25/12/12

O Grande Império do Ocidente, por Tupi Guarani

D. Luís da Cunha foi um diplomata português que serviu o rei D. João V. Inspirado no tema do Quinto Império do padre António Vieira, concebeu um projecto arrojado que teria sido, a meu ver, a solução ideal para Portugal. É uma ideia um pouco excêntrica mas, na hipótese remotíssima de ter sido concretizada, estávamos  todos hoje  muito melhor. Nós portugueses.

D. Luís da Cunha propôs, muitos anos antes da fuga atabalhoada da corte de D. João VI para o Rio de Janeiro, que Portugal fizesse essa transferência, voluntariamente, cerca de um século antes. A ideia era, precisamente, que a corte de D. João - o V e não o VI - se estabelecesse no Brasil. Depois propor-se-ia à Espanha a troca do Algarve pelo Chile. E numa segunda fase dávamos o resto de Portugal e os Espanhóis retribuiriam com a Argentina (que na altura incluía o Paraguai e a Banda Oriental, isto é, o Uruguai). Fundaríamos uma capital no centro do Brasil que se chamaria Nova Lisboa e que seria banhado por um rio a que chamaríamos Novo Tejo. Depois era só transferir a população portuguesa em peso para o novo território e ficaríamos donos de um novo império que atravessaria a América do Sul do Atlântico ao Pacífico. Brilhante! Portugal intitular-se-ia então O Grande Império do Ocidente. Isto se e é um grande se os Espanhóis fossem na cantiga e concordassem com a troca. Se fosse hoje é claro que nem de borla nos queriam. Mas no tempo de D. João V não sei, não... E, sem dúvida, a nossa vida seria agora muito melhor...

23/12/12

Prof, por Dromófilo

Avaliação final. Treze alunos. Seis com três classificações negativas, dois com quatro classificações negativas, dois com seis classificações negativas, dois com sete classificações negativas, um com nove classificações negativas.Linhas de faltas a formigar na pauta.A demagogia prometeica e delusória do voluntarismo pedagógico: Planos de Diferenciação, Actividades de Recuperação de Aprendizagens, Planos Individuais de Trabalho.A escola como o único lugar no qual se acredita ser possível o possível impor-se ao real. A escola como o impossível lugar da enérgeia da utopia, inversamente proporcional ao quietismo do conformismo social e económico - não viver acima das suas possibilidades, não desejar acima das suas possibilidades, não ser acima das suas possibilidades.No dia três de Janeiro, um incréu abrirá a porta da sala dois e recitará em surdina: concede-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar aquelas que posso e lucidez para reconhecer a diferença. Depois é o sumário.

Extraído, com  a devida vénia, daqui:  http://dromofilo.blogspot.pt/

13/12/12

Notas de Leitura: Ray Bradbuy – Farnheit 451, por Bombeiro




... E no entanto não é uma ficção assim tão distante da realidade... Quantas sociedades existiram e existem em que os livros, pelo menos uma parte deles, estão proibidos? Quantas pessoas já foram queimadas por lerem os livros proibidos? Não será a nossa própria sociedade, hoje, com as suas miseráveis taxas de leitura, a sua proverbial aversão aos livros que «são uma seca», um primeiro passo no caminho de Farnheit 451? Bradbury, um genial construtor de «cenários» apenas leva um pouco mais longe a realidade - há uma sociedade, algures no futuro, que, em vez de proibir alguns livros, proibiu-os a todos. E ai de quem teimar em ler...

09/12/12

Os Planetas, por Neurocirurgião

Um dia destes acordei a cantarolar uma música que não ouvia, para aí, desde os meus remotíssimos 16-17 anos: Joybringer dos Manfred Mann´s. Aqui:

http://youtu.be/KIDmj4VjqUA

 Fiquei a pensar no estranho funcionamento do cérebro humano e das suas reminiscências misteriosas. Porque razão hei-de andar a cantarolar o Joybringer? O que é que levou o meu cérebro a recuperar esta antiga memória recôndita?

Fui ao you tube para voltar a ouvir esta música e eis que descubro uma referência a Holst e à sua obra prima, Os Planetas, mais precisamente a Júpiter, the bringer of jollity. Ouçam a partir do minuto 1.07:

http://youtu.be/Nz0b4STz1lo

Pois é: é a mesma melodia, a música dos MM é uma citação assumida de Holst.

E percebi porque é que o meu cérebro, como se funcionasse sem mim, recuperou a memória de Joybringer. Lembrei-me que ao vir de carro para casa ouvi na rádio, precisamente, esta faixa de Holst. E, não sei por que misteriosos atalhos, recuperei a memória dos MM. Não sei porquê mas acho isto tudo espantoso: os MM que copiam Holst e o cérebro humano que associa uma memória musical pop remota a uma melodia sinfónica que, aparentemente, nada têm a ver uma com a outra.

02/12/12

Há gente tão snob, mas tão snob que até a sua miséria é mais fina que a miséria dos outros, por Farinheira

Os pobres apertam o cinto. A margarida rebelo pinto «faz um downsizing no lifestyle». É muito mais fino, quer dizer, um gajo pode ser apanhado a vasculhar o caixote do lixo, mas se tiver pinta como a margarida não anda a revolver os restos dos outros, nada disso, anda a fazer um downsizing no lifestyle. Finérimo...

