, já em Kayrouan, cidade santa do Islão, torna-se possível passear tranquilamente por entre os labirintos da cidade velha. O problema é que, descontando alguns aspectos típicos (como pequenas oficinas tradicionais de coisas tão estranhas como amoladores ou afiadores de facas), andar perdido no meio de um labirinto como aqueles não é, para mim, muito aliciante.

Mas, ok, vamos imaginar que até aguentamos isto tudo e mostramos interesse por um produto, vá lá, uma camisa com o crocodilo da Lacoste ao contrário ou uma t-shirt Galvin Klein. Aí chega o pior. É que depois de se desfazer em simpatias e de eleger a qualidade genuína dos seus produtos, o vendedor diz o seu preço que, invariavelmente, nos faz desmanchar a rir. Começa por pedir um preço absurdo e quando cumprimos a nossa parte neste ritual e baixamos o mesmo para 5 vezes menos, o indivíduo lança-se num chorrilho de lamentações, deita as mãos à cabeça, diz-se insultado e, não raramente, entra no insulto pessoal. Tudo isto é uma inconcebível perda de tempo - que saudades que eu tive dos preços tabelados do Ocidente, as oportunidades que eu desperdicei só porque não tive a pachorra de perder a tarde a regatear.

Mas o pior é que os vendedores, não tão excepcionalmente como se possa pensar, insultam-nos mesmo quando não estamos dispostos a pagar as exorbitâncias que eles acham que a contrafacção merece. Que somos uns avarentos, uns racistas e uns exploradores porque na nossa terra pagamos ainda mais pelos «mesmos» produtos; que somos uns mal vestidos que usamos roupa pior do que a que pretendemos adquirir, uns bandidos, etc,etc, etc... Mas quando lhes viramos as costas correm atrás de nós com a mercadoria, a berrarem que aceitam o nosso preço, mas depois já não é bem assim, já é um pouco mais, fónix, mas isto tem piada? Cheguei a enervar-me com um parvo porque achei que ele estava a passar das marcas. Se no meu país me dissessem metade do que ouvi na Tunísia nesta provação de regatear preços, garanto-vos que não só não comprava o que quer que fosse, como era bem capaz de me passar da carola. Mas enfim, estava a jogar fora da casa, um gajo controla-se e prontos...

Escolhi para ler nestas férias na Tunísia, muito a propósito, um dos últimos livros de John Updike intitulado O Terrorista. O livro conta a história de um jovem muçulmano americano que se embrenha nos meandros do fundamentalismo e decide levar a sério a Jihad. A páginas tantas, Updike, fala-nos de um comerciante líbio, emigrante na América que encontrou nos EUA o país ideal para viver, em contraste com a sua terra de origem. Chamou-me a atenção o discurso deste personagem a propósito desta tipicidade árabe de regatear os preços. Imaginem o efeito destas palavras numa pessoa que vivia directamente este inferno de regatear preços com gente tão agressiva:

«(Nos EUA) se temos uma coisa boa para vender, as pessoas compram. Se temos um emprego para oferecer, há quem apareça para o aceitar. Tudo é claro, à superfície. No Velho Mundo (isto é, no Mundo Árabe)pensamos em pôr os preços altos para depois os regatearmos. Mas ninguém compreende. (Nos EUA) até um pobre Zanj que entra para comprar um sofá ou um cadeirão paga o preço da etiqueta tal qual como na mercearia. Mas vêm poucos. Compreendemos e pomos os preços que esperávamos obter mais baixos e vêm mais. Este país é honesto e simpático.»

Não é que eu veja o mundo a preto e branco, mas nesta coisa da clareza também me parece, como ao emigrante líbio do Updike, que vamos uns séculos à frente dos àrabes. Ou então sou eu que sou um Infiel do camandro, que sei eu...

12/09/09

Frei Tomás, por Peripatético


Acabei de ver o debate socas/Ferreira Leite. O socas tentou passar a ideia de que o ps é a esquerda porque representa a garantia da manutenção do serviço público na segurança social, na saúde, na educação (isto apesar de ser líder do governo que mais atacou o estado social desde o 25 de Abril)... Tenta passar a ideia de que Ferreira Leite quer privatizar todos esses sectores, apesar da senhora dizer com firmeza e explicar que NÃO, NÃO QUER PRIVATIZAR A SAÚDE, A SEGURANÇA SOCIAL, A EDUCAÇÃO!

