31/10/08

O Verdadeiro Artista? Por Porco&mundo


Qual deles é “O Verdadeiro Artista?”. Penso. Peso. Repenso e sopeso e não me consigo decidir. Qual dos dois artistas é “O Verdadeiro”? O Dilema é sério e gostava da vossa ajuda. Aqui vai:


O Verdadeiro Artista Nº UM: Estou em julgamento com um Porco aqui da Vara, a quem convidei para se sentar ao meu lado durante a lide. Como a toirama testemunhal esperneava e não se deixava lidar convenientemente, a faena foi-se arrastando e entrando pela tarde dentro. Ao meu lado O Verdadeiro Artista Nº 1, começa remexer-se incomodado pela demora. – Calma, rapaz, que é que tu tens, aguenta que coisa está a correr bem, é bexiga? – Não é isso, pá, é que tenho o carro ali na rua com ticket até às 16 horas e já passa, achas que posso sair daqui ou tenho que pedir licença à Juiz? – Nada, segue e vai-te!


Pouco depois o Artista volta e abanca de novo. Finda a faena, com verónicas de requinte e praça de pé – mais um sarraceno, declarado puro e casto -, vamos ao café beber qualquer coisa. Mando-o pagar e diz-me O Verdadeiro Artista Nº 1: - Tas doido, se eu tivesse dinheiro prá bica, tinha dinheiro pró carro! – Atão, mas tu não vieste ao carro meter moeda? – Meti, mas fui à secretaria do tribunal pedir um euro ao escrivão, tive que lhe moer o juízo, mas convenci-o e o gajo deu-me um euro a meio do julgamento! – Mas tu tás doido?, foste sacar dinheiro ao tribunal?, e agora vens-te embora sem devolver o euro? – Não pá, abona aí um eurito, pra eu voltar lá acima…


O Verdadeiro Artista Nº DOIS: Esta outra tem um tempito e passa-se com outro artista, também rapaz aqui da vara. O Verdadeiro Artista Nº 2 vem ter comigo ao café a meio da tarde e passamos o resto do lusco fusco na vadiagem da baixa aos livros, discos e demais montras para ensebar. A certa altura, janta-se no Zé Manel e lá por volta das 9 horas da noite avançamos para o parque de estacionamento onde o Verdadeiro Artista Nº 2 tinha o carro. Aí chegados, está à entrada do Parque e à chuva forte da noite, o desgraçado do Arrumador, qual alma penada. O Artista vira-se pra mim e pede-me um euro pra dar ao arrumador que vinha ao nosso encontro cabisbaixo. E digo eu, alma inocente nestas lides de alto coturno: - Ó animal, porqué que vais dar uma moedita ao Arrumador se o gajo já está de saída e nós também? - Eu devo-lhe o euro, pá! - Deves-lhe o euro?, como? – É que eu quando cheguei não tinha moeda nenhuma para meter na máquina e quando o gajo veio ter comigo a pedir pra ele, expliquei-lhe a minha situação, dei-lhe a volta e convenci-o a dar-me ele uma moeda a mim que meti na máquina, porqué que julgas que o desgraçado está aqui à chuva à minha espera e às nove da noite, vá lá, abona aí…


Pois é assim, meus caros, penso e repenso, e não consigo chegar a uma conclusão e preciso da vossa ajuda: Qual dos dois é ”O Verdadeiro Artista?”

30/10/08

O Professor Bambo Vai Dar Aulas na C+S do Meu Bairro, por Nostradamus

Aos professores deste país, já só lhes faltava terem de saber de Astrologia. Por isso há escolas que vão criar gabinetes de Mânticas, isto é, de artes da adivinhação, para ajudarem os docentes nas suas novas funções de futurologia. Deviam aliás substituir os gabinetes de psicólogos por gabinetes de quiromância. E os professores deviam ser trocados por mestres do oculto.

Vem isto a propósito da famigerada avaliação dos professores. Os profs agora terão que prever, até Novembro o mais tardar, portanto, com base em menos de três meses de aulas, a percentagem de alunos que irão reprovar no final do ano. Leram bem, não estou a gozar: apesar da reprovação ou aprovação dos alunos depender de muitas variáveis que escapam completamente ao controlo do professor (variáveis socio-económicas, de enquadramento familiar e cultural, contingências de ordem pessoal e psicológicas, etc, etc, etc), este vê-se obrigado a avançar com uma previsão, nesta altura do ano, sobre o número de alunos que vai reprovar no fim do ano à sua disciplina. Se não atingir a média prevista será penalizado, claro, na sua avaliação! As irresponsáveis e ininputáveis cabeças valterianas que pariram esta aberração chamam a isto «ciência». Eu chamo-lhe futurologia e já se está mesmo a ver os efeitos perversos de uma medida como esta no futuro dos nosso alunos. E há quem se admire do recente e milagroso sucesso educativo português, u verdadeiro case study à escala universal...

Como os professores são versados em muita coisa mas não consta que o sejam em Futurologia prevê-se já a criação de Gabinetes de Astrólogos, Tarólogos e outros magos nas escolas portuguesas. Prevê-se ainda a aquisição pelas escolas de novos recursos educativos como baralhos de tarot, galinhas pró vudu e magia negra, patas de coelho e gatos pretos. O magalhães tem os dias contados: vem aí a produção de uma bola de cristal novinha em folha inteiramente produzida por uma empresa portuguesa com dívidas ao fisco, como a outra.

