05/12/05

ò Zé, Kékilo? por Jkim Capelo Gaivota

- Ó Zé, kelákilo?
- Sei lá. Parece limos.
- Nããã... E se for o pântano?
- Pode lá ser!!!
- Tão certinho como eu estar aqui.
- Mas diz que só vinha para o ano...
- Antecipou-se.
- Deve ter sido.
- Pois se calhar foi quase de certeza.
- O pântano...
- É verdade.
- ...

* Foto gentilmente cedida por Joaquim Afonso, que la tirou no sábado passado na marina da Figueira da Foz.

12/11/05

Um elefante a ver, por Uma Merda Qualquer Com Jóta

É só para dar nota que hoje à noite acontece aqui uma grande momento de cinema. Às onze da noite, mandem cagar a bola e sintonizem em "Elephant", filme de Gus Van Sant que é um poema extraordinário e extremamente perturbador em torno do massacre no liceu norte-americano de Columbine. Esqueçam desde já o panfletário Moore e o, apesar de tudo, meritório "Bowling for Columbine" - meritório enquanto documentário, pelo que alerta e revela sobre os norte-americanos e as armas, porque de resto aquilo não é, pura e simplesmente, arte. Com "Elephant" entramos noutros territórios estéticos e éticos, imensamente mais profundos. É daquelas fitas que ficam. Ao contrário da maioria dos filmes que vemos quase todos os dias, este fica. De facto, permanece e perdura. Quanto mais não seja, transfigurado num sentimento inquietante. "Elephant" é, para mim, um filme superlativo. Um dos pontos altos do cinema recente dos Estados Unidos. Trata de violência, trata de adolescentes, trata de disfunções sociais e familiares. Ao contrário do orientado documentário de Moore, o filme de Gus van Sant fala da sociedade norte-americana, dos seus cancros, mas trata acima de tudo de questões e vivências universais, de monstros que vivem latentes entre nós e dentro de nós, filmando-os de uma forma tão bela e poética (muito menos "cru" que o Kids, esteticamente muito mais elaborado) apesar de algo bizarra, que reforça o choque e a consciêncialização do absurdo do desfecho sangrento. É nesse sentido que é marcante. Van Sant, que vem dos territórios da pintura e andou pela Europa, é um artista universal maior do que as modas e trata aqui de questões da espécie humana, não apenas dos americanos, apesar destes serem a matéria-prima. Columbine pode ser um liceu qualquer. Columbine pode ser o Infanta Dona Maria.
E mesmo que o fossem, questões dos americanos, que sirva para lembrar que se a América de hoje é aquilo, então é com aquilo que teremos de lidar dentro em breve, porque a América não é mais do que a Europa com uns anos de avanço. E não é uma questão de política(s), é uma questão de dinâmicas sociais, culturais e económicas. De resto, neste aspecto da violência "absurda", já nem estamos assim tão atrasados. Será apenas uma questão de escala, se nos lembrarmos de casos como o duplo homicídio "satânico" em Ílhavo, por exemplo. Ou, noutro contexto, a violência gratuita que tem grassado nos subúrbios das grandes metrópoles europeias. São cancros que crescem no seio de nós. E chega de paleio. Vejam mas é o filme, se não for hoje aluguem. Para amanhã à noite, entretanto, já comprei bilhete para a última obra do realizador, "Last Days", que passa numa sala aqui ao pé de mim. Depois faço a crítica. Obrigado, até à próxima e vão com Deus se faz favor.

01/11/05

Abracem-se uns aos outros e autos de visitação, por J'kim das Análises

Mas afinal o porco porquê? Dei-me ao trabalho de elaborar uma breve amostragem das motivações dos visitadores do tapornumporco, tendo como universo de análise o rasto que este povo deixa no sitemeter, vindo sobretudo por intermédio do google.
Que buscam, então, os que aqui entram? Porquê o porco? O porco porquê? O que é que esta gente quer daqui? Eis, pois, alguns indícios sobre a natureza Dos que aqui chegam.
A propósito disto, fiquei deveras entusiasmado com esta visita ao sitemeter do tapor, sobretudo com aquele mapa-mundi de luzinhas vermelhas e verdes a acender nos quatro cantos do planisfério e com a página location, com aquilo cheio de bandeirinhas que mais parece a ONU em dia de quórum. Não será certamente novidade, mas não deixa de ser curioso que talvez a maior parte dos nossos visitantes sejam estrangeiros de fora. Até um tipo de Waco, Texas, veio cá parar um dia destes (por sinal à procura de um boneco de um Cristo crucificado …)! Mas vêm do Peru, do Brasil, da Argentina, da Áustria, da Alemanha, do Canadá, da Holanda, da Itália, da Espanha, da Suíça, do México, da França, da Grécia… Um mundo a bater à nossa porta. A pedir fotografias, a pedir informação, a pedir emoção, eu sei lá!? Coisas que por aqui há. Mas é realmente espantoso, este encontro imediato com a globalização em curso, que nos deixa maravilhados com a forma como podem estar afinal hoje tão perto uns dos outros, os seres humanos da era digital, e espantados com o paradoxo de conseguirem estar cada vez mais distantes uns dos outros, mesmo que o outro esteja apenas a um braço ou a um clique de distância. Por isso, o que falta é estender esse braço fraterno ou clikar esse rato solidário e exclamar com razão e paixão: vem a mim, irmão, Abraça-me ou Beija-me! Entra em contacto! Sente o poder da sinergia!
Mas eis pois então enfim algumas das pistas que trazem até aqui clientela, num importante documento sociológico aberto à reflexão:
corpus hipercubus dali (do Perú, Lima)
fotos de etarras (França, Bayonne)
putas de vila real (Portugal, Lisboa)
jacques-louis David (Brasil, Brasília)
mijadelas na boca (Portugal, Lisboa)
"como se matar" (Brasil, Curitiba)
"La bouillabaisse” (Brasil, Rio de Janeiro)
estrategia mourinho (Espanha, Catalunha)
"abel pereira da fonseca" (Portugal, Palmela)
"Baía dos Tigres" (Brasil, Rio de Janeiro)
figuras do mickey e da minnie (Brasil, Brasília)
filme+cão ranhoso (Portugal, Lisboa)
"marques de sade" +desenhos (Brasil, Rio de Janeiro)
puta brasileira (Suíça, Attalens)
o que significa ser um gentleman (Brasil, São Paulo)
apanhei do meu tio (Brasil, Brasília)
instante voodoo (Brasil, Campo Grande)
aparelho digestivo do coelho (Brasil, São Paulo)
haxixe sec xi (Brasil, Rio de Janeiro)
popular marca farinha amparo (Portugal, Aveiro)

14/10/05

Toque Vil, por Cão

Eu queria falar-vos sobremaneira e matosamente do pensamento social de Tocqueville, mas não sou capaz porque a minha colecção da Europa-América ficou em casa de um dos meus naufrágios matrimoniais.

Também gostaria de elucidar-vos sobre como afervento agriões em calda de batata acebolada, mas não vejo o praquê da coisa.

A verdade é que hoje é uma feira por acaso sexta. Ganhei alguns instantes matinais antecedendo os vossos fins-de-semana. Imaginei-vos bem, a braços com as vossas mãos.

De modo que, para a próxima, talvez Espinosa.

Ou Pauleta.

13/10/05

Mudanças, por Camões da Silva

Ando em mudanças. A minha vida cabe numa garagem!

12/10/05

Os erros clamorosos da (In) Justiça Judicial. Por Trauliteiro Haddock

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Ainda as eleições.

O porco anda entretido com voos intelectuais, mas surgiu-me uma preocupação muito terra a terra. A canalhada votante já reparou que o Valentim L., A Fátima Felgueiras, o Avelino Torres, o Isaltino e a Isabel Damasceno têm uma coisa em comum? São alvo de processos judiciais. Todos.

Destes só o Avelino não ganhou as eleições. Os outros ganharam quase todos com larga diferença sobre os seus concorrentes. Ou seja, os candidatos que andam a contas com a justiça ganharam as eleições.

