30/04/09

Luc Orient - O Fascínio dos Extra-Terrestres, por E-Tó Tó

Durante anos procurei por feiras da ladra diversas os velhos álbuns de um herói de ficção científica chamado Luc Orient. Agora, graças à Fnac, tudo se tornou mais simples. Encomendei e passado um mês tinha os quatro primeiros volumes de Luc Orient nas minhas mãos reunidos num só álbum que estou a devorar lentamente. Importado directamente da editora francesa...

Luc Orient foi uma criação de um dos maiores representantes da BD Franco-Belga, de seu nome Michel Greg. A versatilidade foi sempre a sua imagem de marca. Greg foi autor de séries infantis como Zig e Puce, humoríticas como Achille Tallon, colaborador de Hermann em séries de aventuras como Bernard Prince e Comanche (dois clássicos absolutos!) e de Vance em Bruno Brasil . A ele se deve também a autoria do argumento de algumas histórias de Spirou. Ou seja, uma boa parte do que de bom se fez na banda desenhada franco-belga passou pelas suas mãos. De 1965 a 1974 foi editor-chefe da revista Tintim. No diagnóstico que, no início, fez da «revista dos jovens dos 7 aos 77 anos», Greg constatou um problema: é que se em Tintim não faltavam géneros tradicionais como o Western, o policial ou a série humorística, já o mesmo não se podia dizer da Ficção Científica, praticamente ausente de Tintim.

Ora, acontece que a segunda metade dos anos 60 estava a ser marcada pelo tema. Havia uma verdadeira onda, quase psicanalítica, à volta da ficção científica, visível no cinema, na BD ( esta é uma das épocas áureas dos heróis Marvel e Dc Comics ou das Amazing Tales norte-americanas), até na música (o rock e a pop tornavam-se gradualmente psicadélicos e progressivos). Em suma, era preciso dar espaço em Tintim à Ficção Científica. As novas gerações de leitores assim o exigia. Luc Orient foi a resposta encontrada por Greg.

Greg escreve, assim, em 1967, a primeira aventura de Luc Orient, Les Dragons de Feu, em parceria com o desenhador Eddy Paape que com ele havia trabalhado nos anos cinquenta. A série mistura o suspense com o mistério e a ficção científica. Do meu ponto de vista tem evidentes pontos de contacto com Ric Hochet, outra excelente série. Orient, o cientista Kala e a diva Lora são colocados na pista de extra-terrestres retidos na terra, após aterragens falhadas nos seus discos voadores. Toda a trama é um jogo de confiança/desconfiança. Os E-tês serão boa gente? Podemos confiar neles? E nos outros personagens que gravitam nesta história? Quem são os bons e os maus? A série mantém o suspense, funcinando em regime inconclusivo - trata-se de uma daquelas séries que dantes me irritavam solenemente porque os episódios nunca tinham fim, acabavam sempre com um irritante «continua». Agora, em formato 4 álbuns num só, esse problema está melhor resolvido.
Luc Orient é uma boa proposta de leitura. A ficção científica não veio só da América e esta série é, precisamente, uma das mais representativas da produção europeia. Vale a pena retomar a banda desenhada.

29/04/09

Viva o Magalhães II, por Viva a Téquenologia

Estive para fazer aqui um manifesto contra o massacre dos inocentes no Egipto, mas entretanto tropecei nesta pérola e achei que ficava aqui melhor. Não perguntem porquê que não vale a pena:

26/04/09

Santo Condestável!, por Beato Salú

E o nosso Condestável lá foi promovido a Santo... Confesso que não percebo muito bem. Vamos lá ver se eu consigo explicar o meu ponto de vista sem ferir susceptibilidades. D. Nuno Álvares Pereira é uma personagem histórica da minha simpatia. Admiro-lhe a coragem e reconheço-lhe o papel decisivo que teve na revolução de 1383-85.Não me parece completamente absurdo que se atribua a Santidade a um militar. Afinal, o próprio S. Paulo foi um soldado, embora, mais tarde, se tenha arrependido. Mas os especialistas em História reconhecem que a vitória de Aljubarrota só foi possível à revelia de todos os códigos de cavalaria aceites na altura. Pelo que li, os Castelhanos foram surpreendidos com as armadilhas e os truques inesperados do exército comandado por D. Nuno. Um pouco, parece-me, como um exército que ganhasse uma batalha nos dias de hoje à custa da violação das Convenções de Genebra.
D. Nuno Álvares Pereira pode ter sido um génio militar, mas a julgar pelo seu comportamento em Aljubarrota, estará longe de ter sido um santo. Como é que o Vaticano decidiu canonizá-lo? Ouvi dizer que terá curado um olho a uma velhota, mas mesmo assim parece-me um bocado exagerado...