A ideia de contratar astrólogos, tarólogos e outros magos para as escolas é boa e libertava os professores de uma área em que, manifestamente, não se sentem muito à vontade. Parece que estou a ver os Conselhos de Turma do futuro (afinal também sou capaz de prever o futuro e nem sequer sou professor quanto mais...):

- Director de Turma, professor Rakam - Vamos dar início à presente reunião solicitando a comparência do Professor Bambo para lançar as cartas e fazer as previsões para o presente ano lectivo.

- Professor Bambo - Ora muito bem... Ué, isto não está nada bom, as cartas estão negras para a turma C. Ó diabo, saiu o Enforcado ao Luizinho. Este é que já não tem hipóteses. Mas precisava do parecer de uma astróloga que nos informasse da conjugação astral de saturno com Júpiter neste mês do ano. A Maya dava aqui um jeitão. Não se pode despedir a psicóloga e trocar por uma taróloga?

Mestre Alves - A conjugação astral não oferece dúvidas. A única solução para o sucesso da turma é a reza de três mezinhas e o sacríficio de uma galinha virgem.

Com um Conselho de Turma com professores deste quilate não tenho dúvidas que o sucesso da turma C vai ser esmagador. Mas mesmo sem eles não me custa adivinhar que o futuro das novas gerações de portugueses que estão a sofrer o devastador efeito socras/valter/milu, pese a mascarada do sucesso artificial com que nos pretendem enganar, vai ser sombrio, muito sombrio. Bruxo...

27/10/08

Dos bifes e da terra deles, por John

Depois de uma experiência livreira falhada, deu-se a circunstância de ter acumulado recentemente à minha vida uma experiência emigrante falhada. Uma perspectiva optimista da existência dir-nos-ia que não há experiências falhadas, só há experiências, mas fosse o que fosse, cá continuo a lutar pela vida, pois é assim a vida. Novamente no “meu” país.

Sou um internacionalista, um apaixonado da globalização, mas este episódio de exílio tornou pelo menos mais aguda a questão de “casa”, do sítio onde nascemos, crescemos e estamos até mais confortáveis. Entre os nossos, na nossa terra. Por muito que isso por outro lado nos desagrade, porque também há sempre algo desagradável no que é “nosso” e estar lá fora tanto pode ajudar a relativizar como a acentuar os defeitos do “nosso”país. Seja como for, por muito que sejamos do mundo, é muito difícil escaparmos à noção e à emoção da pátria. Somos sempre de um cantinho do mundo e há sempre um lugar de regresso. Até o taporco é um lugar a que se regressa sempre com prazer, quando mais a um país que dizem que é nosso...

Estive cerca de três meses em Inglaterra, em Bristol, no sudoeste da ilha, entre Gales e a Cornualha. Este post não serve para tratar de questões pessoais ou de regresso – sou pai de dois filhos muito pequenos e alguns factores de longo prazo pesaram, digamos apenas assim - mas sobretudo exprimir algumas impressões do que foi esta experiência recente. Acima de tudo, foi muito enriquecedora. No mínimo, conheci um pouco o Reino Unido. Pelo menos algumas paisagens e edifícios. E alguns usos e costumes. E, curiosamente, regressei também com a viva sensação de que Portugal é melhor, em termos gerais, do que vulgarmente acha quem de cá nunca saiu. E que até pode ter um futuro mais radioso do que países como o próprio Reino Unido, se não descarrilar. Como é evidente, no entanto, Portugal ainda é pior num sem número de pequenas coisas. E além disso, a Inglaterra não é assim tão má como alguns descrevem, há muito quem chegue, se instale, se adapte e seja feliz. No meu caso, não foi assim, mas o meu caso não é necessariamente exemplar. Seja como for, gostei e aconselho muita coisa que por lá vi.

O que segue, porque sou como o Júdice, um “optimista preocupado”, são assim mais notas soltas acerca do que mais me impressionou positivamente, que acho que é um espírito adequado à conjuntura:

Uma das mais gritantes coisas inglesas melhores é a preservação e a valorização do património, da história, da paisagem, do ambiente. E até das tradições e da arte e da cultura em geral, da sua produção e da sua fruição. A questão do património, sobretudo o património arquitectónico e histórico, é como que um símbolo dessa superior qualidade britânica. Realmente, não se vêem, como cá, palácios ou castelos a cair aos pedaços. Os ingleses nutrem o seu passado de uma forma mais exigente e não há edifício minimamente notório que não esteja primorosamente cuidado. O mesmo para parques, matas, reservas ou outros patrimónios naturais. Deve ter a ver com questões de orgulho e vaidade, o que nos falta e o que lhes sobeja, mas tudo se pode também resumir em suma a uma questão geral de maior civilidade e elegância.