Ora, tendo em conta que o povo é quem mais ordena, este facto quer dizer apenas que o povo não reconhece que a Justiça tenha alguma razão ao processar tais pessoas.

Os juízes são nomeados. Os autarcas são eleitos.

Há muito mais força e legitimidade na eleição de um autarca do que na nomeação de um juiz.

Nos states aqueles autarcas tinham de ser submetidos ao crivo de um promotor publico, eleito pelo povo. O que quer dizer que em princípio não seriam acusados de nada porque o povo não reconhecia legitimidade para acusação a tais autarcas “modelo” que ganham com larga diferença de votos!!!

Ora, vistas as coisas à luz desta crua realidade, que é a real, a justiça está a acusar autarcas modelo e dignos representantes do povo.

A justiça está a agir mal, o povo é quem mais ordena.

Ora analisem isto e digam o que pensam porque eu estou a pensar em ir para a Antártida, antes que derreta.

Histeria da Literatura Portuguesa (ou então, Porra Porra Porra Foda-se) , por Cão

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o goucha escreveu o em banho-manel
e o doces sem açúcar
ganhou a aposta aparece muito mais na tv
que o quitério
o lobantunes sofre muito e coça-se muito mais
é mais querido em israel do que o saramago
aquele cujo avô abraçava as árvores
vejam-me lá se isso é coisa que se faça
o herberto helder está desaparecido
desde que nasceu com a cabeça entre as mãos
no café gelo
aparado pelo lacinho-braboleta do baptista bastos
o abelaira escreve em falsetto
assim com dois tês parece apartamento
da ttorraltta não parece
mas a cidade das flores nem está mal
lisboa à italiana
com casais que mal copulavam
desatavam logo a falar de política
como nos pá-lopes
o problema é a mania que eles têm de morrer
o cardoso pires sempre muito scotch-bruto
a ver as letras escritas ao contrário de propósito
e lidas do avesso de profundis
o sttau monteiro com garrafas e garrafas de
óleo fula para o jantar
mas felizmente há luar
o bernardo santareno de grossas hastes
e cigarro chutado para canto
da boca
o ruy belo em queluz naquele verão
do mundial da argentina
o assis pacheco a almoçarar meia-desfeita
e a deixar-se escorrer ventinhos melífluos
de cós de calças na livraria
o torga sempre muita chateado
com as homenagens nunca bastantes
o eugénio de andrade sempre
a pensar nas cabras caiadas de cal
e nos rapazes brancos litorais de sol
e sul e etc e sal
o pessoa triste mas a gozar a um canto da arcada
a aguardente que bebi foi o campos que a bebeu
o cesariny que eu saiba está vivo mas
não é fácil
o luiz pacheco está arrumado num albergue
agora já não faz filhos nem deixa que lhos
façam
o camões recebe da segurança social
uma carta registada
que diz a sua tença está atrasada
favor verificar domicílio de
dom sebastião
os espanhóis gozam c'a gente como mouros pretos
de ceuta e melilla
uns são filhos-da-puta
outros têm uma puta-por-filha
a gente aqui c'o possidónio cachapa
e eles lá com o montalbán
a gente aqui c'o peixoto
e eles lá com o javier marías
a gente aqui c'as marias
judite
horta
velho
palla
Santíssima
e eles lá com a rodoreda e a rosalía
a gente aqui com o grass-moura
e eles lá com o rivas
foda-se foda-se foda-se foda-se
ca malha
mas enfim
havia o carlos de oliveira
que esteve em febres-cantanhede
como o meu amigo tó-mané que vive
e um rapaz chamado fernando que morreu
o carlos de oliveira desespartilhou-se
do neo-realismo
e amandou-se-nos com aquele trabalho poético todo
o manuel da fonseca deu-nos o largo
a larga seara de vento
que antigamente se estudava aos 13 anos
nas escolas oficiais
agora não agora nunca mais
agora não tarda nada é o agualusa
contra moscas melgas e mosquitos
é o joão a guiar o pedro paixão para NY
sobram o joão de melo em lágrimas de engatar gajas
e o mário de carvalho em pura graça
qu'é feito do zambujal do domingo desportivo
o dinis machado rebentou tudo c'o molero
o namora plagiava o vergílio
o vergílio destilava pus a conta-corrente mas era bom
a agustina porra porra porra porra
quem me cala a mulher
ca cheiro a mijo de gato
a pedrosa a dar instrução aos amantes
e o melga ferreira a dar-lhe o título
as manas pinto correia o glamour o drama o horror a tragédia
a batata assada em papel de prata
o NYTimes embrulhando chicharro de cacharel
só falta o represas escrever poemas para o
vítor de sousa ler no elevador
o júdice que queria ser gastão
aqueles telerapazespivôs das oito da noite que escrevem romances-próteses
o sousa tavares é co'a dor
de corno talvez
1-2-3-macaquinho-do-chinês
afinal o roberto carneiro foi ministro da inducação no
intervalo de fazer filhos
o deus pinheiro também no
intervalo dos 18 buracos
a ferreira leite também não
se sabe porquê
e depois é isto
é o carlitos pinto coelho fotógrafo de casamentos corrido
do acon(a)tece pelo
mogais sagmento
é o frágil esteve-cardoso a orelhar romances
inacreditável comóque a sírialvim foi na conversa
mas infim
cada um é pó cu-lhe-dá
esporremos que não volte a acon(a)tecer
o jorge de sena tinha bué de razão e razões
o rodrigues miguéis esse excelente rapaz
teve de readersdigestar para digerir
ninguém sabe nem conhece h. silva letra
o d'a palavra fascinante editorial inova porto
n. em 1927 em vieira de leiria
ninguém s'apercebe de que o antónio osório
é um bem maior do que
a ignorância da morte
a ignorância da vida
qualquer dia até o herman josé escreve um livro
o quê
ai já escreveu
qual é que é
ah
é o herman josé saraiva
aquele das anedotas da história
o fialho de almeida e o pinheiro chagas e o camilo muito
ressabiados c'o eça
por causa de o eça ser melhor
que vinho do porto em umbigo de shania twain
o ferreira de castro absoluto n'a lã e a neve
o soeiro tão certo nos esteiros
o redol tão dos-passos nos gaibéus
mas nisto tudo acabei por ouvir o castrim
em casa dele mesmo
avenida luís bívar lx
uma vez que lá fui levar-lhe um livro
a dizer bem do goucha
de modo que não sei
porra porra porra porra.

10/10/05

E no entanto, move-se! por Assessor para a Publicação de Análises

O porco venceu em quase toda a linha, nestas eleições. Essa é de resto uma das conclusões mais importantes a retirar destas autárquicas, em que tudo mudou para tudo ficar na mesma. De facto, foram certeiras as escolhas do tapor na série especial “Anti Top Cartaz Eleitoral 2005”. À excepção de Felgueiras, que ficará para outros fóruns de reflexão e espanto, e da estrondosa vitória de Mata Cáceres em Portalegre, o tal da cidade que não podia parar, foi completa a derrocada dos cromos seleccionados, comprovando a importância do marketing político de out-dors.
Assim, o amigo Tito Evangelista, em Esposende, perdeu com metade dos votos do vencedor; a senhora que o Bloco de Esquerda desencantou para a Trafaria perdeu, mas perdeu honradamente, quase triplicando a votação no BE relativamente a 2001; Em Tavira, o socialista Fialho também levou nas trombas (apesar de ter subido o score do PS em 49 votos); Mais humilhante foi a porrada da pistoleira popular de Porto de Mós, nem um mandato e quase reduziu para metade o eleitorado do CDS naquele concelho. Outra enorme porrada foi a do Faustino em Santa Maria da Feira, que também conseguiu o feito de descer o score do CDS-PP de 3800 para 2300 votos; Já o senhor Hemetério, socialista de Alter do Chão, perdeu mas ficou a vereador (não obstante ter perdido um mandato relativamente a 2001); Verdadeiramente desastroso foi o Vitorino, independente pelo PSD em Faro, que apesar das mãos à mostra perdeu a câmara para o PS em contra-ciclo nacional; Os simpáticos do BE de Estremoz (Assembleia Municipal) também levaram forte e feio: Ficaram em último, atrás do partido do táxi, sem mandatos e descendo a votação no BE de 282 para 196 votos; No Porto com o eléctrico Assis, foi o que todos sabem, com a malha estrondosa do Rio no PS, que desceu de 6 para 5 vereadores.