27/11/12

O Problema zbordinguista, por Visconde de Alvalade


O Tapor recebeu este mail de ilustre zbordinguista que aponta algumas soluções para a crise leonina. Aí vai sem mais comentários:

Sejamos realistas: com os B também não íamos lá e lutávamos para a manutenção. O problema é que com os A também… Portanto a solução melhor é como fazem os israelitas que em tempo de guerra incorporam os reservistas. Eu despedia esta cambada toda a começar pelo Pequeno Godo que substituía imediatamente pelo sousa cintra. Despedia o belga e ia buscar o juca pa treinador se ainda for vivo. Para adjunto voltava a apostar no Pál Serge um incompreendido que passou no nosso clube. E apresentava-lhes este plantel:

GR: patrício e vendia os outros todos porque o patricio mesmo lesionado é melhor que os outros todos juntos. Além disso porque é que precisamos de um GR de classe mundial para disputar a manutenção? Não faz sentido não é?
LD: manaca;
DC: despedia tudo e recuperava o virgílio, o zezinho, o laranjeira e o duilio. Tínhamos assim um quadro de centrais como deve ser: todos de bigode!
LE:  Contratava o paíto e corria o insua a pontapé.
Trincos: um gajo qualquer careca. Gosto de trincos carecas. Dantes havia um no braga que era o caccioli. O gajo ainda deve jogar numa equipa de veteranos do brasil. Ia buscá-lo e pagava-lhe só bucha e alojamento.
MD: fraguito. Este gajo era titularíssimo, é o melhor nome de guerra do futebol português.
ME: tiuí. Quanto a mim foi mal aproveitado no nosso clube porque estava fora do lugar. Como médio esquerdo dá uma abada ao pranic.
ED: oliveirinha, o irmão do gajo da olivedesportos. É especialista em carimbos e ainda mexe na chincha. Qual carrilho qual caralho?
AC: o grande manel fernandes, a verdadeira alma leonina. Tem uma barriguinha respeitável mas trata bem a bola e era genial a lançar-se pá piscina (ainda deve ser).
EE: o bóbó, claro, um jogador que não era de «bocas» e que nunca jogou no nosso clube porque os nossos olheiros andam a dormir e deixaram passar um jogador desta qualidade. Deve estar um bocado azedo mas com a merda do capel que ali anda ainda jogava de caras.
Esta equipa jogava por amor à camisola, vendíamos aqueles merdas todos que lá estão agora a desbarato, fechávamos o estádio e fazíamos uma grande festa stromp com bifanas à borla prós sócios com quotas em dia.
Bibó Zbordem!

22/11/12

Um blog que é must, por Manoel Cascavel

Aconselho vivamente este blog, ou, mais exactamente, os comments às carradas que alegram os seus magníficos posts. Por favor zbordem, não acabes, não acabes nunca porque se acabasses perdíamos o prazer de ler o http://ocacifodopaulinho.wordpress.com/.

13/11/12

Ay Carmela, por Falâncio

Vi ontem o último filme (2012) de Phillip Kaufmann, «Heminghway e Gellhorn».Trata-se de um tema recorrente na obra de Kaufmman - os casais literários. O realizador já tinha filmado Henry and June sobre a relação do escritor americano Henry Miller, sua mulher June (Uma Thurman) e Anais Nin (Maria de Medeiros). Nada de especial. Este Heminghway e Gellhorn segue o trilho e narra a relação atribulada entre o autor de Por Quem os Sinos Dobram e a sua mulher Martha Gellhorn (Nicole Kidman). Os filmes não são maus mas também não são nada de especial. Mas numa coisa temos que dar mérito a Kaufmann: o homem tem olho para escolher actrizes!

Apesar de não ter ficado muito impressionado, houve, contudo, um aspecto mais ou menos lateral que me impressionou. Refiro-me a uma música antiga, imemorial, daquelas que estão indelevelmente gravadas na nossa memória mais recôndita. Onde terei ouvido aquela música tão antiga? Algures na minha infância no velho rádio lá de casa? Alguém a terá cantado ao vivo? Não sei, mas a música soou-me familiar.

Procurei no google e descobri-a. A música chama-se Ay Carmela, mas segundo li, já foi conhecida por muitos outros nomes. É obviamente uma música icónica das forças revolucionárias espanholas em luta contra os franquistas e tem essa carga ideológica e mítica. É dedicada à Quinta Brigada, uma brigada revolucionária composta por militantes antifascistas voluntários internacionais e espanhóis. Mas o mais interessante é que esta música não foi criada durante a guerra civil espanhola. Não, ela provém, pelo menos do século XIX, e era cantada pela resistência espanhola que fez frente às tropas gabachas de Napoleão aquando da invasões francesas. Já no século XX, durante a guerra civil, foi adoptada pelos revolucionários e rebaptizada - foi Ay carmela (o nome de uma revolucionária), Viva la Quinta Brigada, Marchamos contra los Moros, etc. Esta música tem uma carga mítica que não passa despercebida - está viva e bem viva, sabe-se lá o que ainda lhe reserva o futuro... Aqui fica a versão mais antiga de Rolando Alarcon, que é preferível à do filme:


10/11/12

I was born in a crossfire hurricane, por Dandelion

Era o tempo em que eles estavam no auge - 1972, Texas, os Rolling Stones num dos concertos da digressão mais incrível de toda a história do Rock, a insana e fabulosa STP, a Stones Tour Party. Este vídeo, uma peça de museu, mostra os Stones numa versão electrizante de JJFlash. Mick Taylor, à data, o novo guitarrista da banda sobrepõe-se ao próprio Richard. Depois dele sair nunca os Stones recuperaram aquele efeito de solos em arabesco - ganhou-se o efeito de conjunto, dizem alguns. Ok, mas mas perdeu-se a selvajaria solista de Taylor, um factor maravilhosamente dissonante que acentua a anarquia sonora característica dos Stones. O som dos Stones, depois dele, tornou-se mais integrado, é certo, mas acontece que a desintegração é que foi, sempre, a marca da banda.

Este vídeo tem uma particularidade engraçada - ao minuto 3.29. Alguém percebe o que acontece? A gaffe ocorrido torna esta excelente versão de JJFlash, uma peça digna de colecção - como aquelas obras de arte que têm um defeito indelével que acaba por lhes dar ainda mais cor. Minuto 3. 29... What happened?

07/11/12

Jagger ou Richards?, por Dandelion

Os meados dos anos 80 foram tramados para os Rolling Stones. Em 1986 fizeram um dos seus piores álbuns de sempre, o famigerado Dirty Works, claramente marcado pelos atritos entre os glimmer twins. Pelo meio Mick Jagger resolveu que queria tentar uma carreira a solo - em 85 gravou She´s the Boss e em 87 Primitive Cool. Keith Richards haveria de se confessar chocado com o novo rumo do amigo e acusou Jagger de egocentrismo, de pensar na banda como Mick Jagger and The Rolling Stones...