Outra coisa gritantemente superior é a imprensa. O jornalismo que por lá se faz. O nosso, até o pimba (que é o grosso da nossa imprensa, mesmo disfarçada de coisa “séria”) comparado com o de lá, é uma caricatura mal desenhada. Além do facto de que se lê muito mais, é-se menos analfabeto, lê-se muito melhor. E o feliz leitor britânico tem o privilégio de poder escolher entre muitas excelentes opções. Só no capítulo dos jornais diários a diferença de qualidade é abismal: Do Times ao Guardian, do Financial Times ao Independent ou ao Daily Telegraph, há um leque muito razoável de jornais, de diversas sensibilidades políticas - uns mais conservadores, outros mais liberais, uns mais à esquerda outros mais à direita, outros mais centrais, nesse aspecto também não enganam ninguém e nem comprometem a qualidade do jornalismo produzido na mais antiga democracia da Europa. Neste segmento, por exemplo, Portugal tem apenas um título acima de média, que é o Público. Para quem gosta de andar bem informado, um forte ponto a favor dos bifes.

Uma das razões da anterior superioridade britânica é também ela própria uma coisa melhor. Tem a ver com o nível de exigência do cidadão comum. Achar que o inglês é o cromo grunho operário dos pubs e dos futebóis à morteirada, é como achar que o português é o cromo grunho operário da tasca e dos futebóis à morteirada. Também é verdade, mas nem de longe nem de perto toda a verdade (aliás, o segundo exagero está muito mais próximo da verdade do que o primeiro). Mas o que interessa é que os ingleses regra muito geral são muito mais exigentes enquanto cidadãos, enquanto consumidores - de cultura, cuidados de saúde ou autocarros. Por isso estão os espaços públicos e patrimoniais tão bem preservados e por isso são melhores os jornais. Também por isso, já agora, se diz com verdade que os portugueses trabalham “muito melhor lá fora” (além de “muito mais”, mas isso é outra conversa). Fazem-no porque, aqui, nem eles próprios se sentem motivados a serem “melhores”, nas suas comunidades, nos seus empregos, nas suas famílias, etc.. Aqui previligia-se sermos “mais”, ou “menos”, ou sobretudo “mais ou menos”. Enquanto que “lá fora”, encontramos não só elevados critérios de qualidade, como melhores graus de exigência. Adaptamo-nos e gostamos, e vemos que é bom. Mas regressamos e achamos outra vez que é só para os outros. É o sistema. É alguma coisa na água da torneira. Não sei, mas enfim, é mais uma questão de mentalidade, genérica e que será afinal transversal a todo o resto que possa enumerar, mas esta cultura de exigência foi daquelas coisas que mais me marcaram positivamente por lá, digamos assim.

Um ambiente laboral muito mais favorável ao trabalhador. Outra coisa que pude confirmar positivamente. A começar nos níveis salariais médios e na cobertura social ao desemprego ou à maternidade. Gente muito mais ciosa dos seus direitos, sobretudo, mas também gestões muito mais profissionais e sérias na generalidade das pequenas, médias, grandes ou gigantescas empresas. O patronato português médio é não só muito mais conservador e básico, como muito mais mesquinho e explorador. Ah, e não há cunhas, nem na função pública nem na função privada. Ou pelo menos é um fenómeno muito raro e altamente condenável. E não generalizado e aceite como altamente como cá. Outro sinal evidente de menos parolos no sistema.

Os políticos. Uma distância abismal. Até com a televisão sem som. Só o aspecto é largamente superior. O debate político e a qualidade dos políticos britânicos mete os nossos num bolsito. Por aqui, pelo que vejo, os partidos continuam a reeleger Batistas. Não é que não haja caciques deste calibre, nas Ilhas, que os deve haver, mas regra geral é um nível bem acima da nossa média. Também, lá está, é outro nível de escrutínio. Mas não há dúvida que o Brown mete o Sócrates num bolsito e que o parlamento local é muito mais respeitado e melhor frequentado do que o nosso. E que há menos parolos.

Falam inglês. É certo que muitos portugueses falam mais ou menos, lá está, inglês, mas os ingleses têm a enorme vantagem de todos eles falarem fluentemente a sua língua. Esta é da minha veia internacionalista e de esperantista utópico, mas também tem a ver com o facto dos ingleses estarem mais em contacto com o mundo, são menos aldeões. Falam fluentemente a língua franca da globalização e moram num dos principais motores culturais, científicos ou económicos dessa globalização. Estão como tal numa situação muito mais privilegiada em relação ao mundo e à contemporaneidade, não no balcão, mas no palco. Estando na Inglaterra, digamos assim, nós portugueses temos muito melhor consciência da nossa insignificante periferia.

Em grande medida graças a esta universalidade da língua e do papel central no mundo, a internet inglesa é também muito melhor. Um excelente indicador são os sites dos municípios e entidades públicas afins, que são muito melhores e frequentes. O nosso país ainda está quase na idade do transístor no que respeita, não tanto aos consumidores de internet (somos já mais de quatro milhões a navegar em Portugal), mas aos produtores de internet, à disseminação do comércio eletrónico, do acesso a serviços, presença empresarial, portais temáticos e gerais, excelentes sites de jornais, televisões ou revistas, etc. . A oferta Web britânica, pública ou privada, é outro bom exemplo a seguir. Esta história do Magalhães, já agora, é um bom sinal e é nesse sentido que Portugal deve caminhar, muito bem, no sentido da informatização maciça das novas gerações, já que isto da informática e da internet agora só acaba quando o mundo acabar. Não é moda nem é questão optativa. Quer dizer, haverá sempre quem prefira regressar à natureza pré-digital, mas até nesse aspecto os ingleses estão a ser mais e melhores. Sobretudo, o que é irónico, a regressar à nossa natureza pré-digital, a julgar pelo muito metro quadrado a retalho que têm comprado no abandonado interior português.