Socas é uma simples marioneta das equipas de propaganda que contrata. Este homem não tem espessura, é oco, de fancaria: o seu «pensamento» resume-se a matraquear dicotomias simples, fáceis de decorar pelas massas,neste caso, direita = privatização/esquerda (quem, ele?)= serviço público. O esquema não pegou no debate, mas convém saber, digo eu,quais as escolas em que socas e ferreira leite educaram os seus filhos. Vai-se a ver e,pois, é giro... Ferreira Leite educou os seus filhos no público; os do cokas, perdão do socas frequentaram e frequentam o... Colégio Alemão, o mais caro e chique do sítio. Bem prega frei Tomás...

Post scriptum - nota positiva para Clara de Sousa, isenta e correcta, sem se preocupar com a delicada sensibilidade de virgem ofendida do sr. socas. Depois do deploráveis exemplos da gaja do Prós e Prós cujo nome nem fixei e da judite de sousa nestes debates eleitorais, um pouco de isenção soube bem, para variar. Mas se o mokas, perdão, o socas, ganha as eleições a Clara que se cuide...

10/09/09

Requiem. Ni



Foste embora. Sem avisar. Sem te avisarem. Deixaste o teu olhar em falta pelas janelas que sonhaste transpor num sonho sempre adiado. A vida foi demasiado pequena para ti. E tu, outrora sorridente, sempre tímida, alheia a todas as guerras, não quiseste perdurar na penumbra dos dias sem sentido, numa luta que não percebeste qual a vitória. Deixaste um vazio cheio de recordações. De imagens. De sentimentos. Que não chegaram a ser vividos, mas pensados, planeados, adiados. O medo de viver foi sufocado por um existir sobrevivido. Merecias mais. Muito mais. As palavras traem e desvirtuam o sopro do sentir. Ficou uma angústia por explicar. Uma vida por respirar. Um desejo por cumprir. Não sei onde estás. Mas sei que, seja onde for, estarás feliz. Necessariamente. Para poder acreditar que há um sentido…

06/09/09

Glass Ceiling, por G.


Não se conhece nada de um país quando não se conhece, pelo menos, uma ou duas pessoas, quando não as ouvimos falar e rir, quando não partilhamos com elas diferenças e semelhanças na forma de dizer, de fazer e de pensar, quando não deixamos com elas algo de nosso e não trazemos esse pouco da essência de outro país que estão dispostas a dar.
Por isso, não conheço a Tunísia. Só sei do que vi. A estes rostos, tão bonitos, olhei como quem olha paisagens. De diferente só o facto de ter pedido licença para os fotografar.

04/09/09

Ligados à Máquina, por Dr House


Hoje, em Portugal, já não se discute política. As pessoas pensam que sim, mas não. O mais importante já não é a discussão acerca das políticas do governo nas várias áreas - que, pessoalmente, acho calamitosas. Nem se trata de saber quel o melhor partido para dirigir Portugal...

Antes disso, a questão é, simplesmente, anterior a isso. Numa democracia saudável, sim, discute-se se este ou aquele partido apresenta um programa melhor ou pior que aqueloutro, se esta equipa partidária tem quadros melhor ou pior qualificados, se este líder está mais preparado que outro, as diferenças ideológicas... Isso é o normal. Só que Portugal não é uma democracia saudável.É por isso que em Portugal a questão prévia não chega a ser política: é um problema de falta de credibilidade pessoal e moral de um líder, o actual primeiro ministro, para se manter em funções.

Em qualquer democracia normal, um líder que carregasse às costas tantos casos como o freeport, a licenciatura marada, o caso do apartamento de luxo comprado a preço módico, o caso cova da beira, o caso dos projectos Guarda/Covilhã, a «famiglia» mencionada como estando envolvida num caso de licenciamento público de um projecto privado - o freeport -, o primo de shaolin, o novo primo que também não está no país e é citado como intermediário no caso freeport, o escandaloso silenciamento da redacção da TVI, ufff, etc, etc, etc, tudo isto é demais e só fiz uma pequena selecção assim de memória...

