31/01/08

ASAE-vos uns aos outros, por Cão

As “notícias” são inequívocas: estamos na mira do terrorismo. Internacional? Sim. Mas do nacional também estamos. Na mira da mouche.
Explico-me: ele há dois terrorismos. Um é o bom. O bom é sempre cristão. Cristão e nosso. O outro é o mau, que nunca é cristão, muito menos nosso. O mau é sempre o de lá de fora. Por exemplo, o do Paquistão, país sobre o qual cheguei a fazer cópias e redacções na escola primária daquele tempo em que o senhor Presidente da República de então, almirante Américo Thomaz, usava sapatilhas brancas como uma enfermeira anacrónica e apardalada.
O terrorismo bom é o de cá. É o do moçárabe António Nunes, também por exemplo, esse senhor que apenas fuma cigarrilhas de jackpot e que só deve sonhar com colheres de pau e outras islamices do género.
Que Mafoma abomine o toucinho, vá que não vá: também nós queimámos, em alegres e popularuchos autos-de-fé, as irradiações gentias do Porco Sujo. Que a Mourama ainda não tenha percebido o teor humano das mulheres, não vá que vá: nós por cá, tirando talvez o BCP, até as deixamos trabalhar de cabeça descoberta, sobretudo para as termos por conta. Agora que a Cristandade continue gerando antónios-nunes e cigarrilhas, não me parece bem.
Na raiz profunda da cisão entre “civilizações” (a boa, que é a nossa, e a péssima, que é a deles) estão vários factores: as telenovelas da TVI, o preço do sabão azul, a RTP Memória e a proibição do SG Gigante quando a Lua fecha as Portas do Sol.
Como moro num sítio sossegado, o único terrorismo a que estou sujeito é o consumo imoderado de ginjas ao balcão da Genoveva, uma senhora que criou os catorze filhos com biberões de vidro verde rolhados a cortiça e desrolhados com os dentes. Tirando isso, tudo é tranquilo. Os milícias do senhor António Nunes nunca aqui vieram nem hão-de vir, até porque nós olhamos os lírios do campo e sabemos que o nosso reino é deste mundo. Como nunca passámos um fim-de-ano em casino algum, jamais confundimos o mau-maria com o Maomede. Nem enfermeira com sapatilha.

30/01/08

Soraia Chaves Pra Ministra da Saúde, Já! por Estilista

Parece que era uma questão de estilo! Segundo o primeiro ministro pinto de sousa, Correia de Campos foi demitido mas as políticas vão ser as mesmas e «não vai haver qualquer recuo» (sic).
Então porque é que se demitiu o ministro? Por uma questão de imagem, parece que era feio e bruto, não estavam erradas as suas políticas mas o senhor tinha aquele ar antipático, era meio careca e tudo, não dialogava, enfim...
Por isso escolheram para o substituir uma senhora que, dizem, é meiguinha, quer dizer, tem «outro estilo», vai «dialogar com as populações» e tal... Ou seja, vamos continuar a levar com a cachaporra na cabeça, mas desta vez não é a sangue frio - primeiro vem a senhora fazer-nos uns miminhos! Uma questão de anestesia, pois.
Ora se o problema não era a marretada mas que nos fizessem uns carinhos primeiro, eu sinceramente - e acho que falo por todos os portugueses - preferia sinceramente a Soraia Chaves para ministra da saúde. Se o problema era de estilo não há melhor que a divina Soraia. Ainda vão a tempo de remodelar a actual ministra que pode ser simpática mas fica a léguas da soraia. Parece-me que já estou a ver os manifstantes a queixarem-se dos fechos das urgências e a ministra soraia a aparecer pró diálogo. Que se lixem as urgências - bate-me soraia, bate-me e chama-me tarzan!

29/01/08

Os Sindicalistas-Comunistas Atacam de Novo!, por Hiper Camarada

O primeiro ministro Pinto de Sousa voltou a circular esta semana pelo país ao som dos já habituais apupos e protestos. Primeiro foi em Évora e depois no Porto. Mas o homem parece que não aprende nada e continua a reagir a estas manifestações da revolta que vai pelo país sempre da mesma forma: com a enjoativa pose arrogante de mussolinizinho anacrónico a gozar com o pagode («É a festa da democracia», diz ele com aquele ar de jagunço engravatado); e acusando os manifestantes de serem perigosíssimos «sindicalistas» ou pior ainda, com licença da palavra, «comunistas», credo! Já o Goebbels dizia que uma mentira dita muitas vezes acaba por se transformar em verdade e o Pinto de Sousa parece seguir-lhe o pensamento.