Fala-se muito mais de religião, de religiões, direitos, liberdades e garantias, laicismo, ateísmo, criacionismo, secularismo, etc. No país de Richard Dawkins, Hume e Russel, tudo isto está presente na praça pública inglesa com muito mais vivacidade e interesse. O forte crescimento da comunidade islâmica a par com uma cada vez mais vocal comunidade secular, descrente e humanista, são fenómenos entre outros que geram um debate público intenso, e que recentemente chegou até aos autocarros de Londres, sob a forma de publicidade a promover a descrença em Deus… Em Portugal, o catolicismo romano não se debate muito mas são, principalmente, assuntos que despertam pouco interesse ao nosso nobre povo à rasca com outras urgências, mas este é, sem dúvida, um forte ponto forte a favor para a Inglaterra. Discutem-se coisas interessantes. Em grande medida porque há em média menos parolos.

Quase toda a gente diz obrigado e boa tarde ao condutor do autocarro, à entrada e à saída. E não me refiro aos autocarros de carreira com motorista habitual. Refiro-me aos condutores dos buses urbanos. Pelo menos da cidade onde vivi. “Hello” à entrada e “thank you” à saída e sempre com um sorriso - por sinal, achei que se riam muito mais do que nós, em geral, mesmo na rua, sobretudo na rua, pelo menos em Bristol. Os motoristas agradecem e tenho a certeza que gostam do gesto. Mas é principalmente um hábito simpático. Que aqui é raro.

O futebol. Aliás, todos os desportos em geral, é gente que aprecia uma vasta gama de modalidades, mas sobretudo o futebol. Não sou de grandes empenhos teóricos ou militantes, nem sequer tenho clube, mas o futebol que se pratica e assiste aqui mete o nosso domingo desportivo no bolsito ao pé do bolsito onde estão os nossos políticos. É um primor. Até os jogos “do fundo da tabela”, como dizem os peritos. O puto Ronaldo em grande destaque e estima, ainda, estádios sempre cheios e animados, protagonistas mais civilizados e profissionais, golos fabulosos a rodos. Enfim, espectáculo com muito mais qualidade e, como dizem os peritos, “muito mais brilho”. Até aqui há menos parolos. O cricket, o rugby, o golf, o bilhar ou os cavalos são outras modalidades extremamente populares.

Não deitam piriscas para o chão e é muito raro escarrarem na via pública. Só quando estão bêbados, o que é muitas vezes. Mas seja como for, pelo menos na cidade onde estive, a limpeza das ruas funciona muito melhor e há cinzeiros públicos por todo o lado. Mas atesto que em todos os sítios a que fui (Londres, Brighton, Bath, Glastonbury, Cambridge, etc.) não há o hábito generalizado e aceite da beata ou da cuspidela indiscriminada a qualquer hora do dia. Ruas muto mais limpas e um grande ponto pró-bifes.

Muito mais bicicletas nas cidades. Sem dúvida nenhuma incontornável, esta referência positiva. E entretanto reparo que a prosa já vai longa. Os prós são mais e talvez para a próxima escreva sobre os contras, que até nem acho serem o mais importante, mas genericamente acho que para já chega. E os interessados podem exprimir mais prós e contras nos coments, se lhes apetecer.

A Fabulosa Barraca do Curso de Mecânica, por Jack o Canalizador

Em época de Latada na Cidade dos Estudantes, o Porco, sempre atento, aconselha um notável projecto emprearial. Refiro-me, nem mais nem menos, à fabulosa barraca de comes e bebes do curso de Engenharia Mecânica situada em pleno Queimódromo. Se estão em Coimbra durante esta semana dêm lá uma saltada que vale a pena. E que tem a barraca da malta de Mecânica de especial? Tem génio, tem garra empresarial, tem inovação...

É que a malta de Mecânica decidiu arrancar com a seguinte promoção dos seus magníficos produtos etílicos:
«Um beijo lésbico - uma bebida de cápsula»;
«um soutien - um ponche»;
«uma cuequinha - um shot».
Pensavam os ingénuos Mecânicos que estes letreiro não iam ser levados a sério, que a malta ia entendê-los como simples brincadeira própria do espírito da Queima. Erro! Erro abençoado, dizem eles. É que os letreiros foram tomados a sério e agora há uma concorrência desgraçada de garinas a tirarem soutiens e cuecas e a mandarem-se nas delícias do beijo lésbico por uma simples bebida de garrafa, um ponche, um shot, vá lá... Parece que agora chega a haver mesmo lutas ferozes entre a rapaziada de Mecância: antes da promoção ninguiém queria, agora todos querem ser os barmanes da barraquinha do curso. Compreende-se. O R. contou-me que uma destas noites lhe apareceu uma gaja que lhe perguntou:
- Mas olha lá, basta tirar o soutien ou é preciso mesmo mostrar as mamas?
Ao que o R., barman de serviço, respondeu:
- Faz como quiseres...
E ela levantou a camisola e fez. O R. ficou cos olhos em bico e diz que agora já não sai do seu posto antes das seis da matina.