09/10/05

Sofismas, por Cão

1. Se eu voltasse a casar, tenho a certeza de que me sairia uma das enculadas do Taveira.

2. Portugal vai perder as próximas eleições autárquicas. E vai manter o Scolari.

3. Não é Avelino que está do avesso. Nem Jardim. Nem a ladra de Felgueiras. Nem o surrealizado major. É o País.

4. O País está em eclipse anular desde 1143. E só agora é que toparam.

5. PS e PSD configuram, juntos, o mesmo que o Partido Revolucionário Institucional, ou lá como é, no México.

6. A 5 de Outubro de 1910, foi mau derrubar a monarquia. O que deveria ter sido derrubado era Portugal. Coisa que entretanto, aliás, aconteceu.

7. Salazar tocava ao bicho mas não o confessava nem ao Cerejeira, a quem também tocava.

8. A Bárbara Guimarães não é boa. Se fosse boa, não mijava ossos do Carrilho.

9. Acho que o Herman José é um bocado maricas.

10. Votar no Bloco de Esquerda é a mesma coisa que fazer um minete a um frango, mas não sei porquê.

05/10/05

E Cona, por O Jóia da Bóia Dois

Orgasmo Trifásico (Millôr Fernandes)

Orgasmo feminino é coisa da qual as mulheres entendem muito pouco e os homens, muito menos.
Pelo fato de ser uma reação endócrina que se dá sem expelir nada, não apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu ou se foi simulado.
Orgasmo masculino não! É aquela coisa que todo mundo vê. Deixa o maior flagrante por onde passa.
Diante desse mistério, as investigações continuam e muitas pesquisas são feitas e centenas de livros escritos para esclarecer este gostoso e excitante assunto. Acompanho de perto, aliás, juntinho, este latejante tema.
Vi, outro dia, no programa do Jô Soares, uma sexóloga sergipana dando uma entrevista sobre orgasmo feminino. A mulher, que mais parecia a gerente comercial da Walita, falava do corpo como quem apresenta o desempenho de uma nova cafeteira doméstica. Apresentou uma pesquisa que foi feita nos Estados Unidos para medir a descarga elétrica emitida pela "Periquita" na hora do orgasmo, e chegou à incrível conclusão de que, na hora "H", a "perseguida" dispara uma descarga de 250.000 microvolts.
Ou seja, cinco "pererecas" juntas ligadas na hora do "aimeudeus!" seriam suficientes para acender uma lâmpada. Uma dúzia, então, é capaz de dar partida num Fusca com a bateria arriada. Uma amiga me contou que está treinando para carregar a bateria do telefone celular. Disse que gozou e, tcham, carregou. É preciso ter cuidado porque isso não é mais "xibiu", é torradeira elétrica!
E se der um curto circuito na hora de "virar o zoinho", além de vesgo, a gente sai com mal de Parkinson e com a linguiça torrada. Pensei: camisinha agora é pouco, tem de mandar encapar na Pirelli ou enrolar com fita isolante. E na hora "H", não tire o tênis nem pise no chão molhado... Pode ser pior! É recomendável, meu amigo, na hora que você for molhar o seu "biscoito" lá na canequinha de sua namorada, perguntar: - É 110 ou 220 volts? Se não, meu xará, depois do que essa moça falou lá no Jô, pode dar "ovo frito no café da manhã."
Esse país não melhora por absoluta falta de criatividade... São as mulheres, a solução contra o apagão.

Vinho, por O Jóia da Bóia Um

Nem tudo é merda neste território lusitano. Alvissaras! Sárává! Motiva esta entrada de rompante uma excelente notícia para a economia nacional, nos capítulos import/export e auto-estima. Pode não parecer, mas quer-me cá parecer que é de facto uma óptima notícia, quando um jornal global prestigiado como o New Yok Times, publica, como hoje o faz (aqui, e também, presumo, na edição em papel), um extenso artigo extremamente encomiástico sobre o vinho português. O cronista, Eric Asimov, "O" especialista em vinhos do Times, discorre com abundância e grande entusiasmo sobre os néctares báquicos nacionais, num texto sintomaticamente intitulado: "For the next big thing, Look to Portugal". Nem é preciso dizer mais nada por estas bandas... O resto é ler o que lá está e suspirar um bocadinho de orgulho. Para quem goste de vinhos portugueses e para quem goste de ver um importante sector económico nacional em alta em termos mundiais. Esta peça do Times é ouro. Pronto, achei só que esta maralha que aqui chafurda, gostasse de saber estas novidades.

30/09/05

Morreu Antunes Varela, por Cap. Haddock

Morreu Antunes Varela. Li algumas notícias em jornais sobre a sua morte com pequenas referências ao seu passado. Há de facto uma ligação de Antunes Varela ao Governo de Salazar, mas nem isso dá o mínimo de sombra à sua obra e às suas imensas capacidades.Testemunho-o na qualidade de aluno. Era um grande mestre, sabia ensinar, sabia escrever, sabia muito, mesmo muito de direito, e quando foi responsável pelo processo civil Português tinhamos de facto uma legislação boa, pensada, lógica, segura e útil.Depois dele só vi mediocridade assente em curiosos cola cartazes licenciados em Direito que vomitaram e cagaram leis sem nexo, a atropelarem-se e pior, a atropelar os direitos dos cidadãos. Junto a Antunes Varela o actual ministro da justiça não existe nem é nada, e pior, não sabe nada!.Notem bem que ninguém coloca em causa o mérito profissional e as capacidades do jurista Antunes Varela, independentemente de preferências politicas. São assim os grandes e insignes homens e neste caso as suas qualidades permitiam-lhe distinguir preferências politicas (interesses pessoais) das necessidades do Estado e de um país, coisa que os actuais pseudo governantes não sabem, uma vez que navegam ao sabor do interesse politico do partido a que pertencem, são portanto pessoas medíocres e governantes incompetentes.Aliás, lamento mesmo muito que uma cidade dê o nome de um estádio a um jogador de futebol novo, vivo e que nada fez pela cidade e quase se recuse a colocar um busto do Mestre num Tribunal, mais um acto vergonhoso de idiotas vestidos de políticos.O homem morreu há dois dias e já se sentem saudades da sua competência, tal é o vazio deste governo do Portugal dos Pequeninos…


Nota: este post foi colocado a partir de um comentário do capitão Haddock, sem que ele fosse consultado. O Administrapor é que achou o comentário digno de ser publicado como homenagem a um homem inteligente, culto e com currículo académico. Injustiçado, morre anónimo. Prova disso, é que a foto minúscula que ilustra este post é a ÚNICA que se pode encontrar na net. Quer dizer, a net tem milhões de putas e não tem espaço para um catedrático de Direito? É o Putapower! O Poder é das Putas!

23/09/05

Parintins E O Bumba Meu Boi, por Kazinha

Este Post foi gentilmente cedido ao Porco por Kazinha

Boi de Parintins

Parintins
Situada na Ilha de Tupinambarana, à margem direita do rio Amazonas, a 420 quilômetros de Manaus e quase na fronteira com o estado do Pará, Parintins, hoje com cerca de 80.000 habitantes, é uma simpática e agradável cidade média do interior amazonense. Uma vez por ano, no mês de junho Parintins se transforma em um caldeirão de tradições, música e turismo. É o FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS, que divide moradores e visitantes em duas cores e paixões: o vermelho, que representa o boi-bumbá Garantido, e o azul, que marca o lado do boi Caprichoso.

A rivalidade é ferrenha, mas sempre respeitando a cordialidade. Tanto que os integrantes de Caprichoso, ou Garantido, limitam-se a chamar o rival de "contrário". E para abrilhantar a festa, a cidade de 80 mil habitantes mais que dobra de tamanho, ficando com mais de 100 mil pessoas entre Parintinenses e turistas.