Richards respondeu aos anseios individualistas de Jagger lançando dois discos de originais (Talk is Cheap de 88 e Main Offender de 92). Na altura a carreira a solo de Jagger teve muito mais impacto mediático (She`s the boss é até um belíssimo disco). Richards estaria então perdido no meio de uma banda de negros, os Xpensive Winos e eu nem dei por ele.

Mas a promessa Jagger não se confirmou nos álbuns seguintes, o homem aligeirou-se, tornou-se cada vez mais pop, pelo meio fizeram-no sir, e podemos hoje afirmar com segurança que a carreira a solo de Mick Jagger contribuiu, em grande medida, para desfazer a lenda que ele era enquanto líder dos Stones. Felizmente, ambos, Jagger e Richards, perceberam que os Rolling eram mais importantes que cada um - e também davam muito mais dinheiro. A banda voltou a juntar-se e as suas digressões foram as mais memoráveis e lucrativas da história do rock. E no regresso da banda Reef tornou-se muito mais importante do que fora antes, ao invés de Jagger, que viu reduzida a sua importância. Passados estes anos ficou-me uma curiosidade por desfazer - qual dos dois se saiu melhor, afinal, nos seus trabalhos a solo?

Não tenho dúvidas na resposta (com tudo o que isto tem de subjectivo): Keith Richards fez dois álbuns excelentes ao passo que Mick Jagger se perdeu no emaranhado do seu vedetismo pop. Richards fez músicas dignas de figurarem nos melhores álbuns dos Rolling; Jagger nem tanto. Para um Stoniano fica sempre a mágoa de pensar o que os Stones poderiam ter feito se eles não tivessem dispersado a sua energia criativa durante aquele período. Mas, ao passo que a voz de Jagger a solo se tornou um repositório de tiques mais ou menos irritantes, Richards aperfeiçoou o seu lado marginal, a sua face dark e roufenha. E o som da sua guitarra continuou a ser, do meu ponto de vista, o autêntico traço de personalidade dos Rolling Stones. Depois ainda há a feliz associação de Richards a músicos tão talentosos como os Xpensive Winos. O resultado é que, tantos anos depois, re-descobri os álbuns a solo de Richards e com eles soube para onde tinham ido os Rolling Stones nos meados dos anos 80 - tinham estado onde sempre estiveram, no fundo da alma rebelde de Richards e na negritude dos Winos. Deixo-vos com Make No Mistake, uma pérola de Talk is Cheapr, uma balada fabulosa que deveria ter feito parte de um grande disco dos Rolling Stones. Não precisam de agradecer, tou cá para isto...

24/10/12

Sardinha Assada, por Pontal

É interessante o potencial semiótico da sardinha assada em Portugal. Trata-se de uma comida popular e tem associada uma certa etiqueta de raiz popular. A sardinha é associada a uma certa virilidade, à faina do pescador no mar, à arte chávega, à dureza da vida. Deste ponto de vista o seu contrário semiótico seria, talvez, o iogurte, artificial, engomado em pequenos recipientes de plástico, clean, sem espinhas, artificial e anónimo (ao contrário da sardinha que tem o pescador como pai simbólico ). Do ponto de vista da etiqueta o contrário da etiqueta da sardinha assada seria, por sua vez, a etiqueta muito sofisticada, com excesso de códigos, talvez a da nouvelle cuisine ou outra coisa mais fina que exija muitos talheres...

Como se deve comer numa sardinhada? Pois, a sardinha deve comer-se à mão e acompanhada de broa. É claro que há quem a coma de faca e garfo mas numa festa popular cai mal.É interessante porque neste caso há uma etiqueta que é contrária à tradicional - geralmente quem come à unha é grosseiro mas na sardinha assada isso é bem visto e, pelo contrário, pode cair muito mal comê-la de faca e garfo. Dá um aspecto snob e possidónio.

É por isso que nas festas de reentré, geralmente no Algarve, os partidos políticos não abdicam da sardinha assada e é vê-los, aos políticos, a comer a bela sardinha com broa e, obviamente, à mão. Desta forma, através de um cerimonial alimentar, o polítco procura alcançar a almejada identificação com as massas populares. No fundo,a foto ou o filme do político a comer sardinha assada na festa do Pontal está a dizer: «vejam: sou um de vós, sou mais um». Comê-la de faca e garfo seria um verdadeiro suicídio político.

Haverá mais comidas, como a sardinha, que funcionem como uma espécie de etiqueta ao contrário (isto é, pratos em que a gafe não é não saber nem cumprir uma imensa e sofisticada gramática de etiqueta, mas pelo contrário, em ser o mais rudimentar possível, uma espécie de etiqueta minimal)?
Creio que sim, mas coisas menos sedimentadas na sociedade portuguesa. Os ossos, talvez, que devem ser comidos, roídos à mão, impossíveis de comer de faca e garfo. E também há o caso curioso da ostra que, tal como a sardinha deve ser comida à mão (deve ser levada aos lábios e sorvida directamente), mas aqui com um potencial semiótico completamente diverso da sardinha - erótico ( a ostra também é considerada afrodísiaca) e sofisticado (a ostra deve ser dos poucos alimentos em que é fino comer a mão).

17/10/12

O Dilema, por Alves dos Cantos

Nunca senti por nenhuma selecção portuguesa o que sinto por esta: eles representam portugal e eu sou português, o normal é que, como sempre, torça pelo meu país; no entanto, um a um (com algumas excepções) jogadores e treinador desafiam soco. Não gosto desta gente. O que é mais forte - a minha natural inclinação tuga ou a minha aversão pessoal por estes tipos? Eis o dilema.

Não gosto do carniceiro alves nem do pepe nem do ronaldo-vaidoso, acho o postiga uma ficção de jogador inventada pelo seleccionador, não gosto do micael que me tem sempre ar de quem acabou de snifar um tubo de cola, não gosto do pereirita nem como jogador, acho detestável um tipo com ar de arrumador de automóveis tatuado que costuma lá andar, em suma, não gosto destes gajos. E também não gosto do paulo bento, um treinador burro e orgulhoso que em nome dos seus caprichos e da sua inépcia deixa de fora uma série de jogadores que são indiscutivelmente melhores do que muitos que são cronicamente convocados: como é que bosingwa, ricardo carvalho, sílvio, eliseu, quaresma, manel fernandes, hugo viana ou danny não têm lugar nem nesta última convocatória de segundas linhas? Não têm por duas razões muito simples - por orgulho e por inépcia do treinador.