Por isso é preciso lembrar pela milésima centésima vez, aqui e onde for possível, de cada vez que aquela presença seráfica aparecer na televisão a debitar mentiras, é preciso lembrar sempre, dizia, que não é verdade: os manifestantes que o vaiam por todo o país não são só comunistas nem sindicalistas. Somos nós todos que estamos farto dele, das suas políticas e dos seus rídiculos ministros.
Porque será que o hoemem, mal tira uns dias de férias, refugia-se imediatamente fora de Portugal? Só pode ser porque lá fora já exterminaram os comunistas e os sindicalistas, cujos apupos não tem que ouvir que desloca ao estrangeiro...


P.S (cruzes credo!)- sobre este tema já aqui deixámos:
http://tapornumporco.blogspot.com/2007/10/socialistas-de-pechisbeque-por-perigoso.html

26/01/08

Feda`is Dentro de Nós – Parte II, por Mau Mé Mé

Inicialmente eu tinha pensado em transcrever, simplesmente, a solução, melhor A Solução, do enigma do post que está logo aqui em baixo intitulado «E Você Também Tem um Feda`i Dentro de Si?». Retomo a magna questão: «Quem está mais próximo de Alá: o Profeta ou o arcanjo Gabriel?».
Mas entretanto choveram comentários que põem seriamente em causa a dogmática oficial Ismaelita. Claro que são interpretações heréticas que condenam irremediavelmente os seus autores aos tormentos dos Infernos. Mas como condenados já estamos todos, eu não resisto a publicar aqui uma súmula livre das principais posições defendidas nos comments ao referido post.

Assim conclui-se em primeiro lugar que os Comentadores fugiram à resposta clara e inequívoca: tirando o Gabar El que responde «o arcanjo, claro» (mas sem justificar, o que faz da sua resposta uma nulidade teológica), mais ninguém é taxativo na resposta.
No entanto percebe-se que a inclinação dominante dos ilustres Comentadores vai para o Arcanjo. O Arcanjo está mais próximo de Alá que o Profeta. Isso mesmo se depreende do comentário inicial do Britannicus que apoia a sua tese (a qual contudo, não chega a formular expressamente) na biografia do profeta. Pois não foi ele, cita retomando a célebre música dos Lamb, quem terá dito:
« i can fly
but I want his wings
i can shine even in the darkness
but I crave the light that he brings
revel in the songs that he sings
my angel gabriel»
E lembra ainda o Brit que «quem recitou as suras e a palavra ao ouvido do profeta foi o sobredito arcanjo.» Logo, conclui-se, o Arcanjo é o mais próximo.

Já o Oto, nick name de um trabalhador dos estaleiros da Lisnave em pausa para almoço, faz a coisa descambar para a escatologia, imaginando cenário orgiástico entre o Profeta, o Arcanjo e o autor do Post.

Por sua vez o Grunf porta-se como um hooligan teológico: não só não responde à questão como insulta tudo e todos , desde o arcanjo ao próprio Alá, em termos que o decoro religioso e o medo das labaredas do inferno me impedem de aqui reproduzir. Alá fez então a sua primeira aparição aqui no Porco avisando os hereges que depois terá uma conversinha de Deus pra homem com os dito cujos. Rezou assim a teofania porcina:
«E aos blasfemos, hei-de fodê-los nos Infernos, prometo.»
Alá

Veio aqui também o Allgarve que gostou, prontos. E sobre a matéria em questão nada disse.

Fugindo à corrente dominante veio também o TNT que disse de sua justiça:
«O Gabriel zela pelas bem aventuranças. O profeta é uma reminiscência de Alá, uma extensão do braço divino, numa versão mais terrena. Assim sendo, quiçás, o Gabriel dever-se-á prostrar ante Alá, tombado à direita deste... Se assim não é, devia... Ou então andam os dois encavalitados, a disputar a primazia das bem aventuranças...»

Pergunta-se se não será o TNT um pseudónimo do ex presidente Sampaio, já que este comentário dá para tudo consoante a interpretação: tanto se pode entender que é o arcanjo o mais próximo, como o profeta, como nem um nem outro.