O sucesso da iniciativa é retumbante e ameaça mesmo levar à falencia a barraquinha da Mecânica: numa só noite venderam-se 200 e tal e bebidas mas foram consumidas 300. Cerca de 100 beijos lésbicos, soutiens, cuequinhas e mamas a mostra por noite! Pode ir à falência mas não importa: a barraquinha de Mecânica é já o maior sucesso dos últimos anos de Latadas!
A questão agora é a seguinte: se as gajas mostram as mamas por um shot e dão beijos lésbicos por uma bebida de cápsula então o que é que estarão dispostas a fazer se a malta de Mecânica prometer uma flute Veuve Cliquot, um copo de Barca Velha ou um whiskie de malte?

21/10/08

O Que é Estrada Nacional é Bom, por Carvalheira

O jornal As Beiras de sexta feira passada publicou uma reportagem (?) que vale a pena ler. Trata-se da actual vaga de trabalhadoras sexuais, vulgo putedo, que invadiu nos últimos tempos as estradas nacionais do nosso Portugal de brandos costumes. Quem passa diariamente por uma destas estradas sabe de que é que estou a falar. Há muitos anos atrás o putedo de beira de estrada era produto exclusivamente nacional: as senhoras apresentavam-se mal vestidas, de apresentação descuidada e com um aspecto mais ou menos pouco higiénico, digamos assim. Geralmente estas trabalhadoras aparentavam provectas idades, o que sempre me fez suspeitar dos gostos gerontófilos do cliente portuga.

Nos últimos anos, porém, a beira de estrada das E Enes passou a ser frequentada por jovens de óptimo aspecto, bem vestidas, arranjadas, mesmo equipadas com cabedais a rigor, altas mini saias e estratosféricos sapatos de salto alto. Em suma, a beira de estrada portuga, passou a ter gajas MESMO boazonas em vez do refugo habitual.


Vem o jornal As Beiras, no que pode ser considerado um inestimável serviço de informação prestado à comunidade nacional, indagar acerca da identidade desta nouvelle vague de trabalhadoras sexuais. Quem são? Donde vêm? Quanto é que temos de pagar pelo serviço completo?

O jornalista responde a todas estas perguntas e a muitas outras mas coloca-se numa perspectiva, no mínimo, curiosa. É que, segundo a reportagem, estas senhoras boazonas são uma ameaça ao produto nacional! Pasmei.. O jornalista vai entrevistar as veteranas portuguesas das E Enes e conclui que elas estão a ver os seus postos de trabalho ameaçados por aquilo que é, afinal, uma vaga de emigração de Leste. O que se passa é que as boazudas são Ucranianas, Romenas e Belas Russas que abafaram (literalmente) a concorrência portuga porque são melhores, mais jovens e ainda por cima abundantes e diversificadas porque mudam de semana a semana. Queixa-se uma prostituta portuguesa que nem baixando o preço do serviço completo de 20 para 15 euros consegue atrair clientes! Estes preferem as estrangeiras, o que pode ser considerado uma manifestação torpe de falta de patriotismo. O testemunho de uma das nossas conterrâneas é particularmente comovente. A dita senhora que anda na casa dos 40 e tem cerca de 20 de trabalho na E Ene, queixa-se na entrevista que a concorrência não é só desleal: viola mesmo os princípio mais elemntares da decência e da deontologia profissional. Palavras da própria:

- Ando nisto há mais de 20 anos e nunca vi como isto. Vêm quase nuas para estrada, é uma pouca vergonha, não têm decência nenhuma.


Deviam proteger o produto nacional. Quando são as próprias prostitutas a queixarem-se da sem vergonhice das colegas estrangeiras é sinal de duas coisas:

uma: de que a crise aperta e toca a todas;

duas: de que, em consonância, a xenofobia não poupa nem as putas!

19/10/08

O Hino, por Chino

Um dia destes o circo da bola veio a Braga. A selecção de todos nós, jogou com a Abânia e eu fui lá ver. Tive mais uma vez a oportunidade de me irritar sinceramente com uma das coisas mais idiotas que se podem ver em jogos de futebol: o momento em que toca o hino da Pátria e as pessoas se metem todas de pé, muito hirtas, uns até com a mão esquerda no coração, como se estivesse mesmo em causa a Honra da Nação. Mas não se convencem que vão ver um simples jogo de futebol e que não, aquilo não é uma questão de vida, nem de morte, nem de Pátria? É ridículo ver a multidão de velhos, novos, homens, mulheres e crianças a cantarem aos berros «às armas, às armas, contra os canhões, marchar, marchar»… Como é que é? Às armas? Marchar, marchar? A maior parte daquela gente, se realmente algum canhão se levantasse contra eles, tratava era de dar ao slide.
Por isso quando começa este momento de patetice colectiva, eu, simplesmente, recosto-me na cadeira e fico ali com ar de gozo, não sei se triste se alegre, a ver aqueles palermas todos a arrepiarem-se de bacoco orgulho pátrio. E há sempre um ou dois que me olham de lado para confirmar se eu sou mesmo português ou do outro lado dos canhões…
Ah, a propósito, empatámos zero a zero com Albânia.