De maneira que estou assim: só porque os tipos ostentam o rótulo da portugalidade eu não tenho que gostar deles. Neste caso a minha aversão às personalidades destes cromos sobrepõe-se ao portuguesismo. A caixa de comentários está pois aberta para me chamarem «traidor à pátria».

14/10/12

Uma ida à casa de banho na República Chega ou Podemos sempre contar com nuestros hermanos, por Kadlek

Há um mês acordei na República Checa, num sítio onde não conseguia encontrar uma palavra familiar, onde temos bonitas frases como “Jeho tištěná podoba je zpravidla čtvrtletně k dostání ve vsetínském knihkupectví Malina, které se podílí na jeho vydávání”. E não, não faço ideia do que isto significa: copiei a frase do primeiro site checo que encontrei. Acreditem em mim: só depois de “acordar” num sítio assim é que entendemos verdadeiramente a importância da nossa língua.
Estou num restaurante e quero ir à casa de banho. Não há nenhum símbolo indicativo. Tenho apenas duas portas: numa está escrito “muži“, na outra “ženy“. E agora? Entro na dos/das muži“ ou na dos/das “ženy“? Arrisco-me a entrar na casa de banho do sexo oposto? Espero até voltar para casa?
Poderia ser uma situação desagradável. Felizmente consegui gerir a situação com a maior habilidade. Já adivinharam? Exacto: o que fiz foi dizer com toda a confiança que “ženy“ significava “homens”. Depois, deixei o espanhol que me acompanhava ir à frente. Afinal de contas tinha 50% de probabilidades de acertar. Falhei, claro.
Foi pior para o espanhol que para mim, confesso. Limitei-me a ouvir o berro da senhora quando ele entrou na casa de banho enquanto ria às gargalhadas com a cara dele. E nunca mais me esqueci que muži“ significava homens“. Ah… e que no dia em que tiver uma casa de banho na própria empresa vou, sem dúvida, optar por um símbolo que seja interpretável universalmente!

03/10/12

Coração contra Razão, por Pascoal

O jogo de ontem na Luz foi, para mim, um clássico caso de coração- versus - razão. Não me senti dividido porque sou benfiquista acima de qualquer outro clube. Mas foi um confronto entre a equipa que é, desde sempre e incondicionalmente a minha - o Glorioso - e aquela que foi por mim adoptada desde há uns anos a esta parte, simplesmente, porque pratica o melhor futebol que já vi jogar. Coração e Razão.

Nunca tive simpatia especial pelo Barça, mas esta equipa é uma excepção - jogam um futebol magnífico, um assombro de técnica e têm aquele que é, provavelmente, o melhor jogador de todos os tempos, a anos luz de qualquer outro no activo - Leo Messi.

O Benfica perdeu como era expectável e eu não fiquei nem um pouco chateado. A nossa primeira parte foi boa, eles tiveram, como têm de há anos a esta parte seja contra quem for, os mesmos 70% de posse de bola e o árbitro esteve bem (talvez até tenha sido um pouco caseiro).

 No fim não houve surpresa e confirmou-se o que já se sabia - que o Benfica não é a melhor equipa do mundo, que o Busquets é melhor que o Matic, o Xavi que o Enzo, o Pedro que o Salvio, o Fabregas que o Lima, o Iniesta que o Gaitan e que o Messi... Bem o Messi veio de nave espacial e regressou depois ao seu planeta.

27/09/12

The Horror!, por Kurtz

«O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) emitiu um parecer em que defende que o Ministério da Saúde “pode e deve racionar” o acesso a tratamentos mais caros para pessoas com cancro, Sida e doenças reumáticas.»

RTP Notícias

Esta notícia faz-me lembrar a arrepiante cena final de Apocalipse Now: «the horror», dizia o coronel Kurtz, algures, em plena guerra, numa selva profunda do Vietnam. Esta designada «Comissão de Ética» não está nas profundezas do Vietnam, nem no meio de uma guerra sanguinária entre canibais que exibem as cabeças decapitadas dos inimigos; está em Portugal, na Europa civilizada (?) do século XXI! Este não é o parecer de  uma comissão de contabilidade mas, pasme-se, de ética!!!

Como é possível que estes senhores venham defender que, cito de memória, «não se justifica gastar muito dinheiro com pessoas cuja esperança de vida é, por exemplo, de dois meses». Como podem saber que os dois meses de vida que restam a um doente já não justificam despesas «exageradas»? Quem decide o que vale e quanto vale uma vida, a vida de outra pessoa? A partir de quantos meses se justificam os gastos para salvarmos uma pessoa?

O que estes senhores da ética proclamam é a mais cruel das insensibilidades: o abandono de outro ser humano perante os inimigos que a todos nos acossam - a morte, a doença, o sofrimento. Albert Camus rejeitava a pena de morte porque consistia, precisamente, na deserção do homem perante o sofrimento que, a todos, nos faz  «próximos», homens e mulheres, pretos e brancos, justos e injustos, polícias e ladrões...  Neste caso é do que se trata é de algo muito pior que a condenação à morte de um criminoso - aqui trata-se de cortar o apoio a quem dele mais necessita. É o Inimigo Comum que nos faz a todos seres humanos - mas em que é que nos tornamos quando esta solidariedade que a todos deve unir é esquecida? Que diria Camus?

No país das reformas pornográficas, das mordomias e dos salários estratosféricos de alguns, das obras faraónicas, dos governantes das frotas de automóveis, há uma comissão de ética (?!) que está preocupada com os gastos excessivos com aqueles que sofrem atrozmente. Está tudo do avesso quando aquilo que devia ser prioritário é desprezado. Sabem quando devemos abandonar os doentes terminais e as vítimas de doenças terminais? Isto eu sei: nunca, enquanto houver um tostão neste país.

