Blog da RS.T - Real Esseponto do Tinto - Coimbra - Os Três Pastorinhos também bebiam o seu copito
30/04/08
Azuis Malvados, por Judeu
Tenho para mim que a passagem de Grant para treinador da equipa não é por acaso. Tenho para mim que não foi por acaso queAbramovich escolheu um homem com um curriculo igual ao meu, isto é zero, para liderar os Blues. Não. A ausência de curriculum de Grant foi um risco calculado de Abramovich, como quem diz, «com esta equipa, o difícil é ficar pelo caminho durante três anos consecutivos». Se a coisa corresse para o torto, podia sempre mudar, mas a convicção do russo era que correria bem, como está a correr. E mais: o Chelsea melhorou muito com Grant, joga de um modo muito menos mecânico e calculista, com mais gana, vontade e criatividade
Mas dizer que o rei vai nu é muito complicado neste país em que estamos sempre à espera dos novos heróis tugas que hão-de espantar mundo. Ainda hoje ouvi um gajo qualquer na rádio a dizer que sem o Mourinho esta equipa não era a mesma, mas (não fosse dar-se o caso do Chelsea passar à final como passou há sempre um mas) «é uma equipa construída pelo Mourinho que joga à sua imagem». Este comentário é espantoso, é em si mesmo, a síntese da mitomania-mourinho que impede os idólatras de discernimento. Note-se a paráfrase Genesíaca - «feita à sua imagem»... Como quando Deus fez o homem, onde é que eu já ouvi isto?
Apesar disto soar escandaloso é preciso repetir a esta gente que NÃO, esta vitória não é do Mourinho! e SIM esta vitória é do Abramovich, do Grant sem curriculum e dos jogadores, precisamente quando o Mourinho é corrido. Para os profetas do apocalipse blue depois da saída do Mourinho aí está a resposta: ele sai e o Chelsea tá na final! Essa é que é essa e o resto é mito...
26/04/08
Notas soltas sobre democracia e partidos por ocasião de um feriado que passou, por Gajo das Notas Soltas
Em novecentos anos de História, Portugal apresenta um registo de três décadas de liberdade democrática, o que perfaz, se não me engano nas contas, menos de 3 por cento da tal história. O que significa que somos, enquanto país, uma criança em termos de maturidade democrática. O papel dos EUA no mundo é outro tema igualmente fascinante, mas não é disso que gostaria de tratar neste dia pós-25. Para responder aquelas questões iniciais, no entanto, gostaria de me centrar na experiência histórica democrática dos EUA, que, ao contrário da nossa criança, já tem barbas. Apesar de assentar num esquema presidencialista, não deixa de ser um caso de estudo interessante para nós. Não vou explicar como funciona a democracia norte-americana, eram precisos muitos livros e eu não domino o assunto assim tanto, mas apenas suscitar reflexões no sentido de começarmos a olhar para fora com mais humildade e tolerância, aprendendo com a experiência dos outros.
Os pilares da democracia norte-americana são europeus, reflectem sobretudo os ideais da Revolução Francesa e de pensadores britânicos como John Locke ou Thomas Hobbes (pai do conceito de “contrato social”) ou franceses como Rousseau e Voltaire. A Democracia norte-americana, fundada num contexto de libertação colonial, por um lado, e de protestantismo, por outro, reflecte, aprofunda e coloca em prática pela primeira vez na história da humanidade um sistema político verdadeiramente revolucionário, assente no primado da liberdade individual e da igualdade de direitos. A Declaração de Independência, a Constituição e as suas dez adendas (os “ten amendments” que constituem a “Bill of Rights”) são expressões máximas dessa revolução na forma de fazer política e exercer o poder, que continuam actuais e em vigor.
A Europa, incluindo a França, pátria-mãe dos ideais, andou entretida ainda uns séculos com totalitarismos monárquicos, imperiais ou ideológicos, ou com chacinas como duas guerras que se tornaram mundiais, enquanto do outro lado do oceano, se desenvolvia uma sociedade pujante, fervilhante, mais livre mas profundamente contraditória e até desigual, à imagem dos indivíduos que compõem as sociedades, e que constitui ainda hoje uma espécie de íman carismático para milhões que em todo o mundo aspiram à liberdade ou à prosperidade.