Boi Caprichoso













Boi Garantido










o Bumbódromo

No Bumbódromo, cada Boi se apresenta durante 3 horas nos três dias de festival. A ordem das apresentações é sempre definida por sorteio. O que encanta a todos são as alegorias luxuosas, os fogos e tudo o que eles fazem para dar vida as lendas contadas por Caprichoso e Garantido

São nove da noite, o apresentador do Boi cumprimenta a platéia (o próximo Boi irá se apresentar por volta da meia-noite). Em seguida a toada começa a incendiar a arena. E o Bumbódromo literalmente treme.


Bumbódromo de Parintins






A Música


O espetáculo acontece ao som dos tambores - levado por mais de 400 ritimistas- e de ao menos uma dezena de toadas, sempre acompanhada pela galera do boi que está se apresentando. Toada é o nome da canção dos bumbás.


O espetáculo grandioso

Nas três noites do Festival, Caprichoso e Garantido se apresentam, durante três horas cada um, para aproximadamente 40.000 espectadores. São 2.500 brincantes em cada Boi que desenrolam uma estória pontuada com figurinos requintados, alegorias complexas e gigantescas, lendas exóticas e personagens amazônicos. E, nos dois lados do bumbódromo, as duas animadíssimas e incansáveis torcidas participam do espetáculo: a vermelha, do Garantido e a azul, do Caprichoso. Chamadas de "galeras", têm uma função toda especial: seu desempenho é fundamental na contagem dos pontos da apresentação; elas participam de ensaios e fazem um show à parte. Quando é o seu Boi que está se apresentando, treme aquela metade do Bumbódromo, enquanto a torcida "contrária" fica no mais respeitoso silêncio.


A animação das galeras

A torcida de cada boi recebe o nome de GALERA, e forma um espetáculo delirante durante as 03 horas de apresentação de cada boi, cantando (gritando), dançando com movimentos expressivos e conjuntos usando adereços de mão, distribuídos em kits antes de cada apresentação. A animação da galera vale ponto no momento da apuração final, portanto eles tem que dar o melhor de si a cada dia de apresentação.
Eles fazem coro na hora de cantar as toadas.






Não pode vaiar, gritar e nem xingar, tem que ficar calado durante a apresentação do boi contrário, sob pena de perder pontos. Tem toadas, que são músicas criadas exclusivas dos dois bois para suas galeras. É UM ESPETÁCULO A PARTE!!

Eu particularmente sou uma torcedora FANÁTICA, quando a marujada e o Caprichoso entram na arena eu não sei se grito, canto ou choro, É EMOCÃO PURA!!









Galera do boi Caprichoso
















Galera do boi Garantido














Opinião pessoal:


Expressar em um post toda emoção que se vive em Parintins realmente pode até ser uma coisa sem entendimento, principalmente para quem não conhece a festa. Para ser sincera só sabe o que se vive na Ilha da Alegria quem para lá vai, fui a primeira vez com 15 anos e quando entrei na arena pensei que fosse morrer de tanta emoção e confesso que ainda não passei por outra emoção maior que essa, passei anos sem ir a Parintins, mas a cada ano que vou aquela emoção dos meus 15 anos me visita novamente.









Como diria Pedro : “Não tem preço sentir o azul do Caprichoso e o vermelho do Garantido, se sentir no meio de uma rivalidade ímpar, onde um adversário respeita o outro, pois como yin e yang, um não existe sem o outro. Não tem preço estar num lugar onde as pessoas, mesmo contrárias na paixão, sabem deixar as diferenças de lado pra juntos curtirem o som das toadas que emanam dos carros, das casas, das praças; com provocações, mas sem brigas; sentir que as pessoas que ali estão querem brincar, se divertir, voltar a ser criança, sair da realidade, num sonho chamado Parintins. Troque sua dúvida pela emoção e seja mais um a dizer VALE A PENA!!”

Aguardo vocês o ano que vem em Parintins para conhecerem não só o meu touro negro como o boi contrário!!

Site recomendado : http://www.pontodevista.com/gale_f.htm

22/09/05

“O Código Malhoa”, por Eleutério Brown

Ó Freitas, apareceu um homem morto no Museu José Malhoa, junto àquele quadro… - “Os Bêbados”, chefe? - Sim, sim… Vá lá e leve a Gisela, a nossa criptógrafa.- E não haverá mais ninguém de turno hoje para tomar conta do sucedido, chefe? Falta-me tão pouco para a reforma… – Eu sei, Freitas, eu sei… mas este é o nosso trabalho. Coragem, homem.

Cá estamos, Gisela. Ora então, os “Bêbados”. Já sinto arrepios… Nunca se soube porque é que aquele bêbado do centro está a sorrir, pois não? – Não…o próprio Malhoa sempre foi muito evasivo nos escritos que deixou acerca do quadro. E quem tentou investigar…. coitado do Cardoso... - Gisela, esta não é a altura para reabrir feridas. Coragem! Repara, está um pedaço de pano cozido ao colarinho do casaco do morto! Diz assim: “Lavar a 50 graus”. O que é que isto significa, rapariga? - Hhhmmmm, é claramente uma coordenada para localização de alguém. - O Lavar, claro… - Não, não, desconfio que o nome desse francês é para despistar. Conheço a técnica. Numa célebre investigação que dirigi nos Estados Unidos, sobre um assassinato junto a uma reprodução dos “Bêbados” no Metropolitan Museum, encontrei no colarinho do morto uma inscrição semelhante que dizia “Wash at 50 degrees”. Subi rapidamente os cinquenta degraus para encontrar o tal Wash, e acabei por encontrar um indivíduo com outro nome. Ainda hoje, no corredor da morte, o tipo nega que tenha cometido o crime. Bom, aqui a pista está concerteza no quadro. Traçando o tal ângulo de cinquenta graus em relação ao quadro, verificamos que a linha caí em cima do terceiro bêbado a contar da direita, o de bigode… repare, repare! O homem do sorriso está mesmo por detrás dele! Começo a perceber tudo… E veja também que a linha do bigode do homem faz um ângulo de vinte graus! - Cuidado, Gisela, estamos a entrar em terreno movediço. Vamo-nos esconder naquela arrecadação!... Já podemos sair, chefe? Sim, mas com cautela. Agora vamos ver um mapa da cidade…hhhmmm…Traçando uma linha de vinte graus desde o bigode vamos ter à sede do Grupo Onomástico “Os Josés” - Vamos lá então, mas com cautela.

Boa tarde. - Boa tarde, trazem moedas para a troca? - Moedas? - Claro, não está a ver alí escrito “grupo onomástico”? – Pensávamos que era uma ordem onomástica. Queriamos entrar em recolhimento espiritual. Mas porquê “Os Josés”, já agora? - Olhe, só o fundador é que lhe podia explicar isso, mas morreu antes da primeira reunião. Por uma qualquer estranha razão, todos os que convocou se chamavam José. - Isso é suspeito… Gisela, vamo-nos esconder naquele beco!...- Já podemos sair, chefe? - Sim, mas com cautela. Vamos voltar ao interrogatório. Psst, olhe lá, como é que morreu o vosso fundador? - Foi atropelado por um bêbedo. - Esse bêbado tinha um chapéu de abas largas amarrotado? - Por acaso, tinha. - Se vir a fotografia dele, é capaz de o reconhecer? – Talvez. - Veja então esta reprodução do quadro "Os Bêbados”, do pintor Malhoa. – Tenho mesmo que olhar para esse quadro? Cada vez que olho para ele, sinto uma pancada forte na nuca e fico inconsciente. - Não se preocupe, estamos aqui para o proteger. - Hhhmmm… quem atropelou o nosso fundador foi aquele bêbado da esquerda. Se quiserem falar com ele, vão ali ao lado, ao Grupo Onomástico “Os Mários”, uma agremiação de apoio aos asmáticos. É o senhor Mário, o fundador do grupo.

