30/09/05

Morreu Antunes Varela, por Cap. Haddock

Morreu Antunes Varela. Li algumas notícias em jornais sobre a sua morte com pequenas referências ao seu passado. Há de facto uma ligação de Antunes Varela ao Governo de Salazar, mas nem isso dá o mínimo de sombra à sua obra e às suas imensas capacidades.Testemunho-o na qualidade de aluno. Era um grande mestre, sabia ensinar, sabia escrever, sabia muito, mesmo muito de direito, e quando foi responsável pelo processo civil Português tinhamos de facto uma legislação boa, pensada, lógica, segura e útil.Depois dele só vi mediocridade assente em curiosos cola cartazes licenciados em Direito que vomitaram e cagaram leis sem nexo, a atropelarem-se e pior, a atropelar os direitos dos cidadãos. Junto a Antunes Varela o actual ministro da justiça não existe nem é nada, e pior, não sabe nada!.Notem bem que ninguém coloca em causa o mérito profissional e as capacidades do jurista Antunes Varela, independentemente de preferências politicas. São assim os grandes e insignes homens e neste caso as suas qualidades permitiam-lhe distinguir preferências politicas (interesses pessoais) das necessidades do Estado e de um país, coisa que os actuais pseudo governantes não sabem, uma vez que navegam ao sabor do interesse politico do partido a que pertencem, são portanto pessoas medíocres e governantes incompetentes.Aliás, lamento mesmo muito que uma cidade dê o nome de um estádio a um jogador de futebol novo, vivo e que nada fez pela cidade e quase se recuse a colocar um busto do Mestre num Tribunal, mais um acto vergonhoso de idiotas vestidos de políticos.O homem morreu há dois dias e já se sentem saudades da sua competência, tal é o vazio deste governo do Portugal dos Pequeninos…


Nota: este post foi colocado a partir de um comentário do capitão Haddock, sem que ele fosse consultado. O Administrapor é que achou o comentário digno de ser publicado como homenagem a um homem inteligente, culto e com currículo académico. Injustiçado, morre anónimo. Prova disso, é que a foto minúscula que ilustra este post é a ÚNICA que se pode encontrar na net. Quer dizer, a net tem milhões de putas e não tem espaço para um catedrático de Direito? É o Putapower! O Poder é das Putas!

23/09/05

Parintins E O Bumba Meu Boi, por Kazinha

Este Post foi gentilmente cedido ao Porco por Kazinha

Boi de Parintins

Parintins
Situada na Ilha de Tupinambarana, à margem direita do rio Amazonas, a 420 quilômetros de Manaus e quase na fronteira com o estado do Pará, Parintins, hoje com cerca de 80.000 habitantes, é uma simpática e agradável cidade média do interior amazonense. Uma vez por ano, no mês de junho Parintins se transforma em um caldeirão de tradições, música e turismo. É o FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS, que divide moradores e visitantes em duas cores e paixões: o vermelho, que representa o boi-bumbá Garantido, e o azul, que marca o lado do boi Caprichoso.

A rivalidade é ferrenha, mas sempre respeitando a cordialidade. Tanto que os integrantes de Caprichoso, ou Garantido, limitam-se a chamar o rival de "contrário". E para abrilhantar a festa, a cidade de 80 mil habitantes mais que dobra de tamanho, ficando com mais de 100 mil pessoas entre Parintinenses e turistas.

Boi Caprichoso













Boi Garantido










o Bumbódromo

No Bumbódromo, cada Boi se apresenta durante 3 horas nos três dias de festival. A ordem das apresentações é sempre definida por sorteio. O que encanta a todos são as alegorias luxuosas, os fogos e tudo o que eles fazem para dar vida as lendas contadas por Caprichoso e Garantido

São nove da noite, o apresentador do Boi cumprimenta a platéia (o próximo Boi irá se apresentar por volta da meia-noite). Em seguida a toada começa a incendiar a arena. E o Bumbódromo literalmente treme.


Bumbódromo de Parintins






A Música


O espetáculo acontece ao som dos tambores - levado por mais de 400 ritimistas- e de ao menos uma dezena de toadas, sempre acompanhada pela galera do boi que está se apresentando. Toada é o nome da canção dos bumbás.


