18/08/04

Vinho, por Jottita Maria (com o ajudante Millôr Fernandes)

A fonte do Millôr é inesgotável e genial! E não resisti a acompanhar o repto do porco-bacalhau, colocando aqui uma prosa divinal do humorista brasileiro, sobre um tema que sei apaixonar a maioria da vara: A Binhaça!

Como nasceu o vinho (por Millôr Fernandes)
10/07/2002

«Ao leitor desavisado pode parecer incrível aquilo que vou dizer, mas é a verdade mais pura: houve um tempo em que não havia uísque sobre a face da terra (nem de nenhum outro planeta, ao que se saiba). Nem uísque, nem qualquer bebida destilada, nem qualquer bebida alcoólica de qualquer natureza. Nem mesmo o vinho, fabricado na simples fermentação, pai, ou mãe, de todas as bebidas. Basta dizer que, nessa época inglória e tediosa da humanidade, os homens se reuniam nos bares (que um negociante mais hábil já abrira à espera de que alguém inventasse as bebidas) e bebiam água, a terrível água potável que os próprios compêndios definem como inodora, insossa e incolor. Evidentemente, os mais machões botavam dentro da água escorpiões, pimenta malagueta, e outras especiarias picantes e assim salvavam sua reputação diante da posteridade, chegando mesmo, alguns, a fingir um porre que só os séculos vindouros haveriam de trazer. Um dia, porém, sem que esse tivesse nada de extraordinário, um indivíduo chamado Álvaro saiu de uma aldeia em direção a outra, montado na sua mula de estimação, e, com essa viagem normal e rotineira, entrou para a história pela larga porta dos bares do mundo. Álvaro não era um homem fora do comum, era até meio idiota, mas acontece que a história é feita tanto pelo materialismo dialético quanto pelos acasos que a tecem e a regem. E o acaso era que Álvaro levava na sua bagagem alguns cachos de uva com que se entreter durante a viagem. E, como não gostava da casca nem dos caroços da uva, teve a idéia de gênio de espremer o caldo, apenas o caldo, dentro do cantil. Assim preparado, e daquela forma montado, lá se foi ele pelos caminhos de sempre, no troloc-troloc de todas as mulas. Quis, porém, o destino, que dormisse. E quis mais - que a mula perdesse o rumo. Foram sete dias de caminhadas por lugares ínvios e tropicalíssimos, o debilóide Álvaro nada tendo com que se alimentar a não ser o caldo de uvas que levava no cantil. Estranhamente, porém, a partir do terceiro dia, ele notou que o caldo que levava espumava, mudava de cor e gosto. E que, ao tomar o caldo, ele, Álvaro, se sentia de novo recomposto e pronto para viajar mais 24 horas. Tanto que, quando chegou a seu destino, depois de uma semana, ele declarou logo que, apesar de tudo, fizera a viagem mais maravilhosa de sua vida. Não fora, positivamente, uma bad-trip. Imediatamente, todo mundo quis experimentar a bebida de Álvaro, mas, como a bebida acabasse rapidamente, inúmeros candidatos a bêbedo começaram a percorrer o mesmo trajeto que ele, munidos de alforjes cheios de suco de uva, escondidos embaixo do traseiro quente. E logo a estrada se transformou na maior via turística da Espanha, e a Municipalidade, querendo aumentar a produção do milagroso líquido, transformou a estrada no labirinto mais sinuoso e complicado de toda a cristandade. Uma vez, porém, uma mula, teimosa como todas as de sua raça, resolveu empacar no meio da estrada, ficou uma semana em pleno sol sem se mover do lugar e o dono do animal descobriu, subitamente, um avanço na fabricação da bebida, concluindo que não era a caminhada que a produzia, mas a fermentação através dos raios solares. E aí se inventaram os alambiques. E aí se criaram os vinhos especiais, os álcoois em geral e as aguardentes em particular. E aí vieram as cervejas, as garrafas e as latas indestrutíveis e sem devolução. E aí foi inventada a poluição. Mas isso é outra história.
PS - Por que a bebida se chamou vinho? O homem se chamava Álvaro, como dissemos. Na intimidade, Alvinho. A homenagem foi apenas natural.
MORAL: O verdadeiro toque de gênio do primeiro bêbedo da história foi se lembrar de levar caldo de uva para se dessedentar. Se, por exemplo, tivesse levado leite, o mundo hoje teria que se contentar em se embriagar com coalhadas e ricotas.» (Crónica extraída do livro "Fábulas Fabulosas")

14/08/04

Paris Hilton

Um dos maiores sucessos da internet: o video caseiro da herdeira da cadeia de hóteis, o melhor ícone da pós-modernidade: Paris Hilton. Siga o link, veja o video inteiramente grátis e contribua para a ascensão do Tapor.