14/10/08

E Não Se Pode Atirar-lhes Cos Magalhães às Ventas?, por Vasco da Gama

Ouvi a notícia na Antena 1, ri-me às gargalhadas e liguei logo ao R. para partilhar o inacreditável. Eu explico: Paulo Carvalho é professor de EVT numa escola deste país e foi convocado com mais, exactamente, 199 docentes para se deslocar a Cantanhede para fazer uma acção de formação com a chancela de qualidade da equipa de patuscos do ministério da educação sobre essa novel peça da propaganda política, o Magalhães.

Depois de dois dias rigorosamente perdidos, segundo o próprio, em que nada de nada se aprendeu, depois de muitos episódios absolutamente risíveis, veio a cereja no topo do bolo: parece que as formadoras pediram um trabalho aos desgraçados dos formandos que consistiu na criação de canções e de teatrinhos com ilustrações power point em fundo com imagens do magalhães e de caravelas. Foi um forró! Sairam logo malhões do Magalhães e Viras do Magalhães... O Paulo Carvalho fez o favor de deixar um you tube no seu blog onde podemos ver e ouvir uma apresentação durante a qual se ouve uma guincharia dos diabos com o pessoal a rir às gargalhadas pelo meio equanto canta «esta Vida de Marinheiro tá a dar cabo de mim/rátaratarátarátaràtará». Podem acompanhar os pormenores desta saga e desmancharem-se a rir às gargalhadas com esta enormidade no site do Paulo. 200 almas a cantar os Sitiados em versão Magalhães... Nem os próprios tiveram tanto entusiasta nos seus concertos.


E eis o que é ser professor no Portugal analfabeto do socras, da milu e do valter. Aonde chegámos: quando pensámos que o aviltamento da profissão de professor já tinha batido no fundo, eis que esta gente mostra uma capacidade sem limites para nos surpreender. Já não sei se isto dá vontade de rir se de chorar. Em caso de dúvida, como sou um optimista por natureza, prefiro rir. É só ir ao you tube do blog do Paulo... Aqui http://paulocarvalhotecnologias.wordpress.com/2008/09/29/deformacao-«magalhaes»/

08/10/08

Fala o Comovido, por Cão

A maturidade está a tornar-me lingrinhas.
Tudo me comove, mil raios me partam. Juro. Tudo me enternece. E não, nem é de criancinhas loirinhas como as espigas do trigo que estou a falar. É pior. Por exemplo: a velhacaria. A velhacaria comove-me. Como a Pátria está cheia dela, suspeito que os meus últimos anos vão ser mui lacrimejados. Hei-de proporcionar um triste espectáculo, receio bem que hei-de. Estais-me a ver: um tardio quarentão com lágrimas octogenárias perlando de cristal as dioptrias. Triste.

A roubalheira também me derrete todo. E como a Pátria etc. de roubalheiras, estais-me a ver fungando a toda a hora a gota-de-figo dos ranhosos perpétuos. Isto não vai ser alegre. Penso que é da deformação profissional. Durante alguns anos, pertenci a uma classe que, precisamente por ter perdido a classe, se extinguiu. Fui jornalista. Agora sou só cronista, que é um estatuto que advém a uma pessoa quando desiste. Eu desisti. O meu trabalho agora é enternecer-me em crónica numa comoção de última página (mas a cores, vá lá).
Também as figuras por assim dizer icónicas se me transplantaram. A Dama das Camélias e a Rosa do Adro já não me condenam ao pranto. Prefiro-lhes a Eduarda Maio e a Fernanda Câncio. Bernardim Ribeiro, João Roiz de Castelo-Branco? Nada. Nem bucolismo, nem palacianismo. Mais cativa formosura triste me pinga coração adentro um Mário Lino, um Miguel Portas. Em vão recorro aos víveres mentais que há trinta anos enceleiro para nada: Beckett, Nemésio, Sena, Bradbury? Qual quê. A melancolia está toda na pança oleaginosa do Herman, no lustral desentendimento metafísico daquele rapaz que faz “livros”, o Zé Luís, no inequívoco assombro quando chove dos presidentes de câmara-tv, na artificiosa gaguez dos noticiários da TSF. Isso sim, é que é movente e comovente.

De modo que isto me anda assim. A manquejar para velho com nervosas vísceras de passarinho anacrónico. Desconfio que é por ser tão portuguesa a minha condição. Já tentei ser espanhol, mas não consigo jogar hóquei-em-patins nem planificar o futuro.
Não, nem rosas nem camélias.

06/10/08

Francis e Sofia, por Mefistófeles

O Tapor não tem publicidade. É verdade que já teve e que ainda pode vir a ter se decidirmos que vale a pena ganharmos umas jantaradas com isto. Mas de momento não tem. Não gostámos muito de ver aqui publicidade a seitas esquisitas, a empresas de crédito duvidosas, a produtos que fazem crescer as pilas, até ao viagra. Mas há publicidade e publicidade...