Não se trata de política, trata-se em primeiro lugar de um padrão: são casos a mais para uma só pessoa, que não podem ser pura e simples propaganda da oposição. Trata-se de lodo a mais! Encarados com um mínimo de seriedade, todos estes casos só podem levar a uma conclusão: socas não tem condições para continuar a governar, quanto mais para vencer ou sequer apresentar-se a eleições. Socas é, no mínimo, suspeito em demasiados casos nunca cabalmente esclarecidos e isso devia ser mais que suficiente para que se demitisse ou fosse obrigado a tal.

Uma sociedade que permite, sem se indignar, que um indivíduo ligado a tanto caso, continue no poder, é uma sociedade que está doente. Doente de fraqueza, sem energia, sem cojones, como diriam nuestros hermanos. Acho espantoso como é que ainda não se deu neste país um movimento de impeachment. Num país evoluído há muito que socas estava no olho da rua. Mas aqui as pessoas continuam a espantar-me com os argumentos acéfalos e desesperados com que continuam a defendê-lo. «Mas o homem não fez nada de bom?» Claro que sim. Até Hitler e Mussolini fizeram algumas coisas boas. É só isso que esperamos de um político - que faça «alguma coisa de bom» em quatro anos, seja lá o que for e quanto ao resto, vale tudo porque «todos fazem»? Como é que os portugueses não se indignam? Não compreendo quando me dizem «mas os políticos são todos assim» sem sequer concretizarem, sem sequer perceberem que não houve nunca neste país um político com tanto caso suspeito às costas.

A apatia com que a sociedade portuguesa reage a tudo isto é mais grave que os factos em si. É o sintoma de uma doença, de uma doença terrível da nossa sociedade - a da degenerescência da consciência cívica. Estamos doentes, não temos o mínimo grau de exigência perante aqueles que nos governam. E, o que é mais grave, ainda não percebemos que a maior falta de respeito que a nossa indiferença encerra não é para com os outros: é para connosco próprios.

03/09/09

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO POLVO, por Merdaíl

Já toda a gente sabia que aquilo não podia perdurar. O Jornal Nacional e a Manuela Moura Guedes eram um incómodo, um espinho atravessado na garganta do poder xuxa e em especial do querubim que nos desgoverna.

Ninguém tem dúvidas que a Prisa, dona da TVI e amásia do governo espanhol e do Zapatero, procurou agradar agora ao poder. Já o tinha feito com as pressões para a saída do José Eduardo Moniz e agora fez o servicinho final.

É engraçado que o querubim há dias tinha finalmente cedido à realização de debates com todos, mas comunicou que se recusava a ir à TVI, alias na senda da sanha da abertura do Congresso Xuxa. Acontece que ontem lá estava o querubim a debater com o paulinho das feiras na TVI.

O que é que mudou entretanto para que a administração da TVI tivesse dado a volta ao querubim? O que é foi concedido ao querubim pela administração da TVI para que o homem entrasse e se sentasse em tão nefanda casa?

Ao que parece o Jornal Nacional de amanhã iria abrir com mais uma peça jornalística sobre o querubim e o freeport. Já não vai. A administração proibiu e a Manuela Moura Guedes e a sua equipa demitiram-se em bloco. O Vasco Pulido Valente rescindiu a colaboração com a TVI. E amanhã lá teremos os amanhãs que cantam na TVI, como na RTP e na SIC. Há polvo na costa.

E importa sublinhar que o Freeport deu um salto de gigante há poucos dias. O Sr Dr Carlos Guerra, amiguinho e subordinado do querubim tinha 200.000 na sua conta bancária, recebidos por transferência de outras contas e outros arguidos do Freeport e na altura do licenciamento da coisa. Este é um dos aparatchiks do querubim que andaram pelas tvs a justificar a injustificável bondade da coisa.

Acho que vou ali ao Zé Manel dos Ossos tentar comer um polvo areado para desenfastiar.

02/09/09

Korbous, por Buraq


De Lisboa à Tunísia são apenas duas horas e meia de voo. Mas é impressionante como um sítio tão próximo geograficamente seja, ao mesmo tempo, tão distante culturalmente. Da Palermo a Cap Bon vai-se de ferry boat; de Barcelona a Tunes é uma hora de avião. E, no entanto, a tunísia é, para nós, um mundo insomensuravelmente tão distante...

