22/11/10

Porque é que Gosto Mais de 2001 que de Blade Runner e de Matrix?, por Trinity

2001, Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick. Blade Runner de Ridley Scott. Matrix dos Wachowski. Três filmes de ficção científica, três obras primas! Talvez, salvo melhor opinião, os três melhores Sci-Fi Movies de sempre. Gosto dos três mas gosto mais de 2001, para mim o culminar supremo do género, do que qualquer um dos outros. E porquê? A diferença não estará tanto no enredo que, nos três casos é insuspeito e igualmente genial: 2001 parte de um livro de Arthur C. Clarck, Blade Runner é a adpatação de um conto de Phillip Dick intitulado Do Androids Dream With Electric Sheeps?, Matrix é um original dos Wachowski mas claramente inspirado em Platão. Então porque razão gosto mais de 2001 do que dos outros dois?

Podia falar na estética do filme de Kubrick mas será que aquele universo difuso que faz lembrar os quadros de Rembrandt de Blade Runner é inferior? E a estética High Tech de Matrix será coisa pouca? Não vou por aí mas creio saber porque é que gosto mais de 2001. Simples: porque os outros dois perdem-se um pouco na cedência à acção. Tanto Ridley Scot como os Wanchowski passam uma boa parte do tempo a filmar cenas de porrada, perseguições e coisas que tais. E isso é o lado aborrecido destes filmes. É uma pena que o cinema - que é showbiz e não apenas arte - ceda tanto a esta lógica comercial (ainda recentemente vimos o mesmo pecado em Origem).

Se Matrix e Blade Runner tivessem menos bulha eu gostaria ainda mais deles. E é nisso que adoro 2001 - não há acção, até o movimento dos astronautas é lento, tudo é vagaroso, minimalista, não há porrada nem quando o hal 9000 se revolta. É jogo intelectual puro, prazer estético genuíno sem cedências à lógica hollywoodesca. De um modo geral é assim que Hollywood estraga os grandes livros - transforma-os em cenas de acção!

Tanto Blade Runner como Matrix são demasiado geniais para serem estragados. Mas é por isto que, do meu ponto de vista, ficam a perder e muito em relação a 2001. Este não cedeu e permaneceu fiel ao espírito de Arthur C. Clarck. Mas depois de ler Phillip Dick, o mais acelerado dos escritores de Sci Fi fica-se com a sensação de que Ridley Scot ainda o ultrapassa pela direita. E que dizer de Platão, recriado pelos Wachowski? Não era tanta luta dispensável?

18/11/10

Definição do Brasil Segundo Um Astronauta Português, por Yaúca


Um astronauta sai na sua nave espacial do seu minúsculo planeta e aterra num outro muito distante e absolutamente gigantesco. Mas descobre, com espanto que, em vez de alienígenas esverdeados com muitos braços e garras temíveis, os nativos do novo planeta são como ele. E que falam a sua língua, que querem saber dele e se interessam pelo seu insignificante planetazinho distante. Ainda por cima, o novo planeta em vez de ser um deserto árido como Marte ou um forno capaz de derreter chumbo como Vénus tem praias de sonho, montes que tocam os céus, árvores e frutos nunca vistos e águas azuis.
O astronauta repara, depois, que se enganou e que, afinal, aterrou no Brasil.

16/11/10

O Despertar, por Rolex


E de repente parece que o país acordou... Subitamente temos toda a gente a dizer mal do inenarrável sócrates, o pior governante português de que tenho memória, a maior anedota de toda a história política nacional. Mas o que foi que mudou entretanto?

Será que se soube recentemente do caso fripó? Da licenciatura que saiu no OMO? Da cova da beira? Das aldrabices permanentes? Do controlo dos media? Dos familiares duvidosos? Do edifício de luxo comprado pela mãe? Da entourage rasteira? Dos projectos das casinhas? Da face oculta? Dos boys? Não, tudo isto e muito mais que não me sobra fôlega para tanto, já se sabia há mais de um ano... Então porque é que só agora o país parece ter acordado? Porque é que de um dia para o outro as sondagens dão o homem e os seus xuxas nas ruas da amargura?