08/08/04

O dia dos três Bês, por Bibi

A Confraria Satânica anda dispersa: Trinitá&Bambino banham-se a Sul, Mangas transporta a família, Nestum às voltas com a tese, o Banderas com muito trabalho e o Tinó deve andar nas ilhas gregas. Os outros não sei. Restamos eu e o Mau. Somos apenas dois confrades, mas tivémos ontem um dia em grande. O dia dos três Bês. Ou the BBB day. Bê de birdie, Bê de Bacalhau e Bê de broche. Por outras palavras: golf em Montebelo, tibornada de bacalhau em Tondela no 3 Pipos e até podia ter havido brochada no IP3 se aquela drogada desdentada que costuma estar na curva da Aguieira não se tivesse baldado. Como não estava, poupámos 5 euros cada um.
Em Montebelo, o jogo foi excelente. Experimentámos os tacos novos. Desta vez jogámos à tarde. Evitámos os inconvenientes do golf madrugador e saímos de Coimbra depois de almoço. Começámos a jogar pelas 4 da tarde e acabámos já perto das oito. O campo estava por nossa conta. Pelas sete horas, o Sol começa a esvanecer-se e gera-se magicamente aquela luminosidade coada e amarela. Interrompemos o jogo e espojamo-nos na relva. Silêncio absoluto a toda a volta. Não se vê viv'alma. Sente-se só o cheiro da relva a aliviar-se do calor e o ranger dos pinheiros. Sopra uma brisasinha de encomenda, muito leve. O céu está azul. Ao fundo, o Caramulo. Do outro lado, a Estrela reluzente aos últimos raios de Sol. Se os sinos da torre da igreja da aldeiazinha próxima tocassem uma «Avé Maria», aposto que até o Villaret era capaz de aparecer: Tocam os sinos na torre da igreja, / Há rosmaninho e alecrim pelo chão... etc. etc..
Não sei em que é que o Mau estava a pensar. Eu, cá por mim, no meio daquela rusticidade idílica, pensava: «isto agora ia mas era uma brochada!». Mas não havia putas e poupei masi cinco euros. Havia era passarinhos. A passarada andava num rodopio a aproveitar as últimas horas do dia. E nós ali espojados. No fim, um duche relaxador e fica-se com uma sensação de alma cheia. Estamos com fome e rumamos a Tondela, ao restaurante Três Pipos. Recomenda-se. O ambiente é rústico, familiar e acolhedor. Uma sala pequena, íntima e confortável. Serviço atencioso e competente. Como entradas, colocaram-nos umas tacinhas com uma punheta de bacalhau, polvo ensalsado e favas guisadas com chouriço. Bom, muito bom. O indicado para atenuar a fome. Depois, escolhemos cabrito assado no forno e tibornada de bacalhau. O cabrito estava bom, mas a tibornada estava melhor. Migas de broa com couve galega a acompanhar bacalhau cozido e desfiado. Regado com muito e bom azeite, gratinado no forno em taça de barro. Soube muito bem. Tudo acompanhado por um «Foral Grande Escolha 1998» por 11 euros o que, num restaurante, é preço aceitável. A carta de vinhos é, aliás, muito diversificada e tem de tudo. Desde o «Barca Velha 95» a 380 euros até ao «Pedra da Sé» a 4 euros. No final, sobremesas (eu comi um doce da casa feito de mousse, leite creme, natas, bolacha e noz moída, e o Mau comeu já não me lembro o quê) e café. 20 euros a cada um. Está bem, é um preço justo.
Pelo caminho, falámos de muita coisa. O Mau informou que anda a ler uma biografia de Goya e que este apelido é basco. Falámos de Goya. Por isso e lembrando-me também do post sobre a Olympia de Manet, onde o Grunfo referiu nos comentários como a Maja de Goya infuenciou a tela de Manet, decidi alinhar algumas reflexões.

06/08/04

Junk post nº 2

Advertência prévia:
Para rebentar de vez com as coronárias da dupla de censores Trinitá&Bambino autoproclamados como de fino gosto e autoridades vigilantes da qualidade postal do Tapor. Quando chegarem de férias e digitarem nos teclados www.tapornumporco.blogspot.com, hão-de sentir-se como aquelas famílias cheias de apelidos, como duplos éles e ipsilons nos nomes que foram passar a Páscoa de 74 à Suíça e quando regressaram às herdades viram a malta camarada da UCP a limpar o cu às rendas de bilros, as galinhas a pôr ovo nas mesinhas de jogo de pau-santo, o oratório da avó e o contador indo-português postos na coelheira e o faqueiro de prata a trinchar galinha velha mais os cristais alemães para sorver vinho a martelo. Mas é assim mesmo, o Porco é do povo, o Tapor está em auto-gestão. Como estamos na silly season, seguimos o exemplo do «Público» com aquela nova secção inominável assinada por pseudónimos originais, criativos e engraçados como Liv Vulva e Linda Copolace, e mandamos disparate para a frente. Pedimos desculpa por qualquer inconveniente e recomendamos os posts do Mangas.
Pela Comissão de Trabalhadores:
Sandokan