Finalmente, reapareceu o Brit, para argumentar que, cito integralmente, porque este comentário é francamente notável:
«Caríssimos,em verdade vos digo que a vaidade é soberba e esforço vão de cingir o vento! Não esqueçam que a a palavra basilar e humílima do islão é a palavra "submissão".Não me parece, pois, boa ideia grafar o nome do profeta na caixa de comentários de um blog com o nome de Tapornumporco.
Aqui vai!
Segundo a sura XVII do Corão, o profeta teria realizado uma noite uma viagem. Enquanto dormia perto da Caaba, em Meca,teria sido acordado pelo Arcanjo Gabriel que, depois de lhe ter dado a sabedoria e a fé, o teria levado,na garupa do cavalo Al-Burac de Meca até Jerusalém,e dali teria subido ao céu.O pormenor significativo desta história (não se esqueçam que Deus está nos pormenores, tal como o Diabo está na prega) não é a dádiva da fé e da sabedoria, mas o facto do cavalo ter cara de mulher e cauda de pavão. Ora, ninguém montado em tal montada entraria no céu, que é lugar onde o ridículo é demasiado grave para sobrepairar etéreo acima do mundo terreal. Donde se conclui quod erat demonstrandum: que o profeta não está nem esteve no céu e, portanto,não pode estar mais próximo de Alá do que o Arcanjo Gabriel.Como bom muezzin tenho a obrigação de chamar os fiéis para a prece. Vou ao minarete! Um abraço!»
Bom minarete, Brit! O Brit parece insistir na superioridade do arcanjo sobre o profeta, embora não seja inteiramente claro, como é próprio de um Comentador que se preze. Tem ainda o mérito de recordar quão inapropriado é o nome deste blog, boçal evocação do animal esconjurado pela Verdadeira Fé: o Porco.

Feita a síntese dos Comentários dos nossos Exegetas verifica-se que, contra todas as expectativas, nenhum poderia alguma vez ser um verdadeiro Feda`i. Mordam as maõs de desespero, mas é assim! Ninguém deu a resposta certa. E qual é ela?

Segundo o dogma oficial é, de facto, o Profeta e não o Arcanjo Gabriel quem está mais próximo de Alá. É certo que somos tentados, superficialmente, a julgar a natureza divina do Arcanjo como superior à natureza terrena do Profeta. Mas isso é pura tentação com que Alá nos enebria. O Profeta está mais perto de Alá como justifica o Infalível e Supremo Da`i Ismaelita Abu Ali no momento da revelação da Verdade aos jovens candidatos a Feda´i. Cito, de Alamut de Bartol, página 178, a justificação insofismável confirmada pelo próprio Abu Ali:


«Alá enviou o arcanjo Gabriel em pessoa para anunciar a Maomé a sua missão profética. Se Alá não tivesse tido a intenção de distinguir precisamente Maomé diante de todos, teria podido contentar-se em confiar directamente a missão profética ao seu anjo. Se não o fez, foi porque reservava a Maomé um papel verdadeiramente único. Deste modo, é óbvio que este último tem no paraíso uma posição superior à de Gabriel».


E pronto! Atirem-se ao mar ou ao abismo mais profundo da montanha: pra Feda`i vocês não têm jeito. Pode ser que nas obras…

25/01/08

Um Governo De Miseráveis Merceeiros, por ZéPagode


O acesso à justiça e o direito à defesa são direitos constitucionais. Inquestionáveis para qualquer comum cidadão. Por mais miserável que seja, o indigente deve ter direito a exigir do Estado um advogado que defenda a sua posição perante quem quer que seja.

Agora, este miserável governo de merceeiros fez sair uma porcaria, digo, uma portaria onde os cidadãos carentes de defesa jurídica vão ser assistidos pelo advogado que lhes couber em sorteio de um conjunto deles que vão aderir a um sistema de lotes de 10, 20, 30 ou 50 processos, contra o pagamento mensal total de 6,40€ por processo. Despesas avulsas incluídas. Eis a porcaria nº 10/2008 de 03 de Janeiro.

O causídico adere ao pacote de 50 processos e passa a receber 320 euros por mês. O primeiro mês será o mais complicado, já que há que evitar a armadilha da carta registada a chamar o representado para falar com ele. Népias, não é preciso, nem é exigível. É que os 6,40€ por processo são com despesas incluídas. E com uma cartita registada já o artolas esbanja 2,33€. Com 50 delas, lá vão 116,50€, fora papel e envelopes.

E escrever à outra parte para tentar o acordo nem pensar, ou lá vão mais 116,50€. E o MSM também não resolve, ou lá vão os 40 cêntimos do bónus. Telefonema nem pensar. E o cliente passa a trazer a cadeira de casa, que os 6,40 não dão para o gasto da napazita. A fotocópia passa a luxo e o papel dos Reqtºs volta-se às páginas amarelas, agora abundantes já que a ASAE as proíbe para as castanhas. E daqui em diante só arial narrow em tamanho 8. Ou bic laranja de escrita fina. O Juiz que compre lupas.