23/04/09

It´s Not a Sony!, por Sónia

Anteontem assisti ao monólogo do primeiro ministro na entrevista da RTP. Melhor; assisti a parte, não consegui ver tudo. Tive oportunidade de ouvir o homem a falar da crise, do desemprego, da justiça, do investimento, do presidente, mas a minha televisão devia estar avariada. Não se ouvia nada do que ele dizia!
Mas na testa dele, em letras garrafais, piscava como um letreiro néon, a palavra Freeport. Parecia que aquelas irritantes notas de rodapé que agora passam no fundo das televisões quando estão a dar os telejornais lhe tinham passado para a testa. O homem falava do emprego e só se via Freeport a brilhar-lhe na testa; do investimento e lia-se Freeport; perorava sobre a crise e o Freeport cintilava cada vez mais agressivo, cada vez mais urgente. Este homem apanhou um vírus comunicativo: não pode falar de nada que não se lhe acenda a palavra Freeport na testa.

Depois, finalmente, falou sobre o Freeport mas não disse Freeport disse «fripó» e eu pensava que o letreiro fuorescente a dizer Freeport se apagasse. Ouvi-o falar em «campanha negra»; vi-o «malhar» (termo querido ao ideólogo S.S. do seu partido) com a jornalista porque esta lhe colocou questões que ele não queria que lhe fossem colocadas. Comparou-se a Jesus Cristo com uma cruz às costas e tudo (Haja Deus!) mas acrescentou que não tinha o hábito de se vitimizar. Cristo, esse clamou contra o Pai que o abandonara...
Eu pensei que depois dele falar em «fripó» o letreiro a dizer Freeport saía-lhe da testa. Até nem era complicado. Mas não. Quando a entrevista estava quase a chegar ao fim deu-lhe uma sulipampa e até a cara do homem se sumiu da televisão. No écran tinha ficado apenas, a acender e a apagar em letras garrafais, uma enorme, berrante e imensa palavra Freeport. Devia ter comprado uma Sony, bem me avisaram para não comprar esta marca de televisão...

16/04/09

Coisas que passei hoje, por Cão

Passei rente a uma creche. Escutei as crianças no recreio: chilreavam como passaritos de bibe. Cada passarito individualizava o Universo.
Vi uns olhos azuis: também universalizavam a individualidade.
Vi o João Paulo G. Está precocemente encanecido. A realidade preocupa-o. Falou-me dos salários escandalosos dos administradores da GALP, dos interesses privados das roubalheiras públicas, das fábricas que fecham o País por todo o lado, de ir para a Suíça no sábado.
Vi uma casa torrada a frio pelo granizo que caía.
Passei por três mulheres ricas e três como os Reis Magos.
Ouvi o lamento fúnebre por um orizicultor afamado do número de amásias que teve, susteve e manteve anos a fio.
Li o nome “Isabel” num poema de jornal, não recordo qual.
Fui diagonal a negro por causa da roupa entre esquinas cinzentas.
Também pensei naquilo dos salários da GALP e no 25 de Abril e no granizo que enregelava as mãos caídas.
Assisti a um incêndio sem bombeiros – mas era só o meu coração sem dinheiro, de modo que não liguei.
Estive numa casa-de-pasto a ouvir falar do Sporting e do Chelsea e dos administradores milionários da GALP e da broncopneumonia de um homem de 51 anos já com netos.
Passei os olhos por uma crónica escrita em Newcastle há 130 anos.
Recebi um telefonema de alguém que, como eu, se enganou neste número.
Estive quase a chorar, mas aguentei-me porque o Liverpool defendeu a sua honra, haja ainda honra, nem que seja de calções.
Ao fim da tarde, a creche tinha fechado, o crepúsculo doía devagar nas últimas montras, as formigas recolhiam às tocas suburbanas, na casa-de-pasto serviam bacalhau, houve referências ominosas ao Porto-Manchester, mas quanto à GALP mais nada, Isabel.

