27/01/12

... Eagora uma coisa que eu, que não vejo um boi de bola, ando a dizer há, pelo menos, 10 reais-barças atrás, por Nacho

Para variar o Real Madrid lá foi eliminado pelo Barcelona, desta vez da Taça do Rei. A imprensa portuguesa celebrou como se tivesse sido uma vitória que não foi. Li comentários e ouvi um pretenso expert em bola na TV, durante o jogo, a classificar a exibição do Real em Barcelona, como, passo a citar, «grande demonstração de coragem de zé mourinho capaz de jogar ao ataque em camp nou» e como «exemplo de genialidade tática» e outros encómios que tais. A habitual mitomania tuga quando se trata de falar do «zé».



É verdade que, pela primeira vez na era mourinho o real madrid jogou ao ataque em camp nou. Mas, ainda assim, porque estava obrigado a marcar pelo menos dois golos para passar a eliminatória. Não percebem os mourinhistas que a mesma lógica perversa que os leva a elogiar a tática taco a taco do real neste jogo, obriga-os a classificar as táticas ultra-defensivas utilizadas por mourinho nos jogos anteriores como burrices táticas. Mourinho defrontou o Barça 10 vezes pelo Real. Dessas 10 vezes, ganhou uma, empatou 4 e perdeu 5. O score é arrasador em números marcados e sofridos (só de uma vez foram 5-0), em posse de bola, em tudo... No entanto o grande mou, o génio das táticas precisou de 9-jogos-9 para concluir o que eu e mais uns milhões de zés ninguéns táticos concluímos ao fim de 2-3 jogos, ou seja, que o real tem jogadores de altíssimo nível que podem e devem, perfeitamente, jogar ao ataque contra o barcelona. Mourinho descobriu ao fim de 9 jogos que é possível e até desejável jogar sem subserviências perante o barça( se é que descobriu uma vez que foi a circunstância desesperada de precisar de marcar em nou camp que o levou a jogar assim)! Se isto é ser «genial» e «corajoso», vou ali e já venho... E se esta legião de admiradores do «zé» classifica de «brilhante» o sistema tático e a estratégia usada por mou no último real-barça. pergunto: então como os classificam nos 9 jogos anteriores?

25/01/12

De Certeza que Já Corremos com o Socratismo?, por Bruxo

Todas as quartas, mais ou menos pelas 9 45, eu ouvia religiosamente a crónica do Pedro Rosa Mendes na Antena 1. Na semana passada ouvi-o falar sobre um programa de propaganda que passou na RTP 1 subordinado ao demagógico tema do reencontro entre Portugal e Angola. O tal programa foi uma verdadeira operação de lavagem do regime angolano que contou com a conivência dos representantes do governo português. A «coisa» foi conduzida por essa inominável criatura que se diz jornalista, por esse monumento à subserviência que é a fátima não sei quê. Trata-se de uma sobrevivente, como se reconhece: sobreviveu a santana e a seis anos de socratinismo e está lançada para sobreviver a relvas.

A crónica de Pedro Rosa Mendes foi dura. Mas ele disse a verdade, disse as verdades que todos sabem mas que é melhor não serem ditas. Como é que é possível um reencontro entre portugal e angola sem a presença de Rafael Marques, por exemplo, pergunta PRM? Como é que é possível que a questão da corrupção em angola não seja, sequer, aflorada por aquela indigente «jornalista»? PRM tocou nas feridas. E mal ouvi aquela crónica, na semana passada, juro que pensei para mim: tás lixado, não vais sobreviver a isto. Não, claro, porque pensasse que PRM merecesse ser despedido, pelo contrário. Mas porque já sei do que que a casa gasta.

E assim foi. Esta semana caiu que nem uma bomba a notícia de que a crónica de PRM havia sido suspensa. Bem podem agora os responsáveis vir dizer que é só coincidência, que já estava programado. À mulher de César... Impossível acreditar que não houve aqui influência política. E assim assistimos ao primeiro gravíssimo acto de censura deste governo - vindo dos mesmos protagonistas que tanto criticaram a notória «asfixia democrática» levada a cabo pelo socratismo. Pergunta-se: qual a diferença entre isto e o caso moura guedes?