Chato, chato é o mês em que caírem os julgamentos. É que 50 julgamentos ou diligências num mês ou dois, a 6,40 cada, implica que o artista faça dieta séria. Tem que aprender a viver com uma ou duas azeitonas por dia.

Mas esquisito, esquisito são os quarenta cêntimos por processo! Os quarenta cêntimos mais do que os 6 euros, parece-me um gozo com o pagode!

22/01/08

E Você? Também Tem um Feda`i Dentro de Si?, por Ali O Químico

Ando a ler Alamut do escritor esloveno Vladimir Bartol, mais uma preciosa sugestão literária do nosso Grão. Alamut relata a saga de Hassan Inb Saba, O Velho da Montanha, e da sua famosa Seita dos Assassinos, constituída no século XI.

Esta seita do ramo Ismaelita é considerada precursora dos actuais «mártires»/suicidas islâmicos já que os seus operacionais participavam em atentados suicidas deliberadamente votados ao martírio.

Sobreviver era desonroso; deixar-se abater, a Glória Suprema, como hoje... Alamut era o nome do quartel general da seita, uma fortaleza considerada inexpugnável, situada algures nas montanhas do norte da Pérsia. Este é o terceiro livro que leio sobre Alamut e sobre Hassan Ibn Saba. O primeiro que li foi o genial Samarcanda de um dos maiores escritores vivos da nossa era: o Libanês Amin Maalouf. O segundo foi um ensaio de Bernard Lewis, intitulado Os Assassinos - Uma Seita Islâmica Radical. O tema é fascinante, acho que não vou parar por aqui.

Nas páginas 177-178 doo livro de Bartol há uma questão fabulosa que é colocada aos jovens candidatos a Feda`i (a guarda de elite do velho Hassan). Da resposta correcta a esta pergunta dependia a consagração do jovem candidato a Feda`i. A pergunta era: «Quem está mais próximo de Alá: o Profeta ou o arcanjo Gabriel?»

Até um leigo como eu percebe a pertinência da questão, uma vez que é o arcanjo Gabriel quem revela a Maomé a sua missão. Qual a resposta a esta pergunta sacramental? Haverá, de entre os leitores do Porco, alguém suficientemente sábio para responder (justificadamente) a esta pergunta? Respondam nos comments. Para sabermos se há entre nós feda`is em potência... No próximo post publico a resposta correcta nas palavras do grande da´i de alamut Abu Ali, braço direito do próprio Velho da Montanha. Prometo.

17/01/08

Sheena is a Punk Rocker, por Gadelha

Os Ramones não sabiam tocar, é verdade. Mas os dadaístas sabiam pintar? A Fonte de Duchamp não é considerada uma das obras primas da arte do século xx? O Wharoll passou metade da carreira a reproduzir rótulos de sopas, fotos de refrigerantes e posters de Mao-Tse Tungs e Marylines e é considerao uma referência. Houve até quem - Nazoni - vendesse latas de merda, por sinal a valerem uns milhares nos leilões da Sothebys... Por isso não faz mal que os Ramones não soubessem tocar. Eles tinham atitude e a música que fizeram, à boa maneira dadaísta, foi uma crítica feroz ao execessivo intelectualismo do rock que se fazia quando eles eram putos.

Quando os Ramones apareceram ouvia-se Pink Floyd, Genesis, Yes e mais uma legião de imitações deles. Eram os tempos áureos do Rock Progressivo. Os músicos eram milionários, muitos deles tinham formação clássica e as aparelhagens e instrumentos musicais destas mega-bands eram lendárias e inacessíveis ao bolso dos putos que estavam a despertar para a música. Os concertos tinham-se tornado em recitais, o público assistia sentado e imóvel, o rock envelhecia e afastava-se da juventude.

O Punk explodiu para cortar com esse ambiente. O essencial era a atitude e uma banda não precisava de mais que duas guitarras, uma voz roufenha e uma bateria. O resto era energia e distorsão. Nos anos 70-80 os concertos voltaram a ser físicos: era o moche antes de se falar em moche. Os Sex Pistols, os Damned e os Clash não podiam tocar em lado nenhum porque a malta que ia aos seus concertos, literalmente, demolia a sala de espectáculos. Era o back to basics, o Rock voltava a ser devolvido à juventude, clamava-se contra o Rock Sinfónico e o Hard Rock e contra o show business.