Nestes casos nem se aplica o conceito de «despesa excessiva», tenho dificuldade em pensar que há gente que enche a boca com a ética capaz de conjugar a linguagem da solidariedade para com um doente de cancro com a dos «gastos excessivos». Portugal, afinal, não é assim tão diferente da selva profunda de Apoclypse Now...

18/09/12

Paulo Morais: fixem este nome, por Cândido

 Trata-se do vice-presidente da associação cívica Transparência e Integridade, uma organização que se vem destacando no estudo e na denúnica da corrupção em Portugal. O diagnóstico de Paulo Morais é simples e certeiro: estamos numaa situação de falência devido à corrupção que grassa à solta em Portugal. A corrupção organizada e institucionalizada levou-nos à ruína.

O diagnóstico  de Paulo Morais contrasta brutalmente com a candura da sra cândida da procuradoria geral da república que diz que não, não senhor, os nosso políticos não são corruptos. Mas as organizações internacionais que monitorizam a corrupção, dizem que Portugal de 2000 até até 2012 (e em velocidade acelerada nos últimos três anos), desceu de vigésimo terceiro para trigésimo segundo. Só há dois países europeus atrás de nós: a itália com a sua «cosa nostra» e a grécia ( mas no caso da itália também é verdade que a corrupção é punida, coisa que cá não acontece).

Portugal é um charco, o estado da degradação da nossa vida pública é uma realidade. Paulo Morais tem do país a mesma visão que eu tenho. Este homem diz o que tem de ser dito - falta fazer o que ele diz para resolver o problema. Ontem apanhei este programa, por acaso, enquanto zapava. Foi uma revelação. Este homem é digno de admiração. E o programa de ontem devia ser obrigatório para todos nós:


13/09/12

Bardamerda!, por Major

As recentes medidas de austeridade anunciadas pelo governo merecem o consenso de toda a sociedade portuguesa, da esquerda à direita, de patrões a empregados, da manela ferreira leite ao francisco louçã: são uma asneira monumental, uma injustiça flagrante e uma burrice incomensurável. Todos de acordo.

Mas mete-me nojo, é o termo, ver como, de repente as ratazanas xuxas que andavam metidas nas tocas, perderam a vergonha, levantam as cabecitas e entopem os media com declarações escandalizadas de protesto contra o governo. É vê-los, os galambas, os silva pereiras, as edites, os soares, os alegres, os almeida santos e uma imensidão de ex-ministros que deviam estar arrumados definitivamente num canto negro da nossa história recente, a multiplicarem-se em declarações. Esta gente, pura e simplesmente, não tem vergonha na cara. Foram eles que fizeram o país chegar ao estado de falência em que se encontra!

Uma parte deles devia ser responsabilizada criminalmente e anda a curtir alegremente «la douce vie». Onde estavam os comentadores indignados que agora pedem a revolução, que agora declaram o ambiente irrespirável, quando zé socas e a sua tralha levaram este país à ruína? Durante dois mandatos e oito longos anosdefenderam-nos sem pudor e agora reencontram, finalmente, o sentido de decência perdido? É bom recordar que os portugueses foram obrigados a votar em passos para se livrarem da maior doença da democracia portuguesa - zé socas. Não, não pega, esta gente perdeu o ethos...

É certo que existem todas as razões e mais algumas para censurarmos este governo, para nos escandalizarmos, para nos revoltarmos. Mas atenção: nem todos temos legitimidade para o fazer. Os xuxas - corresponsáveis pelo caos - não têm esse direito. Tão simples como isso. Se lhes sobrasse um pingo de decência voltavam a enfiar-se nos buracos fétidos onde têm estado. Deviam estar caladinhos - como disse alguém, «governaram como se não houvesse futuro e agora comentam como se não tivessem passado».

05/09/12

Toni em grande, por Mangas

Para ver até ao fim.

http://www.miragens.abola.pt/videosdetalhe.aspx?id=17280

21/07/12

Manual do Aplicador, por Dromófilo




Quando, há alguns anos atrás, o Ministério da Educação publicou essa magnus opum sobre o comportamento decente do docente /vigilante às provas de aferição do 9ºano, o Manual do Aplicador, desde logo se soube que o pouco siso daria lugar ao riso e ao absurdo. Quando, há alguns anos atrás, o furor regulamentador do ministério da educação definiu, até ao ridículo e à ninhice, todo o processo de aplicação dos exames, tratando os professores como imbecis, a derrisão já espreitava, escarninha, mofenta. Esta gente não percebe que quando se quer ser obsessivamente minucioso a minúcia nunca basta, e desatou, insensatamente, a regulamentar o bom senso como se ele fosse a coisa mais mal distribuída nos professores. E, nas reuniões preparatórias, perguntou-se: a que velocidade deve andar na sala o professor vigilante para não perturbar a quietação do momento? As escolas darão graciosamente umas pantufinhas furta-passos? A garridice do vestuário é permitida? Não ofuscará a inteligência do examinando? Os rótulos das garrafas de água devem ser retirados? Não podem conter informação à sorrelfa?
O ministério diz que há centenas de queixas: alunos que encasquetam o tictac dos professorais relógios e desatinam; alunos perturbados pela garridice taful e tamanho de saias, blusas e demais formosuras das professoras; alunos nevrosados pela chiante meia-sola; alunos a quem petrifica o miolo pelo simples olhar do professor vigilante. Há queixas que não lembram ao diabo, mas a minudente lógica ministerial a todas provê,  prevê, regulamenta e, finalmente, a todos arregimenta para o seu zeloso cumprimento.
Agora que os exames se preparam para ser a grande via crucis para a perfeição do sistema, as notícias não são boas. Preparem-se, amigos professores! Ouve-se e teme-se. Ouve-se que o ministério se prepara para reeditar, em edição revista e aumentada (dois volumes, 500 páginas) o Manual do Aplicador. Ouve-se que no índice remissivo só a palavra fraude terá 232 a entradas. Temem-se longas sessões de laboriosa exegese, milhentas horas de formação creditada, quiçá teses de mestrado e doutoramento. Teme-se que o Manual seja uma espécie de Código de Hamurabi, a Cabala. Teme-se, enfim, que não responda à presuntiva questão: e se, de repente, um examinando lhe oferecer flores?