O espetáculo grandioso

Nas três noites do Festival, Caprichoso e Garantido se apresentam, durante três horas cada um, para aproximadamente 40.000 espectadores. São 2.500 brincantes em cada Boi que desenrolam uma estória pontuada com figurinos requintados, alegorias complexas e gigantescas, lendas exóticas e personagens amazônicos. E, nos dois lados do bumbódromo, as duas animadíssimas e incansáveis torcidas participam do espetáculo: a vermelha, do Garantido e a azul, do Caprichoso. Chamadas de "galeras", têm uma função toda especial: seu desempenho é fundamental na contagem dos pontos da apresentação; elas participam de ensaios e fazem um show à parte. Quando é o seu Boi que está se apresentando, treme aquela metade do Bumbódromo, enquanto a torcida "contrária" fica no mais respeitoso silêncio.


A animação das galeras

A torcida de cada boi recebe o nome de GALERA, e forma um espetáculo delirante durante as 03 horas de apresentação de cada boi, cantando (gritando), dançando com movimentos expressivos e conjuntos usando adereços de mão, distribuídos em kits antes de cada apresentação. A animação da galera vale ponto no momento da apuração final, portanto eles tem que dar o melhor de si a cada dia de apresentação.
Eles fazem coro na hora de cantar as toadas.






Não pode vaiar, gritar e nem xingar, tem que ficar calado durante a apresentação do boi contrário, sob pena de perder pontos. Tem toadas, que são músicas criadas exclusivas dos dois bois para suas galeras. É UM ESPETÁCULO A PARTE!!

Eu particularmente sou uma torcedora FANÁTICA, quando a marujada e o Caprichoso entram na arena eu não sei se grito, canto ou choro, É EMOCÃO PURA!!









Galera do boi Caprichoso
















Galera do boi Garantido














Opinião pessoal:


Expressar em um post toda emoção que se vive em Parintins realmente pode até ser uma coisa sem entendimento, principalmente para quem não conhece a festa. Para ser sincera só sabe o que se vive na Ilha da Alegria quem para lá vai, fui a primeira vez com 15 anos e quando entrei na arena pensei que fosse morrer de tanta emoção e confesso que ainda não passei por outra emoção maior que essa, passei anos sem ir a Parintins, mas a cada ano que vou aquela emoção dos meus 15 anos me visita novamente.









Como diria Pedro : “Não tem preço sentir o azul do Caprichoso e o vermelho do Garantido, se sentir no meio de uma rivalidade ímpar, onde um adversário respeita o outro, pois como yin e yang, um não existe sem o outro. Não tem preço estar num lugar onde as pessoas, mesmo contrárias na paixão, sabem deixar as diferenças de lado pra juntos curtirem o som das toadas que emanam dos carros, das casas, das praças; com provocações, mas sem brigas; sentir que as pessoas que ali estão querem brincar, se divertir, voltar a ser criança, sair da realidade, num sonho chamado Parintins. Troque sua dúvida pela emoção e seja mais um a dizer VALE A PENA!!”

Aguardo vocês o ano que vem em Parintins para conhecerem não só o meu touro negro como o boi contrário!!

Site recomendado : http://www.pontodevista.com/gale_f.htm

22/09/05

“O Código Malhoa”, por Eleutério Brown

Ó Freitas, apareceu um homem morto no Museu José Malhoa, junto àquele quadro… - “Os Bêbados”, chefe? - Sim, sim… Vá lá e leve a Gisela, a nossa criptógrafa.- E não haverá mais ninguém de turno hoje para tomar conta do sucedido, chefe? Falta-me tão pouco para a reforma… – Eu sei, Freitas, eu sei… mas este é o nosso trabalho. Coragem, homem.

Cá estamos, Gisela. Ora então, os “Bêbados”. Já sinto arrepios… Nunca se soube porque é que aquele bêbado do centro está a sorrir, pois não? – Não…o próprio Malhoa sempre foi muito evasivo nos escritos que deixou acerca do quadro. E quem tentou investigar…. coitado do Cardoso... - Gisela, esta não é a altura para reabrir feridas. Coragem! Repara, está um pedaço de pano cozido ao colarinho do casaco do morto! Diz assim: “Lavar a 50 graus”. O que é que isto significa, rapariga? - Hhhmmmm, é claramente uma coordenada para localização de alguém. - O Lavar, claro… - Não, não, desconfio que o nome desse francês é para despistar. Conheço a técnica. Numa célebre investigação que dirigi nos Estados Unidos, sobre um assassinato junto a uma reprodução dos “Bêbados” no Metropolitan Museum, encontrei no colarinho do morto uma inscrição semelhante que dizia “Wash at 50 degrees”. Subi rapidamente os cinquenta degraus para encontrar o tal Wash, e acabei por encontrar um indivíduo com outro nome. Ainda hoje, no corredor da morte, o tipo nega que tenha cometido o crime. Bom, aqui a pista está concerteza no quadro. Traçando o tal ângulo de cinquenta graus em relação ao quadro, verificamos que a linha caí em cima do terceiro bêbado a contar da direita, o de bigode… repare, repare! O homem do sorriso está mesmo por detrás dele! Começo a perceber tudo… E veja também que a linha do bigode do homem faz um ângulo de vinte graus! - Cuidado, Gisela, estamos a entrar em terreno movediço. Vamo-nos esconder naquela arrecadação!... Já podemos sair, chefe? Sim, mas com cautela. Agora vamos ver um mapa da cidade…hhhmmm…Traçando uma linha de vinte graus desde o bigode vamos ter à sede do Grupo Onomástico “Os Josés” - Vamos lá então, mas com cautela.