Entretanto aconteceu mais História e a Europa recuperou no Séc. XX o tempo perdido, aprofundado igualmente o(s) seu(s) modelos de democracias liberais. Por ser um sistema político aberto, o sistema democrático liberal que se tem espalhado pelo mundo (um dos fenómenos dos muitos que concorrem para a dinâmica de “globalização”), está em constante aperfeiçoamento e em permanente debate. Não é dogmático nem é tendencialmente estático e conservador, como são as ditaduras ou as monarquias. E essa maleabilidade permite, por exemplo, acomodar as necessidades e os anseios das minorias. Ou mesmo as aspirações e as necessidades de cada indivíduo. E permite corrigir disfunções de forma relativamente harmoniosa – nos Estados Unidos, por exemplo, a disfunção da escravatura foi corrigida muito mais rapidamente do que nos outros países: O país nasceu em 1774 e em 1863, nem cem anos depois, acabou com a prática; um registo, convenhamos, muito mais simpático que o português, por exemplo. Ao passo que num sistema ditatorial a disfunção é violentamente reprimida, as minorias têm que se subjugar às supostas maiorias e a individualidade é oprimida e anulada em nome de um putativo bem comum.
Acontece que não só a “disfunção” é inerente ao ser humano, sucede na própria natureza, como a diversidade individual não se compadece com esquemas totalitários, que fracassam todos precisamente porque não acomodam essa diversidade. O facto é que todos nós, individualmente, regemos as nossas vidas mediante as nossas muito particulares agendas e interesses, que podem ou não coincidir com a agenda dos outros, que podem ou não ser grupais, que podem ou não ser generosas ou que podem até coincidir hoje e não coincidir amanhã. Tudo depende, já que a impermanência é uma lei básica da existência - realidade que os ideais totalitários não compreendem nem aceitam. Isto para dizer também que efectivamente as coisas mudam e que as democracias liberais incorporam melhor a mudança e a liberdade individual na prossecução do tal bem comum e do ideal de felicidade.
O caso dos EUA, da sua democracia e da sociedade que gerou, é particularmente interessante porque também é particularmente visível e mediático, é um país escancarado, aberto, "espectacular" (no sentido de espalhafatoso), super-abundante (a produção científica e artística falam por si) e objecto de todas e mais algumas atenções, ódios e paixões. E se olharmos para o grande quadro, para lá dos problemas tipicamente norte-americanos ou de outros que são comuns aos nossos simplesmente noutra escala, o que vemos é efectivamente uma democracia viva e muito mais madura do que a nossa (portuguesa, já que há outros países europeus com experiências democráticas muito mais interessantes e maduras do que a nossa).
Não obstante disfunções como a que permitiu a eleição de Bush Jr. (a bronca dos votos na Flórida), entretanto discutidas e corrigidas, o que se percebe quando se penetra no verdadeiro debate político por detrás das campanhas eleitorais, para além do tal “circo” que percebe quem apenas acompanha os telejornais, é um debate intenso e amplamente participado, em torno de questões substantivas e não das guerras de alecrim e manjerona em que nos envolvemos por aqui. Discutem-se pessoas, sim, mas acima de tudo discutem-se ideias e projectos.
Além disso a política não se esgota nos partidos e em Washington. Inclui, já agora, a prática do lóbing (grupos de pressão juntos das instâncias políticas), de forma regulada e transparente: Minorias que vão desde os industriais do calçado a gays e lésbicas, fazem lóbing de forma aberta e normal na defesa dos seus interesses, tentando convencer os decisores da bondade dos seus argumentos. Ao passo que em Portugal o lóbing é pecado e a pressão faz-se por baixo da mesa, de forma obscura e propiciadora da corrupção e do tráfico de influências. O mesmo vale para o financiamento dos partidos: entre a transparência norte-americana e o nevoeiro cerrado português vai um oceano maior que o Atlântico.
A alternância bi-partidária em Portugal, por seu turno, é uma caricatura patética do bi-partidarismo norte-americano. Entre uma e outra práticas políticas vai a diferença de 250 anos de experiência democrática de um povo. Comparada com a vibrante e amplamente participada democracia norte-americana, a nossa é um catraio imberbe e imbecil com borbulhas na cara – e para quem acha que não, aconselho mais uma vez a acompanhar com mais atenção as presentes eleições primárias nos EUA, para além das manchetes e dos flashes televisivos.