A resposta é, infelizmente, demasiado prosaica. Os portugueses sentiram, subitamente, que a incompetência de sócrates lhes foi ao bolso. E isso eles não perdoam. Pode um governante ser um patife da pior espécie - e não estou a dizer que é ou que não é o caso - que nada disso interessa. O único critério que faz realmente mexer os portugueses é apenas e só o peso do vil metal. Não deixa de ser um sinal, mais um, da nosa apagada e vil tristeza. Pobre povo este que tem necessidade de uma crise económica para ver a mais simples das evidências! Sócrates é no fundo o representante mais fiel deste povo que o elegeu duas vezes. Até na derrota...

15/11/10

Carta a Vítor serpa, por Xenofonte

Caro Vítor Serpa,
Desde sempre, para mim, a Bola foi O jornal desportivo.
A minha eleição privilegiou jornalistas como Alfredo Farinha, Homero Serpa, Carlos Pinhão, Aurélio Márcio, … homens honestos, argutos, sabedores, de palavra, que se norteavam por princípios éticos e deontológicos acima de qualquer pseudo-intelectual pretensioso, com verborreia acintosa e ignorância desavergonhada.
Quando a vossa linha editorial, certamente marcada por critérios económicos, optou por incluir Miguel S. Tavares, intui um retrocesso a todos os níveis, mormente de qualidade. Esse escriba veio, efectivamente, revelar os dotes de quem se julga intelectual, alardeando teorias — que considera conhecimentos — acerca de todos os assuntos. Na Bola assiste-se a um exercício confrangedor e pungente de um assalariado da palavra que, sem um saber sustentado, se limita a expelir uma maledicência abjecta e um ódio inconsequente que despreza qualquer lógica argumentativa, tão pobre é o seu discurso.
Preferi-lo à inteligência de Ricardo Araújo Pereira deixa antever uma subserviência preocupante.
Porque, em nome de uma pluralidade de ideias, não vale tudo: há princípios, valores axiológicos que sustentam pessoas e Instituições.
Escrevo-lhe, caro Vítor Serpa, porque sempre o li e concordei com as suas opções cívicas e desportivas, que tão claramente enunciou.
Assistir, agora, a esta opção entristece-me. Por todos os motivos. Porque vou deixar de comprar o meu jornal.
Assim se delapida uma Instituição que se construiu baseada em homens de Bem, com valores perfeitamente definidos.
Post-Scriptum: obviamente que também permitiram a intrusão de indivíduos como o Eduardo Barroso, que está permanentemente a afirmar o seu ego inchado, exibindo o seu estatuto e fazendo referências, sempre, à sua actividade profissional (tipo arma de arremesso), numa narração despudorada de valorização do seu papel na sociedade. Mas isso é só o sintoma de uma fraca auto-estima e a sublimação de um certo estado que o revela como alguém absolutamente vaidoso — é inócuo e risível.
Porque sempre o considerei, caro Vítor Serpa, o meu lamento.
Como Heraclito sabiamente nos disse, O carácter de um homem é o seu destino.
Os meus cumprimentos

14/11/10

A Bola Fede!, por Fedorov

A Bola, jornal que tenho como referência desde os tempos em que ainda lhe chamava A Bíblia, está em estado cadavérico. O óbito deu-se na semana passada quando o seu director, Vitor Serpa, cometeu um acto de censura indigno dos pergaminhos do jornal sobre o Zé Diogo Quintela. Logicamente, porque a censura é inadmissível, o Zé Diogo foi-se embora.... E, em consequência e por acto básico de solidariedade que devia ser seguido por todos os colunistas da Bola (excepção feita, claro, ao Tavares) Ricardo Araújo Pereira seguiu o mesmo caminho.

O comentário do director do defunto jornal, Vitor Serpa, é uma tentativa falhada de passar por entre os pingos da chuva sem se molhar. Escreve o Serpa num curto e cinzento editorial: “Ricardo Araújo Pereira e José Diogo Quintela terminam a sua colaboração com A Bola”.

Isto é falso! Não foram eles que terminaram a sua colaboração. Quem os censurou foi o Serpa. E, a uma pessoa com um mínimo de dignidade, não restaria outra alternativa que não a demissão. Aceitar a censura e continuar é que seria inaceitável.

