
O actual museu de Terra Cota, em Xian, onde está
exposta uma parte deste espólio é, pois, um pormenor de uma enorme necrópole
com muito ainda por descobrir. É num enorme pavilhão que se encontra cerca de
um milhar destas figuras exposto à curiosidade de hordas de turistas chineses
que se acotovelam, orgulhosos da sua história comum, e mais uns quantos
ocidentais que por ali andam como aves raras. O exército de Terra Cota é famoso
em todo o mundo, eu deveria dizer em todos os mundos, porque a China é tão
diferente do Ocidente que temos a sensação de estar num outro mundo. As suas
reproduções estão por todo o lado, há programas de televisão sobre estes
guerreiros, da Austrália à Europa, vendem-se réplicas minúsculas por todo o
planeta, e, da Índia ao Japão não há ninguém que não tenha estas imagens como
familiares. Não deixa, pois, de haver uma irónica justiça nisto: ninguém conhece
imagens do tal imperador mas todos sabemos de cor as feições de tantos e tantos
dos seus insignificantes guerreiros. Cada um dos soldados anónimos de Terra
Cota conseguiu, afinal, o que o imperador não logrou alcançar: a imortalidade
em forma de estatueta de 20 yuans produzida pela indústria cultural do século
XXI.