26/05/11

Casar com a F(MI)rancelina e com a Ana DesGoverno, por Cão

Há duas mulheres com quem eu me casaria ao mesmo tempo sem olhar para trás nem para a frente. São de Celorico de Basto, mas mesmo assim lograram a fama e o desproveito. Chamam-se Francelina R. e Ana Maria C. Foram condenadas em Santarém por dezenas de burlas e demais falcatruas feias, como aquela de drogarem a comida e a bebida a um velho amoroso da Ribeira de Santarém chamado Agostinho S.P.
E por que me casaria eu com estas duas aves não raras? Porque tal equivaleria a casar-me, de uma tiroleira assentada, com o desGoverno do “engenheiro” e com o FMI. Pois, tal como aquelas duas jeitosas, não praticam estas duas não respeitáveis nem respeitadas instituições não dezenas mas milhares de figurativas inoculações de benzodiazepinas económicas, financeiras, apocalípticas, manhosas, pró-amnésicas e o Diabo a quatro pintado a sete com zero à Esquerda e à Direita?
Ser casado com a Francelina e com a Ana Maria ou matrimoniado com os aparelhos clienteleiros desGoverno /FMI não me parece em nada – em absolutamente nada – diverso. É tudo uma questão de escalas e desproporções. Preferi-las-ia, porém, porque elas nunca fizeram ao emprego, ao ensino, à saúde, à justiça, à ortografia, à comunicação social, à moral, ao ambiente, ao poder local, à ferrovia, à rodovia, a Portugal e às muitas mais vias da vida individual e colectiva o que o “engenhoso” e o tenebroso Fundo (muito fundo) Monetário contranacional já fizeram, fazem e vão continuar a fazer.
No fundo (muito Fundo), amo-as. À Francelina e à Ana. Tenho a certeza, aliás, sobretudo nesta altura, de que Passos Coelho, esse paradoxal transmontano de Massamá, também as amaria, se o coração dele, à maneira de um tal Alberto Caeiro, as sentisse pensando.
Os nossos filhos (meus e da Francelina e da Ana Maria) só poderiam chamar-se Furto Miguel, Burla Vanessa, Droga Maria, Amnésia do Patrocínio, Roubo Micael e Zé S. Eu sei. Mas sempre haveria de ser um casamento melhor do que aquele que neste momento pratico, que é nenhum, à imagem triste e à triste semelhança do nosso futuro português, até que a morte (em vida) nos separe.

22/05/11

São Rosas, Senhor!, por Rainha Santa Isabel

Hoje fui ver bola de manhã. À saída do desafio, um grupo de distribuidores de propaganda eleitoral esperava - algo timidamente, reconheço agora - pela saída do jogo para distribuir material. Mau!, pensei, serão xuxas? Eram. Um jovem do rebanho estendeu-me um jornaleco com as ventas do artista, «faz favor»...
Pensei: essa porcaria nem pra papel higiénico. E respondi em versão light: «por amor de Deus, tire-me isso da frente, deviam ter vergonha, depois de terem afundado o país»... Esperei a carga violenta da manada mas, para minha surpresa, o jovem cola cartazes trocou um olhar comprometido com os outros e nenhum deles foi capaz de piar o que quer que fosse... Nada, nem uma sílaba, ficaram todos mudos, calados e comprometidos. Talvez tenham mesmo vergonha, sabe-se lá, eu tinha...

21/05/11

Balanço do Debate: O Ser e o Nada, por Castor

Ficou clara uma coisa: Passos Coelho apresentou propostas concretas, boas ou más, depende do ponto de vista, mas concretas e precisas; o artista de circo que estava do outro lado contrapôs com generalidades, vacuidades, banalidades e criticou as propostas concretas do interlocutor. Passos apresenta números e prazos para efectivar a proposta de redução da TSU; o feirante do outro lado da mesa diz que «vai estudar para propor» sabe-se lá o quê, votem em mim que depois vêm...

Mal ou bem Passos apresenta propostas para enfrentar o problema do desemprego; o Houdini disse que ia, mais uma vez, apostar na juventude, na qualidade científica, no desenvolvimento tecnológico e na formação dos portugueses.

Não sei se Passos Coelho convenceu os portugueses de que deve ser o líder do próximo governo porque aquelas propostas podem ser duras . Mas são. São alguma coisa. As do vendedor da banha da cobra é que não chegam a ser nada e, ao menos, essa diferença, entre o ser e o não ser ficou clara. Tirem daqui as ilações...