(retirado, com a devida vénia, daqui:  http://dromofilo.blogspot.pt/)

10/07/12

Salazar e os «safanões», por Ferrinho

Em 1933 António Ferro, o grande propagandista do Estado Novo, levou a cabo uma série de cinco entrevistas ao Presidente do Conselho, Salazar, o próprio. Pretendia «desfazer algumas dúvidas» sobre a personalidade do homem que reconstruíra o país. Ferro passou dias em entrevistas com o ditador e, com base no espólio que dessas conversas recolheu, escreveu Salazar, O Homem e a sua Obra, editado pela Empresa Nacional de Publicidade. Este seria, na versão dos apologetas do regime, o livro que nenhum português de boa cepa poderia deixar de ter em casa. Hoje tornou-se uma peça de culto. Encontrei uma primeira edição em casa de um familiar e li com olhos heréticos os hossanas de Ferro ao senhor presidente do conselho. Não direi que o homem estivesse errado em tudo o que dizia, longe disso, a crítica que salazar faz aos partidos, por exemplo, continua certeira hoje, como então, talvez mais hoje ainda do que então. Já a posição de sua excelência sobre o tema delicado dos maus tratos infligidos nas prisões do regime seria hilariante se não fosse escabrosa:

- «Quero informá-lo de que se chegou à conclusão de que os presos maltratados eram sempre ou quasi sempre, terríveis bombistas que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais. Só depois de empregar esses meios violentos é que eles se decidiam a dizer a verdae. E eu pergunto a mim própprio, continuando a reprimir tais abusos, se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras...»

Ah, fadista...

09/07/12

Porque é que o Jornal de Negócios não faz uma lista dos trinta melhores negócios em vez das trinta melhores canções dos Rolling Stones? por Dandelion

Os Rolling Stones estão a fazer 50 anos de carreira. os aniversários dos mitos são sempre ocasiões propícias ao aparecimento de críticos de cepa recente. Subitamente descobrem-se stonianos encartados nos jornais do burgo. Agora foi o caso do Jornal de Negócios que ousou dedicar quatro folhas a um exercício sempre perigoso para leigos na matéria. Pela pena de um senhor João Cândido da Silva, resolveu o JN, eleger as 30 melhores músicas dos Stones a partir de 17 álbuns. É claro que o exercício tem muito de subjectivo, mas que raio, há mínimos. Acontece que os critérios do escriba são demasiado privados, para que o homem assine um artigo sobre os stones, ainda que num jornal dedicado aos negócios. Há omissões gravíssimas e alguns erros pelo meio. Ainda bem que se escreve sobre os Stones, é melhor do que o silêncio. Mas convinha que quem o fizesse estudasse um pouco o assunto. O que não foi, claramente o caso.

1. O primeiro e mais grave erro da selecção de JCS é simplesmente colossal! JCS escolhe 17 álbuns dos Stones, para seleccionar 30 canções e, azar dos azares, deixa de fora aquele que é um dos se não o mais importante álbum da banda: o seminal Let it Bleed! Como é possível que o álbum de You can´t always get what you want (provavelmente a melhor canção da banda e não surge nas 30 melhores!!!!) fique de fora? Midnight rambler, gimme shelter, You got the silver, nenhuma destas obras primas é uma das melhores músicas dos Stones? Deixar de fora let it bleed é como pretender escrever sobre islamismo e esquecer-se de citar o Islão, sobre o benfica sem falar do eusébio, sobre o brasil sem passar pelo Rio?

2. O capítulo dos álbuns ao vivo. JCS cita Get Yer... e Flashpoint - este último, porque nele é incluído em versão cd, o single, Highwire. Highwire, escrito a propósito da guerra do iraque é uma boa canção. Mas uma das trinta? Ok, get yer é um bom álbum ao vivo, mas o melhor live da banda é o grandioso Love you Live, com a melhor versão de sempre de Honky Tonk Women e uma versão live de You can´t always get... que rivaliza com a de estúdio... Love you live fica de fora em 17 álbuns... Ou este gajo não vê um boi de stones ou não sei...

3. A melhro versão de simpathy for the devil é a original de beggars banquet e não a de get yer ya ya s out.

4.Their satanic majesties request é um dos piores discos dos stones, um desvario pelo rock psicadélico, na esteira dos beatles. Ok, she´s a rainbow é um clássico, mas incluir este disco nos 17... E citadel a melhor música do álbum?! De qualquer modo eu passo sempre por cima deste disco.

5. Um dos maiores erros desta lista é a confusão que o JCS faz entre as edições originais (inglesas) e segundas versões (americanas) dos primeiros discos da banda. Ponto de ordem: quando os stones começaram o formato principal era o single. Alguns dos maiores clássicos surgiram por isso nesse formato e não em álbum ( o LP era para um registo mais conceptual, digamos assim). Por isso, quando surgiram os primeiros álbuns dos stones (até aftermath de 66), os maiores sucessos da banda não saiam em LP.
Só posteriormente por razões comerciais é que foram editadas, a pensar no mercado americano, as segundas versões dos álbuns com os singles que lhes foram contemporâneos. Assim a segunda versão de Out of Our Heads ((65) inclui Satisfaction e the last time, mas a edição original não. O mesmo para between the buttons (67) que inclui lets spend the night together e ruby tuesday apenas na segunda versão.
Além disso o álbum Now (65) não figura como original da banda, mas como colectânea. Quanto a mim, para fazer jus aos singles imprescindíveis dos stones, é impossível não se citar o triplo The London Years que inclui os singles até let it bleed.
Nada disto é esclarecido no trabalho de JCS, pelo contrário ele dá como adquirido que as segundas versões dos álbuns a que me refiro, são as originais e não são. Grande confusão, mas compreende-se. Não é tão fácil como parece conhecer os originais da banda (Aftermath, por exemplo, chegou a ter uma versão americana sem goin home, a faixa de 11 minutos considerada um exagero para o gosto americano).