Boa tarde. - Boa tarde, trazem moedas para a troca? - Moedas? - Claro, não está a ver alí escrito “grupo onomástico”? – Pensávamos que era uma ordem onomástica. Queriamos entrar em recolhimento espiritual. Mas porquê “Os Josés”, já agora? - Olhe, só o fundador é que lhe podia explicar isso, mas morreu antes da primeira reunião. Por uma qualquer estranha razão, todos os que convocou se chamavam José. - Isso é suspeito… Gisela, vamo-nos esconder naquele beco!...- Já podemos sair, chefe? - Sim, mas com cautela. Vamos voltar ao interrogatório. Psst, olhe lá, como é que morreu o vosso fundador? - Foi atropelado por um bêbedo. - Esse bêbado tinha um chapéu de abas largas amarrotado? - Por acaso, tinha. - Se vir a fotografia dele, é capaz de o reconhecer? – Talvez. - Veja então esta reprodução do quadro "Os Bêbados”, do pintor Malhoa. – Tenho mesmo que olhar para esse quadro? Cada vez que olho para ele, sinto uma pancada forte na nuca e fico inconsciente. - Não se preocupe, estamos aqui para o proteger. - Hhhmmm… quem atropelou o nosso fundador foi aquele bêbado da esquerda. Se quiserem falar com ele, vão ali ao lado, ao Grupo Onomástico “Os Mários”, uma agremiação de apoio aos asmáticos. É o senhor Mário, o fundador do grupo.

Boa tarde, o senhor Mário está? - Não, foi ontem ver os “Bêbados”, do Malhoa, e ainda não voltou. Estamos preocupados porque se esqueceu cá da bomba para as crises de asma. - E isso tem acontecido muito? - Desculpe, não posso dizer-lhe mais nada. Compreendam... E agora vão-se embora, por favor. Tenho a vida em risco. Se quiserem saber mais alguma coisa, vão a este endereço. É uma pequena capela gótica em ruinas na Escócia.

(Continua. Vai-se descobrir nos próximos capitulos que o Freitas é afinal o pai da Gisela; que o Chefe é na verdade o mandante do crime e que o Malhoa afinal sabia muito mais do que aquilo que contou, nomeadamente que a Gioconda casou secretamente com o bêbado do centro, que é o Freitas, filho do senhor José, e que vivem os dois em parte incerta na serra da Lousã, na pequena aldeia do Candal, junto ao moinho de água, onde se dedicam à produção de licor de urtigas, cujo segredo é, afinal, o motivo pelo qual tantas pessoas têm sido mortas ao longo dos anos junto ao quadro, que retrata na verdade uma prova cega de whiskies, o que justifica a referencia à tal capela na Escócia, como se vai ver).