Boa tarde, o senhor Mário está? - Não, foi ontem ver os “Bêbados”, do Malhoa, e ainda não voltou. Estamos preocupados porque se esqueceu cá da bomba para as crises de asma. - E isso tem acontecido muito? - Desculpe, não posso dizer-lhe mais nada. Compreendam... E agora vão-se embora, por favor. Tenho a vida em risco. Se quiserem saber mais alguma coisa, vão a este endereço. É uma pequena capela gótica em ruinas na Escócia.

(Continua. Vai-se descobrir nos próximos capitulos que o Freitas é afinal o pai da Gisela; que o Chefe é na verdade o mandante do crime e que o Malhoa afinal sabia muito mais do que aquilo que contou, nomeadamente que a Gioconda casou secretamente com o bêbado do centro, que é o Freitas, filho do senhor José, e que vivem os dois em parte incerta na serra da Lousã, na pequena aldeia do Candal, junto ao moinho de água, onde se dedicam à produção de licor de urtigas, cujo segredo é, afinal, o motivo pelo qual tantas pessoas têm sido mortas ao longo dos anos junto ao quadro, que retrata na verdade uma prova cega de whiskies, o que justifica a referencia à tal capela na Escócia, como se vai ver).

06/09/05

De Lascaux a NY: uma breve história da arte ocidental, por Argonauta Tatuado

Há umas dezenas de milhares de anos alguém pintou às escuras animais selvagens nas inacessíveis grutas da Dordogne, como se fossem úteros. Assim tudo começou ou é, pelo menos, um bom começo. Pela presentificação plástica e simbólica da ausência se inicia um percurso de onde nascerá toda a metafísica, toda a teologia, toda a moral e todas as utopias. A existência declara-se insuficiente, a inexistência torna-se suposição e ganha forma, tal como o desejo pelo tempo se faz história. Os gregos esculpiram deuses com forma humana, monges irlandeses pintaram minuciosas iluminuras na superfície sagrada dos bíblicos pergaminhos como se fossem grutas paleolíticas. Villard de Honnecourt rabisca catedrais com paredes de vidro onde se narram histórias sagradas e coloridas, como se fosse BD. Desde os tempos dolménicos que somos nós a fazer grutas. É isto a arquitectura. As catedrais góticas, apontadas ao céu e cheias de luz como se fossem vítreos arranha-céus novaiorquinos, são as mais belas. A Sagrada Família é a mais bela das mais belas, pois que na sua incompletude estatutária remata o processo dolménico, fazendo com que o misticismo escolástico se equipare a uma fantasia que lembra a Disneylândia. Somos fazedores de espaço com a razão ou com o sonho. Seja pelo alargamento do espaço físico ou pela invenção do espaço simbólico. Por isso a invenção das leis da perspectiva é contemporânea de Galileu e das grandes viagens transoceânicas, tal como Einstein que desfez a imagem clássica do Universo é contemporâneo de Picasso que bidimensionando nos libertou da tirania renascentista. O caminho de Picasso leva-nos ao quadrado de Malevich, onde se nega todo o legado clássico: cor, profundidade, figura e técnica. Outro caminho, iniciado em Goya, supera o cânone racionalista libertando fantasias e subjectivando o mundo. Se o Renascimento inventou a ideia de génio, Pollock destruirá o mito pois que no dripping não há autoria porque não há consciência. Deste beco sairá Warhol reinventando a arte como objecto de consumo de massas e produção mecânica, até que Haring nos resgatou desta banalização irónica. Nas galerias subterrâneas do metropolitano de NY, a Lascaux americana dos finais do século XX, Keith Haring reactivou uma reminiscência original pintando graffitis pictográficos como quem pinta animais selvagens, devolvendo à arte o simbolismo primitivo e descobrindo depois em Grace Jones, que cobriu de adereços e pinturas neo-primitivistas transformando-a numa divindade totémica, uma essencialidade original que afinal nunca se perdeu, onde o corpo se revela outra vez como objecto e instrumento privilegiado da expressão artística. Como nunca deixou de ser e já era antes de Lascaux.

05/09/05

04/09/05

Katrina Eufémia, por Fura também Cão

O meu primo com nome de mulher, o Furacão, fez das dele.

Tornou Nova Orleães numa Nigéria taliqual.

Peninha dos negros e dos brancos à la americaine? Pas moi.

Se os nazis tivessem ganho a Segunda GM, que diferenças hoje?

Nenhuma, à excepção dos judeuzitos de merda.

Katrina Eufémia: je t’aime!

Nota do Administrapor: Este post é da exclusiva responsabilidade do seu autor. Os restantes membros deste blog não só repudiam os termos, como os preconceitos aqui expressos. Contudo, e porque a censura nos repudia mais ainda, pedimos que endossem todas as críticas para o blog do nosso confrade e amigo: O Canil do Daniel

02/09/05

Tempestade, por Mangas

Um gavião desenhou dois círculos lá no alto. Voo suspenso sob o céu cinzento. Devem ser um prenúncio qualquer aqueles dois círculos, porque de repente as nuvens ficaram mais carregadas. Ficar por cá para além desta semana pode ter um desenlace inesperado. Às tantas, começo a habituar-me a vaguear pelo French Quarter e a sentir a ligação alienante ao jazz de rua e à comida creoule com muito picante.

Corre uma brisa fresca que a pele húmida agradece. Tentam vender-me uma boneca voodoo negra, com palha a fazer de cabelo e o rosto em forma de caveira, mas eu só tenho olhos para o gavião que agora paira sobre a minha cabeça. As tardes renascem neste tempo sedento de sangue. Os meus pés levantam poeira que em breve se irá transformar em lama. Sinto a camisa colada ao corpo. Vejo polegares apontados para cima, ansiosos por uma boleia. Também eles já perceberam que esta noite é o fim do mundo. Quatro putos negros batem com frenesim a sola metálica das botas no pavimento dos passeios. É um sapateado anunciador. Alguém recolhe os toldos e tranca as portas. Gritam pelos filhos. Gritam pelos filhos dos filhos. Alguns (muitos!) deixaram os bares e vieram para as calçadas diluir os últimos acordes de um trompete metálico em estado de ansiedade. Não há nada mais perigoso do que um trompete em estado de ansiedade! Garanto que ainda o consigo ouvir. Sem dar um passo. Sem mexer um músculo sequer.

Num instante as ruas ficaram desertas. Olho mais uma vez para cima e quase não distingo aquela forma ameaçadora de asas abertas. Caem as primeiras gotas e o barulho ensurdecedor de um relâmpago deixa tudo às escuras. Num instante também, a fúria das águas desceu dos céus, como o gavião tinha prometido. Começou.

Acho agora que sempre devia ter comprado a tal boneca voodoo.

New Orleans, Louisiana, Julho de 1994

30/08/05

Vou Mapor numa Porca – Porcão

Sirva este texto para dizer de minha injustiça a propósito do Tapor.

Ele-mesmo.

Em tempos, havia o telefone de casa da Mãe, que era uma rodela de números e servia para se mandar chamar o colega do liceu.

De repente, veio a internet com as cartas electrónicas.

Depois, nasceu o porco que sapõe em si mesmo.

Para moi, trata-se de um (raro) espaço de verdadeira liberdade expressiva.

Não um pós-expressionismo, mas, digamos, um expressionismo com uns pós.

Claro, é uma coisa aberta, tipo Sharon Stone (pronto, pronto, rapada, rapar prémios e outros requeijões de algo gabarito lácteo-humorístico).

Modos que as pessoas do Tapor não são pessoas na comum acepção da palavrinha. São mais bolos pseudónimos, vozes que do éter remoto consubstanciam sarcasmos, amarguras, piadolas, observações etc..

Aparece gente. E não só gente. Até mulheres aparecem: Gotikas, Didas e quejandas. Isto para grande uga-uga do Grão, a quem o universo fêmeo extraconjugal sempre (a)pareceu como eu-querer-queria-e-até-lá-ia-se-não-fora-a-patente-ilegalidade.

Eu não. Eu a níbel de gajas é tudo em termos físico-atléticos e com grande cultura táctica direitinho ao último terço de terreno. Sim, o Gabriel Alves é um dos meus cona-clastas.