6. Há muita música que tinha que ser referida, pelo menos isso: como é que o primeiro disco dos stones não é citado? Tá bem que é um álbum de versões mas tem uma música que não poderia deixar de ser incluída num trabalho deste tipo - precisamente a primeira composição de sempre da dupla jagger/richards, Tell Me (you re coming banck), assinada pelo duplo pseudónimo Naker/Phelge.

7. Satisfaction não é uma das 30 melhores????

8. Nem Brown sugar? Nem tumbling sice? Nem Happy, Rocks off, Street fighing man, wild horses, Cant you hear me knoking, Under my thumb, Stray cat blues, angie, star star? O autor pretendeu fugir à unanimidade? Ok. Mas então salth of the earth? lovin cup? let it loose? Sway? dead flowers? E acima destas elege off the hook, out of tears, surpise surprise, blinded by love? Valha-me deus... Some girls do álbum homónimo preterida? Memory hotel de black and blue não é melhor que, por exemplo till the next good bye de its only r`n`r (por falar nisso onde está a faixa que dá nome a este disco)? Como é que uma das melhores pérolas interpretadas por Richards, como How can i stop de Bridges to Babylon não aparece? E waiting on a friend? Farways eyes de fora? E as tears go by? Get off my cloud não das melhores da primeira fase?

Ok, isto é muito subjectivo, mas aqui é demais, alguém que conheça minimamente a discografia dos stones não cairia num cite´rio tão individualista. Mesmo em arte, um crítico que fale da obra de Picasso e deixe de fora Guernica, de Coppolla sem se referir a Apcalipse Now ou dos Beatles sem citar Sgt Peppers, não estaria a ser, simplesmente, subjectivo. Estaria a fazer, objectivamente, um mau trabalho.

Deixo em tube Gimme Shelter uma das grandes canções de let it bleed - para JCS não é uma das trinta melhores, mas também há gajos que acham que o Messi não devia ser titular do Barcelona...


08/07/12

A Minha Selecção do Euro, por Gabriel

O Euro já lá vai e, entretanto, não havia ainda aqui uma lista da selecção dos melhores jogadores. Aqui fica ela, como é da praxe, com indicação do melhor para cada posto e das melhores alternativas. Tive como critério escolher os que me pareceram os melhores mesmo que trocando-lhes as posições. Foi o caso da defesa onde tive que passar o melhor defesa do mundo, Sérgio ramos, para a lateral direita:

Melhor guarda redes - Casilhas (Esp). É indiscutível.

Alternativas - Buffon (it) e Neuer (Al). O italiano poderia mesmo ter sido o melhor se a Itália vence a final, até porque foi colossal no jogo das meias com a alemanha. Foi vítima da equipa nesse jogo.

Defesa direito - Sérgio Ramos (esp). Ramos jogaria em qualquer lugar da defesa, já que é fantástico em qualquer um. Na minha selecção jogaria à direita por uma questão de rentabilização dos centrais.

Alternativas - Srna (Croa).

Centrais - Pepe (port) e Piqué (esp). Sim, eu desfazia a dupla piqué/ramos, mas com ramos à direita e a inclusão de pepe, não ficaria a perder.

Alternativas - Hummels (al) e Bonnucci (it).

Defesa esquerdo - Lahm (al). Pela experiência, pela qualidade técnica pela forma como apoia o ataque. É um defesa cerebral que não tem a velocidade das alternativas mas compensa com a qualidade técnica. Não parece um defesa. Gosto mais dele na direita e nesse caso entraria Alba para a esquerda mas então sairia Pepe. E era uma pena...

Alternativas - Alba (esp) e Coentrão (port).

Médios - Pirlo (it), Xavi (esp) e Iniesta (esp). Pirlo e Iniesta (justamente consagrado o melhor jogador do euro) são indiscutíveis. Já Xavi não foi regular, como é seu hábito. Mas depois da sua fantástica exibição na final, como deixá-lo de fora?

Alternativas - Khedira (al), Moutinho (port) e Modric (croa). Mas também Alonso (esp) e Busquets (esp). Tenho grande dificuldade em fazer uma selecção de médios...

Avançados - Ozil (al), Ibraimovic (Sue) e Ronaldo (port). Ok, falta um extremo direito de raiz. Mas Ozil chegou a fazer a posição nalguns jogos da alemanha e foi titularíssimo numas das melhores selecções da prova. Poderia funcionar como um criativo solto a apoiar o meio campo, um pouco ao estilo de fabregas na espanha. Ronaldo fez duas das maiores exibições individuais do euro (com a holanda e a república checa) e Ibraimovic confirmou a classe, embora não possa fazer muito numa selecção relativamente frágil como é a sueca.

Alternativas - Fabregas (esp), Balotelli (it) e Mandzukik (Ucrânia).

Revelações:
Deixo uma nota final para dois polacos que não conhecia: o lateral direito Pieszcek (escreve-se assim?) e o médio ala direito, Blaszykowsky  formaram uma das melhores alas do euro. Noutra selecção dariam cartas (de resto no Dortmund foram campeões da bundesliga).
O médio direito ucraniano Konoplyanka também mostrou qualidade, principalmente no último jogo da sua selecção. Mas o melhor jogadro ucraniano foi o ala esquerdo, Yarmolenko, um jovem jogador com grande futuro.
Uma referência final, ainda, ao russo Dzagoev, um goleador que poderia ter ido longe, não fosse a negligência da sua selecção no jogo com os gregos...
Apesar do fracasso das respectivas selecções gostei de Ribéry (Fr) e de Walcott (Ing) cuja não titularidade não entendo numa selecção quadrada como a da inglaterra. Welbeck (ing) marcou um golo fabuloso e é um jogador de futuro, mas ainda não foi consistente.
Manzukik da croácia foi uma boa surpresa, é uma alternativa de primeira para um sitema de 4-4-2. Aliás, toda a equipa esteve bem (principalmente o meio campo e os alas) mas teve azar com a a itália e uma arbitragem infeliz com a espanha.
Fnalmente, não percebi o acesso de personalidade do seleccionador alemão Low que resolveu pôr-se a brincar às selecções: o que é que lhe deu para não dar a titulraidade absoluta a um jogador como Gomez que estava a ser o melhor marcador do euro? Gomez esteve bem e só não foi o avançado que conheço do Bayern porque low não quis. Porque não apostou na nova coqueluche do futebol germânico, Goetze? Até gosto do seleccionador alemão, mas não percebi o que lhe deu para se pôr a inventar. Foi castigado e bem feito, para a próxima, se quiser brincar que brinque ao fifa 2012 no pc lá de casa...