O último anúncio da Louis Vuitton que conta com os Coppolla, Francis e Sofia, pai e filha, como personagens principais, é simplesmente admirável. Uma perfeição! Era impossível deixarmos passar um anúncio destes sem uma referência e é nestas coisas que a blogosfera é uma invenção genial: até parece que somos a Arena, a Esquire ou a Rolling Stone e que nos pagaram para publicarem aqui este anúncio. O Tapor rende-se à ambiguidade da pose do mestre e da discípula, à cumplicidade do pai e da filha, ao barroquismo da fotografia. Este anúncio é uma obra prima que o Tapor não podia deixar em claro!

03/10/08

O Condestável, ou o Atelier do Suspiro, por Zé Critério

Aqui há meia dúzia de anos, abriu na Ereira, próximo do Cartaxo, com estrada quase directa a partir da saída de Aveiras da Auto-Estrada do Norte, o Restaurante Condestável. O Vice e o Grão, mastigantes sempre atentos a estas capelinhas, ouviram dizer bem e abancaram. Gostaram e voltaram. Dessas três ou quatro expedições punitivas, ficaram na memória um excelente buffet livre de entradas diversas e um queijinho de cabra com ervas frito, assim como uns Pimentos Vermelhos recheados com cogumelos, que eram qualquer coisa de outro mundo.

Aqui há cerca de 2 anos, voltei ao Condestável com a minha Maria e a miúda, sempre com a memória, como elas aliás, no magnífico buffet. Surprise, o tasco tinha mudado de um lado da rua para o outro. Tocou-se à porta e veio o Luís Suspiro, himself, abrir a coisa e instalar o pessoal na mesa. A sala avantajada é como dizia o Automotora: cheia de armaduras, brasões, floretes e espadachins com um santo condestável tamanho família lá pelo meio, tudo a armar ao fervor patriótico, muito kitsch e sobretudo, muito monárquico, mas presumo que fosse mesmo essa a intenção.

Amesendação impecável. Serviço de copos e talheres mais finos que os do rei e vai de lançar o olhar à mesa do esperado buffet. Não havia. E não havia mesa de queijos. Havia sim uma ementa tipo gigantone com pratos de nome elaborado, embora de base regional. A Maria pugnava por uma retirada estratégica. Contudo a miúda já tinha afiambrado numas Empadinhas quentes e eu - bem eu - estava simplesmente curioso.

A ementa gigantone tinha um preço único e gigantesco de cerca de 9 contos pessoa por um menú degustação do tasco. Interroguei pela ementa de pratos únicos. O Luís Suspiro lançou-me um olhar de surpresa e explicou lá do alto que só havia o menu degustação. O preço era um pormenor. Era assim que funcionava no grande Arzak do País Basco e era assim que funcionava no El Buli da Catalunha e era assim que ele queria, uma vez que ali era o seu atelier, a sua galeria de arte, onde ele mostrava ao público a sua arte, isto é, a sua reinvenção da cozinha tradicional portuguesa, a elaboração moderna dos nossos sabores da infância. Atenção que não estou a inventar. O Suspiro disse mesmo isto, e com muito mais floreados e rapapés.

Do seu discurso transpareceu alguma afectação e snobismo, mas a coisa não era arrogante e tinha a sua lógica. O homem lá explicou alguns pratos e eu mais que curioso, engoli a isca e o anzol e fiquei. Apesar dos 9 contitos pessoa, mas enfim um dia não são dias, é prá desgraça e morra quem se negue. A Maria deitou-me um daqueles olhares de caixão à cova, mas prontos enterrado por um, enterrado por mil.

E seguiu-se o menu. Oito ou Nove pratos de tamanho gigante (os pratos em si, não a comida) de design do próprio Suspiro, que além de artista da cozinha é artista do vidro e da cerâmica. O primeiro prato foi um creme branco preso, quase em pirâmide, que se perdia no meio da imensidão do vidro roda 26. Olhei prá aquilo e pareceu-me que era para comer à garfada. A miúda copiou. O Suspiro não me viu a mim, viu a miúda e corrigiu-a dizendo que era Sopa de qualquer coisa. Larguei o garfo à sorrelfa e fiz um ar de admoestação à miúda, que furibunda se recusou a continuar na Sopa. Azar. Comi eu as três, mas agora à colherada. Sabia muito bem, mas não se sabia o que era.

No segundo prato – se bem me lembro - veio uma pequena peça triangular, prá aí do tamanho de uma chamuça normal, com umas ervas por cima em equilíbrio instável. O prato, de vidro trabalhado azul feérico do tamanho de um tabuleiro de cantina, era estonteante no seu néon-renascentismo. O que se situava no meio dele era uma alhada de raia. Reinventada pelo Suspiro. A miúda não gostou, a Maria amuou e eu comi as três. Enquanto limpava as três doses, que me souberam às mil maravilhas, a Maria suspirou um “isto é nouvelle cuisine”. O Suspiro que vinha a passar nas costas da Maria, ouviu. Meu Deus. O homem estacou como que fulminado:
– Ó minha Senhora, “Nouvelle Cuisine”? Pelo amor de deus, isto é genuína e pura cozinha portuguesa! A “Nouvelle cuisine” não existe! Não me ofenda, eu não faço “nouvelle cuisine”, eu faço cozinha portuguesa, eu sou um patriota, um artista luso, eu jamais fugiria aos sabores da minha terra…
E eu que queria era comer descansado, lá larguei a raia e fui em socorro da Maria:
- Pois, o que ela queria dizer era que, como isto não tem qualquer espinha ou coisa de tirar, pensou isso, coiso, e tal, não é essa uma das características da Nouvelle…
A Maria que já estava a mariná-la desde o início, não deu parte de fraca e espetou o dedo onde doía no dito cujo:
- Cozinha portuguesa é que não me parece, cozinha portuguesa é a feijoada, os pézinhos, o bacalhau e o cozido, aqui nem consigo saber o que é!
Meu deus, o que a cachopa foi dizer. O homem ficou roxo, virou azul, ainda tentou dizer alguma coisa, mas pediu licença e foi prá cozinha esbaforido.