Sempre achei que havia aqui injustiças óbvias. os Pink Floyd sempre foram brilhantes, os King Krimson fizeram verdadeiras obras primas e reconheço mérito aos Genesis da fase Peter Gabriel. Além disso, nunca encaixei as críticas dos Punks ao Hard Rock que era colocado no mesmo saco do rock sinfónico, embora por razões diversas. Como é que alguém que diz gostar de Rock pode criticar os Led Zeppellin, por exemplo, uma das mais importantes bandas de sempre? E há que não esquecer que, nesta sanha anti-sistema, até os Stones eram considerados traidores - por se terem tornado milionários e por, pior ainda, estarem velhos, já então. Estávamos nos anos 70-80. Entretanto passaram-se mais de 20 anos e eles ainda cá andam... Ao invés, nos últimos anos faleceu o Joe Strummer dos Clash, dois Ramones,o Sid Vicious e já ninguém sabe onde param os restantes ícones punks.

Seja como for, a crítica Punk teve aspectos positivos fundamentais e constituiu uma oportunidade de rejuvenescimento do Rock`n`Roll. Quanto a mim a última, embora o Grunge lhe tenha seguido as pisadas sem a mesma força. O Punk teve vida breve, como devia ser. E de todos os Punks eu sempre achei que os Clash foram outra coisa pela sua excelência, que os Pistols foram a encarnação viva do género e que os Ramones foram os mais anarquistas de todos. Os Ramones foram um caso à parte. Nem a estética Punk eles seguiram: sempre usaram trunfas pelas costas enquanto os seus irmãos de Inglaterra rapavam o cabelo. O It`s Alive seminal álbum da banda ao vivo fica para sempre como um marco na história do Rock n`Roll. Há quem diga, se calhar com razão, que eles não passaram de uma banda de garagem. E há mesmo quem afirme que eles só sabiam tocar quatro notas, o dó, o ré, o mi e o fá. Mas é mentira porque eu garanto que há um disco dels em que o Dee Dee Ramone consegue tirar um verdadeiro e inequívoco Lá. O resto é energia. Gabba Gabba Hey!

14/01/08

O exemplo do Boavista, por Cão

Qual é a diferença entre os adultos que somos hoje e as crianças que hoje nascem? É esta: nós não temos onde cair mortos, elas não têm onde nascer.
Neste país, já não há distinção entre “desengraçado” e “desgraçado”, sequer ortográfica. Se a houvesse, notá-la-íamos entre os 68 cêntimos mensais de actualização das reformas e o salário do ex-caixa de banco Armando Vara. Não é o céu, portanto, que não tem limites: é a “Pátria”.
É facílimo demonstrar quão tudo é dificílimo. Ele é o fartote do aluguer de aviões e helicópteros da “época de incêndios”: quantas fortunas particulares com dinheiros públicos não estarão a ser amealhadas à conta do regabofe que é o crónico atraso dos concursos de compra? Ele é o “Tratado de Lisboa”, que já não vai a referendo porque sim: está tudo tratado. Ele é a “Lei do Tabaco”, o novo apartheid a que se seguirão os regulamentos policiais do Açúcar, do Toucinho, da Farinheira, do Calçado com Solas Vulcanizadas, do Copo de Plástico, do Travesti de Carnaval, do Gay de Todo o Ano, da Ovelha com Chip da Serra da Estrela e, ainda, a do Porreiro-Pá-Porreiro-Pá.
Os partidos com menos de cinco mil militantes (como o Boavista F.C., por exemplo) vão ter de fechar. Recomendo-lhes vivamente que, para sobreviver, se transformem em “igrejas”: basta-lhes inscrever meia dúzia de “bispos” brasileiros (como o Boavista, por exemplo).
Ele há, porém, consolações: e não, não estou a referir-me nem ao Goucha nem ao Baião. Refiro-me à consoladora proposta que o mais famoso casal algarvio, os McCann, recebeu. Parece que alguém quer levar ao cinema um filme sobre a Maddie. Tenho uma proposta para o elenco: a Esmeralda como personagem secundária. Toda a gente sabe quão secundária é a Esmeralda.
(Aos quarenta e picos anos, o que me aborrece não é não ter onde cair morto. É não ter como renascer. Sim, como o Boavista.)

11/01/08

O Oportunista, por Néné

Não vou discutir a Ota. Nem o referendo ao tratado europeu de Lisboa. Limito-me a assinalar uma coincidência oportunista: pinto de sousa anunciou a nova localização do futuro aeroporto preciamente um dia depois do embaraço político que lhe causara a decisão de não referendar o tratado da união europeia.
O homem estava num claro beco sem saída: junto dos seus colegas europeus ficaria muito mal visto se viesse agora referendar o que há uma semana contribuiu para aprovar, enquanto presidente da União. Por outro lado, vetando o referendo não cumpre mais uma das muitas promessas eleitorais que meteu no bolso. Não que isso nos admire, claro.
Ainda tentou a fuga em frente, sem vergonha na cara, como lhe é próprio. Que não era este tratado aquele que prometera referendar... Mas esta saída era demasiado desavergonhada, esfarrapada, miserável, aldrabona... Tanto que nem os yes men do costume a repetiram muita vez. De modos que havia que tirar esta enorme espinha encravada na garganta do ególatra da ordem do dia. E assim se decidiu num ápice a localização do futuro aeroporto de Lisboa que não de Portugal. Ao sabor da agenda e dos interesses pessoais de um homem que confunde vezes demais o seu umbigo com o interesse do país que é suposto governar.