06/09/05

De Lascaux a NY: uma breve história da arte ocidental, por Argonauta Tatuado

Há umas dezenas de milhares de anos alguém pintou às escuras animais selvagens nas inacessíveis grutas da Dordogne, como se fossem úteros. Assim tudo começou ou é, pelo menos, um bom começo. Pela presentificação plástica e simbólica da ausência se inicia um percurso de onde nascerá toda a metafísica, toda a teologia, toda a moral e todas as utopias. A existência declara-se insuficiente, a inexistência torna-se suposição e ganha forma, tal como o desejo pelo tempo se faz história. Os gregos esculpiram deuses com forma humana, monges irlandeses pintaram minuciosas iluminuras na superfície sagrada dos bíblicos pergaminhos como se fossem grutas paleolíticas. Villard de Honnecourt rabisca catedrais com paredes de vidro onde se narram histórias sagradas e coloridas, como se fosse BD. Desde os tempos dolménicos que somos nós a fazer grutas. É isto a arquitectura. As catedrais góticas, apontadas ao céu e cheias de luz como se fossem vítreos arranha-céus novaiorquinos, são as mais belas. A Sagrada Família é a mais bela das mais belas, pois que na sua incompletude estatutária remata o processo dolménico, fazendo com que o misticismo escolástico se equipare a uma fantasia que lembra a Disneylândia. Somos fazedores de espaço com a razão ou com o sonho. Seja pelo alargamento do espaço físico ou pela invenção do espaço simbólico. Por isso a invenção das leis da perspectiva é contemporânea de Galileu e das grandes viagens transoceânicas, tal como Einstein que desfez a imagem clássica do Universo é contemporâneo de Picasso que bidimensionando nos libertou da tirania renascentista. O caminho de Picasso leva-nos ao quadrado de Malevich, onde se nega todo o legado clássico: cor, profundidade, figura e técnica. Outro caminho, iniciado em Goya, supera o cânone racionalista libertando fantasias e subjectivando o mundo. Se o Renascimento inventou a ideia de génio, Pollock destruirá o mito pois que no dripping não há autoria porque não há consciência. Deste beco sairá Warhol reinventando a arte como objecto de consumo de massas e produção mecânica, até que Haring nos resgatou desta banalização irónica. Nas galerias subterrâneas do metropolitano de NY, a Lascaux americana dos finais do século XX, Keith Haring reactivou uma reminiscência original pintando graffitis pictográficos como quem pinta animais selvagens, devolvendo à arte o simbolismo primitivo e descobrindo depois em Grace Jones, que cobriu de adereços e pinturas neo-primitivistas transformando-a numa divindade totémica, uma essencialidade original que afinal nunca se perdeu, onde o corpo se revela outra vez como objecto e instrumento privilegiado da expressão artística. Como nunca deixou de ser e já era antes de Lascaux.

05/09/05

04/09/05

Katrina Eufémia, por Fura também Cão

O meu primo com nome de mulher, o Furacão, fez das dele.

Tornou Nova Orleães numa Nigéria taliqual.

Peninha dos negros e dos brancos à la americaine? Pas moi.

Se os nazis tivessem ganho a Segunda GM, que diferenças hoje?

Nenhuma, à excepção dos judeuzitos de merda.

Katrina Eufémia: je t’aime!

Nota do Administrapor: Este post é da exclusiva responsabilidade do seu autor. Os restantes membros deste blog não só repudiam os termos, como os preconceitos aqui expressos. Contudo, e porque a censura nos repudia mais ainda, pedimos que endossem todas as críticas para o blog do nosso confrade e amigo: O Canil do Daniel

02/09/05

Tempestade, por Mangas

Um gavião desenhou dois círculos lá no alto. Voo suspenso sob o céu cinzento. Devem ser um prenúncio qualquer aqueles dois círculos, porque de repente as nuvens ficaram mais carregadas. Ficar por cá para além desta semana pode ter um desenlace inesperado. Às tantas, começo a habituar-me a vaguear pelo French Quarter e a sentir a ligação alienante ao jazz de rua e à comida creoule com muito picante.

Corre uma brisa fresca que a pele húmida agradece. Tentam vender-me uma boneca voodoo negra, com palha a fazer de cabelo e o rosto em forma de caveira, mas eu só tenho olhos para o gavião que agora paira sobre a minha cabeça. As tardes renascem neste tempo sedento de sangue. Os meus pés levantam poeira que em breve se irá transformar em lama. Sinto a camisa colada ao corpo. Vejo polegares apontados para cima, ansiosos por uma boleia. Também eles já perceberam que esta noite é o fim do mundo. Quatro putos negros batem com frenesim a sola metálica das botas no pavimento dos passeios. É um sapateado anunciador. Alguém recolhe os toldos e tranca as portas. Gritam pelos filhos. Gritam pelos filhos dos filhos. Alguns (muitos!) deixaram os bares e vieram para as calçadas diluir os últimos acordes de um trompete metálico em estado de ansiedade. Não há nada mais perigoso do que um trompete em estado de ansiedade! Garanto que ainda o consigo ouvir. Sem dar um passo. Sem mexer um músculo sequer.

Num instante as ruas ficaram desertas. Olho mais uma vez para cima e quase não distingo aquela forma ameaçadora de asas abertas. Caem as primeiras gotas e o barulho ensurdecedor de um relâmpago deixa tudo às escuras. Num instante também, a fúria das águas desceu dos céus, como o gavião tinha prometido. Começou.

Acho agora que sempre devia ter comprado a tal boneca voodoo.

New Orleans, Louisiana, Julho de 1994