Os dois partidos do nosso arco governativo são eles próprios caricaturas patéticas de partidos políticos a sério. Ainda são uma espécie de projectos de partido, à escala histórica das coisas. Para já porque não são partidos feitos para servir os cidadãos e o país, estão formatados para servir em primeiro lugar a militância e a clientela e só depois, com o que sobrar, a comunidade. São agremiações de interesses particulares e corporativos e essa realidade é bem patente nas estruturas locais e distritais dos partidos ou nas autarquias, invariavelmente muito mal frequentadas. À democracia nacional falta ainda, como existe noutras democracias mais avançadas, um eficaz sistema de “checks and balances” que permita controlar e limitar os abusos e as prepotências do(s) poder(es) – na esfera autárquica, por exemplo, um passo significativo seria uma maior dignificação das Assembleias Municipais, conferindo-lhe efectivos poderes de fiscalização e controle da actuação governativa do Executivo, mais à semelhança do que acontece entre o Governo e o Parlamento.
E há duas formas de olhar para isto: Ou os partidos são assim porque evoluíram nesse sentido, ou são assim porque ainda são novos e ainda não evoluíram muito. Mas a realidade que a generalidade dos portugueses percepciona é a de que esses partidos se tornaram em pouco mais do que agências de empregos e negócios, sob o pretexto da governação. Resultado: governa-se mal. Cada vez pior, porque os melhores também se afastam cada vez mais destes ninhos de intrigas mesquinhas, favores e carreirismo.
Outro dos sintomas da dor de crescimento das jovens democracias como a portuguesa é o chamado populismo. Trata-se de uma praga a que temos sido relativamente imunes, mas que tem vindo a trilhar o seu caminho de forma tentacular, no PS com Sócrates, certamente, mas sobretudo no PSD e sobretudo desde Durão Barroso. O processo de sucessão na liderança do PSD tem sido exemplar nesse sentido, de revelar os muitos rostos dessa tendência primarista. De facto, só um partido imaturo numa democracia imatura poderia sequer equacionar ter como presidente o Alberto João Jardim, um hino ao grunhismo caciquista de veia totalitária, sub-espécie pitoresca de Avelino das Ilhas. Aliás, qualquer partido que tenha uma figura destas como referência não merece ser levado a sério, mas adiante.
É óbvio que esta não é uma característica exclusivamente nacional, o caso recente de Berlusconi (uma espécie de Jardim à italiana mas muito mais sofisticado e com mundo) é paradigmático. Ou Chavez na Venezuela, ou Putin na Rússia, ou o Iznogud do Irão. Também são expoentes dessa forma básica de fazer política – sobre o ressurgimento de focos de populismo na América Latina, aconselho esta leitura, a propósito de um livro que ainda não foi cá publicado (penso eu). O próprio Bush, nos EUA da mais antiga democracia do mundo, apesar de toda a artilharia pesada ideológica e teórica dos neo-conservadores, foi eleito em grande medida com mecanismos tipicamente populistas, nomeadamente o de oferecer respostas fáceis para questões difíceis. E como é óbvio, espalhou-se ao comprido. Não admira, portanto, que os três actuais candidatos que se perfilam para a presidência constituam um saudável sintoma do regresso da política norte-americana à “normalidade”.
Estes e outros problemas da democracia nacional levam, não só ao afastamento dos mais novos (não necessariamente pela “política”, ou pela intervenção cívica, mas sobretudo pela actual oferta partidária), mas também de cada vez mais eleitorado urbano e educado, classe média para cima, que também se reve cada vez menos nestas formas rasteiras de fazer política e que não tem alternativa senão a abstenção ou o voto em branco - as últimas eleições autárquicas intercalares em Lisboa registaram cerca de 60% de abstenção! Ora, alguém acredita que isto é só “desinteresse pela política” e que só atinge “os jovens”?