09/01/08

Viva o Pacheco, por Cão

Publiquei isto sobre o Gajo, n'O Eco, não me lembro quando. Foi em vida dele, enfim, que é o que conta. Viva o Gajo!

Chama-se Luiz Pacheco, nasceu a 7 de Maio de 1925 e é um homem livre desde esse dia.
Fez e tem muitos filhos. É editor, escritor, libertino, bissexual (ou era, que a idade tudo pendura…), má-língua-sem-papas-na-mesma, certeiro, danado, assertivo, cru, visceral, afiado, justo, injusto, amante, claro, obscuro.
Descobriu, revelou e publicou, entre muitos outros, gente literária hoje muito estrelada: Herberto Helder, Mário Cesariny, Natália Correia e António Maria Lisboa.t
Nunca se vendeu. Nunca teve “tachos”. Nunca se empoleirou. Passou fome de rabo (nos dois sentidos). Aos 80 anos, lixado da gosma da asma, com um enfisema assobiante, alcoólico (finalmente) não praticante, pobre como um esmoler franciscano, repousa com dignidade num lar de velhotes com cama, mesa e roupa lavada, ali para os lados de Setúbal. E sempre doido pela literatura.

São dele, entre outras mais, obras imprescindíveis como “Textos de Guerrilha”, “Exercícios de Estilo”, “O Libertino Passeia por Braga, a Idolátricat, o seu Esplendor”, “Memorando, Mirabolando”, “O Teodolito”, “O Caso das Criancinhas Desaparecidas”, “Os Namorados” e a fabulosa “Comunidade”, entre outros.
Pacheco é o meu herói. Hoje, resiste à morte com o mesmo denodo com que sempre resistiu às agruras da vida. Passou mal (até esmola pediu) para poder publicar a escrita dos outros. Esteve preso cinco vezes, no Limoeiro e nas Caldas da Rainha, por ordem da “Justiça” dum tal Salazar de má memória. Preso, mas sempre livre por dentro.
Agradeço-lhe o exemplo. Vivemos hoje em liberdade também por causa dele. Ele ensina a (r)existir. Por isso, viva o Pacheco! E viva a gente também, c’um caneco!

06/01/08

Vivemos Num Mundo São ou é Só o Meu que Pirou de Vez?, por Setanão

Às vezes pergunto-me em que espécie de mundo é que vivo e se não serei eu que estou a ficar maluco. È que já nada me espanta nem mesmo a frequência dos acontecimentos absolutamente insólitos que são o meu dia a dia. Dou um exemplo: as últimas vinte e quatro horas da minha vida. Faço uma lista singela e despretensiosa de algumas das coisas vividas por mim neste curto período de tempo. Não foram mais nem menos excêntricas do que qualquer outro dia da minha vida. Julgue quem quiser se isto é normal:

Jantei com um grupo de amigos do meu grupo de amigos mais chegado. O jantar, disseram os primeiros, ia decorrer num sítio reservado e secreto pelo que o grupo de amigos do meu grupo de amigos mais chegado entendeu que não podíamos reconhecer o caminho. «Obrigaram-nos» a vendar os olhos com panos de cozinha (!!!) e levaram-nos até lá nos próprios carros. Espero que ninguém me tenha visto a entrar para um carro com um pano de cozinha atado à cabeça…

Durante o jantar o Acúrcio contou uma história arrepiante de um seu conhecido que tinha acabado de recusar um bom emprego para Director Comercial de uma empresa com o estapafúrdio argumento de que «não pode passar recibos verdes porque assim perde o direito ao subsídio de desemprego».

De manhã fui ver um jogo de futebol de infantis, isto é, de crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 11 anos. O jogo devia realizar-se num excelente recinto desportivo com um óptimo piso de relva sintética novinho em folha. Mas a equipa visitante que treina e joga num lamaçal dito «pelado», recusou-se a alinhar invocando que não eram visíveis as linhas de marcação apagadas pela chuva! O jogo não se realizou, a equipa da casa perdeu por falta de comparência e as crianças voltaram para casa. Segunda feira há treino no tal lamaçal e os miúdos da equipa visitante lá estarão, possivelmente com um ou outro joelho esfarrapado graças ao pelado, mas pelo menos os directores da equipa estarão contentes com as marcações impecáveis do seu campo…

Entretanto o treinador da equipa visitada chorou porque perdeu o jogo injustamente...