14/04/09

Post Para Quem Não Tem Pachorra Para Ler Apesar de reconhecer Que é Sempre Bom Saber Alguma Coisa sobre o Diabo dos Livros, por Alexandria

Herman Melville - Moby Dick - Um alucinado conduz alguns curiosos numa caça a uma baleia armada em esquisita. No final morrem todos menos um que fica para contar a história.

William Faulkner - Na Minha Morte - A mãe vai a enterrar numa carroça e ao longo do enterro o resto da família pensa na morte da bezerra.

Ernest Hemingway - O Velho e o Mar - Um velhote via pescar e quase se lixa com tubarões tamanho-família.

Camilo José Cela - Vagabundo Ao Serviço de Espanha - o narrador vai a pé por espanha a fora, bebe uns copos e morfa umas buchas. Pelo meio marra com alguns estalajadeiros e com Madrid.

Joseph Conrad - O Coração das Trevas - Um europeu sobe um rio africano ao encontro de um conterrâneo para descobrir que o rapazola estiolou e mata pretos comó catano e à catana.

Machado de Assis - Dom Casmurro - Um teimoso que teima em que a mulher lhe mete os palitos quando a mulher é uma santa. De casmurrice em casmurrice o livro vai para mais de 200 páginas e não saímos daquilo.

Turgueniev - Pais e Filhos. Há dois jovenzarros que vão para o campo das estepes com um deles armado em niilista. No pasa nada e há frio comó catano.

JM Le Clezio - Diego e Frida - Diego pinta e encorna a Frida. AS Frida pinta e encorna o Diego. Pelo meio o Diego quer pintar Lenines e o Capitalista do Rockefeller não deixa e saca da marreta.

James Joyce - Ulysses- um gajo sai de casa cedo depois de comer rins e de cagar no pátio, demora-se fora o dia todo, a mulher põe-lhe os cornos e ele dá-lhe um beijo no cu, no fim é ela a falar sozinha.

Anónimos - A Biblia- Um dia uma gaja roubou uma maçã para dar a um gajo e o dono do pomar zangou-se e armou um bazé que ainda não acabou.

Maomé - O Alcorão - Um bardana crivado de dividas saca uma viúva ricalhaça que encorna com uma data de jeitosas. Para se justificar diz que foi ao meio do deserto e uma voz amandou-lhe com uma pedra preta na carola. A partir da calhauzada, a voz passa a dar-lhe uns conselhos sobre corte de mãos, pontaria com calhaus, moda feminina, e corte de cabeças, com a ressalva de que quem cortar cabeças aos gajos que ele apontava iria papar 72 virgens como ele andava a fazer, embora no caso deles só depois de morrerem. Estranhamente a coisa pegou.

... E prontos, aqui ficam resumidinhas muitas horas de leitura. Já viram o tempo que se ganha? Sempre se fica com uma noção de algumas obras primas fundamentais da literatura mundial. Um destes dias resumo mais umas bibliotecas. E escusam de agradecer...

13/04/09

Futebol - ao Vivo ou na TV?, por Papoila Vermelha

O futebol é melhor visto ao vivo ou na televisão? Até ao passado fim de semana eu era um defensor convicto de que o futebol é muito melhor visto na televisão. A bola televisiva teria francas vantagens relativamente à bola ao vivo. Na TV temos repetições, ao passo que ao vivo a jogada passou e já era... E é sempre bom ver e rever aquela finta fabulosa do Reyes ou aquele corte genial do David Luís - se podemos desfrutar duas vezes para que nos havemos de contentar só com uma?
Nalgumas das minhas experiências de futebol ao vivo, cheguei a irritar-me profundamente por não saber quem é que tinha marcado o golo. Mas acima de tudo a TV mostra-nos à evidência os erros do árbitros e fundamenta, assim, a nossa indignação. Se formos honestos, só a ver na TV é que podemos, sem problemas de consciência, chamar «ladrão» e «gatuno» ao árbitro. Ao vivo um gajo nunca tem a certeza e os berros não nos saem tão convictos.