Explica Serpa que o jornal não está disponível para “prosseguir um cansativo e desinteressante (para os leitores de A Bola) contencioso particular com Miguel Sousa Tavares(…) até por haver mail, SMS e CTT para o efeito”. Pessoalmente achava o «contencioso» muito elucidativo e não creio que fosse assim tão pessoal. Pelo contrário, o Tavares é uma figura pública que não se coíbe de mandar podoada em tudo o que mexe. É quase um serviço público que um mascarado fique assim desmascarado, como era notório nas colunas de opinião dos Gatos.

O que é interessante é que só o texto do Zé Diogo foi alvo da censura da Bola. Mas os textos do comentador tavares não justificaram a mesma atitude.Porquê, pergunto eu na minha candura? Nem quando chamou rafeiros e mais não quantos encómios aos Gatos... Se o Serpa acha que aquele ping pong não interessa ao jornal, por respeitáveis razões editoriais, porque razão apenas se meteu com o Zé Diogo e não com o Tavares? Até parece que para haver pong não é preciso haver primeiro ping... Só os gatos alimentavam aquilo? Parece que só o Ricardo e o Zé Diogo responderam ao Tavares e não o Tavares aos gatos...

“É, assim, a vida. Cá pela nossa parte gostamos (aos Gatos) muito de os ter entre nós», remata o serpa no mesmo editorial. Cheira a pura hipocrisia... Se gostaram porque razão os censuraram? Repito: zé diogo e ricardo araujo pereira só se foram embora porque foram forçados a isso! E foram-no por acção expressa e intolerável de uma inqualificável direcção de um jornal que tem uma história, uma imensa história, que só sai aviltada por pessoas capazes de procederem desta maneira.

Zé diogo declara que uma das frases cortadas pela Bola era a seguinte: “Em Janeiro, [Miguel Sousa Tavares, portista declarado] pediu a Pinto da Costa [presidente do Futebol Clube do Porto]” que me processasse. Desta vez, vitimiza-se e ameaça abandonar a sua crónica n’A Bola, pretendendo que o Ricardo e eu sejamos responsabilizados pela sua saída. Depois das queixinhas, uma ameaça de amuo”.
Tavares, claro, nega ter feito qualquer pressão para a saída de zé diogo. Mas todos conhecemos o estatuto moral e a honestidade intelectual de tavares. Ponto parágrafo.

Compreende-se até que o homem andasse moído com o trabalho meticuloso e aturado feito pelos Gato que lhe foram apontando penosas contradições e volumosos engulhos de boca. Não era difícil numa criatura que debita verborreia sobre praticamente todos os assuntos, mesmo que, numa boa parte deles não passe de um desleixado ou de um ignorante. Digamos que estava mesmo a pedi-las...Os Gato tiveram o mérito de meter a nu os maus fígados de um indivíduo que estava habituado ao papel cómodo de criticar sem ser criticado. O tavares vive da crítica mas não gosta que o critiquem! Pena é que não haja mais Gatos! Pena é que isto seja antes um país de serpas!

Pode o tavares ficar mais descansado que agora não tem quem o contrarie nas páginas da Bola. Pode escrever as habituais inanidades odientas que não haverá ninguém a ridicularizá-lo (na Bola, claro)... Mas saiba o zelozo serpa que há milhares de leitores da Bola que não mais comprarão o jornal. Pessoalmente vou baixar a minha dose de dependência e pena tenho eu que a concorrência seja constituída pelo medíocre record e pelo pasquim do jogo. Estou a pensar seriamente em mudar para a Marca ou para o Lance...
Saiba ainda o serpa que havia muito quem lesse a bola ao sábado só por causa do ricardo araújo pereira. E que há muito quem já não comprava o jornal à terça só por causa do tavares. Pessoalmente acredito que o homem não só não faz lá falta nenhuma como até devia escrever noutro lado. Mas isso sou eu... O que jamais faria era censurar-lhe um texto. Muito menos faria queixinhas ao director do meu jornal para tirar de lá o outro menino que não gosta de mim.