E agora, o post propriamente dito:
- Já cá vieram os senhores da SIC ou da TVI, ou lá o que eram eles, mas se os senhores quiserem eu volto a contar tudo outra vez.
- Se não se importa. Zé, estás pronto? Ok. Vamos lá então. Pronto. Comece lá então, minha senhora.
- Eu estava aqui atarefada com a lida da casa, quando tive que ir lá abaixo, à loja, comprar um raminho de coentros para pôr nos pézinhos. Ora, sucede que quando regressei, senti um barulho esquisito no quarto. Chamei pelo meu Armando mas ele não respondeu. Fui devagarinho e abri a porta porque ouvi o homem a arfar, a arfar, como se estivesse com a asma, assim com uma gosma muito funda. Quando entrei e acendi a luz da mesinha de cabeceira, foi então que a vi em cima do meu Armando. Apanhei um susto que até dei um salto para trás que até ia caindo, o que vale é que me agarrei ao cortinado. Estava ela, uma brasileira com umas cuecas daquelas muito pequeninas que até se lhe metiam pelo rego dentro e com um sutiã assim de pele de leopardo ou coisa que o valha, posta em cima do meu homem a chupá-lo com tanta força que ele, coitadinho, até estava sem respiração. E ela, a puta de merda, chupava, chupava com tanta força que nem me ouviu. Eu peguei no telemóvel e telefonei para a minha filha mais velha,ela até está a estudar Comunicação Social e casou agora há pouco tempo, e disse-lhe para vir cá depressa que o paizinho dela estava aflito a ser chupado por uma puta brasileira. Ela chegou num instante, foi mais rápido do que o diabo a esfregar um olho. Ela queria ir lá salvar o paizinho. Eu é que não deixei. Sabe-se lá o que podia acontecer. A minha filha chamou logo os bombeiros que separaram a desgraçada da brasileira que deixou a piça do meu homem toda cheia de nódoas negras, cheinha de chupões. O desgraçadinho teve que ir de urgência para o hospital de Santa Maria, que nem podia respirar. Mas a senhora doutora que o atendeu já disse que ele está melhorzinho e se Deus quiser vai ficar bom.
- E teve apoio de alguém? Psicólogo, ou assim?
- Tive sim senhor. Lá isso não me posso queixar. O senhor presidente já foi visitar o meu marido e até lhe deu a Grã Cruz da Ordem de Santiago.

04/08/04

DELÍRIOS de VERÃO (autênticos), por Gajo sem Férias

O doutor Fausto Cruz da Silva andava em campanha eleitoral pela província. Era cabeça de lista pelo círculo de Valença e foi visitar um lar da terceira idade com a SIC e a RTP atrás. A meio do lanche, com os velhinhos arranjados para a televisão, o candidato falou dos anos que levava ao serviço da comunidade.
- Ao serviço da comunidade, o caralho! Puta que o pariu! Que diga que anda há mais de duas dúzias de anos a chupar nas tetas da porca, a engordar a pança. Serviço da comunidade o caralho que o foda...
- Calma, senhor Ambrósio, olhe que ainda lhe dá alguma coisa...
- Calma mas é o caralho, este chulo do caralho vem aqui foder-me os ouvidos com esta merda de paleio de puta e você, sua vaca do caralho, ainda me manda ter calma? Vá mas é para o c....arghhhh...nhec....clak...grrrrr...aghhhh...ufffff....arf..arfff..
- Acudam, está a dar um ataque ao senhor Ambrósio. Depressa, plano 1 de emergência.
E da porta da cozinha, daquelas portas tipo saloon do far-west saem duas gajas em lingerie de pele de leopardo. Da porta das traseiras vem uma loura toda nua com as mamas a abanar (cahalop, cachalop), de trás do cortinado salta uma mulata brasileira com a bunda redonda que se atira ao senhor Ambrósio. Enquanto as da lingerie lhe despem as calças, cumprindo os procedimentos de emergência para estas situações, a senhorita das mamas a abanar afaga-lhe os colhões enquanto a brasileira se apresta para o fellatio recomendado nestas situações. De súbito, a governanta do lar «O Alegre Idoso», licenciada em Serviço Social, solta um grito indignada:
- Pára! Stop! Mas que é esta merda? Uma brasileira? De onde é que você é, minha querida?
- Ué... como assim? Eu sou lá do Nordeste. Porquê? Não presta, não?
- Pó caralho! - berra a governanta - estou farta desta merda. Na receita estava «uma brasileira do Rio Grande do Sul» e estes cabrões trocam-me a receita! O broche tem que ser feito por uma brasileira do Rio Grande do Sul, não pode ser do Nordeste, senão o paciente corre risco de vida!
- Ué! Eu não sabia não. E agora?
- Agora, foda-se! Agora segue em frente, mas vai levar um processo disciplinar!
Apesar deste incidente, o senhor Ambrósio foi salvo. O Presidente Sampaio agraciou a governanta Leontina com a medalha de mérito industrial. E fez um discurso lindo. Na hora da despedida, o presidente Sampaio arrebatou os aplausos da multidão e concluiu o discurso com um pedido dito com a voz embargarda de comoção:
- E tragam-me a taça de Atenas. Já que não ganhámos o Euro, tragam pelo menos a medalha de ouro na modalidade «Save Ambrosio, that great son of a bitch»