17/05/11

O Enigma Strauss-Kahn Segundo a Jornalista da RTP, por Mateus




Segundo a enviada especial do Jornal da Noite de ontem, Strauss-Kahn terá forçado a tal empregada do hotel o ter sexo oral e anal. E as provas não mentem: ele apresenta vestígios de arranhões nas costas. Importa-se de repetir? Obrigou-a a ter sexo oral e anal e ele apareceu com as costas arranhadas?

16/05/11

Salazar - Uma Biografia Política, de Filipe Ribeiro Menezes, por Vasco da Gama

É uma óptima sugestão de leitura. Durante muitos anos foi praticamente impossível discutir a figura história de Salazar com um mínimo de objectividade. As razões foram mais que compreensíveis: o professor de Coimbra liderou durante meio século governos autoritários cujas marcas violentas ainda estavam muito frescas. A visão ideológica da nossa esquerda pós 25 de Abril fez o resto: Salazar foi definitivamente arrumado na prateleira dos fascistas do século XX, ao lado de Hitler, de Franco ou de Mussolini.

É compreensível - embora não deixe de causar espanto - que só agora, tantos anos depois do 25 de Abril de 74 se comece, finalmente, a discutir a figura e o regime de Salazar com um mínimo de objectividade. Podemos agora interrogar-mo-nos sobre ideias feitas e clichês ideológicos - tanto de esquerda como de direita - que têm impedido a realização de um debate sério sobre a figura de Salazar. Agora vemos pontos de interrogação onde até há bem pouco tempo víamos pontos finais: O Estado Novo foi realmente um regime fascista? Um um regime autoritário ditatorial conservador mas, ainda assim, diferente dos fascismos espanhol e italiano e substancialmente diferente do nazismo ou do estalinismo? E Salazar, foi apenas um ditador obcecado com o poder? Como conciliar essa visão do homem com a sua enorme erudição, a sua profunda formação académica, a sua dimensão, reconhecida internacionalmente nalgumas fases da sua governação, de grande estadista? O Estado Novo foi sempre despótico e violento? A sua vigência durante as décadas de 20 e de 30 - o célebre «milagre económico» - foi negativa? E a política de neutralidade levada a cabo por Salazar durante a segunda guerra foi censurável? A violência do regime foi comprável à de outros regimes da época - aos fascismos, ao estalinismo? E como julgar a teimosia de Salazar em manter-se no poder, depois da segunda guerra mundial? Como encarar a sua política repressiva para com a oposição - os casos do bispo dom António Ferreira, Humberto Delgado, Álvaro Cunhal, o Tarrafal, etc, etc? Não foi um erro histórico crasso a tentativa de manter as colónias contra a política dos EUA, da URSS, da Inglaterra, do mundo? Que dizer de claros excessos do ditador, como a sua dureza desnecessária para com Aristides de Sousa Mendes ou para o com general Vassalo e Silva e os 3500 soldados portugueses que nada puderam fazer em Goa aquando da anexação do território pela União Indiana? Que dizer da Pide? Etc, etc, etc, Salazar e o Estado Novo são realidades muito mais complexas do que os clichês esquerdistas ou direitistas pretendem.

Este livro de Filipe Ribeiro Menezes não responde a nenhuma das questões que aqui elenquei. Não é esse o seu papel. Mas baseando-se num acervo notável consultado pelo autor, num exaustivo trabalho de investigação, lança dados objectivos que ajudam a ver o ditador português sobre um outro prisma. Este trabalho, desenvolvido numa linguagem que foge aos academismos, é uma referência já que cria bases para que, finalmente, consigamos olhar o Estado Novo e o Salazarismo de acordo com uma perspectiva mais objectiva. Nos seus defeitos e- heresia das heresias! - nas suas virtudes!

10/05/11

Tribalistas, por Gungunhana

Um dia destes vi um reality show televisivo que ultrapassa largamente a fronteira da idiotia - os vips na tribo ou os perdidos na tribo ou os burros na tribo, mais coisa menos coisa. A ideia é meter uns pseudo-distintos jet-sets tugas a viverem durante um mês entre tribos nativas de regiões tão distantes como a Etiópia ou um arquipélago algures no sudeste asiático ou assim.