O tavares foi tavares porque não sabe ser outra coisa. E o serpa é serpa e ainda quer parecer que não é. Quanto aos Gato golearam por 20-0 e o único a perder foi um jornal que não merecia estes directores. Digam-me onde é que passarão a escrever o Ricardo Araújo Pereira e o Zé Diogo Quintela. Passo a comprar esse jornal, em vez da Bola, imediatamente.

07/11/10

Ver-O-Peso - Belém do Pará, por Mau on the Road



Belém fica no Norte do Brasil. Do Rio de Janeiro até lá, com voo directo, são 3 horas e pouco de avião. É incrível como para viajar dentro de um mesmo país demoramos mais tempo do que a fazer uma ligação Lisboa-Paris ou Lisboa-Londres. Mas o Brasil é isto mesmo: um continente camuflado de país. Feita a introdução passemos, então, ao relato da viagem:

Fui para Belém com um amigo brasileiro. Já me tinha falado na cidade: que tinha amigos de lá e que já lá tinha ido duas vezes. Contou-me que a cidade ficava na Amazónia e bastante perto da linha do Equador. Que era incrível e que eu devia lá ir...

Pirarucú - peixe do Amazonas que pode atingir 2 metros de comprimento


Passados uns dias, estava eu no facebook, aparece o meu amigo [chamado Caótico] e diz-me:
- Cara, está havendo um feirão da Gol (companhia aérea): há viagens baratas para Belém. Vamo? [sim, sem "s" no fim - estes cariocas adoram assassinar o português...].

E "fomo"!

Comecei por conhecer o Mercado Ver-O-Peso. É um dos mais tradicionais mercados brasileiros e é, também, o cartão postal de Belém. Foi construído em 1625 e situa-se na Baía do Guarajá. Fui com a Portuga e o Caótico até lá. Pensei que ele já conhecia bem o sítio. Antes de deixar o mercado acabou por me confessar:
"Já tinha vindo duas vezes a Belém e só tinha visto o mercado de longe... nunca aqui tinha entrado. Mal sabia o que aqui ia encontrar". [obviamente que o texto está traduzido para português de Portugal, visto eu ainda não ter aprendido a dar os erros nas conjugações verbais que me permitiriam reproduzir fielmente a oralidade do carioca].

Senhora a descascar a bastante vendida castanha do Pará

E ele tinha razão. Por lá encontra-se um pouco de tudo: desde pirarucus até especiarias, passando por patos e galinhas vivos ou por artesanato índio. Mas passando também pelo açaí. E pelas toneladas de camarão que por lá se vendem. E pelas garrafinhas de "viagra natural". E pelos saquinhos de "amansa corno". E pelos bacuris. E pelas beribás. E pelas carambolas. E pelas graviolas. E pelas acerolas. E pelos...


Venda de camarão no Mercado Ver-O-Peso

Em suma: é um enorme mercado que se encontra às portas da amazónia e onde, por isso, podemos encontrar os nomes mais estranhos, os frutos mais incríveis e as pessoas mais genuínas que vi no Brasil. Não é fácil passear por um mercado sem ser constantemente abordado para comprar isto ou aquilo. Se não o é em Portugal muito menos o será no Brasil. E ainda menos se for um Português no Brasil...

Ali, porém, andava à vontade: de máquina em punho a aproveitar toda aquela confusão do aroma dos peixes misturado com a cor das frutas, com a beleza do artesanato, com o cheiro a fritos, ou tão simplesmente com os quadros das pimentas e malaguetas do Pará. Naquele mercado encontra-se tudo: encontra-se a vida do povo que vende, do povo que compra, do que apenas visita ou do que se perde por lá. Encontra-se a alegria ou a tristeza da vida que se leva, encontram-se histórias imensas e vidas incríveis por trás do olhar genuíno de cada Paraense.

Pimentas e malaguetas cujo nome verdadeiro desconheço - mas que ardem...!!!


Encontra-se um povo, uma terra, um estilo de vida. Um Brasil que não é o Rio. Um Brasil que é como é, que não se importa em esconder o que se esconde na grande metrópole. Encontra-se um outro modo de vida, um outro olhar sobre a vida.


Eu perdi-me por lá. Mas encontrei-me a mim.

Retirado, com a devida vénia, do http://vaipaselva.blogspot.com/