Depois tocou o telefone. Era o Asdrúbal a dizer que a malta estava à minha espera para irmos jogar golfe ao campo mais próximo que fica a cerca de 70 klm de minha casa. Estava um tempo do piorio, não se via um palmo à frente do nariz com tanta chuva mas o Asdrúbal insistiu que o Américo e o Abelardo tinham consultado um satélite na net que garantia «abertas» passado o tal raio de 70 klm. Fui jogar golfe. Arrancámos debaixo de uma chuva demencial. É claro que, 70 klm depois, continuava a chover copiosamente. Não podemos jogar, almoçámos e regressámos a casa 140 klm depois e mais umas pragas aos satélites da net…

E ainda o dia não acabou. Pelo meio penso que o primeiro ministro é um gajo tão medíocre como o pinto de sousa; no governo da nação que tem como pedra angular da sua política de saúde o fecho de urgências e maternidades no interior do país; nas prioridades do ministério da educação que agora resolveu embirrar com os nomes de santos das escolas públicas (valha-nos Brás de Alportel e Tiago de Compostela )… Pergunto-me a mim próprio se a minha vida é normal, se a vida de toda a gente é vagamente parecida com isto ou se eu e todas as pessoas que me rodeiam seremos inteiramente sãos da cabeça aos pés. Pensando bem, receio que não mas fico na dúvida se é só a minha vida que é assim ou se a vossa se assemelha um pouco que seja a isto…

03/01/08

Sim, Eu Tenho Todas as Nove Séries de Seinfeld, por Bizarro

Cheguei a odiar séries de TV. Passei a odiá-las mortalmente desde que as telenovelas brasileiras chegaram a Portugal e a malta que tirava os fins de tarde nos meses de Verão para vir jogar à bola para a rua até ficar noite cerrada, passou a ficar em casa, pantufas instaladas e olhar vítreo no écran. Tudo começou com a Gabriela, Cravo e Canela. Ainda hoje nem posso olhar para as fronhas dos personagens que me lembram logo os anoiteceres solitários que passei irritado à espera da malta da bola que nunca mais apareceu.

Por essa razão perdi muitas telenovelas algumas das quais, dizem-me amigos credíveis, eram excelentes. E, supostamente, quanto melhores eram, mais as odiei. Por extensão, passei a odiar também as séries, pobres inocentes no meio disto tudo. Entendamo-nos: não foi propriamente contra a qualidade das séries e das novelas que eu me revoltei. Não. Foi contra o próprio conceito de telenovela, essa ideia própria de escravos que gostam de o ser, de ficarmos ali todos os dias à mesma hora à espera para cumprirmos uma rotina, qual extensão dos deveres diários. Todos os prazeres morrem assim, quando os disciplinamos e lhes marcamos horários. O conceito de «série» tornou-se-me pois, intrinsecamente repugnante. Não me recordo do nome de nenhuma telenovela e o máximo que o meu fundamentalismo permitiu foi assistir a séries semanais, aqui e ali. Enfim, a obrigação semanal de ver uma série não é exactamente o mesmo que estar todos os dias à mesma hora colado ao écran. Neste caso a quantidade faz a qualidade.

Foi assim que, com o tempo, pese embora o meu preconceito inicial, acabei por me tornar fã de algumas séries fundamentais. Do Bonanza que era anterior às telenovelas e preenchia o meu universo infantil de castigar os maus que eram sempre os índios. Dos Monthy Python que descobri espantado, atarantado e divertido na excelente série Flying Circus que dava aos sábados de manhã e se chamava em português Os Malucos do Circo, vá-se lá saber porquê… Não perdi um Cosmos do Sagan, verdadeira descoberta que me afastou do glorioso pelado dos sábados à tarde; delirei com o Espaço 1999 que hoje revejo com um sorriso nos lábios quando penso em tudo o que os autores previam para aquela data mítica - colonização da Lua, viagens no tempo e no espaço, armas de raios laser, convívios com ETês afáveis e lutas intergalácticas. Suprema ironia, passados anos depois da série que passou nos anos 80, em 1999 ainda ouviríamos vinil e andaríamos de Fiat 128… A série tinha contudo uma ideia brilhante que seria a realização dos sonhos mais lúbricos do porco que há em todo o homem. Refiro-me à personagem da segunda série de Espaço 1999, Maya, uma fantástica extraterrestre que tinha o poder da transmutação – Maya podia transformar-se num tigre, numa ratazana, num dragão do planeta Zorg, mas também numa scarlett, numa marylin ou numa angelina if you know what i mean…E também adorei Star Treck, os seus argumentos inteligentes e aquela tensão permanente entre Mr Spock, o etê do planeta Vulcano com a sua hipertrofia racionalista, e o capitão Kirk, terrestre como nós, irracional e intuitivo.