Quando julgávamos que nos tínhamos livrado do Criativo, eis que o Artista regressa do além com livros e livros, calhamaços enciclopédicos tamanho gigante, a cores e ao vivo.

Passámos todo o resto da refeição a ouvir a explicação de cada um dos pratos. Como se comia. A que é que nos devia saber. Os Aromas. A Reinvenção. E tudo, mas tudo, com remissões e fotografias dos partos do Arzak, do Buli, do Ras Com Fabes, e eu sei lá mais o quê. Por fim eu assentia e a Maria também, completamente vencidos. Eu pelo cansaço, elas pela fome, já que no meio daquilo tudo, era eu que acabava a comer os três pratos. Recordo-me de um Pudim Abade de Priscos decomposto e separado em todos os seus componentes que era qualquer coisa de magistral. No mais, nem soube o que era, que já nem ouvia o Suspiro.

Comi que nem um Abade, e paguei que nem um cão. Mas o que mais me doeu, foi que a seguir tive que ir gastar mais dinheiro nuns bifes da Portugália para elas as duas. Ficou caro o Suspiro. Mas eu voltava. O homem tem razão. Há que reinventar e reelaborar a cozinha tradicional portuguesa e o homem de facto é um artista. Desculpem lá o tamanho, mas não é fácil resumir a arte.

02/10/08

«Mas a Fome Continua», por Britannicus

A propósito do Tratado Taurino II, Capítulo Restauração, por Luís Miguel da Veiga, publicado um post mais abaixo, teve o Tapor a honra de receber o seguinte comment do nosso Britannicus, que a seguir se publica com o devido e venerando formato Post, sem comentários, que a pertinência do mesmo fala por si.

Ora viva e saúde!, grande Luís Miguel da Veiga, por esta faena pugnaz sobre o mais venial dos pecados e os agrores do seu cometimento. Pecado dilectíssimo e gargantuesco, cometido abonde por este seu admirador, que concita aqui o grande guloso Fernando Veríssimo, que por sua vez escreveu alhures, após um copioso jantar de Boeuf Bourguignon: « Nem todos os dias se quer ouvir uma estaladiça fuga de Bach ou amar uma mulher suculenta, mas todos os dias se quer comer. A fome é o único desejo reincidente. A visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba – mas a fome continua». Ora aí está, insopitável, a uníssona conclamação universal: “a fome continua !”

Mas, meu caro amigo, a minha demanda aqui é demanda de doutrina e de conselho. Doutrina e conselho sobre como um espírito simultaneamente cordato mas protestativo, bonómico mas vindicativo, deve lidar a fera soberba dos “garções” dos restaurantes ditos conceptuais, vanguardistas, experimentais, moleculares, de fooding, world fusion, eatertainment, Gastro-Porn, que atanazam a cupidez do Homo Gastronomicus. Porque, veja bem caro Miguel Veiga, uma coisa é pedirmos um arqui-simplicíssimo caldo verde e percebermos súbito que a unção da calda desandou para a aguadilha, outra coisa é irmos ao el Bulli e comermos uma orelha de coelho frita desidratada, envolta numa névoa de nitrogénio gasoso e o “aquilo” alquímico não nos saber bem. Uma coisa é o gáudio de reconhecimento de um chouriço de sangue (daqueles que pendem em bandolim no fumeiro), acolitado por meia molhada de grelos destemperados, outra coisa é, num restaurante gastro-porn, o estranhamento de uma coisa apodada de “bocetita melada” e a “coisa” saber a fénico. No primeiros casos expele-se o canónico vade retro!, mas, e nos segundos?! - Hoc opus, hic labor est! Aqui é que a porca torce o rabo! O que fazer nestes restaurantes que praticam uma cozinha destradicionalizada e desconstrucionista? O que fazer à nossa judiciosa vis vindicativa e protestativa?
Aguardo resposta.

01/10/08

Crisis? What Crisis?, por Sô Pesidente


Segundo os gurus da Economia uma das áreas que mais vai sentir os efeitos devastadores da actual crise financeira com epicentro nos EUA, é a da habitação. Mas podem os portugueses estar descansados porque segundo o primeiro ministro, pinto de sousa, «a economia portuguesa vai resistir bem». Esta fezada tem um fundamento, se bem percebo: é que, seguindo a magnífico exemplo, já com 30 anos, da incólume câmara municipal de lisboa, prevê-se que os autarcas deste país desatem a oferecer à malta casas ao desbarato. Pelo menos na habitação não é provável que a crise nos afecte.