Este governo foi eleito com promessas de que ia sarar algumas doenças do regime - censurou os jobs para a boyzada xuxa; e eis que se dá o escândalo das nomeações da EDP, das Águas e não sei que mais. Censurou a asfixia democrática do socretinismo - e eis que se dá este caso PRM. Prometeu que privatizava essa extravagante monstro de propaganda que é a RTP mas prefere, antes, cortar na educação, na saúde ou nos direitos laborais. Dificilmente um governo poderá fazer pior que o ininputável sócrates e a sua rede de xuxas. Mas, pelos vistos, ainda há quem tente.

Hoje PRM leu a sua última crónica aos microfones da antena 1. Foi a melhor de todas, certeira no seu diagnóstico ao caracterizar o Portugal pseudo-democrático de hoje como uma «uma cultura mesquinha». «Quase sempre, diz PRM, não há ninguém que diga aquilo que todos sabem, mas que todos devem calar. Uma terra onde, finalmente, se instalou o medo e uma noção puramente alimentar da dignidade individual. Traduza-se: ‘está caladinho, para guardares o trabalhinho’.» Eis, em poucas palavras, o retrato fiel do portugal dos pequeninos em todo o seu esplendor!

24/01/12

Para que é que Precisamos de um Presidente da República? , por MonArca


Depois da última inqualificável afirmação de Cavaco e Silva acerca do tamanho xxs da sua reforma, a pergunta urge: afinal, para que raio queremos nós um presidente da república? Não seria melhor acabar com esse órgão de brincadeira que não tem qualquer função útil e que nos custa uns milhões de euros tão necessários noutras coisas mais importantes? Eu creio que sim.

Extinga-se o cargo até porque não é só o cavaco quem veio dar má fama a esta obsolescência cara. Soares e a sua versão de presidência da república monárquica viajando e curtindo por todos os cantos do mundo e acima de todos, o inenarrável sampaio, um verdadeiro monumento ao vazio com as suas nefandas extensões familiares e filais, contribuiram para esvaziar de sentido o cargo de presidente da república. Cavaco é só mais um, nem sequer o pior se comparado com sampaio, o chocho.

A presidência da república em versão portuguesa não faz sentido nenhum, é só mais um sorvedouro de dinheiros públicos. «Magistratura de influência»? Tenham dó... Das duas uma: ou bem que optamos por um regime presidencialista ou parlamentarista. O caso português não é uma coisa nem outra, é um híbrido que mantém a figura do presidente mas como se fosse um rei e, portanto, uma mera figura decorativa. A democracia em portugal não funciona , de qualquer maneira; mas do que menos precisa é destes jarrões ming como os soares, os cavacos e os sampaios que só servem para nos ir ao bolso. Para isso mais valia um monarca que sempre tinha mais pinta. Presidente da república portuguesa? Extingam-no, já!

18/01/12

A Propósito de Uma Conversa Natalícia, por Cavaleiro da Triste Figura


«Se alguma mulher formosa vier a pedir-te justiça, afasta os olhos das suas lágrimas e os teus ouvidos dos seus gemidos, e considera serenamente a substância do que pede, se não queres que se afogue a tua razão no seu pranto e a tua bondade nos seus suspiros».
Miguel de Cervantes, D. Quixote de La Mancha

17/01/12

More Doctors Smoke Camels Than Any Other Cigarrette, por Martini Girl

Como seria se classes profissionais prestigiadas, como a dos médicos, pudessem livremente fazer anúncios? Se o melhor cardiologista português pudesse aparecer na TV a aconselhar esta ou aquela marca de medicamentos ou de cosméticos? Possivelmente os médicos - pelo menos os mais qualificados - deixariam de ter necessidade de exercer medicina. Ganhariam muito mais a fazer publicidade. Mas o seu código deontológico impede-os de tal coisa.

Só que a astúcia das agências publicitárias não se deixa desarmar. São conhecidos os anúncios em que aparecem actores de bata branca e estetoscópio a aconselharem o medicamento xpto. E há exemplos muito mais engenhosos: este anúncio antigo ao tabaco Camel é um bom exemplo. «Há mais médicos a fumar Camels do que qualquer outro cigarro!». Torcido não é?

12/01/12

Declaração de Pedreirada, Já!, por Talocha

Mais uma vez (para aí a centésima só nos últimos anos) veio a público um episódio revelador da intolerável promiscuidade entre a maçonaria e a política. Nem sequer espanta. Espantoso sim é que a habitual tropa de pseudo-veneráveis figuras maçónicas venha, mais uma vez, defender o indefensável sem, pelo menos, corar de vergonha. Mário soares, o poeta alegre, o grão arnaut e mais uma catrefada de impolutos maçons, sempre que rebenta mais um escândalo, lá aparecem nos media para proclamarem a sua justa indignação. A liberdade, a igualdade, a fraternidade, os nobres ideias da irmandade, blá, blá, blá... Poupem-nos: a actual maçonaria (ou maçonarias, tantas as lojas existentes) faria o próprio Mozart aderir à Opus Dei.