De liberdade falei. Continuo a.

Queria-se dizer pertantos que a gente pode e deve dizer aqui o vai-pó-caralho que não consegue dizer na repartição de finanças. Podemos dizer: foda-se não, vá-se foder, por causa do seu cu tenho eu a pica a arder.

Tão a e’ceber?

Tudo é bem-vindo. Não há ofensas. Quanto mais cocó falado, menos merda a sério.

Deixa-se, por exemplo, brincar a gaiata às ortografias. Coitadita: que mal tem coçar a rateca com uma cedilha? Se um gajo se sentir grão, isto, melindrado, arresponde tipo assim: olhe, fáxavor de saber que sus pintelhos fossem estalactites a cona da sua mãe era mais turística que as grutas de miradaire.

E pronto. Agora, vou mapor. Fodei-vos bem uns aos outros e contai comigo: eu vou atrás que sou coxo.

23/08/05

O Boné, por Cão



Olá.

Esta foto, tirou-ma um sobrinho.

Não gosto dela: é uma boa foto.

Mostra-me o que e como sou: portador de dentes torrados pelo abuso do tabaco, o olhar de cão pedinte, o sorriso espúrio de vendedor de ar não condicionado, a roupagem vulgar, o boné da filha, o aspecto de vivo por empréstimo.

Para que está aqui a merda da foto?

Para chatear.

Não tem, o fotografado, qualquer importância.

É pó, cinza será.

Para chatear?

Sim.

Primeiro, para me chatear.

Segundo, para chatear os decerto se chatearão com o alusivo ferrão.

Tudo isto, claro, a propósito de uma outra foto daqui censurada.

Eu conto:

Era o dia 12 de Julho de 1987.

Estupidamente, casava-me eu nesse dia contra uma rapariga com tanto de teimosa (em casar) como de pré-divorciada (olarilas, assim foi).

Convidei pouquíssima gente.

O dinheiro para o “banquete” não dava para mais.

(E mesmo que desse, que se fodam a memória, o casamento e a fotografia…)

Esse ano 1987 foi-se.

Esse 12 de Julho foi-se.

Ficaram os amigos.

Também fui aos casamentos deles, em cujos fiz o desfavor de me portar como um imbecil.

Num, meti-me nos copos e com a namorada de um amigo.

Noutro, atirei um gato à piscina e mijei numa cómoda.

Atitudes que já prenunciavam o excelente aspecto físico, higiénico, moral e ontológico que a fotografia acima demonstra à saciedade.

Entretanto, dediquei-me aos papéis.

Escrevo, leio, revisiono, entendo, não entendo, aborreço-me, exulto.

E vou à internet.

No meu balogue, vou bolçando quase diariamente toda uma colecção de cromos e inconsequências tão inúteis como inócuos.

No Tapor, boto hoje a minha foto.

Viva o União de Coimbra!

Viva Daguerre!

Viva Bill Gates!

Viva o Lápis-Lazúli da Censura à la Grã-Nefertiti!

Viva a Maluqueira!

Viva o boné da minha filha!

Devastação

















17/08/05

Pena, por Cão

Vale a pena estar vivo, embora não se saiba por ou para quê.

Este é o país a que chamamos nosso, apesar de ser deles. Deles: dos que mandam pôr a arder, dos que põem a arder mesmo sem mando, dos que ganham com o que ardeu.
Perante o flagelo anunciado de cada Verão (que, com a seca, começou este ano em Janeiro), alguém acredita na senhora-de-fátima o suficiente para encomendar submarinos em vez de helicópteros.
Nas festas flavas do T-Clube, a nacional aristocracia achinela-se untada de banha e idiotia.
Enquanto isso, nós engarrafamos clios e eskorts na curva de Buarcos, entre peões de tanga que carregam tremoços e feijoadas e mães solteiras buscando alemães que não virão, verão.
Vale a pena estar vivo, mas não ser vivo, ici.

Este é o país a que chamamos osso, porque a carne é deles. Eles, quem?

A ver:
O pivô-chorão do telejornal.
O Marcelo Rebelo de Sousa, de olhos muito abertos de coruja que não dorme para nos velar.
O Mário Soares, que não morre nem que o matem.
O Pateta Alegre, que já morreu mas não sabe.
O coiso dono da Vivenda Mariani.
O Obikwelu a tocar o hino das quinas em congas e bidons.
O Nino Vieira a passar anos de férias cá antes de ir mamar de novo lá.
O Pinto Balsemão sempre a cocar e o directorzito do Expressozito dele.
A Catarina Furtado a dar cabo ao nome do pai.
O Joaquim Furtado a criar uma filha para isto.
O Nicolau Breyner, que, via RTP, está encarraçado no pêlo do Orçamento de Estado há coisa de 40 anos.
O Herman José, que tem tanta piada como uma anedota pedófila e/ou de peidos.
O Moita Flores, esse grande guionista e grande amigo do Carlos Cruz.
O Carlos Cruz.
O Benfica, o Sporting e os coisos das Antas.
O viveiro-PS e o viveiro-PSD.
O mexilhão e a alforreca.
O Fausto Correia hirsuto e o Albarran careca.
O Carlucci da CIA e da EuroAmer.
O Talon e o Tyson.
A Pasta Medicinal Couto e a placa da Lili Caneças.
O Santana Lopes e o Sentido de Estado.
O Vasco Pulido Valente e o século XIX Fraco.
O Sampaio a chorar como se fosse pivô de telejornal.
A família Câmara Pereira e as pragas de gafanhotos bíblicas.
O riquinho que é presidente da Câmara de Aveiro.
O idem que é ibidem da homóloga de Ílhavo.
A calcinada tristeza de Coimbra, sob todos os aspectos.
Os indígenas de lata da Cova de Papelão da Moura.
O Zezé Camarinha, tão algarvio como o coiso da Vivenda Mariani.
A Igreja de Viseu.
O sertão de Bragança.
O Bispo de Braga.
A Josefa d'Óbidos.
As alcunhas alentejanas que passam a nome de família à hora da sesta-baptizado.
A Reserva Territorial aposentada da Tropa a gozar o prato nas termas.
A maltosa sueca da celulose.
O Pacheco Pereira a garantir que é a reencarnação do Che mas em Rumsfeld.
O Rumsfeld e a Condor Lisa, a preta que lá está a fingir que a MerdAmérica do Norte não é dos brancos wasp.
A Nancy Reagan, que é viúva há 80 anos e só agora é que lhe disseram.
O Giuliani no baile dos bombeiros antes do baile da Casa Branca.
A maltosa toda a dizer “é assim”.
O Luís Represas no elevador a fazer muzcas pró dito.
As manas Pinto Correia muito muito Fundação do Gil.
O Padre Fontes a cozer chás de bruxas em chaleiras de ouro bento.
O Moniz e a cova da Moura Guedes.
A TMN a mandar uma optimus fodavone.
O preço do tabaco.
A sangria atada do gasóleo.
O Bibi a fazer bobós a bebés.
O socrático Carrilho e a platónica Guimarães.
O bebé deles com nome daquele rei que plantou pinhais para ter onde cagar no intervalo das cantigas de amigos e das guerras com o filho.
D. Afonso Henriques, o primeiro presidente do Conselho de Administração da Gulbenkian, cujo complexo de Édipo fundou um país lamentável.
O próprio Gulbenkian, que quis fazer outra merda desta merda e que fez.
Os reformados a votarem lanigeramente nos gajos que lhes mamam as reformas de mama.
As reformas educativas e os professores e os alunos e os resultados das reformas educativas e dos exames, menos os de consciência.
A água das torneiras.
Os rios, mortais casas dos peixes.
Os suinicultores de galochas e os porcos descalços.
Timor e a Religião e Moral obrigatória.
O Rato Zinger, Mickey em alemão.
O futsal e o futebol de praia.
O voleibol de praia e o Maia e o Brenha.
A Madeira e o coiso.
USAçores.
O Graça cova da Moura, poetastro oficial cujo nome de tradutor é maior do que o traduzido Dante.
O Prado Coelho, coelho oficial.
O Guterres nos ugandas e nos sudões a benzer refugiados e a dizer “tenham paciência, tenham paciência, vão lá com Deus”.
A Maria Barroso e o padre Melícias a irem lá com Deus.
A fanhosice perpétua do Herdeiro do Trono de Portugal, que parece ‘cosa mentale’ mas não deve ser.
O Feytor Pinto e as camisas-de-vénus, hoje sim por causa do cancro ou lá como se chama aquela moléstia que dá de comer à Margarida Gorda dAbraço, amanhã não por causa da moral.
A moral.