Melhor equipa:
Para finalizar, uma última referência aquela que é uma das melhores selecções de todos os tempos: La Roja! Qualquer jogador desta equipa, mesmo os suplentes, tinha qualidade para ser titular de todas as outras. Torres, por exemplo, não foi titular e foi o melhor marcador; Silva fez coisas geniais, Mata marcou um golo num minuto e vinha de um título de campeão europeu, Navas continua uma locomotiva, Pedrito esteve ao nível do que faz no barça, uffff.... E vejam só os que nem jogaram: Llorente nem entrou em campo e seria uma solução de sonho, por exemplo para a equipa portuguesa. O próprio Soldado que nem foi convocado entrava de caras na nossa selecção, a pé coxinho... E que dizer de Xavi Martinez? De Alonso? Do magistral Busquets, um dos melhores médios do campeonato? E, ainda por cima, a espanha tem o melhor jogador do euro - Iniesta! Esta é uma das melhores selecções de sempre, a rivalizar com a do brasil de 82 e de 70, com a alemanha e a holanda de 74, com a argentina de maradona (e com o brasil de 58, de garrincha e pelé, reza a história que eu não vi)... Achei um piadão aos arautos do fim de ciclo da selecção de Espanha. Como seria se não estivéssemos em fim de ciclo? Nem queria ver...

02/07/12

O Abajur Lilás, por Othelo


Começo com uma confissão: raramente fui ao teatro. E das vezes que lá fui, tirando uma única excepção (um monólogo de Mário Viegas com base em textos de Mário Henrique Leiria) mais valia ter ficado em casa. Nesta sexta feira enchi-me de coragem e voltei a ver uma peça de teatro. E desta vez, gostei. Gostei a sério da peça O Abajur Lilás do dramaturgo brasileiro Plínio Marcos interpretada pela Escola da Noite no Teatro da Cerca em Coimbra.

Pus-me pensar porque é que foram tão negativas as minhas experiências anteriores... Pela falta de condições físicas e técnicas, talvez – pelo contrário o Teatro da Cerca é um espaço com belíssimas condições para o teatro. E, sobretudo, pela qualidade dos actores. Os actores de O Abajur Lilás eram bons, coisa que não acontecia com a imensa prole de amadores das peças que tinha visto até agora. O teatro amador devia ser proibido (just jocking). Ou pelo menos a sua exposição pública. É que, como eu, há milhares e milhares de potenciais aficionados de teatro que se perderam por causa das experiências traumáticas que tiveram com peças amadoras

O Abajur Lilás desenrola-se no quarto de um bordel. Há três putas que trabalham para um paneleiro. E há um candeeiro que aparece quebrado, uma e outra vez por uma das mulheres. Embora sabendo qual das três partiu o abajur, para o proxeneta trata-se de as fazer delatar a colega. É só isso que lhe interessa – não saber, realmente, quem partiu o abajur lilás, mas sim quebrar a dignidade daquelas mulheres, torná-las sórdidas, fazer delas delatoras. A peça gira em torno desta questão da dignidade daqueles seres humanos que também são prostituas. Apesar das aparências aquelas mulheres conservam uma nobreza essencial enquanto resistirem à tortura e à humilhação da delação. Pode uma puta ser digna? Eis como… A peça é, ainda, uma metáfora da ditadura brasileira, uma referência ao ambiente sórdido da tortura, da repressão, do clima de delação então vivido

Uma nota final: esta peça começava às 9. 30. Cheguei com dois minutos de atraso e pedi desculpa quando comprei o bilhete. Não há problema, disseram-me, só começa daqui a 15 minutos. Fiquei intrigado mas depois percebi. Às 9.45 estávamos cinco pessoas na sala: eu, um indivíduo de suspensórios e camisa verde e uma senhora de cabelo curto e um senhor já de idade com a filha que conversavam sobre o neto. Percebi porque é que a peça se atrasou 15 minutos: estavam à espera de mais espectadores e eu fui o último. Cada um pagou 10 euros, a receita foi de 50! No palco eram também cinco actores. No fim levantámo-nos todos os espectadores e aplaudimos, parece que estávamos a aplaudir cada um o seu actor. Acho admirável o trabalho deles nestas condições, não deve ser fácil e eles foram extremamente profissionais.

No Brasil, no Rio e em S. Paulo, esta mesma peça de Plínio Marcos esteve esgotada . Mas, isto é a maior evidência do mundo, Coimbra nem é o Rio nem é S. Paulo. Mas há que ver as coisas pela positiva: não é todos os dias que, por apenas 10 euros, temos o privilégio de ver tão bons actores a actuarem praticamente em privado. No fundo é como se, passe a comparação, os Rolling Stones actuassem apenas para nós.´Não é melhor que vê-los a bombarem para 100 000 mecos aos saltos?

PIC:  Miguel Lança, Maria João Robalo e José Russo, "O Abajur Lilás" (foto: Paulo Nuno Silva)

26/06/12

Alberto Moravia – Eu e ele, por Adérito


Este é um livro anacrónico. Parece que estou a ver os personagens de calças à boca de sino, suíças e cabelo comprido. Mas se fossem só os personagens até se percebia, já que o livro foi editado em 1970... O problema é que são as ideias que cheiram a naftalina, não só os personagens. «Ele» é nada menos que o margalho descomunal de um tipo; «Eu» é o próprio indivíduo, isto é, o seu lado social. Eu e Ele é pois uma versão mais ou menos grosseira dos princípios freudianos da realidade e do prazer. O resultado é uma amálgama mal amanhada de psicanálise cruzada com marxismo.
Não sei como é que cheguei ao fim deste livro. Mas cheguei, o que quer dizer que Moravia é um bom escritor, malgré ça…