Bonanza, Monthy Python Flying Circus, Cosmos, Espaço 1999 e Star Treck fora as minhas séries de culto, mas ainda hoje penso que o que me mantinha preso, para além da sua espantosa qualidade, era a sua periodicidade semanal, suficientemente arejada e nem sempre regular. Nunca as suportaria em formato diário. Abominaria se se tivessem transformado em telenovelas.

Depois fez-se um hiato imenso de muitos anos em que devo ter perdido séries geniais (para não falar das telenovelas, formato que considero filosoficamente incompatível). Deixei de ver séries, prontos. Até que nos anos 90 reencontrei-me com a série, ao descobrir aquela que é a mais espantosa e genial obra do género. Falo, claro do imortal Seinfeld. Seinfeld é o supra-sumo, o clássico dos clássicos, a perfeição viva. Seinfeld está para o género como Sófocles para a tragédia, Camões para poesia, Kant para a Filosofia... Ele é o ponto de chegada do género «série» finalmente rehabilitado. Devo a iluminação ao nosso Grunfo, Deus o guarde! Nunca descobriria a série porque simplesmente estava afastado do formato, já não tinha outra vez paciência para aturar séries. Felizmente o Grunfo tinha a paciência e o espírito metódico que ainda hoje tem e salvou-me a vida.

Comecei a ouvir falar de Seinfeld, precisamente pelo Grunfo que me contava religiosamente as peripécias de Constanza, Jerry, Helen e Kramer. Eu ria só de ouvir o que ele me contava. Mas havia um problema. É que a série, comprada se não estou em erro , na altura, pela TVI, dava às 3 da manhã, remetida para os fundos de catálogo em nome de famigeradas telenovelas e programas pré-big brothers que disputavam entre si o bom gosto dos telespectadores portugueses. E, por essa razão, eu passei quase um ano a ouvir falar de Seinfeld e a rir-me a sério com as suas peripécias antes mesmo de ver um único episódio, abençoado Grunfo, nunca te poderei agradecer o suficiente… O Grunfo, esse continuou fiel, firme no seu posto às três da manhã para ver mais um episódio. Felizmente para mim, um dia o Grunfo cansou-se de ficar acordado e começou a gravar aquilo tudo em cassetes VHS, hoje autênticas relíquias, peças de colecção para admiradores fanáticos como nós. E foi assim que, num belo dia que ainda hoje recordo como se fosse ontem, o Grunfo me passou uma data de cassetes com os episódios das 3 da matina todos gravados. Foi amor à primeira vista. Só vos posso dizer que houve um fim de semana que nem saí da cama e vi furiosamente todos os 40 ou 50 episódios da cassete. Talvez eu nunca tivesse descoberto a série se ela desse muito certinha num disciplinado horário televisivo. Mas vê-la assim de enfiada como um enorme filme de Longa-Longa-Metragem, em overdoses cavalares, foi a maneira certa de me apaixonar por Seinfeld para sempre.

Seinfeld merece mais atenção. Merece que aqui no Porco nos detenhamos um pouco na consistência das personagens e como são parecidas connosco próprios. Merece que dissequemos aquele excelente slogan que é a ideia chave da série – Notes About Nothing. Merece posts sobre as personagens «secundárias», sobre o megalómano e hilariante Newman, sobre o Nazi das Sopas que eu haveria de conhecer nas noites de quinta feira na cervejaria Munich, sobre os pais de Costanza, sobre Bania, sobre o tio Léo…

Além disso, Seinfeld reconciliou-me com a série, enquanto género respeitável e, graças a isso, ainda vim a descobrir Os Sopranos e O Sexo e Cidade (e acrescento uma preciosidade que, infelizmente, saiu da circulação cedo de mais e discretamente, Calma Larry! que tem o argumentista de Seinfeld, Larry David como personagem principal e que já mereceu post no tapor (http://tapornumporco.blogspot.com/2007/09/
curb-your-enthusiasm-calma-larry-na-rtp.html) . Sopranos e O Sexo e a Cidade… Ninguém quer pegar na deixa?.