23/04/08
Cromos, por Okunowo
22/04/08
Capitão Alatriste, por Manolo
Embora, como disse, não tenha ainda lido a saga do Capitão Alatriste, vi um destes dias, por mero acaso, o filme na televisão e fiquei surpreendido. Agradavelmente surpreendido. Alatriste é um filme espanhol, editado em 2006 e realizado por Agustin Diaz Yanes. Conta, entre outros, com uma interpretação soberba de Xavier Cámara no papel do sinistro rei-sombra de Filipe IV, o conde duque de Olivares. A Cámara conhecemo-lo dos filmes de Almodóvar, em particular, de Habla Com Ella, onde faz um trabalho notável.
Mas, dizia eu, pensava que estava a ver uma simples série para entreter praticantes de zapping de sábado à noite, mas não. Mas não. O filme, de 140 minutos, é de um brilhantismo formal notável. De certo modo segue os passos de Rapariga Com Brinco de Pérola que pretendera transpor para a linguagem cinematográfica o universo pictórico de J. Vermeer. Pois bem, em Alatriste é Velásquez a referência: os seus quadros lá estão citados (A rendição de Breda, Las Niñas, retratos vários, como o de Olivares, etc)… O universo preto e cinzento de Madrid, a luz escura do barroco espanhol, está lá tudo.
Desconfio mesmo que Alatriste me vai fazer repensar as minhas ideias acerca da ligação literatura-cinema. Como muitas outras pessoas eu tenho a ideia comum de que a a daptação cinematográfica empobrece, geralmente, o livro. Não por nenhuma razão de princípio. Simplesmente a minha experiência pessoal fez-me chegar a essa conclusão. Senti isso em muitos casos. Exemplos mais notórios: A Insutentável Leveza do Ser com Kaufmann a assassinar Kundera, Um Chá no Deserto com Bertollucci a não chegar ao nível de Paul Bowles ou Eyes Wide Shot, com Kubrik a perder para Arthur Schnitzler. A excepção: o referido Rapariga com Brinco de Pérola, que acrescenta de facto alguma coisa - nem tanto ao excelente livro de Tracy Chevalier, excelente na análise psicológica - mas ao universo pictórico de Vermeer. E, mesmo sem ler o livro, mesmo que o Alatriste-escrito seja excelente, isso em nada poderá retirar o brilhantismo formal e ideológico a esta realização cinematográfica de Yanes. Que melhor se pode dizer de um filme que é uma versão de um livro, que ele já é autónomo e já se emancipou da obra que lhe deu origem?
20/04/08
Ponto 8 da Ordem de Trabalhos, por Ugly
«Ponto8:
Acesso à categoria de Professor Titular para os Professores em exercício de funções ou actividades de interesse público, designadamente, enquanto Deputados à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, Autarcas, Dirigentes da Administração Pública, Dirigentes de Associações Sindicais e Profissionais.»
17/04/08
"Fast and Loose...", por Crítico Cinematográfico
São dez minutos de grande intensidade dramática, onde Paul Newman (Fast Eddie Felson) trava os dois grandes duelos da sua vida, na mesa de bilhar com Minesotta Fats (interpretado por Jackie Gleason) e fora dela com George C. Scott:
16/04/08
Fuga da Arte, por Crítico Radiofónico
Além do Íntima, de que já aqui falei, venho por este post dar merecido destaque e divulgação a outro espaço radiofónico (igualmente disponível na net) de grande gabarito. Excelente música de todos os tempos, excelentes referências literárias, excelente tudo:
O radialista chama-se Ricardo Saló e o programa chama-se Fuga da Arte. Fora da net, onde está sempre disponível, pode ser ouvido em directo na Antena 2 aos domingos à meia-noite.
15/04/08
O Nosso (Falso) Emplastro, por Santo Exupério
foto - Ferreira Santos
11/04/08
Discos Que Já Ninguém Ouve Mas Que São Excelentes: Joe Jackson- Look Sharp e I`m the Man, por ON OFF
São dois dos melhores discos surgidos da New Wave. Jackson conseguiu conciliar a força do punk com a elegância melódica da Pop e resultado foram estes dois discos que podiam ser um só, duplo. Nunca os consegui reencontrar e tenho saudades daquelas músicas. Valeu-me durante anos uma cassete onde tinha gravadas as principais músicas. One More Time: http://www.youtube.com/watch?v=V6xqtVoD-R8&feature=related
08/04/08
Interlúdio Radiofónico, por Gajo Inter-lúdico
Isto porque Francisco Amaral, o cavalheiro retratado aqui ao lado, garantiu a continuidade do projecto, um dos mais antigos, se não o mais antigo, da rádio nacional, no ar e na web desde 1984 (Antena 1, TSF, etc.).