E a pena.

Ser mulato em Londres, por João Negrão

No dia 22 de Julho o brasileiro mulato Jean Charles de Menezes foi morto pela polícia britânica à queima roupa no metro de Londres. Primeiro disseram que levou três tiros. Primeira mentira: levou oito tiros. Sete na cabeça e um no ombro. Acharam-se ainda mais três cartuchos. Foram disparados onze projécteis. Depois tentaram justificar o fuzilamento dizendo que o brasileiro Jean Charles levava uma mochila, usava um sobretudo largo e suspeito, que adoptou um procedimento suspeito, não comprou bilhete, que desobedeceu a uma ordem, que corria, que pulou por cima da barreira de acesso ao metropolitano. Mentira, mentira, mentira, mentira, tudo mentira. O mulato brasileiro levava um pequeno saco com os seus haveres, como qualquer pessoa normal que se desloca para o trabalho, usou o seu bilhete pré-comprado, apanhou a carruagem em passo apressado, como toda a gente faz, vestia um leve blusão de ganga justo ao corpo. Diziam também que resistiu à ordem de prisão. Mentira, mais uma vez. isto é, em toda a história contada pela polícia não há um grão de verdade, é tudo mentira. Porque morreu então Jean Charles? Por uma razão só: o seu prédio estava sob vigilância. Às 9h30m da manhã Jean Charles saiu para trabalhar e foi dado como suspeito. Porquê? Porque é mulato e os anglosaxónicos de pele leitosa e cabelo ruivo confundem mulatos com árabes e acham que os árabes são suspeitos de terrorismo. Azar ser mulato em terra de burros!

16/08/05

O método Lynyrd Skynyrd, por Doc Comparato

Todos se devem lembrar daquela canção dos Xutos & Pontapés intitulada Para Sempre que foi banda sonora de um filme com o Quicas Almeida (o Banderas português) que fazia de padre (é sempre a mesma merda) e mais não sei o quê. A música tinha uma guitarra a rasgar que fazia mais ou menos isto: Nhééunmm nhé nhé nheééunnnumummmmm ....... e depois Ai meu amor..... etc. Pois bem, quando puderem ouçam o Free Bird dos Lynyrd Skynyrd, comparam e digam-me se estamos perante uma grande coincidência, uma grande inspiração ou é o Lynyrd Skynyrd Method bem aplicado.

14/08/05

Viagens na “Nossa” Terra, por Almeida Garrido

Tenho a sorte de ter uma fobia: andar de avião. Tal sorte leva-me a considerar a Espanha como destino preferencial de férias. Espanha é o melhor país do Mundo. Tem tudo! Excelentes vinhos, óptimas praias, arte, cultura, museus, touradas, tapas, monumentos que vão desde o Império Romano à arquitectura pós-moderna como mais nenhum outro país tem à excepção da França e da Itália. Espanha tem eventos desportivos e culturais de nível mundial, livros e livrarias, pintores, peixe, carne e mariscos. Espanha tem mulheres lindíssimas que se pintam, perfumam, passeiam e riem no meio da rua. Tem plazas e esplanadas, montanha, lagos idílicos, florestas verdejantes e até tem Portugal!

Na 1ª etapa, fui de Coimbra a Leon com paragem em Salamanca para almoçar. Aqui, deu-se o único episódio desagradável quando tive que fazer ver ao animal do empregado de mesa que o mundo já não se divide em espanhóis e portugueses, pois que nem eu sou o Príncipe Perfeito nem ele era parecido com Isabel, a Católica. O cabrão pôs-se a resmungar num castelhano cerrado e quando lhe pedi para hablar de espacio, o gajo disse que em España se habla castellano e que se eu quisesse que aprendesse. Passei-me e expliquei-lhe em portuñol:
- Hombre, lo mal non es que yo no te entienda. Lo mal es se te mal entiendo. Pues que si quieres que te entienda, habla de espacio y si no quieres que te entienda, mejor es hablar chino porque se te malentiendo… coño, va a haber circo aquí e ahora, caralho!
O velho amansou e lá mandou um pardon señor que eu entendi perfeitamente.

Chegados a Leon, destaque para a catedral gótica, a casa Botines de Gaudí e um magnífico rabo de boi com setas. O vinho da casa é que era merdoso.

No outro dia, pelo meio da manhã, rumámos a Gijón, próspera cidade com uma baía lindíssima. O tempo estava bom e tivemos praia. O paseo maritimo estende-se por quilómetros e quilómetros, propiciando um passeio agradabilíssimo. Invejo os espanhóis pela qualidade dos espaços públicos: passeios, jardins, plazas, monumentos, parques, recintos desportivos, etc. Costumo dizer até que o grau de civilização de um povo se mede pela qualidade dos espaços públicos, na medida em que demonstram o quanto o colectivo se sobrepõe ao particular. Ora, se o objectivo a realizar pela acção política é a promoção do bem-estar público, o individual deve sempre subjugar-se ao colectivo. O planeamento urbanístico e a cidade são o processo e o resultado que permite aquilatar o quanto se alcança esse objectivo. Dito isto, poupo-me a mais considerações e seguimos para os Picos da Europa.

Covadonga é uma cagada! Tem lá uma merdunça de um museu feito com as oferendas pirosas dos peregrinos e um templo neo-românico dos finais do século XIX, mais uma estátua patética do Pelágio. Safa-se a paisagem e a gruta-santuário. Mas este local tem tanto de piroso como de simbólico. É um anti-Alhambra. Se olharmos para Sul, para o Alhambra vemos como era sofisticada a civilização do Andaluz. Comparar o Alhambra com a toca de Covadonga dá-nos a medida do abismo que separava o norte gótico e cristão do sul islâmico e mediterrânico. É a mesma distância que vai de Vale da Porca a Nova Iorque! O abismo dá a dimensão do mistério: como foi possível que os bárbaros montanheiros do norte, incapazes de imaginar sequer o que fosse um limiar mínimo de civilização já que desconheciam em absoluto a cidade como expressão urbanística para além daquilo que não destruíram da herança romana, como foi possível , dizia, que tenham vencido e expulsado os islâmicos da península? A resposta tem tanto de simples como de inacessível para os fanáticos xenófobos. É que os bárbaros do norte tinham a semente que seria o segredo do triunfo: a propensão para o universalismo, isto é, a capacidade de integrarem o que de bom e válido lhes é legado pelos outros. Os islâmicos do Al-Andaluz cavaram um beco luxuoso que os condenou à decadência e à perdição, pois se fecharam culturalmente. Adormeceram indolentes, embevecidos com o seu sucesso e conforto, crendo terem atingido um equilíbrio que lhes parecia paradisíaco mas que era simplesmente imobilizador.

Próxima paragem no Parador de Cangas de Onís onde, depois de um breve descanso fui para o bar no antigo claustro do mosteiro beneditino. Gin tónico com e um livrito: A «História Artística da Europa», dirigida por Georges Duby: «Bernardo - diz um dos autores - não se limita a criticar; propõe como alternativa uma “estética da autenticidade” de onde se recolhe – como no Bauhaus de Gropius – o máximo de energias intelectivas e o máximo dos respectivos resultados formais.» Na verdade, S. Bernardo de Claraval critica violentamente o figurativismo decorativo e os monstros que povoavam toda a arquitectura românica numa aterrorizadora pedagogia do medo, propondo uma nova estética, depois chamada cisterciense e magnificamente testemunhável em Alcobaça, onde o despojamento significasse espiritualidade e recolhimento. É a esta atitude que o autor, de forma certeira e surpreendente, compara a Gropius e à Bauhaus. Neste sentido e no limite, o suprematismo tem algo de cisterciense e S. Bernardo algo de minimalista, pois que a geometria é irmã da teologia e o quadrado preto de Malevich é um alfa-ómega.
Ao jantar, um volovent de setas, seguido de “delícias de cerdo ibérico”, acompanhado por um tinto Prado Rey, Ribera del Duero, roble 2003, com taninos bem fortes, uma estrutura sólida e profunda, cor fechada com laivos avermelhados, intenso, prolongado e com aromas que se desdobravam da tosta à especiaria.