Passo por cima da idiotia dos representantes da civilização tuga que os leva a falar em português com os nativos como se eles percebessem alguma coisa do que ouvem. O que me chamou a atenção é que este programa já está a desenvolver nos telespectadores um imbecil efeito de etnocentrismo. Já me aconteceu falar com uma ou duas pessoas que acham que aquela gente é realmente atrasada e que a nossa cultura é muito superior!

Ora isto é um perfeito disparate porque omite que aquilo que vemos na TV é um concurso, um reality show e que, portanto, aqueles primitivos não podem ser tidos como amostra representativa da sua cultura original. Presumir que o que vemos ali é um encontro - ou um choque - de culturas é disparatado pela simples razão que o lado de lá está a fingir e a representar tanto como o de cá. Quando os «primitivos» obrigam os homens-tugas a dormirem com o resto da tribo numa palhota, isso foi programado, não é, certamente, genuíno. Quando os chefes tribais falam com maus modos e dão ordens, em tom agressivo, áquela malta ou comparam as mulheres a porcos, fazem-no porque assim foram instruídos pela produção do programa que está interessada - pelo menos para já - em criar esse efeito de choque cultural.

Não sabemos como seria o encontro genuíno de um tuga mais ou menos bronco como o fernando mendes ou de uma aventesma como o castelo branco com uma tribo da Etiópia. Mas não seria decerto assim. Quem fala pela boca dos chefes da tribo é a produção do programa. Tudo o que vemos ali é artificial, um mero produto de fancaria que pretende confundir a ficção com a realidade. E, portanto, não há nada mais estúpido que encarar aquela coisa como um testemunho sociológico. É só um espantalho, nada mais que um espantalho.

02/05/11

A Noiva, por Cão

Aqui há uns anos, um rapaz e uma rapariga marcaram casamento. Trataram das coisas comuns que havia a tratar. Quanto às particulares, trataram-nas particularmente. Ela arranjou um vestido branco. Ele mandou fazer um fato noutra cidade. Um dia antes do domingo marcado, o noivo meteu-se no carro e foi buscar o fato. Nunca mais voltou.
Nunca mais voltou – não porque se tenha arrependido, desistido e fugido. Nunca mais voltou porque teve um acidente mortal na estrada. Em casa, solteira ainda e para sempre, a rapariga ria-se com as amigas experimentando as rendas brancas, o branco chapéu, a cauda nívea do vestido inicial.
Quando a notícia chegou com a morte pela mão, a rapariga viu-se sozinha numa praia com muito mais areia do que mar. Só se apercebeu do mar pelo som dentro da cabeça: uma espécie de asma eléctrica que se ouvia em espiral-dentro da cabeça, em espiral-dentro da cabeça, abafando o coração.
Desmaiou, levaram-na para a cama, chamaram um médico. Ninguém se lembrou de que ela continuava vestida de noiva. Conseguiram acordá-la por alguns instantes, o tempo suficiente para engolir dois comprimidos com um pouco de chá de folha de laranjeira. No dia seguinte, o domingo continuava marcado.
O sol cegava na cal da igreja. A multidão enegrecia de roupa a própria sombra. Rezada a missa de corpo presente, trouxeram a urna para a luz inclemente. As flores sufocavam o carro fúnebre. Então, alguém gemeu de surpresa. E depois o silêncio ferrou os colmilhos na multidão: ela tinha aparecido para acompanhar o funeral. Sempre vestida de noiva.
Ninguém sabia o que fazer, de modo que ninguém fez nada. Ela tinha um ar calmo. Aceitou um lugar no banco de trás do carro fúnebre e esperou. Já então, ela era especialista na difícil arte da espera que se chama desespero.
No fim do enterro, trouxeram-na para casa. A mães e as irmãs conseguiram que despisse por si mesma o vestido de casamento. Dobrou-o muito bem dobrado e guardou-o na caixa. Depois, guardou a caixa no armário alto. Guardou o chapéu na caixa própria. Depois, guardou também essa caixa. Sentou-se na cama e sorriu um pouco.
Ela celebra, até hoje, o aniversário do seu casamento. Veste-se de noiva e vai ao cemitério. Depois, volta para casa, despe-se sozinha, guarda o vestido na caixa, guarda a caixa no armário, guarda o chapéu na caixa, guarda a caixa no armário. E depois fica à espera dele mais um ano.


Rosário Breve nº 204- www.oribatejo.pt