Ora acontece que o programa foi "apadrinhado" pelo Expresso Online e vai passar a ser divulgado e disponibilizado (em podcast) no site do jornal.
O autor mandou o seguinte email a avisar a malta:
Pela primeira vez na imprensa portuguesa, um jornal tem um programa de música próprio. Estreado por Francisco Amaral há 24 anos na Antena 1, ÍNTIMA FRACÇÃO pode ser ouvido em exclusivo no EXPRESSO a partir de agora. Íntima Fracção vai ter podcast e blogue com vídeos e comentários.
Agradeço a todos os que me têm acompanhado até aqui. Dou as boas vindas aos que quiserem conhecer agora a Íntima Fracção. Obrigado.
De nada. Obrigado nós. E eu pelo menos lá estarei.
07/04/08
Relato do Boavista-Benfica, por Off Side
O que é fantástico é que durante este tempo todo, que foram para aí uns bons 5 minutos, nós, espectadores, não vimos nada, zero, a Sport TV não filmou o que se estava a passar a 10 metros e limitou-se a filmar o repórter que nos contava com um ar estarrecido, parecido com o do Katsouranis, que a notícia estava a acontecer ali ao lado!
É certo que as televisões não têm autorização para filmar o que se passa nos corredores dos clubes, mas, valha-nos Deus, se os jornalistas estivessem à espera da autorização para filmarem os casos excepcionais, nunca haveria notícias. Salvaguardadas as devidas proporções, que eu saiba, as autoridades Chinesas nunca autorizaram as filmagens do massacre de Tianamen; os indonésios também não queriam que se tivesse filmado as cenas do cemitério de Santa Cruz; e não consta, muito menos, que as fotografias aéreas dos mísseis soviéticos instalados em Cuba nos anos 60, tenham sido autorizadas pelo Fidel Castro.
Se a moda pega ainda vamos ter uma versão TSF dos próprios jogos de futebol, ou seja, as televisões passarão a filmar os seus comentadores a comentarem as incidências do jogo em vez de nos passarem as imagens do jogo… No limite era engraçado termos televisões em que apenas víamos imagens em directo de repórteres-testemunhas relatadores dos factos, como se a televisão fosse, no fundo, a mesma coisa que a rádio, só que com imagens dos relatadores. Acho isto fantástico!
E é por tudo isto que eu acho que ontem viveu-se história no Bessa. Não porque o Benfica tenha empatado com o Boavista, não porque a arbitragem do jogo tenha sido, efectivamente, miserável, mas porque a Sport TV conseguiu produzir um verdadeiro momento de non-sense comunicacional. Se isto der no you tube é de guardar o vídeo – vale, sem dúvida, uns 10 ou 20 de alunos a agredirem professores.
Pic retirado de www.bridgeandtunnelclub.com/.../
Uma Palavra Vale Por Mil Imagens, por Medusa
- Porque é que se cansa a procurar frases em vez de me filmar? – perguntou ela por fim, irritada, torcendo cada vez mais o cabelo (…)
- É para te comer melhor minha filha – respondi eu quase sem pensar.
E, ao ver que a história do lobo e da capuchinho vermelho não lhe dizia nada, traduzi logo: - é porque a violo melhor com palavras, Dune. – Pareceu mais aliviada com a resposta. Se houve sadismo nas nossas relações, não foi, da minha parte, deliberado. Só que depressa me apercebi da espécie de terror que exercia sobre ela o mistério da escrita, e pareceu-me bom usá-lo para tentar extorquir-lhe o que jazia muito aquém dela, e que ela ignorava, já que era outra.»
Olivier Rolin, O Cerco de Cartum, Asa, p. 100.
02/04/08
O Mistério Regressa, por Gajo dos Mistérios
Entretanto, os amanhãs desafinaram, o muro e o Pacto caíram de podre e o país dos sovietes para lá caminha. E muitos de nós acordámos também entretanto. Mas desse sonho restaram, na memória de quem o viveu, experiências belas e exaltantes. A memória que tenho delas é uma. Sobretudo porque a experiência que tive com elas foi do domínio da beleza e não da ideologia.