E porque razão há-de esta gente teimar no secretismo? Ainda se vivêssemos em ditadura.... Mas não são alguns destes pseudo-veneráveis senhores, alegadamente, os próprios fundadores da democracia portuguesa? É este o entendimento que têm da «sociedade transparente»? Entendamo-nos: não se pode defender a transparência da democracia à segunda para, à terça e à quarta, vir bater-se pela legitimidade de lobbies secretos. De resto é, para mim, muito claro porque é que esta gente teima no secretismo: precisamente para que não possamos traçar o mapa negro da sua influência. Devia ser lindo se pudéssemos comprovar publicamente a geografia dos negócios, das nomeações e das influências. Chegaríamos à conclusão de que a maçonaria é um verdadeiro estado dentro do estado, o que aliás já se sabe mesmo mantendo-se o secretismo da coisa.

Afinal estes senhores são lerdos ou fazem-se? Mas quais ideiais? Aquilo não passa de uma organização secreta destinada à prática do tráfico de influência. Aquilo serve para impor sobre o mérito a cunha e a influência oculta(porque é que entre dois professores universitários aquele que consegue ser catedrático é, precisamente, o mais incompetente? Porque usa avental). Aquilo serve para negociatas. Aquilo serve para distribuir benesses e poderes pelos «irmãos», aquilo é uma forma de exercício de poder oculto intolerável em democracia. Não que a maçonaria devesse ser proibida, claro que não. Mas é o mínimo dos mínimos que os seus membros sejam obrigados a fazer uma declaração de pertença ao lobbie sempre que sejam candidatos a cargos públicos de relevo.

Têm direito à privacidade? Mas isto não é privacidade nenhuma. É lobbing. Mais direito temos nós, como cidadãos de conhecer as dependências e fidelidades políticas e interesseiras daqueles que é suposto elegermos. É que isto já nem se pode debater, sequer, no estrito plano dos princípios. Não. A proliferação de escândalos, muitos do foro criminal, foi tanta nos últimos anos que o caso já se tornou uma exigência de sanidade pública. Se mais evidências do carácter nefando e pouco respeitável da coisa não houvesse, uma bastaria: as acusações que as diferentes lojas e dissidências da seita troca entre si. Se são os próprios «irmãos» a vilipendiarem-se uns aos outros, como podem os pseudo-veneráveis do costume vir convencer-nos da inanidade da maçonaria? Como podem convencer-se a si próprios?

10/01/12

O Deus da Carnificina, por Antropófago

Ontem fui ao cinema. Mas não vou falar do filme. Este post é mesmo sobre a minha ida ao cinema e não sobre o último excelente filme de Roman Polanski, o notável O Deus da Carnificina.

Segundo informação oficial o filme começa às 21 20. Como já conheço os hábitos da casa cheguei às 21 15 à bilheteira. A bicha não era muito grande, despachar-se-ia facilmente em dois minutos se fosse realmente uma simples fila para comprar bilhetes. Mas não. Acontece que aquilo é, na verdade, uma bicha do Só Peso disfarçada de bicha para o cinema. Raramente aparece um cliente que deseje comprar apenas um bilhete de cinema – a maior parte compra baldes de coca-colas, barris de picocas com manteiga, açúcar, sal e frutos secos. Há até menus especiais como nos restaurantes de fast food. À minha frente um casal de gordos descomunais pagou vinte e tal euros para se empaturrar de porcarias. Podiam ter ido ao Porcão, mas preferiram o cinema…

Enfim, depois de várias pesagens de comida e de perguntas cinéfilas do estilo «deseja as pipocas com sal ou com açúcar?» lá chegou a minha vez. Disse que só queria um bilhete para O Deus da Carnificina e o empregado pareceu ter visto um e-tê. E não deseja mais nada? Um bacalhau à Zé do pipo, apeteceu-me dizer-lhe. Mas respondi que só queria o bilhete. São 6.60 eur. Fónix! 6.60 eur para ir ao cinema? Depois admiram-se dum gajo sacar os filmes todos da net…

Entretanto eu tinha ficado a pensar que estava tramado com a multidão de mastigantes que se preparava para a sessão das 21 20. Já estava arrependido de ter saído de casa porque não me agrada nada a expectativa de ir partilhar uma exígua sala de cinema durante uma hora e meia com um exército de comilões a sorver pipocas e refrigerantes. Mas vá lá, tive sorte, a sala de O Deus da Carnificina tinha só meia dúzia de curiosos. Percebi que fora salvo pela Bruna Surfistinha, o filme que estava em exibição na sala do lado. A maior parte do exército grunho tinha ido ver a Bruna. Com pipocas, cerveja em lata e manteiga de amendoim, claro.