Viajar para a Tunísia é viajar para outra civilização, é fazer uma mudança cultural, apesar de demorarmos o dobro do tempo a chegarmos de carro ao Algarve, se sairmos de Coimbra. O Brasil fica a cerca de 10 horas de voo de Lisboa; e no entanto sentimo-nos em casa, está logo ali, em termos culturais...

Sim, bem sei que há países muçulmanos muito mais duros, portanto, muito mais distantes de nós, culturalmente. A Tunísia é até apontada - juntamente com Marrocos - como o país mais moderado e ocidentalizado do Magreb. Os próprios Tunisinos estão sempre a dizer que são gente calma e que os argelinos e os líbios, esses sim, é que são agressivos e nervosos. Mas, mesmo assim, sente-se e não é pouco, a mudança de registo e o impacto do abismo civilizacional.

Pode ser que eu volte ao tema, um destes dias. Por agora deixo-vos com esta foto de um lugar fantástico chamado Korbous, situado na província de Cap Bon. Desce-se da montanha com paisagens rochosas mediterrânicas de cortar a respiração, a água azul, a brilhar lá ao fundo das falésias, e chega-se a Korbous. É um lugar famoso entre os nativos pelas qualidades termais das suas águas. Sentimos logo, ainda longe, um cheiro intenso a enxofre, porque a este sítio vai desaguar uma nascente da montanha de águas quentes. Os nativos, gente humilde, muitos com o típico «bronzeado à pedreiro», acotovelam--se para se apinharem no sítio mais próximo da cascata de águas ferventes milagrosas. Há centenas de pessoas e uma vaca a paseear na estrada, como na ìndia. Estilhaços de polvo esvoçam por todo o lado (os nativos estão constantemente a apanhar polvos que estilhaçam contra os rochedos).
Experimento mergulhar ao pé daquela multidão dos homens e das poucas mulheres que se banham com os seus púdicos fatos islâmicos. A sensação é excelente, à medida que me afasto a temperatura da água vai esfriando, junto às cascatas é quase fervente. É interessante: para os padrões ocidentais Korbous pode parecer um lugar ascoroso. «Que nojo! Isto é uma porcaria», diz o R. Mas eu não acho. Não sinto nojo nenhum naquele sítio, a água quente vem de uma nascente na montanha, o cheiro intenso é do enxofre e não de esgotos a céu aberto, como na Figueira da Foz, e o mar é azul, límpido e infinito. O que será mais nojento - Korbous, a da foto, ou uma piscina de hotel, tratada a baldes de cloro e povoada de hordas de ingleses vermelhos do sol a suarem em bica?

01/09/09

Tesourinho Deprimente, por Microfone Desgraçado

É uma verdadeira vergonha: aquela senhora, uma Judite de Sousa, estendeu a passadeira vermelha ao outro senhor José Sócrates. E de forma descarada. À vista de toda a gente.

Passeou a sua ignorância, permitiu todas as lides que o senhor quis fazer, deu-lhe tempo de antena.

Denotou uma ignorância profunda acerca dos temas que, supostamente, deveria ter preparado para, no mínimo poder perceber o que poderia e deveria perguntar, questionar, problematizar.

É acintoso para quem assistiu.

Um sorriso permanente de aquiescência, um dobrar de espinha, uma vassalagem sem igual!

Perguntas incómodas? Perigoso… questionar o que o senhor dizia? É melhor não. Saber o que podia (e devia) contrapor? Hum, para quê, estou aqui tão sossegadita…

É uma ofensa para os verdadeiros jornalistas terem de assistir a esta coisa.

Perante esta oferta de inanidades, obviamente que o outro senhor disse o que quis, o que lhe apeteceu, o que se lembrou, o que lhe passou pela cabeça.

Chegou a ser patético apreciar aqueles momentos em que a dita jornalista deveria colocar questões e, ficando calada, o senhor teve que continuar a ladainha porque do outro lado era o vazio.

O que o senhor proferiu, bom, o “tá a gravar” tem momentos mais sérios e honestos. Vejam lá que até apelidou de “patriótico” o que fez pelo país, qual Liedson, o mais recente “herói do mar”.

A coisa promete…