Além do mais o futebol visto na TV é muuuuito mais barato!!! e, geralmente, vê-se com os amigos enquanto se emborcam umas cervejas e uns tremoços. E em casa não temos que aturar grunhos que vão para os estádios mandar bitaites ignorantes (se bem que temos que levar com os inenarráveis comentadores televisivos, geralmente, tão ignorantes como os grunhos de estádio). Sinteticamente era mais ou menos isto que eu pensava. Até ao sábado passado eu era um acérrimo defensor do futebol televisivo.

Mas no último sábado fui ver um jogo ao vivo. Resolvi ir ver o Benfica - Académica, eu mais três Benfiquistas e três tripeiros-academistas. Como não gosto especialmente de ver futebol ao vivo, considerei esta minha incursão no grandioso Estádio da Luz como uma espécie de missão sociológica. Pensei em analisar in loco as vantagens e desvantagens do futebol ao vivo e em fazer este post para dar conta das minhas conclusões.

E que conclusões... Bom, tenho de confessar que a parte em que se tem de pagar a exorbitante quantia de 20 euros por bilhete para ver um jogo, teoricamente, de média qualidade me deixou disposto a desancar nos adeptos do futebol ao vivo. No entanto, a beleza cénica do Estádio da Luz, as Cheerleaders (deviam ser mais, praí umas 300 ou 500), as camisolas vermelho-glorioso do Benfica e o hino do Luís Piçarra devolveram-me alguma fé nas maravilhas do futebol ao vivo. O lugar que nos calhou nas bancadas também não foi mau. Mas quando o jogo começou lá me vieram à cabeça os argumentos todos contra o futebol ao vivo, principalmente porque, estando eu atrás de uma baliza, iria ver muito pouco do que se passaria na outra. No entanto, quando a Académica marcou o primeiro e único golo da partida, as coisas precipitaram-se.

No momento do golo, o Alfredo que é um adepto tripeiro-academista, foi a primeira pessoa no estádio a gritar gooolo0000 exactamente como se estivesse na sala de estar lá de casa a ver o jogo rodeado de gente civilizada. A seguir o Duarte - que envergava um temerário cachecol da AAC e tudo! - gritou também e só depois é que a claque da Académica, a Mancha Negra, gritou também. O Alfredo foi mesmo muto rápido - eu tive tempo de ver o golo, ouvir o Alfredo, virar-me para trás, vê-lo de braços abertos aos saltos, e só depois é que gritou o Duarte e só depois a Mancha. Na imensidão do Estádio da Luz, composto com cerca de 30 mil benfiquistas, jamais esquecerei os grito lancinantes do Alfredo e do Duarte... Bem nem eu nem os benfiquistas mais próximos que imediatamente os insultaram com os habituais impropérios. E de entre todos grunhos que nos rodeavam, houve um que se destacou especialmente: era um gajo careca que devia pesar para ai uns 150 quilos, sem exagero, um misto de halterofilista, rinoceronte e de augusto santos silva que mandou logo o Alfredo para a «***** da tua mãe» e o Duarte para o «****** que ta ****//-». O energúmeno estava acompanhado da mulher e o filho estava mais acima. Não era uma claque, mas uma família que tinha ido à bola. É bom ver o regresso das famílias aos estádios. É sinal de que a segurança melhorou.

O que é certo é que os meus amigos academistas acalmaram a partir daí. Mas o Benfica não atava nem desatava. E a pouco e pouco o Alfredo e o Duarte foram ganhando confiança e não se coibiram, aqui e ali, de mandarem a sua piadita. Eu estava tão concentrado no jogo e tão irrritado com os erros do árbitro que nem liguei. Até que ainda a cerca de 20 minutos do fim do jogo, o Alfredo sussurrou-me ao ouvido:
- Zé, pá, temos que ir embora daqui, lá para cima, ou para outro lado, eu depois explico... Vamos embora.