No início do filme ouvi este excelente diálogo entre um jovem casal que ficou na fila detrás:

Ela– Carnificina? Mas o que é que quer dizer carnificina? (depreendi que há gente que vai ao cinema sem sequer saber o título do filme que vai ver. Podia ser o Senhor das Moscas, o West Side Story, outra coisa qualquer. Mas não, por acaso era o Deus da Carnificna, que palavra tão esquisita).

Ele – Carnificina… é… bem… Como é que te hei-de explicar? (sim, como? Este rapaz é sem dúvida um intelectual para dominar assim uma palavra tão complexa, um conceito tão elaborado, tão sofisticado que se torna difícil de traduzir para mentes mais simples. Ora deixa-me ver…)

Ela – Em inglês é carnage, diz ali…

Ele – Pois, é isso, carnificina deve ter a ver com carnívoro, tem a ver com os carnívoros (quererá ele dizer canibais? Pensaria que ia assistir a qualquer coisa semelhante ao mítico Holocausto Canibal? Pode ser…)

Mas vá lá. Não eram dos piores, pelo menos não estavam de balde de comida e de barril de cola nas mãos.

O Deus da Carnificina que devia ter começado às 21 20, começou, como é hábito, vinte minutos depois, às 21 40. Nada de novo. Pior foi o intervalo abrupto, um corte completamente arbitrário a meio do filme, para que o pessoal se vá abastecer com mais comida. Percebe-se. Tudo é feito de modo a conseguir o máximo de lucro. E quantos mais intervalos, mais baldes de pipocas vendidos.

E foi assim. A minha ida ao cinema acabou por ter interesse sociológico, senti-me uma espécie de Richard Attenborough em missão de reconhecimento de uma estranha espécie de animais de hábitos raros que, pelos vistos, se reproduz no escuro das pequenas salas de cinema. Aguardo agora, ansiosamente, a estreia do próximo filme de Jean-Luc Godard que não quero perder – possivelmente já irei vê-lo ao Porco ao Peso. Nada como um bom rodísio de carne de bísaro para apreciar devidamente a Nouvelle Vague .

09/01/12

Esplanadas com Paredes de Vidro, por Homem Invísivel


Isto chateia-me! Um passeio público que, em teoria, é um espaço colectivo ocupado por uma esplanada... O simples facto de se ocupar o passeio com umas mesas e umas cadeiras já é , só por si, irritante. Mas que dizer quando os proprietários se acham no direito - com a vergonhosa complacência das entidades «responsáveis» - de fazer verdadeiros edifícios que só eufemisticamente podem ser declarados esplanadas? Isto, meus senhores não são esplanadas! São edifícios com paredes e tectos construídos em passeios públicos que são de todos nós. E só aparentemente estas paredes são de vidro - a mim parecem-me mesmo muito opacas, de tal modo me intriga como é que uma suposta autoridade responsável autoriza barbaridades semelhantes a estas.

Pics - dois exemplos eloquentes: a esplanada do restaurante caçarola na Figueira da Foz que nos obriga a contornar o passeio e uma das muitas casas de vidro no Porto em frente ao café piolho.

08/01/12

Servidão Humana de W. Somerseth Maugham, por Adérito Bondage

Um grande livro! Maugham no seu ponto mais alto. Foi um dos melhores livros que li este ano de 2011, eu que resistia tanto a Maugham... Mas o escritor inglês foi-se entranhando indelevelmente até que, por fim, eu já não podia passar sem este livro. Apesar da sua escrita cristalina, há um lado dark em Somerseth Maugham, nos seus personagens, nos seus enredos. Este livro é o melhor exemplo e é esse lado sombra, esse jogo de entre linhas da sua escrita que me fascinou em Servidão. Também é verdade que essa dualidade está mais presente aqui do que em qualquer outro livro do autor. Outros livros de Maugham não passam de banalidades bem escritas, precisamente, pela falta desta espécie de esquizofrenia literária.