Elas são artistas. Artistas extraordinárias, herdeiras e transmissoras de uma tradição artística sublime. Elas são búlgaras e são um grupo coral. Cantam folclore do seu país e tudo começou para o mundo assim: Algures nos anos 80, a 4AD, editora fundamental dessa década, descobriu este tesouro vocal e, apesar do Muro e do Pacto, lançou um álbum precioso chamado Le Mystere des Voix Bulgaires. Foi Peter Murphy, vocalista dos Bauhaus (uma das bandas icónicas da 4AD), já agora, o responsável pela internacionalização do fenómeno Vozes Búlgaras e pelo lançamento desse álbum e de um segundo que se seguiria. Foi ele que entregou a Ivo, fundador da etiqueta britânica, uma cassete com registos recolhidos pelo etnomusicólogo francês Marcel Cellier, ao longo de 15 anos em zonas rurais da Bulgária.
Depois foi o que se sabe. Alguns anos depois do lançamento do disco, elas passaram por Portugal. Foi numa Festa do Avante e continuavam a existir Muro e Pacto. Nunca fui militante de cartãozinho, mas era simpatizante e nessa Festa estava em trabalho, era um entre as centenas de voluntários que durante uma semana ali acampavam para montar, apoiar e desmontar o arraial comunista.
Quando as conheci estava designado naquele dia para dar apoio a um cameraman que fazia o registo vídeo dos acontecimentos. E nessa qualidade andava com o precioso cartão de acesso aos "backs stages" de todos os espectáculos. E foi assim que as conheci. Mais ou menos. Éramos um pequeno grupo de quatro ou cinco amigos, há algum tempo fãs incondicionais daquela estranha e arrebatadora forma de cantar. Íamos aos autógrafos, também, mas sobretudo para conhecer, falar, ver de perto aquelas criaturas de outro mundo.
O encontro não correu exactamente como esperávamos. Desde logo porque ainda havia o Muro e, mesmo ali naquela grande festa da fraternidade marxista-leninista, não foi fácil chegar à fala. Os contactos eram limitadíssimos e só na companhia de uma omnipresente mulher búlgara mais velha, presumivelmente do PC búlgaro, ou coisa parecida. Uma das condições, se bem me lembro, era não falar de política. Condição inútil porque ninguém estava ali para tal coisa. Mas acabou por ser uma mera troca de apresentações e simpatias breves, e apenas com uma porta-voz do grupo, a única que sabia arranhar estrangeiro.
“Votre music es’t merveilleux”, “mérci beaucoup”, “pas de quois” e etc. Pardais ao cesto, galhardetes, cortesias, coisas do género. Um pouco constrangedor, devo dizer.
Mas poucos minutos depois deste frustrante contacto, começou a magia da beleza. O espectáculo foi dentro de uma tenda parecida com as dos circos, com péssimas condições acústicas e de conforto. Mas fez-se realmente magia e este tornou-se um dos grandes espectáculos da minha vida. E ali abracei definitivamente o mistério. E ainda hoje sou crente.
Isto tudo para dizer que as moças cantadeiras da Bulgária estarão em breve de regresso a Portugal (provavelmente uma outra geração de moças cantadeiras). Já cá estiveram mais vezes depois daquele Avante, presumo, mas desta vez estão mais perto de casa. Passam pelo Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Voz, no dia 6 de Junho. Bilhetes a 25 euros. É caro mas garanto que vale bem a pena todos os cêntimos. Eu já comprei.
01/04/08
Siesta, por Off Shore
O Mangas não perdia uma sesta ao sábado à tarde (digo não perdia porque agora ele começa a aparecer mais e mais, aos sábados à tarde). O Mangas parecia-me o Buda que andava a ver se se livrava da roda dos nascimentos e conseguia atingir o nirvana. O Buda que foi viver para debaixo de uma árvore enquanto os passarinhos lhe cagavam em cima da cabeça. O Mangas que dormia a sesta todos os sábados à tarde parecia-me, justamente, um Buda moderno. Sem passarinhos nem cagalhões na cabeça, mas ainda assim, um Buda moderno a viver o seu nirvana de sábado à tarde. Felizmente, parece que ele se está a deixar dessas coisas e agora enfrasca-se como nós na cafeína das bicas do Ranhoso. Hare krishna, mafrende...