Fiquei um bocado espantado, mas quando olhei para o lado, vi o energúmeno do halterofilista completamente passado, a espumar de raiva, a dizer ao Alfredo que lhe partia o focinho e lhe deixava os dentes todos cá fora, «meu f***** da p**** cabrão do c****, vai gozar prá tua terra». Pensando bem ele era mais parecido com 10 halterofilistas que com um só... O homem quase que se levantava e de vez em quando virava-se também para o Duarte que estava muito acabrunhado e insultava-o também. Compreendi que a situação era grave e o Alfredo insistia que tínhamos de ir embora dali enquanto o Duarte olhava para o steward mais próximo e calculava que antes deste chegar ao pé de nós, já tinha apanhado pelo menos duas bolachadas a parecer bem.

Mas vá lá que a coisa acalmou. Desesperado de ter gasto, provavelmente, metade do salário a levar a família à bola, o 10 haterofilistas assobiou para chamar o filho e comunicou à mulher que se iam embora. O Alfredo e o Duarte respiraram fundo e só então me confessaram que o hooligan tinha cuspido no Duarte. Aroma benfiquista! O Duarte comentou que «é lixado vir ao futebol, pagar 20 mocas e ficar ali em sentido sem sequer poder gritar golo». E o Alfredo ainda fazia cálculos de como é que haviam de sair dali sem encontrar o energúmeno. O Duarte abotoou melhor o casaco para que o cachecol da Académica não desse tanto nas vistas e quando o jogo acabou lá saímos, felizmente, sem mais chatices.

No fim fiquei a pensar: futebol ao vivo ou na televisão? E agora já não tenho dúvidas: ao vivo é muito melhor. Mesmo tendo perdido o Glorioso, a sensação de ver o Alfredo e o Duarte em sentido no Estádio da Luz, justificou tudo: a pálida exibição do Benfica, as burrices do Quique, a imobilidade do Nuno Gomes, o Mantorras a manquejar, até os 20 euros... Eu pagava de novo para ir ver o Benfica perder outra vez com a Académica. Tinha é que ir acompanhado dos meus amigos tripeiro-academistas. Alfredo, Duarte, quando é que é mesmo o próximo jogo da Académica na Luz? Será melhor reservarmos já os bilhetes para a próxima época? Com um bocado de sorte ainda apanhamos outra vez o 10 halterofilistas na cadeira do lado...

07/04/09

Meridiano de Sangue de Cormac McCarthy ou Dá-lhes Falâncio!, por Jerónimo


C.M. consegue criar neste livro um universo demencial e cinematográfico. Começa-se a ler Meridiano de Sangue e a sensação é de rendição. Por isso não posso dizer que não gostei da escrita de Cormac McCarthy, pelo contrário. Mas, fónix, vou na página 224 de Meridiano de Sangue e ainda não aconteceu mais nada que não seja um grupo de pistoleiros americanos que se vão embrenhando pelo deserto do México, enquanto chacinam navajos pelo caminho!

Lê-se e relê-se e aquilo parece que não anda: as agruras do deserto os navajos e bang, bang, bang... Os gringos cavalgam e re-cavalgam pelo deserto adentro e vêm ossadas e crânios espalhados nos socalcos, montanhas inóspitas e asperezas das sierras onde correm lúgubres fios de água. Entretanto aparecem os navajos aos guinchos e levam chumbo. A malta descansa e segue a jornada, enfrentando de novo os planaltos ventosos do deserto, as extensões mórbidas de zimbro e alvoreceres acinzentados. Entretanto, eis que passam, de novo, os navajos e, claro, levam mais chumbo. Eu resumia este livro em duas ou três frases:Um grupo de cowboys fez-se ao deserto, cruzou-se com os navajos e deu-lhes mocada, continuou deserto adentro viu mais navajos e deu-lhes ainda mais mocada. Pelo meio, para variar, aparecem umas aldeias de mexicanos que, obviamente, também são varridas a chumbo grosso.

E pronto, cá fica a síntese. Escusam de me agradecer por vos ter poupado o tempo que iam perder para desistirem do livro 224 páginas depois. Ou então sou eu que sou arraçado de navajo, é o mais certo…