No dia seguinte, Miracielos, próximo de Llanes. Um pequeno hotel a 80 metros da praia fantástica. Uma baía abraçada por duas restingas de pedra onde cresciam pinheiros mansos. A linha de costa preservada e verdejante com vacas a pastar. Os fetos escorregam até à areia. A água é gelada, mas eu não me importo. Três dias descansados. Gastronomicamente, destaco um magnífico robalo grelhado comido em frente ao porto de Llanes com um albariño cujo nome já não lembro. Aproveito para lançar a questão uma vez levantada pela enóloga favorita da RS.T (cujo nome não posso dizer porque o Grão-mestre não deixa) sobre a recente moda de cortar o peixe longitudinalmente em duas metades. Pode ser mais rápido e mais bonito, mas atenta contra a dignidade do bicho, tornando-o seco.

Em Llanes, porém, a experiência mais marcante foi a visita ao campo municipal de golfe. Sim, em Espanha há campos municipais de golfe. Não é um desporto elitista, embora seja caro para os turistas. O campo é magnífico. O slogan promocional diz tratar-se “provavelmente” de um dos mais bonitos campos da Europa. Eu conheço poucos campos, mas garanto que podem tirar o “provavelmente”. Foi construído sobre um planalto com o maciço Cantábrico de um lado e o oceano do outro. As vistas são deslumbrantes. Destaco o hoyo 7, cujo tee de saída se pode ver na foto. O green está 165 metros à frente. Não há fairway, tem que ser uma tacada directa. As vistas são celestiais, no sentido literal, com Llanes ao fundo. O vento é permanente, pois estamos a uma altitude de cerca de 200 metros e ao lado do mar, o que dificulta o voo da bola. A primeira bola saiu-me mal e foi para Llanes. A segunda exigia concentração. Escolho o ferro 5, ensaio bem o movimento e não me atemorizo com os observadores. Faço como o meu mestre, o Mau: baixo-me levemente e arranco um pedaço de relva como quem cata um piolho, ergo o braço e solto os pintelhos verdes ao vento. Com um ar de entendido observo o lado para onde esvoaçam e envergo um olhar de especialista. Franzo o sobrolho como quem morde a táctica e faço-me à bola. Stance correcto, backswing lento e desenhado, olhos na bola, pulso firme, swing a descer e PLAC! Quando levanto o queixo vejo o voo da bola. Subiu bem, desceu e caiu a dois metros da bandeira! Os velhos seguem viagem e eu insultei-os mentalmente!

Em Bilbao só deu para ver o Guggenheim. Bilbao está cheia de referências ao Pio Baroja que, para quem não sabe, é o nickname do nosso bilbaíno da confraria. Sim, que nós somos uma confraria internacional e temos um bilbaíno. Em Bilbao há livros do Pio Baroja em todas as livrarias, há calles Pio Baroja, estátuas e até um parque de estacionamento. Exige-se um post sobre o Pio Baroja ao confrade que assim se assina (bela cacofonia esta: cassimsassina!). Guggenheim é o Guggenheim. Estava lá uma merdunça de uma exposição fantástica sobre os aztecas. Não é que eu não goste, mas eu ia em busca da pop art, do Warhol, do Rauschenberg, Rosemquist e Koons e estava tudo cheio de aztecas! Só um Warhol (150 Marilyns coloridas) um Rosemquist e três ou quatro Rauschenberg. Gostei dos expressionistas abstractos. Destaco Franz Kleine, Willem de Kooning, um Rothko só (de entre os vários da Fundação) e, sobretudo, o catalão Tapiès de quem venho gostando cada vez mais. Referência para o Richard Serra que está representado em Serralves, com uma instalação intitulada “The matter of time”.

Jantar numa sidreria no casco viejo. Atenção a esta ementa: enchidos variados, omolete de bacalhau e uma costeleta de boi em sangue que ocupava o prato todo e que foi a melhor carne que já comi nos últimos anos, queijo e marmelada, café e sidra à discrição! Preço? 15 euros! Quanto à sidra, embora sendo agradável e propicie um ambiente engraçado com aquele ritual em que se serve, só a bebe quem não tem vinho.

A caminho de S. Sebastian, fomos por Azpeitia, com paragem em Loiola, terra de Santo Inácio. A religiosidade ferverosa dos bascos é facilmente visível. Há jesuítas em todo o lado, e Santo Inácio é um herói nacional nas terras do interior. A basílica que ergueram a Inácio na sua terra natal - Loiola - é imponente. O jesuitismo basco, compatível com a prosperidade e desenvolvimento económico, financeiro, cultural e social das terras bascas, devia dar que pensar aos jacobinos republicanos que encontraram no jesuitismo a causa da decadência e do atraso económico português. O País Basco é a prova do contrário. A jesuítica prosperidade basca prova ainda a burrice dos jacobinos republicanos portugueses (e não só!) que expulsaram, prenderam, humilharam e ridicularizaram os jesuítas, imbecilmente convencidos que assim trilhavam os rumos da prosperidade.

Em San Sebastian é tudo bom e bonito. Tão bom que se me dessem a escolher uma cidade para viver eu hesitaria entre San Sebastian e Barcelona. Abominei apenas aqueles bares bascos que eu também já vira em Bilbao, com a bandeira colada na parede rodeada com fotos dos etarras que eles consideram mártires. Usam boina como marca de uma raça que acham exclusiva e falam uma língua que se orgulham que ninguém entenda e isso, além de imbecil, preocupa-me, pois que se o País Basco é das terras mais belas, prósperas e atractivas que já visitei, temo que este fechamento cultural do qual este orgulho etarra, terrorista e narcísico, possa vir a condenar a Espanha à mesma sorte do Andaluz de há 500 anos. A causa de então parece ser a mesma de agora: soberba e fechamento cultural numa época de universalismo, mobilidade e multiculturalismo. Alguém que explique aos etarras que a especificidade da língua basca se deve apenas a um factor: o ter ficado à margem da acção benfazeja e civilizadora da latinização.

01/08/05

O Código da V., o Galo de B e o JR dos S., por Cão

Chegou Agosto, o mês dos parolos.
É o tempo dos nossos lusocranianos de mala de cartão.
Neste dia, lembro-me sempre daqueles que andam lá fora a lutar pela vida mas que nunca lá ficam.
Dedico-lhes estes aforismos anémicos.

1- Ler ‘O Código da Vinci’ é exactamente o mesmo que pôr o colete fosforescente no banco do condutor.

2- O verdadeiro Galo de Barcelos faz manguito com a asa.

3- A verdadeira senhora-de-fátima dá horas na base da azinheira de baquelite.

4- O perfume da sardinha assada é vaporizado de um frasco formato-pimento.

5- Perdoar Valentim Loureiro e o Futebol é dar a outra nádega, como mandamentam a Bíblia, a Bola e o Record.

6- O País arde todo o ano, mas só no Verão é que passa na TV.

7- Num país civilizado, gente como o José Rodrigues dos Santos seria obrigada a ir de mochila no metro.

8- Avelino Ferreira Torres e Fátima Felgueiras deveriam ser casados, um contra o outro.

9- Gostar de Portugal não é a mesma coisa que admirar o Ricardo Espírito Santo ou o José António Saraiva.

10- Deveria nascer um eucalipto nas badanas do cu do Jorge Gabriel. Não desejar o mesmo ao Manuel Luís Goucha é evitar-lhe uma satisfação.